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Na perspectiva do que afirmara Ribeiro (1946) ao homenagear Carvalho Neto pelo lançamento da obra Advogados (1946), recorrera a alguns princípios traduzidos por Jacques Maritain (1999) para explicar o mistério do ser, a força transcendental que emerge do espírito da humanidade, que traz na inteligência, na razão, a marca da tradição tomista, da qual a modernidade não poderia prescindir. Maritain (1999) pregou mudanças sociais a partir de um comportamento cristão que poderia ser difundido e espalhado no mundo. Na inventividade da razão, na natureza dos problemas da ciência estariam os mistérios das coisas, dos objetos em si; na natureza humana estaria a perenidade dos mistérios de Deus.

[...] A noção de mistério inteligível não é uma noção contraditória, é a forma mais exata de designar a realidade; o mistério não é inimigo, adversário da inteligência: foram Descartes e a razão cartesiana que introduziram esta oposição mentirosa – oposição, porém, inevitável em um sistema idealista, em uma atmosfera idealista. A objetividade da inteligência é, ela própria, soberanamente misteriosa, e o objeto do conhecimento é o “mistério” elevado ao estado de inteligibilidade em ato e de inteleção em ato: ela se torna outro enquanto outro, traz, em seu próprio seio, uma realidade inesgotável (transobjetiva) vitalmente apreendida como objeto. O objeto é o próprio real. Da inteligência, assim como da fé, é preciso dizer que o seu ato não termina na fórmula, mas na coisa, non terminaturad enuntiable, sed as

rem. O “mistério” é seu alimento; o outro que ela assimila. [...] Digamos que

o “mistério” é uma plenitude antológica a qual a inteligência se une vitalmente e onde mergulha sem esgotá-la (se a esgotasse seria Deus, ipsum

Esse substens, e o próprio auto do ser). O tipo supereminente do “mistério” é

o mistério sobrenatural, aquele que é objeto da fé e da teologia. Este se refere à própria Deidade, à vida íntima de Deus, à qual a nossa razão é incapaz de se elevar apenas por suas forças naturais. Mas a filosofia e a ciência também têm relação com o mistério, o da natureza e o do ser. Uma filosofia que não tivesse o sentido do mistério não seria uma filosofia. Onde encontrar, por outro lado, o tipo puro daquilo que chamamos “problema”? O “problema” de tipo puro é um problema de palavras cruzadas, um enigma, um quebra-cabeça. (MARITAIN, 1999, p. 14-15, grifo do autor).

O depoimento de Ribeiro (1946), feito na capital sergipana, no Hotel Marozzi, onde fora oferecido um banquete em celebração à publicação do livro Advogados, elevava conceitos difundidos no pensamento de Carvalho Neto, filho de seu tempo, como nos ensinaram Fernand Braudel (2004) e Marc Bloch (2001), sobre a História. Carvalho Neto pertenceu ao seu tempo, filho da sociedade sergipana que tem na sua tradição intelectual a velha e instigante polêmica brasileira sobre o ser e o tempo, sobre a razão e a fé, que divide opiniões e distingue campos de poder. Ele próprio entendia a religião como algo a ser

analisado como uma instituição social, quando se tratava de discuti-la como forma de conhecimento do homem. O fato de ser um homem cristão, de fé, não renegou a Carvalho Neto, como ao mestre Maritain (1945), propor que a solidariedade humana e a relação de harmonia entre trabalhadores e patrões pudesse ter a mediação dos preceitos religiosos católicos92. Aqueles intelectuais souberam realizar a clivagem dos fluxos e refluxos que envolvem a história o homem em seus tempos históricos. Viveram, efetivamente, as problemáticas de seu tempo.

Possivelmente, pelas interpretações aqui expostas, Maritain tenha sido um dos filósofos cujo pensamento fora apropriado por Carvalho Neto. Sendo cristão e seguidor das expressões intelectuais católicas francesas do século XX, a filiação ao filósofo francês figura não apenas nas palavras de Ribeiro (1946), mas no conjunto de ações da vida e obra de Carvalho Neto.

