• Nenhum resultado encontrado

5 APRESENTAÇÃO E A ANÁLISE DOS RESULTADOS

5.2 AS RESTRIÇÕES E FREIOS

Nesta categoria, as donas de casa relataram os seus motivos de desistência de compra dos pescados, bem como as restrições e medos quanto à compra e consumo.

Ao longo das observações nos supermercados e lojas especializadas, o pesquisador identificou um comportamento cuidadoso das donas de casa com atitudes incomuns quando comparados à compra de outras carnes. Em frangos e carnes bovinas, a tomada de decisão se mostrou mais rápida com necessidade baixa de informações e análises, demonstrando ser uma decisão rotineira. Em pescados, o tempo de análise foi superior a duas vezes mais, com análise mais

criteriosa. Nas entrevistas foi realizada a investigação para que as entrevistadas falassem sobre a diversidade de restrições e freios quanto à compra de pescados em Belo Horizonte demonstrando uma grande riqueza de informações. Samara & Morch (2005) lembram;

Freios são forças que são contrárias às motivações. Podem ser classificados como inibições, onde forças inibem a compra em função do desconforto potencial e medos, que são forças vinculadas aos pensamentos internos de riscos físicos e financeiros.

As donas de casa foram inquiridas sobre fatores que levam a desistir da compra de um pescado. Diversos atributos citados foram ditados: a confiança, o preço alto, a aparência e apresentação, e a conservação associada aos riscos de contaminação, o odor e ambiente de conservação.

Confiança x Preço - ‖Nem sempre o barato é tão bom”.

(DC4) – “eu desisto quando o camarão está muito miúdo e ou... grande demais, ta o preço muito alto, de repente eu to sabendo de lugar que tem preço melhor que também a gente sabe que pode confiar. Sabe... é... isso que me faz desistir.”

(DC6) – “... hoje eu peguei um classificado de um supermercado, estava em oferta a lula, uma das coisas que eu amo, quando eu olhei congelado, e vi o preço, vi que isso não estava próprio para o consumo, apesar de ser um supermercado de nome, porque pra chegar aquele preço e chegar com um produto importado”

Aparência e Apresentação. Aspectos de estão entre as expectativas das donas de casa que nem sempre são atendidas dentro de seus critérios. Batalha (2001) enaltece que as consumidoras aspiram a alimentos frescos com aspectos de qualidade e frescor dentro destas expectativas.

(DC5) – “Aparência desagradável ou odor forte. Geralmente quando o peixe tá muito, a maioria dos que a gente compra tá muito pálido ou muito escuro. Aquela coisa que a gente observa mais. O visco da carne fresca também dá impressão de carne viva e carne morta, quando a gente pega, parece que ele perde o liquido também, não sei[sei], hidratação também”. DC7) – “Eh (...) a fisionomia do peixe! Se ele tiver com aquele odor, peixe já tem um odor forte, então quando ele tá passado, ele fica mais ainda, acentua mais ainda aquele cheiro. ... Então, sempre procurar um peixe mais fresquinho. ... eu olho o ambiente. Se eu vejo que o ambiente não tem uma higiene adequada. Hum (...) se eu vejo que não tem aquela limpeza, aquela organização, até mesmo os atendentes se eles estiverem de qualquer jeito… Sim, se ele não tiver bem armazenado, ne, e não tiver adequadamente congelado na agua, no gelo, sei lá onde for, aí eu já ... a

visão eu acho que é a primeira que fala. Você olha e não, não bater, não consumo não.”

(DC11) – “Sempre o estado do peixe. Quando a gente quer comer um peixe, a gente vai o mercado da lagoinha, robalo, eu vi que era congelado com aspecto bem aceitável quando degelou mais não era mesma coisa, o sabor não era tão bom, agora o estado dele era aquele peixe morto, sem aquela gosma, a escama saindo fácil e a carne com aquela cor mesmo, e fica aquela marca de gelo.”

