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de História

Capítulo 1 − Enquadramento Histórico Nacional da Revista de História

1.2. A Primeira República (1910-1926)

1.2.1. Base Demográfica e População entre 1910 e

Até 1910 a população portuguesa era essencialmente rural, vivendo nos campos cerca de 85% dos habitantes de Portugal. Dos restantes, 15% moravam em núcleos de mais de 10 000 pessoas. Destacavam-se, neste conspecto, Lisboa e Porto, que absorviam 68% da população urbana e possuíam mais de 100.000 habitantes. Numa faixa intermédia situavam-se Setúbal, Funchal, Braga, Coimbra e Évora. Entre 1910 e 1920 a população de nove dos 21 centros urbanos decresceu, devido ao aumento da emigração (mormente entre 1911 e 1913) e ao dinamismo das migrações internas. Todavia, em sentido inverso, Braga cresceu 61%, Matosinhos 39,5% e Setúbal 22%.Entre 1921 e 1930 assistiu-se a uma aceleração de todos os centros urbanos, nomeadamente Coimbra, Évora, Portimão, Aveiro e Braga. Nesta medida, o crescimento populacional fora contínuo entre 1861 e 1890, obtendo uma média de 1,2% ao ano.

Todavia, observou-se uma quebra para 0,7% na década seguinte, concretizando-se um abortamento do surto expansionista, retomado entre 1900 e 1910, situando-se o crescimento em 1%.Contudo,na primeira década da República, a conjugação da emigração com as epidemias de 1918-19 ditou novo percalço e uma interrupção momentânea do ímpeto ante-citado. Todavia, tratou-se apenas de breve interregno no crescimento populacional que, entre 1921 e 1930, atingiu 1,3%. Do ponto de vista da estrutura populacional, no primeiro terço do século XX, manteve-se o predomínio de pirâmides etárias jovens, na sequência da elevada mortalidade. Até 1920, os jovens (entre os 0-14 anos) totalizavam 33% da população, enquanto os adultos (entre os 15 e os 59 anos) representavam 57% dos portugueses e os velhos (com mais de 60 anos), correspondiam a apenas 10%, situação que não impediu o envelhecimento progressivo da população entre 1920 e 1940 e, sobretudo, sustentadamente, após a Segunda Guerra Mundial. No que respeita à Taxa de Mortalidade foi declinando a partir de 1890, circunstância que ajuda a explicar o crescimento populacional anteriormente abordado, diminuindo fortemente a mortalidade catastrófica, que regressou na sequência dos surtos epidémicos de pneumonia, ocorridos entre Agosto de 1918 e Julho de 1919. A doença dizimou 50.000 pessoas, principalmente nos aglomerados populacionais de Lisboa e Porto, e deveu-se à conjugação de deficientes condições de habitação e higiene. A

Pneumónica contribuiu para que a mortalidade se tenha cifrado em 42,1% no ano de 1918, descendo para 25.5% no ano seguinte e 23.9% em 1920. Outros focos epidémicos foram protagonizados pelo tifo, que ceifou 1725 vidas no Porto e no Norte de Portugal. Os anos de crise implicaram uma diminuição da população mas, paradoxalmente, passaram a haver mais recursos económicos disponíveis com reflexos ao nível da nupcialidade e do aumento consequente da natalidade.

Simultaneamente, sobretudo entre 1910-20 e, em menor grau na década seguinte, a mortalidade infantil diminuiu – apesar da excepção em 1918-19, quando grassaram os focos epidémicos anteriormente referidos –, aumentando a esperança de vida à nascença. No Porto, a esperança de vida era de 27,3 anos em 1890, 24,5 em 1900 e 35,2 no caso dos homens e 35,8 no das mulheres. Em 1930 verificou-se um crescimento notável no país, situando-se respectivamente nos 46,5 anos e nos 50,6. Este quadro foi consequência do aumento da taxa de natalidade, que até 1920- 24 colocou-se acima dos 30%. Após 1935 o crescimento da produção agrícola associou-se à revolução dos transportes e á diminuição de excedentes, implicando a destruição paulatina do equilíbrio resultante da relação directa entre a natalidade e a nupcialidade.

