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Revistas Académicas e Universitárias de História: Panorâmica Internacional (meados do século XIX-1930) e Nacional

Èpoque das Revistas

2.4. Revistas Académicas e Universitárias de História: Panorâmica Internacional (meados do século XIX-1930) e Nacional

Antes de nos debruçarmos sobre Revistas científicas de História, convém ter em conta periódicos afins dedicados a outros âmbitos, nomeadamente às ciências naturais. Na Historiografia Portuguesa rastreámos apenas uma dissertação de doutoramento sobre estas matérias intitulada Imprensa Periódica Científica (1772-

1852) Leituras de «Sciência Agrícola» em Portugal e realizada por Maria de Fátima

Nunes. Embora o lapso temporal abarcado por esta investigadora seja anterior àquele que prioritariamente nos ocupa, convém tê-lo em conta, para poder estabelecer comparações, apesar da historiadora citada se ter centrado em jornais e não em revistas. O seu trabalho exibe três motivações e dez conclusões. Quanto às primeiras, a autora afirma «como campo de análise aprofundada optou-se por seguir os ritmos de

165Ibid., pp. 64-80.

166 Jacqueline Pluet-Despatin – Les revues et la professionalization des sciences humaines. In La Belle Époque des Revues. Caen: Institut Mémoires de l’Édition Contemporaine, 2002, p. 306.

difusão das ideias agraristas na imprensa periódica científica por três razões: A primeira reside no facto dos temas agrários constituírem uma presença permanente em todos os jornais científicos, instrutivos e recreativos. A segunda prende-se com a necessidade de isolar uma das áreas dos conhecimentos transmitidos; o leque de opções era diversificado: a medicina, a física, a mecânica, a matemática, a botânica A terceira razão prende-se com a realidade de Portugal na primeira metade de oitocentos – uma sociedade e uma economia ainda muito dependentes da actividade agrícola. Um País em mutação histórica, inflamado por debates ideológicos em torno da propriedade, da terra, do proprietário, do agricultor…»167.

Quanto aos resultados apresentados no referido texto convém ter em conta: «1 − Os temas de Leitura de Agricultura foram responsáveis pela dinâmica deste estudo sobre a imprensa periódica científica em Portugal (…); 2-−Em aberto ficaram inúmeras biografias de personalidades da comunidade científica (…); 3 − O modo de operacionalizar a convergência dos domínios seleccionados – Imprensa, Literatura,

Agricultura – foi seguir, milimetricamente, os diferentes elos culturais da genealogia da

leitura agrária, agrarista e agronómica (…); 4 − Quando nos debruçamos especificamente sobre os conteúdos de saberes agrícolas, difundidos e popularizados nestes veículos culturais personalizados, apercebemo-nos que a difusão se efectuou por via de informação descritiva, de cariz teórico-prático, técnico-científico dos conhecimentos da Botânica, da Física e da Química (…); 5 − Ensinar novas técnicas de enxertar vides, de zelar por uma boa manutenção da vinha (…) fez-se através de recursos estilísticos e pedagógicos de mimetismo cultural. A mensagem transmitida pela popularização dos saberes científicos e técnicos efectuou-se à margem dos sobressaltos retóricos, e oratórios, do processo de implantação do liberalismo constitucional (…); 6 − A legitimação da imagem de superioridade da Ciência fazia-se pela via da reputação cultural e científica de cada membro do jornal, mas também por outros caminhos. Um deles foi a tentativa de sensibilizar o poder político (…) no sentido de este accionar medidas necessárias para a concretização institucionalizada dos ideários decorrentes das sucessivas etapas da Nova Agricultura em Portugal (…); 7 − Uma outra modalidade consistiu na publicitação de conhecimentos já experimentados, conjugados com a espectacularidade da erudição clássica, associada à leitura actualizada de edições sobre Física, Química e a Botânica aplicadas à agricultura (…); 8 − Outras incongruências podem ser detectadas quando olhamos para a condição de alguns dos membros da comunidade científica: publicistas e protagonistas do poder político (…) 9 – Num outro plano de observação estas

167 Maria de Fátima Nunes, Imprensa Periódica Científica (1772-1852) Leituras de «Sciência Agrícola». Lisboa: Editora

individualidades (…) evidenciaram percursos ascendentes, no plano cultural e social (…) 10 – No domínio do discurso científico emitido, divulgar os conhecimentos equivalia a veicular uma carga ética e moral (…)»168.

