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Os Primeiros Anos de Actividade da Sociedade Nacional de História

CAPÍTULO III – Apontamentos sobre a Sociedade Nacional de História: Instituição Criadora da Revista de História

3.3. Os Primeiros Anos de Actividade da Sociedade Nacional de História

Descodificando, à Sociedade Nacional de História cabe averiguar acerca dos fundamentos da ciência de Clio para colocá-los em prática em prol do desenvolvimento moral e educativo dos diversos grupos que compõem o todo social no momento político em que o historiador escreve, sem esquecer o papel primordial da lição do passado. Para cumprir tal desiderato, e como respectivo substracto, activa-se O Espírito Histórico entendido como cumprimento de uma causalidade não fixista nem determinista, assente na ideia segundo a qual cada coisa surge mais na sequência da antecedente, do que enquanto dela derivada.

3.3. Os Primeiros Anos de Actividade da Sociedade Nacional de

História

Os relatórios das actividades dos primeiros anos da Sociedade Nacional de História/ Sociedade Portuguesa de Estudos Históricos, até 1915, encontram-se publicados na Revista de História, numa secção intitulada Vida Social. A análise desta documentação permitirá compreender melhor a institucionalização da agremiação, e aquilatar se os pressupostos enunciados pela circular fundadora

236 Ibid.

237 Mário Carneiro – O pensamento filosófico de Fidelino de Figueiredo. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da

foram ou não cumpridos, realizando-se um itinerário que visa comparar as metas constantes de um enquadramento doutrinário e conceptual e o respectivo grau de efectivação, surpreendendo os nexos comunicacionais entre a teoria e a prática, permeáveis a entropias de dimensões variáveis. Os relatórios são redigidos e assinados pelo secretário da Sociedade Nacional de História, Fidelino de Figueiredo, conforme estipulado nas disposições estatutárias para o efeito. O redactor possui um estilo próprio, revelador do seu modo de organizar as informações disponíveis e de encarar as questões que delas sobressaem. Convém indagar, na medida do possível, e apesar dos constrangimentos decorrentes do exercício do secretariado − momentos resultantes da necessidade de objectividade e imparcialidade na elaboração de um instrumento de trabalho vital para o funcionamento da Instituição em causa − a margem de subjectividade − previsivelmente reduzida, mas ainda assim possível − de Fidelino de Figueiredo na materialização da função da qual fora incumbido.

O relatório da vida administrativa e científica da Sociedade Nacional de História referente a 1911-12 foi publicado entre Julho e Setembro deste último ano. Nele se trata das origens, da fundamentação e das bases logísticas da agremiação. Nota-se a insipiência de todo o processo, percorrido por dificuldades várias, geradoras de dúvidas, apreensões. Sente-se a instabilidade e o impasse vividos pela Sociedade Nacional de História, dado que constitui uma instituição criada de raiz, inteiramente nova nos moldes jurídicos que oficialmente assume. Desde logo, era necessário procurar e conseguir instalações, que não existiam, e que eram essenciais, de forma a começar a conferir uma identidade à agremiação, apenas exequível a partir de um espaço físico reconhecível, que funcionasse como eixo agregador dos colaboradores e das actividades a desenvolver, constituindo-se como edifício de referência para os membros da

Sociedade e todos aqueles que se lhe dirijam para obter informações, fazer

propostas ou colocar questões. Para fazer face à falta de instalações, os representantes do Conselho de Direcção procuraram obter recursos de financiamento, que passaram pela angariação de sócios. Paralelamente, começa a ser organizada a Revista de História, angariadora de prestígio e garante da realização de esforços científicos credíveis e consequentes, comprovativos das intenções da instituição fundadora. Fidelino de Figueiredo reconhece, em nome da direcção, que o cumprimento do programa da Sociedade apenas poderia realizar- se a longo prazo, dado que dependia do aumento gradual de verbas disponíveis.