Quanto à idade do casamento, o intervalo de dez a quinze anos entre a puberdade e esse compromisso nupcial foi atenuado no primeiro terço do século XX, situando-se a idade média da idade do casamento nos 26 anos no caso dos homens e nos 24 nos das mulheres. Paralelamente, o celibato diminuiu até 1940 mas era elevado no que respeitava às mulheres entre os 40 e 44 anos na última do século XIX e na primeira metade do seguinte. No que tange á emigração portuguesa até 1930, correspondeu à continuação da tendência de aumento verificada por toda a Europa. O principal destino dos emigrantes provenientes de Portugal foi a América do Sul, mormente o Brasil. Em 1860 aí se dirigiram 5098 pessoas, aumentando esse número nas décadas seguintes, respectivamente para 15843 em 1870 e 18160 na de 80.

Em 1900 emigraram para o outro lado do atlântico 30.799 indivíduos. Após 1910, 40.050 pessoas procuraram melhores condições de vida no Brasil. A média anual baixou para cerca de metade, 21.185, durante a Primeira Guerra Mundial, interrompendo um fluxo contínuo que atingira o seu ponto mais alto entre 1911 e 1913, registando-se um total de 226.000 emigrantes para o Brasil, subindo este número para cerca de 300.000, no caso de ser tida em conta uma estimativa dos clandestinos. Em 1919, a emigração voltou a aumentar e, na década seguinte, situou-se nos 36.634 indivíduos. Nos anos 30, o Brasil impôs restrições que implicaram um abrandamento da tendência emigratória, não impedindo que Portugal tivesse perdido 1.217.210 habitantes entre 1910 e 1939. Neste lapso temporal a falta de absorção de excedentes

populacionais pela economia portuguesa levou à emigração, mas mais relevante para o seu aumento foi a transferência de dinheiro de Londres para a América do Sul, implicando investimentos na Agricultura e minas, na Indústria e nos Caminhos de Ferro e consequente recrutamento de mão de obra europeia, nela se incluindo a proveniente de Portugal. A angariação era promovida directamente pela actividade de engajadores, ligados a associações coloniais ou a empresas, que recorriam, por vezes, para obter esse efeito, a anúncios de jornal.

O aumento da Emigração entre 1910 e 1929 deveu-se à agressividade dessas campanhas de angariação associada aos maus anos agrícolas motivados pela filoxera. Os distritos mais afectados foram os de Viseu (entre 1910-1919 perdeu 12% da população residente e 11,2% na década seguinte); Porto (que registou taxas de emigração de 9,4% entre 1910-1919 e de 11,2 % entre 1920-1929); Aveiro, Braga, Bragança, Coimbra e Vila Real (sofreram perdas para a emigração de cerca de 8% entre 1910-1919). Por seu turno, em Braga e Vila Real houve entre 20.000 e 30.000 emigrantes na segunda década do século XX. A região norte registou índices mais elevados de Emigração entre 1910 e 1919, havendo maior equilíbrio nas perdas na década seguinte em relação ao Sul do País. Porto e Aveiro continuaram a ser as localidades mais penalizadas. Simultaneamente, a emigração para África era residual e quase inexistente entre 1907 e 1918. No que respeita à caracterização dos emigrantes, em 1912, 2/3 eram homens, 53,6% deles solteiros e 30% menores de 14 anos. Do ponto de vista profissional, 62,3% dos emigrados eram operários agrícolas, seguidos pelos artífices, que representavam 8,2%. Os motivos da emigração coincidiam com a fuga à falta de dinheiro e à fome, na esperança de amealhar rendimentos para constituir família, a exemplo do que acontecera com os brasileiros, que regressaram ricos. Contudo, a perda de homens para a emigração foi compensada pelo afluxo das remessas das suas poupanças a Portugal.

