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Aspectos da coesão não-estrutural dos textos do corpus

4.2 A coesão textual

4.2.2 Aspectos da coesão não-estrutural dos textos do corpus

Como já explicitamos na seção 4.2.1, entendemos a coesão não-estrutural como todo tipo de laço coesivo que relaciona as partes de uma superfície textual para além das relações microestruturais, isto é, o tipo de coesão que se estabelece num domínio mais amplo do texto, relacionando as partes que não estão em relação de subordinação estrita, que, as mais das vezes, extrapolam as estruturas constituintes das orações, sendo que algumas dessas relações podem permear toda a superfície do texto. Adotamos para a análise do corpus nesta seção a categorização feita por Antunes (2005).

Procedemos, primeiramente, à análise dos recursos de associação e de reiteração. Aludiremos, nessa parte da análise, a questões ligadas a flexões de gênero e número de nomes e de alguns pronomes. Em seguida, a fim de obter mais clareza quanto à identificação dos elementos analisados, apresentamos os recursos de conexão.

A fim de dar visibilidade aos fenômenos encontrados, sublinhamos as expressões repetidas e negritamos os pronomes e advérbios substituidores. As retomadas por elipse estão marcadas nas cópias dos textos analisados pelo símbolo ‘Ø’, seguido do referente elidido. Numeramos esses recursos de acordo com a ordem de aparecimento dos referentes na superfície dos textos. Esclarecemos que não numeramos todas as cadeias coesivas presentes nos textos, mas apenas as cadeias referenciais que se prolongam por toda a superfície dos exemplares do corpus.11 Embora não tenhamos numerado os verbos repetidos e outras palavras que retomam alguns desses verbos por meio do processo denominado por Koch (1999, p. 46) de nominalização12, optamos por também sublinhá- los.

Marcamos em azul todas as palavras e expressões presentes nos textos relacionadas ao universo semântico ‘ensino-aprendizagem’, que constituem os recursos de coesão por associação lexical. Esses recursos, que se efetivam principalmente pela seleção do vocabulário ligado à temática desenvolvida nas configurações lingüísticas, estão presentes

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Embora tenhamos consciência de que muitas das expressões referenciais presentes no corpus se constituam de sintagmas em que há um núcleo nominal acompanhado por determinantes e modificadores, decidimos numerar especificamente as palavras que integram algumas cadeias referenciais de acordo com as relações de co-referencialidade. O motivo para essa decisão diz respeito à necessidade de enfatizar o recurso de repetição, que é recorrente na superfície da maioria dos textos do corpus.

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Koch (1999, p. 45-46) apresenta a relação estabelecida entre formas nominais deverbais que retomam verbos e argumentos de uma porção anterior do texto. A autora inclui esse fenômeno entre as formas

remissivas referenciais, que “são aquelas que, além de trazerem instruções de conexão, fornecem indicações

em todos os textos analisados. A relação semântica de associação por partonímia existente entre as expressões que se referem a ‘faculdade’, que representa o todo, e expressões, como, ‘funcionário’, ‘professores’, ‘diretores’, ‘disciplina’, ‘prova’, ‘ensino’, entre outras, que representam as partes do todo, aparece em todos os textos. Os mecanismos de associação lexical são os que, nesses textos, indicam de modo mais efetivo a continuidade semântica. Algumas das palavras e expressões indicadoras dessas relações semântica, além de marcadas em azul, também foram sublinhadas por estarem repetidas, e algumas estão, ainda, numeradas, a fim de indicar as cadeias coesivas referenciais a que pertencem.

Optamos por apresentar os textos em análise, partindo dos exemplares que apresentam maior diversidade de recursos de coesão não-estrutural, para aqueles que apresentam menos recursos. Apresentamos, em primeiro lugar, o conjunto de textos constituído pelo exemplar escrito pelo surdo não-usuário de LIBRAS (texto 5) e pelos os exemplares produzidos pelos surdos usuários de LIBRAS há menos de dez anos (textos 7, 10, 13 e 14). O autor, surdo oralizado não-usuário de LIBRAS, escreveu um texto com superfície íntegra, demonstrando habilidade na formulação das sentenças. Além disso, esse autor demonstra habilidade na marcação da continuidade tópica por meio do uso de diferentes recursos de coesão textual de reiteração. Identificamos, no texto 5, repetições, retomadas por elipses, substituições pronominais por meio de pronomes pessoais retos ‘eu’, ‘ele’, ‘eles’ e a contração ‘dele’, além dos oblíquos ‘me’ e ‘mim’. Chamamos a atenção para o único uso inadequado do pronome oblíquo ‘me’, na linha 13, em que o sistema do português orienta o uso do pronome ‘comigo’. Há, ainda, a substituição por pronome possessivo. Esse autor demonstra mais habilidade que os demais no uso de elipses e de pronomes substituidores para a edificação das cadeias referenciais. Conjeturamos que isso tenha motivado a menor quantidade de repetições. Das cadeias referenciais numeradas no texto, só ocorrem repetições nas que têm como referentes ‘professores’ (cadeia 2) e ‘professor’ (cadeia 4).