Por outro lado, era necessário acomodar o acervo acumulado pelos membros da Organização e enviados por outras instituições congéneres que com

ela queriam permutar livros, revistas, correspondência. A criação de uma biblioteca própria tornou-se uma prioridade, cuja materialização dependia da existência de instalações próprias, onde se pudessem realizar conferências, congressos, leituras públicas, propícios à divulgação e troca de conhecimentos. Para obviar a estes obstáculos, a direcção da Sociedade Nacional de História em conjunto com a Sociedade de Bibliófilos Portugueses tentou organizar uma sede comum mas, apesar dos desejos de ambas as partes, tal desiderato saiu gorado. Na sequência desta frustração, o Conselho de Direcção da entidade promotora da

Revista de História declarou-se demissionário e procurou uma nova solução para

a carência de meios logísticos: o aluguer de uma ou duas salas a outra instituição congénere. Estes constrangimentos não impediram o cumprimento de parte dos estatutos da Sociedade, possivelmente como forma de demonstração de determinação e persistência.

Assim, foram realizadas dez sessões ordinárias da agremiação e duas extraordinárias, conseguindo-se um total de 15 comunicações. Esta foi a forma mais extrema de propaganda que a Organização encontrou para dar-se a conhecer e afirmar o valor das suas iniciativas e intervenções culturais. Assim, Silva Telles dedicou atenção ao «Primeiro Congresso Internacional das Raças de

Londres», estudo que abriu a Secção de Artigos da Revista de História, enquanto

Leite de Vasconcellos debruçou-se «Sobre uma inscripção tumular da Beira» e

«Sobre dois nomes de deuses lusitanos». Nenhum destes dois textos foi dado à

estampa no periódico. O mesmo não se pode dizer dos seguintes trabalhos de Pedro de Azevedo, à excepção do penúltimo que a seguir se apresenta: «Um

capitão português em Florença no século XVI»; «Destruição de livros»; «O porto franco da villa de Caminha no século XI»; «O navegador português Pedro Fernandes Queiroz»; «Braz Baião no Extremo Oriente em 1540»; «Noticia de um alchimista português em 1562». Por outro lado, Joaquim Fontes deu duas

conferência, a primeira delas impressa na Revista dirigida por Fidelino de Figueiredo: «A estação paleolitica do Casal da Serra»; «Um novo instrumento da

epoca paleolitica».Por seu turno, Fidelino de Figueiredo divulgou quatro estudos,

tendo apenas sido publicado o último: «Uma polemica camoneana no seculo

XVII»; «Uma classificação de generos litterarios»; «Sobre a terminologia da critica literária»; «A Critica Litteraria como Sciencia»238.

Para reforçar e ampliar esses intuitos, as sessões extraordinárias debruçaram-se sobre uma questão polémica entre os políticos republicano no

238 Cfr. Fidelino de Figueiredo – Vida social: relatório da vida scientifica e administrativa no anno de 1911-1912. In Revista de História, vol. 1, n.º 4. Lisboa: Clássica Editora, 1912, p. 257.

poder e os intelectuais: o diferendo acerca das bibliotecas e dos arquivos das corporações religiosas, atingidos pelos efeitos da Lei de Separação do Estado e da Igreja. De tal modo a Sociedade se envolveu neste processo que, no seu relatório se detém sobre a proposta de Pedro de Azevedo, consubstanciada na redacção de um projecto no qual constassem medidas a adoptar na matéria em apreço, apresentadas ao Ministro da Justiça, António Macieira.

O presidente da Sociedade Nacional de História, Silva Teles, serviu de mediador e fez chegar a proposta às entidades competentes, fazendo publicar e distribuir o Manifesto redigido por Pedro de Azevedo nas escolas, secundárias e superiores, nos ministérios, aos deputados, senadores e instituições culturais. A agremiação em análise adoptou uma posição crítica face à nacionalização republicana do património cultural da Igreja e das Ordens Religiosas, demonstrando uma propensão para o envolvimento em questões cívicas. Os jornais de Lisboa − o relatório não refere quais − noticiaram a divulgação do

Manifesto e alguns apoiaram-no. Todavia, a resolução oficial, decorrente de um

acordo com o governo, não foi lograda, confirmando-se esse desfecho a 25 de Outubro de 1912. Antes desta adversidade, a Sociedade Nacional de História empenhou-se a apoiar a iniciativa encabeçada por Pedro de Azevedo. Este esforço deu alguns frutos e surtiu efeito parcial, dado que a Inspecção de Bibliotecas Eruditas e Arquivos adoptou medidas coincidentes com os alvitres do projecto. Prova disso, o convite ao seu presidente, Júlio Dantas para pertencer à Sociedade promotora da Revista de História, tornando-se seu sócio. Paralelamente, em Julho de 1912, em dia não indicado, Fidelino de Figueiredo fez publicar no Diário de Notícias uma informação provinda da Junta Consultiva de Bibliotecas e Arquivos, segundo a qual esta se pronunciou oficial e favoravelmente sobre a recolha no Arquivo Nacional de documentos anteriores a 1600.