A publicação do livro Advogados (1946) reuniu expressões da cultura sergipana, representantes93 políticos do estado, advogados, juízes de direito, médicos, jornalistas, professores, entre eles, Manoel Cabral Machado, eminente advogado e discípulo de Carvalho Neto, que representara a Instrução Secundária naquela efeméride; Magalhães Carneiro, então presidente da Academia Sergipana de Letras, além de representantes de várias instituições como Tavares Bragança, Diretor do Instituto de Química, conforme artigo publicado no Diário de Sergipe, em 23 de agosto de 1946 e quadro a seguir:

______________

92 Sobre a questão religiosa de Carvalho Neto e suas posturas sociais, Cf. Lima, 2008; 2013; Cf. Carvalho Neto, 1946 (Diário da Manhã); 1926 (Legislação e Trabalho: polêmica e doutrina); 1946 (Advogados).

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Manoel Cabral Machado, nascido no município de Rosário do Catete, em 1916, foi criado no município de Capela. Graduou-se em Direito, pela Faculdade da Bahia, em 1942. Ocupou diversos cargos na administração pública: secretário da prefeitura de Aracaju, na gestão de José Garcez Vieira, ocupou cargos no Governo Estadual, sempre ligado aos correligionários do Partido Social Democrático (PSD), criado em 1945, por Carvalho Neto. Professor do Colégio Atheneu Sergipense e dos cursos de Direito, Serviço Social e Economia, da Universidade Federal de Sergipe, Manoel Cabral Machado talvez tenha sido um dos juristas em Sergipe mais ligados a Carvalho Neto, não apenas pelo campo do exercício da profissão, mas pela amizade. Escreveu vários textos sobre aquele que chamava o “mestre do direito” e apreciou a obra daquele jurista, desde seus tempos de mocidade. O professor Manoel Cabral Machado fora um dos difusores da atuação jurídica de Carvalho Neto. Carvalho Neto tivera apenas um biógrafo, seu próprio filho, Paulo de Carvalho Neto (1964; 1989), mas vários intelectuais sergipanos, a exemplo de Manoel Cabral Machado (1999), como João Cajueiro (1956), Thetis Nunes (1984), Magalhães Carneiro (1940), Silva (1971); Dantas (1989; 2012), citaram-no como uma das expressões eminentes da vida intelectual e política sergipana. Thetis Nunes fora a primeira que reconhecera sua relação com a educação brasileira. Seu nome, para os demais, estava imbricado em suas ações na vida jurídica e política. Mas a maioria dos autores, em certa medida, trouxera pistas relevantes de que a posição intelectual ocupada por Carvalho Neto, na sociedade sergipana, foi relevante para que ele unisse vários intelectuais do Direito para concretizar a fundação da Faculdade de Direito de Sergipe (FDS). Cf. Oliveira, 2014; Cf. Lima, 2008; 2013.

Quadro 2 – Amigos, autoridades, intelectuais e professores presentes em homenagem à publicação do livro de Carvalho Neto, Advogados (1946)

NETO, Antônio Carvalho. Advogados: como aprendemos, como sofremos, como vivemos. São Paulo: SARAIVA, 1946, 535 p.

Espontânea e justa homenagem

Nome do convidado Profissão ou cargo

Dr. Marcos Ferreira Interventor Federal substituto

Dr. Osman Hora Fontes Assistente Jurídico da Penitenciária

Professor Magalhães Carneiro Vice-presidente da Academia Sergipana de Letras

Dr. Enoch Santiago Desembargador

Dr. Mário Muniz Ex-prefeito da Capital

J. M. de Abreu e Silva Advogado

Dr. José Calazans B. da Silva Catedrático da Escola Normal

José Coelho Magalhães Comerciante

Dr. Osório Ribeiro Cirurgião Dentista do Serviço Social de Menores

Fernando do Prado Maia Diretor Geral do DSP

Austeclino Rocha Comerciante

Epifânio da F. Dória Academia Sergipana de Letras

Dr. Felte Bezerra Prof. Catedrático do C.F.S

Dr. João Maynard Barreto Tabelião

Dr. Gentil Tavares Engenheiro

Dr. Lauro D. Hora Diretor da S.A.M.I.A

Dr. Milton de Carvalho Diretor Regional dos Correios

Dr. Josafá Brandão Do Conselho Penitenciário

Dr. Manoel Ribeiro Professor Catedrático do Colégio Estadual de Sergipe

Dr. Benedito Cardoso Juiz de Direito da 1ª Vara

Domingos Félix de Santana Tabelião

Dr. Carlos Waldemar Rollemberg Procurador da República

Dr. Otávio Leite Desembargador

Dr. Severino Uchôa Diretor Geral do “DEI”