Analisada a base demográfica, convém perceber a estrutura da sociedade portuguesa entre 1910 e 1926. Assim, em 1911, no seio da esmagadora ruralidade anteriormente abordada, na Agricultura trabalhava, como vimos, mais de 50% da população. Do ponto de vista das classes em presença viviam no mundo rural: o proletariado agrícola (totalmente dependente do patronato); o semi-proletariado (camponeses pobres e médios, estes últimos recorriam a assalariados, de forma mais ou menos irregular); camponeses ricos, latifundiários e médios capitalistas. Deste modo, 58% da população rural estava isenta de contribuição predial. Do ponto de vista de representatividade, em 1911, o proletariado agrícola constituía 7,3% e os camponeses pobres totalizavam 36,8% da população, situação que explica a percentagem de 53,5% de semi-proletariado agrícola. Os camponeses médios, ricos e

latifundiários não excediam os 2,2%. Quanto ao rendimento, os 532.134 pequenos proprietários auferiam anualmente, em termos médios, entre 11 e 300 escudos, enquanto o salário diário dos trabalhadores era de 280 reis. No que tange à distribuição geográfica da população pertencente ao mundo rural, no Norte quase não havia camponeses sem terra, ao contrário da tendência dominante a Sul nesse sentido, para onde se dirigiam os camponeses nortenhos com o fito de completar o seu rendimento nas ceifas, debulhas, mondas e na apanha da azeitona. A sociedade rural era, no início da Primeira República, extremamente heterogénea.

Os levantamentos oficiais − concretizados pelo Ministério das Obras Públicas, Comércio e Industria, e pela Repartição do Trabalho Industrial da Direcção Geral do Comércio e Indústria − demonstram que em 1907 havia, no que respeita ao mundo urbano 85.600 proletários industriais, chegando o respectivo número a 100686 e a cerca de 114.000 em 1913 e 120.000 em 1920. Estes dados omitem uma parte da população trabalhadora, dado que não contemplam uma contagem dos que se dedicavam à resinagem, às indústrias agrícolas e caseiras e aos arsenais e oficinas do Estado. Há autores que consideram que devem multiplicar-se por dois os números oficiais de operários apurados, acrescentando-se elementos sobre os trabalhadores empregados em fábricas de menores dimensões, na construção civil, nos Transportes, nas Indústrias do Estado e nas Indústrias eléctricas. Os salários diários auferidos denotavam disparidades sectoriais e regionais. Em Lisboa, a média era de 600 reis no final da Monarquia e 630 reis quando eclodiu a Primeira Guerra Mundial. Por ordem decrescente de rendimento, em 1914 os operários escalonavam-se do seguinte modo: No topo os ramos industrias do tabaco e dos curtumes seguidos pelo do vestuário. No que tange aos sectores industriais a construção civil ocupava lugar de destaque e, em segundo lugar, encontrava-se o têxtil. No interior de cada um destes segmentos de actividade havia enormes diferenças salariais entre os mais e os menos bem pagos, consoante o respectivo grau de especialização.

Quanto às burguesias urbanas, à entrada da Primeira República, comportavam cerca de 800.000 pessoas, havendo 210.000 em Lisboa e cerca de 100.000 no Porto, no ano de 1911. No entender de David Pereira: «Com certeza para este período temos que a situação social não se alterou verdadeiramente até 1914, quando a inflação e a carestia de vida decorrentes da guerra provocaram a depreciação dos salários dos médios e altos funcionários públicos, situação não tão sentida entre as categorias inferiores do funcionalismo público e que acentuou a clivagem entre a pequena burguesia urbana e as classes superiores das classes médias, sobretudo as ligadas à iniciativa privada e aos negócios. Os pensionistas, os juristas, os funcionários públicos, os oficiais do exército, os professores, muitos empregados comerciais e alguns

operários menos favorecidos constituíram o foco de alteração social no sentido depreciativo dos seus rendimentos após 1914, alterando a situação vivida no quadriénio anterior. Esta burguesia burocrática viveu, entre 1910 e 1914, os últimos anos de relativa independência financeira, acompanhada de uma situação remediada ou de bem-estar. Nos anos posteriores a situação piorou de tal maneira que não é abusivo determinar que as classes médias passaram a assentar sobretudo no sector do comércio e dos negócios com rendimentos mais elásticos e capacidade de gerar lucros mais facilmente»90.