Este pronunciamento decalca as pretensões da agremiação devotada a Clio, mormente aquelas que salvaguardam os cartolários, em pergaminho e papel, e os pergaminhos avulsos. Entretanto, outras instituições apoiaram estes desígnios. A Academia de Ciências de Lisboa enviou delegados à sessão de discussão do projecto, enquanto a Sociedade de Geografia de Lisboa contactou o Ministério da Justiça, através de um ofício da responsabilidade do seu presidente, Bernardino Machado e assinado pelo secretário perpétuo, Ernesto de Vasconcelos. No documento diz-se que Machado recebera um pedido de ajuda da parte da Sociedade Nacional de História e resolveu responder afirmativamente a essa solicitação, contactando o governo.

A instituição promotora da Revista de História capitalizou estes apoios e, galvanizada por eles, renovou esforços para resolver o assunto. Assim, a 29 de Julho reiterou a necessidade da luta pela preservação do património arquivístico do país e alertou, com carácter de urgência, os seus delegados provinciais para o dever de evitar desperdícios e destruições. O relatório redigido por Fidelino de Figueiredo dedicou espaço considerável à salvaguarda da memória documental do país, notando-se essa preocupação na forma de organizar a narrativa das actividades desenvolvidas. Primeiro indica-se o desfecho das negociações do manifesto com o Governo, e depois descreve-se, com detalhe, o curso das mesmas, invertendo-se, ao nível discursivo, a trajectória correspondente à realidade dos factos.

A explicação para a utilização desta estratégia narrativa ficou por cumprir , pelo menos em termos explícitos, já que implicitamente pode avançar-se uma justificação para o efeito. O itinerário dedutivo da exposição efectuada parece ir ao encontro do reconhecimento pragmático, instantâneo e imediato de uma decisão, cujo peso é tão relevante, que a respectiva revelação deve anteceder a pormenorização das acções que tentaram evitá-la. Apesar de desatendidas as reivindicações constantes do manuscrito liderado por Pedro de Azevedo, a Sociedade Nacional de História continuou a devolver actividades paralelas, mais consentâneas com os seus poderes – diminutos - e as possibilidades financeiras – escassas − que detinha. Neste âmbito se enquadram a promoção da tradução de um manuscrito de António Gouveia, anterior a 1600, por Teixeira Guedes, e de um outro texto, pouco posterior a essa data, o Quod Nihil Scitur, do filósofo Francisco Sanches. A tradução desta última peça erudita ficou a cargo de Basílio de Vasconcelos. No entanto, nenhuma destas actividades pôde realizar-se no imediato, uma devido à existência de dúvidas acerca da nacionalidade de Sanches, a outra por falta de exemplares disponíveis. Estas dificuldades demonstram que a comunidade científica dedicada à História em 1912 era quase inexistente, muito desorganizada e dispersa, dificultando o acordo acerca de matérias pouco estudadas ou debatidas, em alguns casos por falta dos documentos de acesso aos respectivos conteúdos.

No seu primeiro ano, para além de associar-se a uma causa pública de índole patrimonial, e em paralelo com os seus esforços de pesquisa e recuperação, para efeitos de divulgação de materiais eruditos, a Sociedade Nacional de História desenvolveu esforços de diplomacia cultural e deu pareceres técnicos, que lhe foram solicitados. No primeiro caso, fez permutas com instituições e revistas. No segundo, respondeu a eruditos locais. Patrocínio

Ribeiro, de Beja, quis ser esclarecido acerca das epidemias de 1482 e 1528.Pedro de Azevedo foi encarregado dessa missão e deu o seu parecer em sessão pública. Por outro lado, os herdeiros de António Maria Júdice da Costa procuraram informar-se acerca da valia científica do Dicionário Histórico, Geográfico e