Acrísio Cruz Assistente Técnico do D. de Educação

Dr. Garcia Moreno Diretor do Serviço de Psicopatas

Dr. Canuto Moreno Médico do Reformatório Penal

José Cruz Estatístico

João Melo de Oliveira Do Serviço Veterinário

Torquato Fontes Comerciante

Arivaldo Prata Comerciante

Dr. Gonçalo Rolemberg Leite Procurador Geral do Estado

Diógenes Hora Acadêmico de Direito

Dr. Aluízio Andrade Médico da Saúde Pública

J. Euclides Souza Tabelião

José Filizola Comerciante

José Francisco Oliveira Comerciante

Oscar Prado Góis Comerciante

Prof. João Cajueiro Catedrático do Colégio Estadual de Sergipe

Dr. José Rollemberg Leite Diretor do SENAI

José Teixeira Martins Delegado Fiscal

Dr. João de Araújo Monteiro Diretor Geral da Fazenda

Dr. João Marques Guimarães Advogado

Coronel Hermilio Carvalho Proprietário

Manoel Sobral Proprietário

João Moreira Representante do Diário de Sergipe

Dr. Antenor Passos Juiz de Direito

Dr. Tavares Bragança Diretor do Instituto de Química

Euler Coelho Diretor do Serviço de Agricultura

Joaquim Martins Fontes Comerciante

Anfilóquio Vale Recebedoria Estadual

Dr. Mário de Menezes Juiz do Tribunal Regional Eleitoral

José Antônio Garcez Proprietário

Américo Passos Tabelião

Gustavo Brandão Imprensa Oficial

Nunes de Melo Pelo alto comércio

Professor Magalhães Carneiro Pela Academia Sergipana de Letras

Dr. José Calasans Pela Instrução Normal e Instituto Histórico e Loja Capitular Cotinguiba

Fonte: Espontânea e justa homenagem. Diário de Aracaju. 23/8/1946.

Após o jantar oferecido pelos amigos que prestigiaram a publicação de Advogados (1946), com um menu regado a mayomnese de camarão, grandjó, creme de aspargos, escalope de filé com purê de batatas, alegria, peru à brasileira com salada mixta, Champagne, compotas, pudim de ameixa, café, licor, charuto, em que “foram tiradas várias fotografias, por

iniciativa geral”, Carvalho Neto fora acompanhado por todos até sua residência, na qual fora saudado por vários intelectuais do estado: Marques Guimarães falou pelos advogados; o acadêmico Hora, pelos acadêmicos de Direito de Sergipe; Manuel Cabral Machado, pela Instrução Secundária; Carlos Sobral, pela classe dos magistrados. Além dos discursos proferidos, os demais intelectuais citados no quadro, que se seguiram a Marques Guimarães, prestaram as homenagens em nome das instituições presentes.

O fato de o livro ter sido lançado pela Saraiva, editora de renome nacional e que tinha como linha editorial a difusão de obras jurídicas, como já dissertado nesta tese, causou, em certa medida, mobilização entre as diversas representações sociais sergipanas daquele momento. Para os conterrâneos de Carvalho Neto, bem como para os grupos formados em torno daqueles nomes. Não era apenas a publicação, contudo, a consagração de outros intelectuais que faziam parte do campo jurídico, das empresas e associações de diversos campos sociais, culturais e econômicos. Aquele momento protagonizou cenas do reconhecimento de um agente do campo, ao mesmo tempo em que servia de ponto de convergência para o reconhecimento de outros, e consagrava, da mesma forma, posições distintas aos que ali estavam presentes. Isso demarcou a legitimação do capital social, cultural e científico de um estado, o de Sergipe, por meio da reunião de filhos ilustres; o que, simbolicamente, colocava o minúsculo rincão numa posição equiparada a dos grandes centros urbanos, por meio do campo jurídico, como analiso, conforme Bourdieu:

[...] O “eu” que compreende praticamente o espaço físico e o espaço social (sujeito do verbo compreender, não sendo necessariamente um “sujeito” no sentido das filosofias da consciência, mas sim um habitus, um sistema de disposições) encontra-se abarcado, em sentido completamente distinto, ou seja, englobado, inscrito, implicado nesse espaço: ele ocupa aí uma posição, da qual se sabe (pela análise estatística das correlações empíricas) estar regulamente associada a tomadas de posição (opiniões, representações, juízos, etc.) sobre o mundo físico e o mundo social. (BOURDIEU, 2001, p. 160).

Possivelmente, a agitação, emoção, mobilização, que se formaram diante da publicação do livro de Carvalho Neto, tivesse, naquele inverno de 1946, levado à consagração não apenas o nome de um de seus filhos já reconhecidos como intelectual daquele “pequeno torrão”, por ter apresentado ao Brasil, em 1926, proposição válida e relevante para a História do trabalhismo brasileiro, mas sim a consagração e a altivez de um estado minúsculo que se elevara ao patamar do grande estado de São Paulo, considerado um dos maiores centros

culturais do Brasil, conforme se pode perquirir por meio da difusão do próprio jornal Diário de Sergipe.

[...] A província não é, como alguém pode supor, uma enseada remansosa por demais propícia à meditação e à produção intelectual. A outros fatores negativos, sobrepõe-se a falta de estímulo que, para intelectuais, funciona como um cáustico no pensamento. Daí representar a publicação de um livro de porte com repercussão e êxito no exterior, um verdadeiro triunfo. Compreendendo e considerando uma vitória sobre o meio a publicação de “ADVOGADOS”, livro em que de par com primores literário se liberta preciosa utilidade à grande classe defensora dos direitos, nada mais justo que a homenagem que ontem, por parte de colegas e amigos, recebeu o ilustrado dr. Carvalho Neto, autor do livro citado. (Diário de Sergipe, Ag., 1946).

Menos a eloquência dos discursos homenageadores, e mais a representação simbólica do prestígio recebido é o que me interessa, no momento em que tomo aquele intelectual, Carvalho Neto, como um jurista que tivera o interesse de lançar ao Brasil, não apenas o conhecimento acumulado ao longo de vários anos sobre o campo jurídico e, por meio dele, ter debatido, publicamente, dentro e fora do Parlamento Nacional, temas sociais centrais que estavam na pauta dos problemas nacionais. Contudo, sim por oferecer, aos estudantes de Direito e aos profissionais já iniciados na carreira, uma obra que desse contribuição à formação da Cultura Jurídica do país.

No discurso de Manoel Ribeiro, ele dividira sua fala em dois momentos: um referido ao homenageado; outro aos convidados que prestigiaram, na ocasião, o jurista Carvalho Neto. Para o autor, o homenageado, ele destacou que Sergipe estaria diante de um estudo de orientação.

[...] “Advogados” é de alto sentido humano. É a afirmação do Valor de Carvalho Neto. É a sua projeção definitiva no cenário intelectual do país. É perfeitamente justificável, pois o movimento consagrador em derredor dele, para prestar-lhe esta homenagem de justiça. Amigos, advogados, admiradores aqui reunidos dão uma demonstração de que sabem reconhecer o mérito onde êle se encontre. É com sentimento de orgulho que vos avistamos, que vos homenageamos, mestre, na convicção de que o fazemos a uma das lidimas expressões intelectuais de Sergipe. Aceitai, portanto, este preito de admiração que vos tributamos na certeza de que somos felizes, porque estamos cumprindo um dever. Orgulhamo-nos de vós, mestre, e de Sergipe, que não trai o seu destino de terra da inteligência e que se projeta no Brasil através da grandeza de seus filhos. (RIBEIRO, 1946, p. 10).