Por seu turno, a aristocracia decaiu em 1910, mas recompôs-se em seguida no meio rural. O clero foi mais afectado devido à Lei da Separação do Estado e da Igreja, implicando expulsões de bispos do Porto, Évora, Algarve, Lamego, Braga, Portalegre e Guarda. No que concerne às Forças Armadas, o número de efectivos da Guarda Nacional Republicana e da Guarda Fiscal era difícil de determinar para o ano de 1911, não ultrapassando, provavelmente, 140 a 150 mil efectivos. Nos primeiros quatro anos da República, a pequena burguesia comercial e sectores intermédios viveram um período de relativo bem-estar, mas que não se estendeu à generalidade da população, sobretudo após a Primeira Guerra Mundial, diminuindo o poder de compra de amplas camadas sociais. A propaganda republicana, forte ao nível da simbologia e da representação nacional, não conseguiu implementar, com a profundidade desejada, políticas sociais consentâneas com os seus desígnios propagandísticos91.

Efectuado este enquadramento da base demográfica e social da I República, julgamos estar em melhores condições de acompanhar, em seguida, as vicissitudes do regime republicano desde o seu início.

1.2.2. O 5 de Outubro

O 5 de Outubro de 1910 foi um ponto de chegada, de ruptura e de partida. Constituiu, no entender de João Bonifácio Serra, um movimento insurreccional lisboeta, que não esgotou o processo revolucionário que a ele não se resumiu. Tinha um passado e um futuro contraditório pela frente. Resumamos, sucintamente o que se passou nesses primeiros dias do mês de Outubro de1910. O almirante Cândido dos Reis foi o comandante-chefe das operações. Do dia 1 ao dia 4 iniciaram-se as operações navais. As unidades navais, estacionadas no Tejo, recolheram a Cascais. No segundo dia do mês, Cândido dos Reis marcou a revolução para a noite e madrugada seguintes92. Conforme assinala Ernesto Rodrigues: «O Directório do

90 David Pereira – A Sociedade. In F. Rosas e M.ª F. Rollo – História da Primeira República Portuguesa…, p. 88. 91 Ibid., p 90.

92 Cfr. João Bonifácio Serra – O 5 de Outubro. In F. Rosas e M.ª F. Rollo – História da Primeira República Portuguesa…, pp. 55–56.

Partido Republicano defende, a partir de 1909, a Revolução pelas armas. O Almirante Cândido do Reis é o elo da ligação às tropas e o seu chefe. O professor Miguel Bombarda coordena as estruturas civis, que deverão apoiar os soldados»93 .

Bonifácio Serra detalha que as aspirações revolucionárias sofreram um primeiro revés muito duro. Na manhã do dia 3, o psiquiatra citado foi assassinado, amputando a parte civil da operação. Entretanto, nessa noite, a estratégia militar estava a ser gizada, ficando estipulado que os cruzadores sediados no Tejo disparariam uma salva, recebendo resposta pronta, em terra, por parte de Artilharia 1.Todavia, Machado dos Santos, contrariado com o rumo dos acontecimentos, que lhe retirava protagonismo, não esteve na reunião preparatória mas resolveu executar a tarefa que lhe esteva destinada: tomar Infantaria 16 à 1hora da manhã. Dirigiu-se para Artilharia 1, onde se juntou aos Capitães Pala e Sá Cardoso. Estes, supondo que os outros quatro quartéis já tinham sofrido motins, foram até ao Governo Civil, passando pelo Carmo e pelo Palácio das Necessidades. Todavia, estes planos saíram gorados e a parte militar republicana no que respeita ao exército, falhou. O mesmo não aconteceu na Marinha, dado que tiveram sucesso os levantamentos do quartel dos marinheiros e dos cruzadores Adamastor e S. Rafael.