Biográfico inédito, da autoria de um seu antepassado. A resposta a esta questão

ficou em suspenso, por ter sido entretanto encerrado o ano social. Estas consultas demonstram a vontade da Sociedade Nacional de História centralizar e desenvolver esforços de comunicação entre os historiadores e os membros do meio envolvente, interessados nas matérias relacionadas com o curso da História ou na preservação do património privado, de origem familiar. Esta centralização pressupõe a presunção de créditos e valências para o efeito. A agremiação secretariada por Fidelino de Figueiredo assume-se como instância detentora dos mecanismos de arbitragem e avaliação do saber histórico e historiográfico, cumprindo, deste modo, os desígnios − já analisados − pelos e para os quais fora criada.

Praticamente no final de 1912, a instituição promotora da Revista de História tinha recebido 240 volumes no que respeita aos exemplares bibliográficos que lhe foram dirigidos, situação que demonstra que a sua actividade começou a ser reconhecida por outros agentes intelectuais e culturais. Faltava organizar este acervo, com tendência para crescer, e dedicar-lhe um espaço físico reconhecível e condigno. Para alargar este espectro comunicacional, a Revista de História era o instrumento privilegiado da agremiação em causa, e o Conselho de Direcção desta tinha disso consciência, conforme prova o relatório redigido por Fidelino de Figueiredo, que reservou amplo espaço à publicação, que o próprio foi mandatado para dirigir, comprovando-se o vínculo orgânico, estratégico e nodal entre a

Sociedade e a revista, sendo esta orientada por aquela, empenhando-se os

responsáveis em trazer novidade ao meio editorial, carenciado no que concerne a matérias relativas ao ofício de Clio. Desde logo, o título do periódico foi escolhido pelos membros da instituição promotora e indica a necessidade de realização de estudos de carácter histórico, dedicados à História social, ciências correlativas, crítica literária, mas não apenas a estas áreas do saber. A abertura desejada, aliada ao não confinamento a uma única especialidade, decorre da ambição da publicação em contribuir para a renovação intelectual do país, cobrindo vasta plêiade de perspectivas e assuntos, o mais ampla possível, de forma a conferir um carácter nacional ao empreendimento e à instituição de origem, cujo Conselho de Direcção estabeleceu a periodicidade trimestral do seu órgão de comunicação, estribando-se em duas ordens de razões: evitar a provável falta de originalidade

numa iniciativa naturalmente ainda mais recente do que a entidade promotora e promover a pontualidade e assiduidade como marcas distintivas de êxito futuro, assente na criação e fidelização de um público.

No seu primeiro relatório de actividades da Sociedade Nacional de História, o redactor noticia o acolhimento lisonjeiro e benévolo dos três primeiros números da Revista de História, mas exime-se a quantificações ou explicações aprofundadas, cingindo-se a constatar que o número de assinaturas de Portugal e do estrangeiro é animador, tende a aumentar e nele contam-se estabelecimentos de instrução. Em seguida, o documento em análise pronuncia-se sobre questões mais concretas de Gestão financeira da agremiação secretariada por Fidelino de Figueiredo. A primeira referência dirige-se à falta de contabilização das despesas desenvolvidas com os esforços de instalação. Acresce que a Revista foi publicada por um editor que tomou a seu cargo os gastos de edição. As receitas para o ano de 1911-12 resultaram quase em exclusivo da cobrança de quotas aos sócios (143$450) reis e dos adiantamentos da mesma proveniência referentes a 1912- (1913/11$250), perfazendo um total 154$700 reis.239

Assim se conclui a primeira parte do relatório, dedicada às actividades do primeiro ano da Sociedade Nacional de História. No segundo andamento fazem- se alvitres, projecções e expressam-se desejos para o ano seguinte, baseados na experiência entretanto acumulada. Deste modo, percebe que a principal fonte de aprendizagem é a experiência realizada no terreno, prenhe de avanços, recuos, indefinições e fértil em lições para que se não repitam erros anteriormente cometidos e sejam reforçadas as iniciativas que tiveram bons resultados ou aquelas que se encontram suspensas e necessitam de concretização urgente. Nesse impasse encontra-se ainda a questão das instalações da Sociedade, e nunca é demais relembrá-lo, dado que, no momento em que o relatório foi escrito, a agremiação apenas sobrevive nas e através das sessões científicas que promove, e que constituem o único e insuficiente ponto de encontro entre os sócios, que se mantêm dispersos na maior parte do tempo, faltando o favorecimento da unidade e coesão entre eles.

