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As Revistas Universitárias de História em Portugal

Èpoque das Revistas

2.5. As Revistas Universitárias de História em Portugal

Em Portugal, o ensino superior de História principiou, como na França, antes de serem criadas revistas universitárias. Armando Luís de Carvalho Homem debruçou-se sobre esta temática no seu artigo, Revistas Universitárias de História no Portugal do

século XX201. Para este historiador, as revistas universitárias de História começaram por não existir, passe o paradoxo, aplicado ao Direito Romano por um Professor dessas matérias, através do uso retórico de uma boutade. Certo é que os periódicos de Clio não acompanharam a tendência que deu expressão aos Estudos Históricos na Universidade, mormente por via do decreto lei de 9 de Maio de 1911, pelo qual foram criadas as Faculdades de Letras de Coimbra e Lisboa, assentes num plano de trabalhos que concilia o ensino magistral com os trabalhos práticos e a investigação científica. Esta última foi incrementada pela criação do Instituto de Estudos Históricos, possuidor de três secções: aquela que dá nome à instituição; a de Filosofia e a de História.

A 19 de Agosto de 1911 foi publicado o Regulamento das Faculdades de Letras, que dedicou uma parte do seu articulado, a terceira, intitulada, Dos exercícios de

Investigação Científica, ao funcionamento do referido Instituto. Essa parcela do

clausulado estende-se por 24 artigos e o quadragésimo quarto prevê a publicação de um Boletim da Universidade, dedicado a trabalhos de alunos ou de sócios, prevendo- se a tiragem de separatas. Todavia, entre 1911 e 1930, as diferenças entre as intenções do legislador e a prática no seio das instituições eram abissais, impondo um hiato difícil de superar ou resolver. No que respeita à Faculdade de Letras de Lisboa, a ausência de Revistas que dessem cumprimento aos postulados legislativamente

201 Inicialmente foi uma comunicação apresentada na mesa-redonda sobre Revistas de História, coordenada por Maria

Helena da Cruz Coelho, e que teve lugar no âmbito dos Estudos Gerais da Arrábida, decorridos no Convento daquela localidade em 30 e 31 de Outubro de 1995.

configurados, parece imputável ao perfil do corpo docente, no qual escasseavam investigadores ou estudiosos dotados de criatividade, à excepção do falecido Rebello da Silva. Carvalho Homem traça o perfil de Manuel Maria de Oliveira Ramos, José Maria Queirós Veloso ou Agostinho José Fortes. O primeiro era um expositor notável, de vasta cultura, que chegou a participar na História de Portugal de Barcelos. O segundo publicou a quase totalidade da sua obra − dedicada, em larga medida, à problemática de 1580 − no limite de idade e depois de aposentado, em qualquer dos casos bem depois da vigência da Revista de História. Por seu turno, Agostinho Fortes teve uma carreira académica muito ocupada, regendo vinte e cinco cadeiras em trinta anos, sem tempo para aprofundar a investigação científica. Era, essencialmente, um divulgador enciclopédico das obras de outros. Este quadro implicou a escassa participação dos autores citados em publicações periódicas, dado que se dedicavam prioritariamente a actividades pedagógicas. Consequentemente, nenhum destes intelectuais escreveu na Revista de História, apesar de muitos dos colaboradores desta terem feito a sua formação no Curso Superior de Letras. Esta situação pode ter- se devido a um desencontro de objectivos ou trajectórias entre o ensino universitário de História e as pretensões do periódico citado. Enquanto aquele insistia na exposição de matérias, eximindo-se a interpretá-las, apostando na compilação de assuntos sem acréscimo de novidade, este pretendia construir um discurso nacional assente na desejada crítica documental. Contudo, Queirós Veloso pertenceu à Sociedade Portuguesa de Estudos Históricos.

Por outro lado, a Faculdade de Letras de Coimbra teve como antecedente a Faculdade de Teologia, que impusera uma tradição erudita que poderia ter sido continuada pela sua sucessora. Tal não aconteceu no imediato, pelo menos com a contundência espectável e no domínio da afirmação da imprensa periódica universitária, que viveu um impasse com resultados semelhantes aos patenteados pela congénere lisboeta, mas de matriz diversa. Em Coimbra, a Faculdade viveu, desde o seu início, tempos percorridos por tensões políticas, atravessados por incertezas, traduzidas em ameaças de extinção da instituição, que foi desanexada e transferida par o Porto em 1919. Até essa data, a insuficiência de financiamentos era crónica e os edifícios insuficientes e precários. A junção destes factores implicou a demora da criação efectiva do Instituto de Estudos Históricos, em 1925, por iniciativa de António Garcia Ribeiro de Vasconcelos, director da Faculdade de Letras de Coimbra entre 1911 e 1920.

Este erudito estava concentrado nas suas tarefas administrativas e na formação de dois discípulos, Joaquim de Carvalho e Manuel Gonçalves Cerejeira. É possível que estes afazeres tenham afastado aquele intelectual da colaboração através de

artigos com a Revista de História, a cuja Sociedade promotora pertencia. Impulsionada pelo surgimento do Instituto referido, surgiu, sensivelmente na mesma altura, a Biblos, revista genérica da faculdade, dirigida por Mendes dos Remédios. Mas havia que esperar duas décadas para o aparecimento de um periódico especificamente dedicado aos estudos Históricos. Conforme defende Armando Carvalho Homem: «Em suma: Tendo em conta as duas mais antigas Escolas Superiores do ofício de Clio, poderemos dizer que, em matéria de publicação de Revistas de especialidade, e tomando o final do anos 30 como “terminus ad quo”, Lisboa não sabe e Coimbra não pode. E será justamente a mais jovem Faculdade de Letras, a do Porto, na sua primeira fase – inaugurada em 1919, na ressaca da crise universitária de que as (algo atrabiliárias, é bom que se diga) reformas do ministro Leonardo Coimbra foram apenas um dos afloramentos – a pioneira em matéria de Revistas. Logo em 1920 se publica uma Revista da Faculdade de Letras (3 números saídos, 1920/23) (…). Avancemos, no entanto, até porque algo bem mais palpitante de imediato se apresenta: é que em 1924, a “Escola do Porto” (e ainda que não pareça, pelo menos oficialmente, ter já instalado o seu Instituto) começa a publicar uma Revista de Estudos Históricos.

Boletim do Instituto de Estudos Históricos. (…) A Revista de Estudos Históricos,

publicou um total de 3 Volumes (1924/25/26), subdivididos em dez fascículos»202.

Coloca-se de imediato uma hipótese, a carecer de confirmação. Quando a

Revista de História surgiu, terão os seus fundadores sentido a necessidade de suprir

uma lacuna no campo editorial universitário, através da criação de um periódico alternativo, mas portador de aspirações científicas, nascido fora daquele circuito? Acresce que a mais aproximada e destacada experiência afim, surgida no exterior das Universidades, era a Revista do Arquivo Histórico Português − à qual nos referimos adiante neste capítulo −, que publicara o seu derradeiro número em 1916.

2.6. Revista de História − Um Periódico Institucional dedicado a Clio;