Simultaneamente, Cândido dos Reis não conseguiu tomar o navio D. Carlos, que continuava em mãos monárquicas. Esta situação levou a que o sinal que esperara não tenha sido dado. Desiludido com este contratempo, o comandante das operações da Marinha suicidou-se às 3 da manhã. Entretanto, ao longo do dia 4 de Outubro, sucederam as campanhas de informação e contra-informação. O Directório e os dirigentes civis da operação revolucionária foram informados de que havia um desastre no edifício dos Banhos, onde iam reunir-se. Alguns dispersaram, voltando a casa, enquanto outros se prepararam para resistência, ao longo do dia, na sede do jornal A Luta em nome de uma inventada Junta Revolucionária94 . As colunas de Pala

e Sá Cardoso foram impedidas de cumprir os seus objectivos, tendo sido obrigadas a dirigir-se para o Rato e depois para a Rotunda onde se encontraram com Machado dos Santos. Às 5 horas da manhã estavam entrincheiradas à espera de novidades. Três horas depois receberam a notícia da morte de Cândido dos Reis. Às 9 horas e 30 minutos, Sá Cardoso convocou os oficiais, incitando-os a desistir e sair do acampamento. Inversamente, Machado dos Santos, acompanhado de alguns sargentos, cadetes, mas também de civis, resolveu resistir. A meio da tarde, o Palácio das Necessidades foi bombardeado e os revoltosos dirigiram-se para o Terreiro do

93 Ernesto Rodrigues – 5 de Outubro Uma Reconstituição, Lisboa: Gradiva, Fevereiro de 1910, p. 80. O autor narra

pormenorizadamente todas as incidências do 5 de Outubro, pelo que nos eximimos a tal tarefa, e remetemos o leitor para esta obra.

94 Cfr. João Bonifácio Serra – O 5 de Outubro. In F. Rosas e M.ª F. Rollo – História da Primeira República Portuguesa…,p. 56.

Paço, ocupando a retaguarda dos monárquicos. Às oito da manhã do dia 5, os monárquicos puseram em marcha um jogo duplo. Enquanto o Encarregado de Negócios da Alemanha pediu uma trégua a Machado dos Santos, as forças no Rossio insistiram em empunhar a bandeira branca da monarquia, desfraldando-a. A multidão não entendeu este gesto, equivocou-se, julgando tratar-se de uma capitulação e invadiu a baixa, impossibilitando qualquer recuperação militar lealista. O respectivo quartel-general rendeu-se e a república foi proclamada 95.

Ernesto Rodrigues narra a seu modo todas estas movimentações: «Quarta- feira, 5 de Outubro. São 8 horas, nesta manhã luminosa: a bandeira da República foi arvorada no castelo de S. Jorge, substituindo a azul e branca. Às 8,20h, as tropas fiéis à Monarquia entregam-se, no Rossio, já vitoriadas. Ao Largo de S. Domingos, reduto da 1ª Divisão Militar que sustém a Monarquia, chega Machado dos Santos: são 8.44h. Impõe a rendição: Manda que se apresse a proclamação da República. Praças da marinha, artilharia e outros regimentos seguem, pela Rua do Ouro, para o largo do Pelourinho, entre povo dando vivas à República. Na varanda da Câmara Municipal de Lisboa, com vereação republicana (…), assomam os responsáveis civis com relevo para três membros do Directório do Partido Republicano Português: Francisco Eusébio Leão, José Relvas, Inocêncio Camacho Rodrigues, por ordem de assinatura do Auto de Proclamação da República Portuguesa»96.

As três personalidades referidas tiveram missões diferentes, conforme consta do documento citado, redigido às 8h e 40 minutos. Eusébio Leão declarou abolida a Monarquia, enquanto Inocêncio Camacho propôs os nomes do Governo Provisório. As informações oficiais indicam que José Relvas procedeu à proclamação da República às 9 de manhã, mas escritores como Raul Brandão ou jornalistas do Diário de Notícias ou de O Século apresentam versões contraditórias. Certas vozes avulsas apontam que o acontecimento teve lugar às onze da manhã, hora demasiado tardia, no entender de Ernesto Rodrigues97. A base de apoio do 5 de Outubro e do Parido

Republicano Português era, conforme tivemos ocasião de afirmar anteriormente, essencialmente urbana, mas o país continuava rural e assim permaneceu, em parte, no novo regime.