Nos periódicos analisados por Fátima Nunes sobressai a ideia de um grande eclectismo, caracterizado pela associação de saberes vários − das ciências naturais às temáticas do humanismo clássico − e, sobretudo, pela dedicação a questões práticas e pragmáticas próprias de uma área de actividade científica e económica, no caso, a agricultura. Nota-se que as publicações estudadas se encontram mais vocacionadas para a construção e transmissão de conhecimentos úteis, de forma a contribuir para a respectiva divulgação.

Na Revista de História não havia uma preocupação tão rígida com a divulgação de conhecimentos úteis, nem se vislumbrava um estrito pragmatismo. Por outro lado, o eclectismo e sincretismo nela patentes não eram latos como os demonstrados pelos periódicos estudados por Fátima Nunes. Dentro do mesmo âmbito científico sincrético e generalista, no Brasil foi criada já no século XX, em 1902, a Revista do Centro de Ciências Letras e Artes de Campinas. Esta publicação resultou um pouco mais especializada do que a portuguesas ante–citadas e deslocou o seu ecletismo para as três áreas de conhecimento referidas, mas manteve a intenção de atingir públicos alargados e difundir um ideal burguês e capitalista, associado todavia, a uma ideologia positivista. Trata-se de um periódico institucional − como a Revista de História portuguesa − resultante do desenvolvimento da actividade e da transferência para o domínio do estado de S. Paulo da Antiga Estação agronómica, de par com a fundação do Ginásio de Campinas, que alcançou rápida reputação no âmbito da educação. Coelho Netto è o intelectual mais frequentemente apontado como figura de maior destaque no periódico, todavia, o trabalho efectivo mas invisível, esteve a cargo de César Bierrenbach e de Júlio de Campos Novaes.

A publicação campinense compaginou a legitimação da agremiação que lhe deu origem com um enciclopedismo nítido. Conforme afirma Patrícia Michelle Gomes: «Parece-nos plausível acreditar que parte da produção institucional deste periódico (…) trabalha para atribuir credibilidade e valor ao próprio periódico. O restante do seu conteúdo incumbe-se de um saber enciclopédico que, nas ciências, oscila entre vulgarização e especialização, práticas comuns em tempos positivistas, nos quais se almejava vulgarizar e ensinar ciências naturais para os leigos e o saber especializado para os já conhecedores (…)169». A Revista de História também oscilou entre os

requisitos citados, embora em menor escala. Passamos agora a analisar Revistas

168 Ibid., pp. 379-382.

169 Patrícia Michelle Gomes, A Revista do Centro de Ciências Letras e Artes de Campinas (1902-1916). Campinas:

científicas de especialidade, no âmbito das ciências naturais e sociais. No que respeita ao caso francês entre 1880 e 1914, as revistas dedicadas às ciências naturais tiveram uma enorme expansão e cumpriram um trajecto temático-metodológico que, sem esquecer ou obliterar propósitos de vulgarização, privilegiou uma progressiva e crescente especialização. Outras características patenteadas por este tipo de periódicos devem ser tidas em conta: a extensão de objectos e questões; a utilização dos periódicos como laboratórios mas também enquanto extensões dos lugares de experiência e experimentação científica previamente existentes; a profissionalização e a internacionalização que as revistas propiciavam e alimentavam. Embora as Revistas de ciências sociais tenham tentado tomar certas distâncias face àquelas que estudavam Física, Química, ou Biologia, partilharam com elas o exemplo catalisador respectivo e a generalidade dos aspectos ante-citados. Conforme reconhecem Vincent Duclert e Anne Rasmussen: «Cês caractères originaux concèdent priorité aux domaines exacts et expérimentaux, mais s’intéressent également les domaines littéraires, voire juridiques, dans le rapport qu’ils ont choisi d’entretenir avec le critère de scientificité de ce qui releve de la science par contraste avec les savoirs érudits, techniques ou professionnels. L’affirmation croissante de la scientificité des sciences humaines et le role particulier des revues dans cette élaboration (…) rejoignent la vaste recomposition qui se réalise dans le champ général des revues de science à partir des anéee 1870 et débouche au tournant du siècle sur l’emergence des revues scientifiques modernes170».