DC12,) – “A aparência dele. A aparência. É. O visual e se tiver barato de mais eu não compro. ... Não sei de repente ver o preço de coisas o tempo todo é como se você um iogurte que tem a data de fabricação que no peixe não teria a granel, então quando está mais próximo da validade baixa aquele preço, acho que deveria vir por escrito é vamos supor promoção e explica que é porque o prazo de validade está vencido e o preço ta pra baixo de mais, eu já duvido eu fico com receio.”

(DC15) – “Depende. Às vezes, você vai comprar não tá legal, tá com uma cor feia, tá escuro e o cheiro também, às vezes, não tá agradável, eu desisto da compra.

A conservação associada ao risco de contaminação demonstraram importante atributo que leva as donas de casa a interromper o processo de avaliação e compra de pescados.

(DC18) – “A forma como ele está bem condicionado, a forma, aspecto aparência dele, uma vez já aconteceu deu já chegar pra comprar e eu saber que o freezer está descongelando... não vou comprar um pescado onde que o freezer não está de sua confiança. É o funcionário está te atendendo está ali de uma forma que não... Cheguei o freezer escorrendo água, o peixe todo mal misturado com o, com frango, por exemplo, está embalado em plástico do frango, com o peixe lá, sem embalagem, então isso faz eu desistir da compra, entendi, você chega lá e o o outro fato também se está muito congelado é você vê que tem muito gelo no peixe ali, então você chega esse aqui está puro gelo, ou o aspecto dele é ... de apavora não dá pra comprar... É o que me leva a desistir... meu filho , as vezes eles não pedem porque dependendo do pescado ... Porque eu tenho que identificar se tem espinho, e tudo então e as vezes é complicado de eu pedir pra eles, dependendo do lugar que você está eu tenho que identificar se tem um espinho que eles não vão saber na boca separar um espinho.”

(DC6) – “A falta de higiene, a falta de procedência e o aspecto, que é o que diz, eu não compro sem primeiro colocar a mão, que é apertar um peixe e ver se ele volta imediato, ao ponto inicial e uma série de outras coisas, se ele está, por exemplo, se o pescado não é de uma procedência boa ele começa a dar uma baba, começa a ficar pegajoso, isso é um sinal, também, que ele não está bom.”

(DC8) – “Não, o medo é contaminação porque eu acho q é uma carne mais sensível, né. Eu acho que é um alimento mais que a gente tem que ter mais cuidado pra comprar, né. Então, assim, eu acho que só esse cuidado mesmo, assim.”

O ambiente e o odor são aspectos que motivam a desistência, agindo como freios ao se identificar o odor acentuado e normalmente associado à inadequação de compra.

(DC13) – “É igual eu disse, né, tem que olhar bem. Pode ter, ele congelado, não pode ter bastante dias que tá ali. Então o peixe é uma comida saudável, mas ele é perigoso ao mesmo tempo. Dependendo do peixe, ele te faz mal, dá diarreia, essas coisas.”

(DC14) – “eu tenho [motivos] porque geralmente, por exemplo; a carne de peixe, quando é, a, o peixe ele, ele, ele tem a tendência de descongelar,... se descongela um dia, é, é, a água o mal condicionamento, a limpeza, se ficar água assim em algum canto ele dá mal cheiro, a gente tem que ver o lugar, tem que ver o lugar e tem que ver a, o cheiro do peixe, se realmente, porque o cheiro o, o cheiro de um peixe estragado é totalmente diferente de um peixe que está bem condicionado, que está sabe, agora o congelado você não tem jeito de olhar, então por isso que você tem que saber a procedência, da onde veio como é que é ali, se tem de olhar bem isso o tempo de validade.”

Posteriormente as donas de casa foram motivadas a falar sobre restrições e medos quanto a compra e consumo dos pescados. Novamente o ambiente e o odor foram lembrados e associados ao armazenamento inadequado.

(DC13) – “O ambiente e o cheiro.”