[...] Aceita a razão – que outra não há para inspirar o mimo dêste gesto de cordialidade e apreço – dir-vos-ei com o a outrem dissera Machado de

Assis, em oportunidade parecida: “ao fim de uma vida de trabalho e certo

amor da arte que sempre me animou, vale muito sentir que encontro eco em espíritos ponderados e cultos. [...]. Em atestando uma e outra dessas qualidades, sois, de certo, esses espíritos ponderados e esses espíritos cultos, que vindes consagrar uma vida de trabalho, fazendo eco das ideias que lhe marcaram, pelo tempo, as incessantes e renovadas lutas pelo Direito. Coisa rara em Sergipe, onde a terra geralmente mais se presta Às sementes do servilismo do que às da liberdade, e as idéias, quando boas, sóem fenecer, sem clima propício, numa estufa de mexericos e bandalhices. [...] E porque rara aqui tenho a pedra de toque: – Não estais presos a conveniências ou subalternidades, de qualquer sorte, que vos pudessem quebrantar a vontade ou escurecer o discernimento. Sois, na realidade independentes – pela profissão, pelo comportamento, pelo caráter. Representais Sergipe pelas mais expressivas facetas de sua sociedade. (CARVALHO NETO, 1946, grifo do autor).

Em discurso que, ao mesmo tempo, agradecia, apresentava sua obra e sustentava sua erudição em oratória extensa, Carvalho Neto aproveitara para traçar não apenas detalhadas linhas de seu conhecimento legitimado pela publicação celebrada, citando Rui Barbosa como arauto de seu caminho trilhado, humanistas que lhe ensinaram a escrever e pensar, como Dante Alighieri, com seu Paraíso Perdido, obras épicas, como a Eneida, de Virgílio, para esclarecer que foram daqueles mestres que sorveu as fontes “de onde fluí, pela cristalinidade dos conceitos que emite”. (CARVALHO NETO, 1946, p. 14).

Honra, mas ao tempo o discurso ali pranteado por uma recepção calorosa de seu “torrão natal”, pelas pompas e circunstâncias do receptivo, aproveitava para lançar as farpas de desagravo contra as supostas injustiças sofridas no exercício da profissão, tema levado a lume do começo ao fim da obra. Inconsequências erigidas nas relações de força entre os poderes que emanavam do campo.

Na vida do advogado se entremeiam o inferno, o purgatório e o paraíso, com as suas sombras e claridades, os seus desesperos e esperanças, as suas vitórias e tristezas, a justiça e a injustiça, Deus e o diabo. E para dizer de tudo isto – como aprendemos – como sofremos – como vivemos dentro na eternidade do Direito, era preciso falar com o infinito, como o Dante: “Ma, per tratar del bèn ch’i vi. Dirò dell’ altre còse ch’io v’ò scòrte”. Aliás, além do panorama mundial, com todas as suas vicissitudes políticas e sociais, que interferem com o Direito – ditaduras, totalitarismos, democracias – havia especialmente o plano nacional, para o qual, desde muito, se volviam às vistas dos juristas e chamavam as vozes dos advogados, pedindo soluções ajustadas ao nosso meio. (CARVALHO NETO, 1946, p. 15).

Em suas próprias experiências e desejo de expandir o conhecimento, o autor tivera, ao que parece, a oportunidade de responder aos desafetos, de criticar os próprios pares, o papel

dos juízes e seu cumprimento e descumprimento do dever, denunciar as relações escusas nas relações de poder que envolviam o exercício da advocacia, formadas por meio dos favores políticos, constituídas nas tramas dos tribunais. Porém, traduzir por meio das teorias, doutrina e referências no campo, como adquirir o habitus de um campo profissional.

O ordenamento da formação do pensamento jurídico, nesta análise, produziu o encadeamento lógico proposto pelo autor, a partir de algumas premissas recorrentes na sua obra. Disposição para aprender, disciplina, liberdade para pensar e agir, transpor fronteiras do conhecimento, e respeito incondicional à ética. Esta última, fundamentada numa determinação irredutível para aquisição de uma Deontologia Jurídica. Na visão do autor de Advogados (1946), a boa formação do advogado dependia de sua atenção a tais preceitos.

4.7 AS ORDENS E A DISCIPLINA PARA CONSTITUIÇÃO DOS HABITUS: CAMINHOS