Por seu turno, Jacqueline Pluet-Despatin estudou o papel das revistas na profissionalização das ciências humanas em França, mormente a Filosofia, a Sociologia, a Psicologia e a História. Resguardemos a última disciplina citada para um tratamento aprofundado mais adiante. Quanto ao âmbito filosófico, a Revue

Philosophique (1876) foi pioneira, beneficiando da liderança de Théodule Ribot. No

que concerne à Sociologia a cientificidade foi preparada por herdeiros ortodoxos de Comte, como Pierre Laffite, que criaram a La Revue de l’Occident (1878), tendo este projecto sido contraditado por outros dois que sofreram a influência católica de Frédéric Le Play, La Reforme Social (1881) e La Science Social (1886). Em 1893 surgiu a Revue International de Sociologie, liderada por René Worms, publicação mais especializada do que as anteriores e, ao contrario delas, voltada para a internacionalização. Todavia, não era ainda portadora de coerência intelectual assente e de uma comunidade de pesquisa. Estes dois vectores foram cumpridos de modo mais inovador e científico, por L’ Année Sociologique (1898), dirigido por Durkheim.No

170 Vincent Duclert e Anne Rasmussen – Les Revues scientifiques et la dynamique de la recherche. In La Belle Époque des Revues. Caen: Institut Mémoires de l’Édition Contemporaine, 2002, p. 238.

domínio da Psicologia, a primeira revista científica no sentido pleno do termo começou a publicar-se em 1895, era liderada por Alfred Binet e designava-se L’Année

Psychologique171.

O cenário de relativa subalternização, ao nível de estudos historiográficos, das revistas, percorrido por um lamento, prenhe de dúvidas e apreensões, é passível de adensar-se se os periódicos abordados possuírem uma natureza específica, como acontece no caso das que se dediquem, academicamente ou não, à História. Contudo, existem dificuldades comuns a todos os tipos de revistas que conduzem à ponderação do seu afastamento como objecto de investigação: Muitas vezes faltam as colecções completas; verifica-se amiúde a inexistência dos exemplares em acervos das Bibliotecas Nacionais. A Revista de História escapa a ambos os obstáculos. Em 1986, na Universidade de Columbia, Margaret Stieg estudou, de modo aprofundado, os periódicos académicos de História, alguns deles de origem universitária, surgidos em finais da primeira metade do século XIX, concretizando um estudo de certo modo singular, na medida em que resulta quase único no seu género − no que respeita à pesquisa bibliográfica que efectuámos − se tivermos em conta a consignação do seu âmbito e fôlego de natureza panorâmica.

A historiadora americana reconhece que o aparecimento das revistas dedicadas disciplinar e tematicamente a Clio funciona como um sinal de amadurecimento das Historiografias nas quais se assistiu a tal impulso e, na sua obra, Origins and

development of Scholarly Historical Reviews – título revelador e significativo, que

configura indiciariamente um programa – concretiza uma diacronia das origens e do desenvolvimento dos periódicos académicos de História, cuja consideração específica e particular, no que à Europa oitocentista respeita, é precedida pela apresentação breve, em diacronia, dos periódicos académicos que sem se dedicarem à Historiografia, antecederam e condicionaram os congéneres devotados a Clio. Em 1667, foi publicado em França o Journal des Sçavans, seguido de iniciativa inglesa semelhante, os Proceedings of Royal Society. Estas apostas editoriais apenas contemplam um interesse parcial em temáticas relativas à História. Por seu turno, os primeiros periódicos que nela se centraram encontram-se associados a aproximações de teor científico e/ou profissional. Em 1830, na Universidade de Berlim, Ranke realizou esforços inaugurais nesta matéria. Neles foi acompanhado e seguido por um antigo aluno seu e discípulo, Adolf Schmidt, No entender de Margaret Stieg, antes da actividade desenvolvida pelos dois eruditos alemães não existiam esforços ao nível imprensa periódica dignos de registo no sentido de incentivar ou criar uma comunidade de historiadores profissionais.