(DC20) – “Você chegar numa peixaria e ver que tá mal armazenado, porque lugar que tem peixe, geralmente o cheiro é bem forte, não é?... Chegar e não ver o peixe bem armazenado ali, igual eles falam pra mim, eu olho no olho, eu olho, mas se não estiver do jeito que tem que tá eu volto e não compro, você tem que ter certeza, senti firmeza, se não tiver não compro não.

DC2 novamente surpreende dizendo que atualmente, com o aprendizado gerado, consegue realizar sua compra com segurança.

(DC2) – “eu tinha restrição… restrição por ter confiança de, que é uma coisa fresca que por aí e realmente por não saber que pescado poderia se fazer de várias maneiras como eu aprendi.”

A presença de espinhos e seus riscos na alimentação foram lembrados pela maioria das donas de casa, que relataram experiências vividas por pessoas próximas que geraram momentos desagradáveis e principalmente medo, percebidas também no momento das entrevistas, através da leitura corporal, expressões e alterações da forma de fala.

Medo de Espinhos

(DC3) – “Pouquíssimos peixes não tem espinhos... eu... gosto muito da tilápia, e se ti... só o filé dela, aí você já consegue elimina todo aquele espinho entendeu, mais poucos peixes você consegue no... mesmo filé que você já compra congelado ainda costuma ter uns espinhozinho, então você tem que ter atenção ensina os ... quando comer, quando tem criança pequena, ou separar entendeu, mais não pra mim não tem restrição não. (DC4) – “já teve na família o caso do Alexandre primo ele quase morreu por causa da espinha de peixe. Está. Sabe... e, eu lembro que a gente quando criança, meu Pai era pescador... a gente comia muito peixe ..No Rio verde e no Rio Sapucaí lá no sul de Minas, então meu pai tinha muita, muito medo de espinho, certo que causava realmente, causa muito problema, ou se vi pro estomago , pode causar uma perfuração dependendo do espinho engasga...espinho realmente é uma coisa perigosa, sabe, e peixe ... e é mais complicado se comido... porque acaba perdendo um pouco o sabor. (DC5) - “...é uma preocupação que a gente tem quando tem criança... e eu, e eu, particularmente, se eu tô comendo um peixe e eu começar a achar muito espinho eu paro de comer. É. Então é uma resistência natural minha. Entendeu? Hum, Hum. Eu tenho bastante essa... Me incomoda. Aí eu já, já num gosto de comer. Então eu procuro sempre... um que tenha, surubim que tenha aquela , a espinha maior, central ali, tudo. A gente gosta muito de fazer moqueca, é, é, a agente usa muito, mais a minha preocupação é com isto, se está fresco e sem espinho...

(DC12,) – “Tenho medo de engasgar com espinho, tava conversando com uma pessoa que me disse que sardinha também tem espinho eu achei que era só o filet de merlusa, não mais tem espinhos, só que eu não conheço.” (DC16) – “È a facilidade [dificuldade] de comer, com o espinho, ele é difícil as vezes é... você corre o risco de atravessar na garganta, o espinho da um serio problema você comer e não ver o espinho e você vê e ele já ta atravessando sua garganta, como eu já vi acontecer dentro da minha casa... É por isso que eu gosto das costas do peixe limpa e calor com menos espinho... tenho medo, porque é horrível você engasgar com o espinho do peixe.”

(DC19,) - “um adulto a gente sabe de casos de pessoas que entalaram com um pedaço... e ir parar no hospital, sô assim o que eu posso evitar pra minha família eu evito mesmo. E ao medo vamos assim dizer. Sim.... a mesma coisa no frango, os espinhos do frango são maiores então eu procuro dar pedaços de frango pros meus filhos onde os ossos são tão grandes onde eu não vou encontrar pedaços de ossos..., quando o peixe que tem um monte de espinho piquininim, que mesmo você catano, catano, catano ainda passa algum, eu evito... Eu não sou uma pessoa desmotivada a comprar pescados não eu pra mim uma filosofia de comprar pescado fora da região de pescado, é diferente. ... É uma filosofia. Uma cultura... É uma cultura minha, minha e do meu marido, nós não sentimos confiança no mercado de belo Horizonte.”