O texto 5 é o único do corpus que apresenta o recurso de substituição por nomes genéricos (em vermelho na cópia do texto analisado abaixo), por meio do uso da palavra ‘aparelho’, em substituição a ‘a peça FM (Freqüência Modulada)’, e das expressões ‘essa instituição superior’ e ‘o ambiente’, substituidores do referente ‘faculdade’. Além desse diferencial, aparece a oração ‘O resultado foi positivo’ (marcada em verde), presente no início do terceiro período, que retoma por associação a seqüência do período anterior: “Eu

‘pedido’ feito anteriormente foi satisfatório.13 Estratégia de retomada semelhante, mas feita por meio do uso de um pronome, pode ser verificada na linha 7, em que o pronome demonstrativo ‘isso’ encapsula todo o período anterior: “Quando não entendia, pedia

para eles falarem novamente.” Há, ainda, nesse texto, o uso adequado do pronome

relativo ‘que’ (linha 4), retomando a expressão “o professor [NOME DA PESSOA REFERIDA]”, que conecta a oração adjetiva à oração anterior, introduzindo a oração que expressa a relação de explicação. Ainda observamos o uso do pronome possessivo ‘minha’.

Nas linhas 13 e 14, verificamos a dificuldade do autor com a flexão de gênero do pronome ‘eles’, em três ocorrências, usado para substituir ‘pessoas’. Não deixamos de reconhecer que esse tipo de problema de concordância nominal pode aparecer em textos escritos por ouvintes, principalmente em situações em que o pronome se encontra num ponto do texto afastado do referente. Entretanto, no texto 5, há três ocorrências do pronomes ‘eles’, que se encontram muito próximas ao nome que substituem, o que reduz a possibilidade de equívoco quanto à forma adequada de flexão de gênero e de número. Por isso, entendemos que essa é uma dificuldade relacionada às especificidades interacionais instauradas pela surdez, uma vez que a falta do sentido da audição impede a percepção de todas as formas de uso da língua oral-auditiva.

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O fenômeno identificado por meio da retomada da seqüência: “O resultado foi positivo” é denominado por Koch (2003, p. 107) de anáfora indireta, já que se constitui do emprego de uma expressão anafórica sem referente explícito no texto, mas inferível a partir de elementos nele explícitos.

TEXTO 5

No início do curso de arquitetura, Ø1[eu] estava perdido, Ø1[eu] tinha dificuldade das

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falas dos 3professores. 1Eu pedia a 3eles falarem pouco mais devagar e mais articulado,

mesmo usando 4a peça FM (Frequencia Modulada). O resultado foi positivo, só faltou o

3aprofessor chamado [NOME DA PESSOA REFERIDA] 3aque é 3aprofessor de Matematica, com

3aele, Ø1[eu] não conseguia compreender Ø1[eu] a 2afala 3adele pois Ø2[a fala] era bem

complicada. A comunicação com os 5funcionarios foram o suficiente para 1mim. Quando

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eu não entendia, Ø 1[eu] pedia para 5eles falarem novamente. Isso é comum à

experiência do convívio social. Os 3professores e os coordenadores foram sempre

atenciosos.

Com 4o FM, ajudou muito o aprendizado da Lingua Portuguesa. Ø4[FM] Foi feito para

estimular mais a 1minha audição, pois sempre Ø1[eu] usava 4o aparelho. A cada ano Ø

1[eu] passava na 6faculdade [NOME DA IES], facilitava a comunicação pois Ø1[eu] conhecia

7as pessoas e Ø1[eu] acostumei a conviver com 7eles tanto quanto 7eles aprendiam a 1me

conviver. 7Eles conseguiam 1me compreender nas apresentações dos trabalhos.

Foi importante 6essa instituição superior porque era 6o ambiente estimulante e

comunicativa.