Ranke fundou e dirigiu, entre 1832-1834, The Historisch-Politische Zeitschrift e, apesar da clareza do título, apressou-se a matizar intenções políticas da revista, em favor da projecção de uma natureza histórica e historiográfica, caracterizada pela dedicação a temáticas afins. Apesar destes esforços, os assuntos da polis impuseram- se com maior força e a actualidade invadiu as páginas da publicação logo no número inaugural, no qual se discutiram o mapa da Europa em 1830 e os panfletos franceses do ano seguinte. O director do periódico fez deste uma empresa de teor essencialmente pessoal, no tocante à autoria dos artigos, que assumiu, à excepção de algumas ocasiões nas quais pontificaram colaborações de Savigny. The Historisch-

Politische Zeitschrift foi patrocinada pelo ministro de negócios estrangeiros prussiano,

o conde Von Bernstorff, que tinha em vista dois objectivos: apoiar um órgão que funcionasse enquanto veículo e divulgador das políticas estatais, e distanciar-se da direita mais conservadora. Contudo, compreende-se a relativa resistência de Ranke em considerar a primazia da política na sua Revista. Ele próprio era um historiador e professor de formação e conhecia, certamente por dever de ofício, e na sequência dos seus estudos, os trabalhos pioneiros do barão de Stein, que organizou, em 1819, a Sociedade Nacional de História Alemã e, como respectivo corolário lógico, legitimador da iniciativa, a Monumenta Germânica Histórica, conjunto de fontes e documentos do passado germânico, passíveis de ser acumulados, selecionados, classificados e criticados, através do recurso a métodos de análise de incidência historiográfica.

Este ambiente de fervor patriótico influenciou Ranke, que utilizou a História como meio de inoculação de uma mensagem política solidária com os mentores prussianos das Guerras da Libertação, não deixando, sempre que possível, de pronunciar-se sobre assuntos historiográficos relevantes: «The Historisch – Politische Zeitschrift like

German historical scholarship, was inherently dichotomus. Dispite His inescapably political character, it published some material valuable to the historian. In its pages,

Ranke adressed major historiographical issues, almost the only place he did so in print»172.

Em 1844, Adolf Schmit começou a dirigir, até 1848, a The Zeitschrift fur

Geschischtewissenschaft. Neste periódico, as questões metodológicas e científicas

sobrepujam claramente as políticas, sem contudo obliterá-las. Acresce que, entre a derrota de Iena, em 1815, às mãos de Napoleão, e a criação do Império Alemão, na sequência da vitória na Guerra Franco-Prussiana, deu-se a unificação aduaneira em 1834, o Zollverein, preparatório de processo semelhante ao nível político. Este quadro demonstra que Ranke e outros colegas da Universidade de Berlim contribuíram, de

172 Margaret Stieg – Origins and development of Scholarly Historical Periodicals. Alabama: Universty of Alabama

diversos modos, junto do Governo Prussiano e, por consequência, do Estado, para a elaboração de uma mensagem de teor nacional e nacionalista. Esta afirmação não põe em causa a procura metodologia e epistemológica da objectividade, apenas a coloca em perspectiva, matizando e relativizando os seus pressupostos, mormente a respectiva e abusiva utilização em favor da interpretação do pensamento de Ranke e dos seus contemporâneos como apartidário. Esse alegado apartidarismo é entendido como um mito por alguns sectores da Historiografia.

O historiador brasileiro Júlio Bentivoglio contribui para desmontar esse lugar- comum e desmistifica um outro, segundo o qual a Historiografia prussiana oitocentista se limita a Ranke e nele se esgota: «Lamentavelmente a Historiografia alemã durante o século XIX foi reduzida a uma imagem distorcida e caricata de um historiador só: Leopold Von Ranke. Como se toda a produção historiográfica germânica adoptasse a escrita rankeana da História. Esta imagem duradoura que surge ainda hoje em certas interpretações oblitera a existência de diferentes escolas – ou movimentos – em solo alemão durante os oitocentos, dos quais se destacaram de um lado Ranke e os seus seguidores e do outro a Escola Histórica Prussiana (…). A própria Universidade de Berlim que se destacava agora como o centro nevrálgico prussiano, superando Praga, Frankfurt, Gottingen, Leipzig, expressava o ideal de uma nova Universidade, servindo de modelo para as futuras universidades alemãs, que alterariam os seus estatutos, tendo-a como referência. Mas estas actividades adaptavam-se a uma sociedade aristocrática, na qual estes professores eram transformados em conselheiros