Durante o ano de 1913 as dificuldades agudizaram-se e avolumaram-se. Fidelino de Figueiredo tem em conta que 1912 fora o ano do arranque da Sociedade e, no seu relatório, dá conta das vicissitudes processuais inerentes ao dealbar de qualquer empreitada, acentuadas pelo ineditismo da agremiação dedicada à História de Portugal, que constitui novidade nos moldes societários em que se apresenta. O Secretário do Conselho de direcção do órgão criador e

promotor da Revista de História, no seu balanço de actividades, demonstra alguma capacidade de análise e de síntese da curta vida da instituição quando escreve, no seu balanço efectuado a 22 de Outubro, em nome de toda a estrutura directiva, o seguinte: «Foi este anno de 1912-1913 o segundo de regular funccionamento da nossa sociedade, sem deixar de ser ainda um anno de formação, de progressiva formação devemos dizer, porque todos os alvitres e necessidades, que se apontavam no nosso relatorio de 1911-1912, foram cumpridos, total ou parcialmente. O numero de socios que, ao redigirmos este relatório, era de 40, é hoje de 59, o que representa um augmento de recursos moraes e tambem de receita. A Sociedade tem já séde própria, independente, pelo que a belleza e vastidão excedeu a expectativa, modificou-se o estatuto de acordo com a experiencia e augmentaram as nossas relações exteriores. Devemos, portanto, considerar que houve, na nossa actividade, sequência e progresso»240.

Note-se a insistência no substantivo formação, que denota e qualifica os trabalhos realizados no decurso do primeiro ano da Sociedade Nacional de História. A utilização subsequente nda reiteração como recurso expressivo no mecanismo enunciativo decorre da necessidade de sublinhar o êxito na concretização de um projecto, ainda que o respectivo cumprimento nem sempre seja total, resultando pelo menos parcialmente. As aspirações à obtenção da sede própria tiveram provimento e demonstram a sua reconhecida importância para a institucionalização da agremiação presidida por Silva Telles. As condições materiais e logísticas de enraizamento da Sociedade mereceram foros de precedência e destaque na estrutura discursiva do relatório dirigido por Fidelino de Figueiredo de forma a enaltecer a sua relevância e o poder propulsor e catalisador de vontades que é reconhecido às instalações referidas - situadas nas Paulinas em Lisboa - e que funcionam como âncora ou alicerce da colectividade, embora o seu papel não seja configurado nestes termos. Fidelino exime-se a referir a localização da sede, dado que pressupôs o respectivo reconhecimento por parte dos membros da agremiação promotora da Revista de História.

A parte introdutória do balanço de actividades realizadas em 1913 decorre sob a égide do elogio do trabalho efectuado no ano anterior com reflexos naquele ano. Por outro lado, o aumento do número de sócios da instituição testemunha a sua progressiva implementação, dado que a parte logística não é tudo e de nada serve a sua concretização se não for acompanhada pelo crescente interesse dos

240 Fidelino de Figueiredo – Relatório do anno de 1912-1913. In Revista de História, vol. 2, n.º 8. Lisboa: Classica

intelectuais em fazer parte da Sociedade Nacional de História, enriquecendo-a com os seus conhecimentos científicos mas também através do exemplo moral que desejavelmente representam e constituem. Ora, este tom apologético das virtudes do trabalho produzido em 1913, possuidor de um cariz afirmativo, percorrido por relativa assertividade, pretende preparar e enquadrar aquilo que o desenvolvimento do texto confirma e que diz respeito às dificuldades e entraves encontrados durante os meses em análise.

O primeiro óbice situa-se ao nível da redução do número de sessões da Sociedade. «No anno transacto realizaram-se 9 sessões ordinarias, uma extraordinaria para alterações ao estatuto, e uma especial para leitura do elogio historico de Gabriel Pereira, o que perfaz o total de onze sessões, menos 1 do que no anno anterior, Foram estas sessões menos concorridas de socios que a dos