Geheimrate, e vistos como leais e eminentes servidores do Estado. Penso que esta

leitura desmistifica a possibilidade de uma actuação livre e apartidária. Afinal, a adesão dos docentes era obtida por meio de um instrumento: o doloroso processo de habilitação dos candidatos a professores efectivos nas universidades alemãs (…). E é precisamente esta relação entre História, filosofia e política que distingue as escolas históricas que se formam na Alemanha Oitocentista, afinal elas não se limitaram a Ranke ou à sua obra como querem alguns intérpretes, tão pouco constituíam uma identidade absoluta entre todos aqueles historiadores. Os próprios alemães chegaram a reconhecer a existência de várias escolas: a escola Rankeana e Humboldtiana, a escola de Niebuhr (...), a escola filologica de Bockh e de Grimm, a escola romântica de Goethe e Novalis e, finalmente, a Escola Histórica Prussiana»173.

Por seu turno, a Historische Zeitschrift comparece, nesta confluência, no entender de Júlio Bentivoglio, como o sexto e derradeiro passo no sentido da tomada

173 Júlio Bentivoglio– Cultura política e historiografia alemã no século XIX: a escola histórica prussiana e a historische

zeitschrift.

de consciência, por parte dos historiadores, de que a Historiografia como saber possui a sua própria História. Esse lento processo terá começado em 1752 com Chladenius que, na obra Algemine Geschichtwissenchaft, estabilizou a metodologia para o estudo da História, baseada na crítica dos testemunhos patentes nas fontes dos historiadores e perspectivas destes sobre os materiais reunidos. A existência do cultor de Clio como sujeito cognoscente não implica a sanção positiva a derramamentos e impregnações de subjectividade. Uma segunda etapa do percurso de institucionalização da História da Historiografia alemã foi percorrida por Niebuhr, essencialmente na sua História

Romana. Este historiador aprofundou a crítica de documentos, apoiando-se na filologia

e hermenêutica clássicas, sobretudo representadas por Wolf, Bockh, Schleiermaecker, Schelling, Schiller. Droysen – orientado na sua tese de doutoramento pelo primeiro filólogo citado – e Ranke muito admiravam Niehbur, que sugeriu a prática historiográfica de duas operações de aprofundamento crítico: a heurística e a sistemática.

O terceiro momento de institucionalização da História da Historiografia Alemã pertenceu a Humboldt e à sua conferência, proferida em 1821, na Universidade de Berlim, na qual foi reputado mestre, intitulada: O ofício do Historiador, na qual defende que ao historiador cabe reunir factos, estabelecer relações e linhas de força entre eles e expô-los através de uma narrativa, na qual o cultor de Clio funciona como criador, sem perder de vista a objectividade científica. A quarta etapa de institucionalização da História da Historiografia alemã por via monográfica – mas não só – esteve a cargo de Ranke e Droysen, rivais no plano social, que partilhavam o apreço pela crítica histórica, o primeiro através da aplicação prática e metódica dos seus pressupostos, o segundo apostado na criação de um edifício teórico sólido. Este cunho teórico foi retomado e aprofundado, num quinto momento, por Gervinus, que publicou, em 1837 os Fundamentos da Teoria da História, obra na qual afirmou a História como género híbrido, mas diferente da ficção característica da literatura. Foi o primeiro a criar um modelo, genético, de História da Historiografia em território Prussiano. A Historische

Zeitschrift protagoniza o derradeiro andamento deste itinerário e congrega

contributos/ressonâncias dos momentos e autores expostos.

David Ransel configura de outro modo este diagnóstico, acrescentando-lhe determinada informação, no seu balanço intitulado Devenir et Avenir des Revues d’

Histoire174.

174 Que constitui uma intervenção vertida em secção no 18 Congresso Internacional de Ciências Históricas, que teve

lugar em Montreal no Canadá entre 27 de Agosto e 3 de Setembro de 1995. Esta situação atesta a crescente relevância conferida pelos eventos internacionais, nos quais se discutem as ciências Históricas, às revistas de especialidade. Os cômputos ou as panorâmicas que funcionem como sondagens ou rastreios quantitativos, mapeiam, sinalizam e circunscrevem o campo de actividade em análise e impulsionam estudos monográficos e interpretativos

No entender do professor da Universidade de Indiana, Bloomington: «Historical