O texto 7, cujo autor é surdo oralizado, usuário de LIBRAS há 8 (oito) anos, na época da coleta, também apresenta uma surpefície bastante íntegra no que diz respeito à estruturação sintática. Quanto aos recursos de reiteração, predomina a repetição, mas ocorre significativamente a substituição pronominal por meio dos pronomes pessoais do caso reto ‘eu’ e ‘eles’. Além disso, todos os usos de pronomes oblíquos ‘me’ e ‘se’ estão em consonância com o padrão do português. Há, ainda, duas ocorrências do pronome possessivo ‘meu’ e uma do possessivo ‘minha’. Além disso, o autor desse texto usou anaforicamente o pronome demonstrativo ‘isto’, na linha 16, iniciando o último parágrafo, a fim de retomar as informações dadas no parágrafo anterior. Há, também, retomadas por elipse. No texto 7, aparece, ainda, uma paráfrase, outro recurso de reiteração, evidenciada na seqüência “uma pessoa adorável [...]”, que retoma a expressão ‘o coordenador’, na linha 2.

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TEXTO 7 1

Eu 1me interesso de estudar na faculdade, desde o início não tinha 2ainterprete e 1me

lutei conversando com o 3coordenador 3uma pessoa adorável de atender os 4asurdos e

não 3Ø [coordenador] sabia quando 4eles precisam, por isso 3Ø [coordenador] atrasou o

conhecimento de 2ainterpretes dentro à faculdade.

O 1meu entendimento durante das aulas com 2binterprete não foi fácil, porque falta os

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sinais que tem muitas palavras novas da arquitetura. Os 2ainterpretes e os 4asurdos

precisam 4se reunir e Ø3 [intérpretes e surdos] discutir para criar umas novas palavras de

5sinais. Ø1[eu] Tenho dificuldade de escrever o memorial justificativo e Ø1[eu] preciso uma

pessoa 1me ajudar corrigir. Ø1[eu] Sou a unica 4bsurda da sala e Ø1[eu] não tenho satisfeita

a relação com os 7ouvintes, porque 7eles sabem que os 4asurdos tem menos vocabulário e

Ø 7

[eles] acham que dar muito trabalho. Um ponto inpaciente que os 8professores não

aceitam quando o 2binterprete corrigir a prova e Ø 1[eu] fico preocupada quando os

8professores não entender a 1minha língua escrita (libras). Ø 1[eu] Já discutir com os

8professores e não adianta mudar a cabeça, porque 7eles acham que os 4asurdos são

preguiçoso de escrever o texto igual aos 7ouvintes.

Isto é o 1meu maior problema e Ø1[eu] preciso melhorar mais quando os 8professores

abrem o conhecimento da escrita dos 4surdos universitários.

No texto 10, além das repetições, das elipses e do uso dos pronomes pessoais ‘eu’ e ‘nós’, que aparece sem o acento gráfico, e do oblíquo ‘mim’, identificamos o uso do pronome possessivo ‘meu’ e do pronome indefinido ‘algum’. Verificamos três ocorrências do advérbio ‘aqui’, nas linhas 1, 9 e 12, substituindo ‘faculdade’.

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TEXTO 10

1Eu, 1[NOME DO AUTOR] nunca tive nenhum, problema, 2aqui na 2faculdade 1meu

relacionamento com os funcionario, 3professores e Diretores são otimo, só um problema,

os 4alunos 4(alguns) não sabe como ajuda o 5surdo, no 6trabalho de apresentação da

7sala de aula. Não quer dizer que seja chato, mas sim a preoculpação como se comunica,

Os 5surdos prefere sempre apresenta 6trabalho na sala junto dos outros 5surdos, os

5surdos sempre Ø 5[surdos] prefere fazer 6trabalho de disciplina junto dos outros 5surdos.

5Alguns quando não Ø 5[surdos] entendi na 7sala o que os 3professores explicou e Ø4[os

surdos] não sabe como fazer, nos fazemos reforço foram particula. A 8intérprete são ótima e Ø 8[intérprete] tem paciência com nós. 1Eu digo que Ø1[eu] tenho nenhum problema 2aqui.

Tudo para 1mim é otimo.

E também Ø 1 e 5[o autor e os outros surdos] fazemos reforço com [NOME DA PESSOA

REFERIDA] com ajuda 4aqui na 2[NOME DA IES] para explica o que não Ø1 e 5[o autor e os

outros surdos] entendemos na leitura do texto.

No texto 13, verificamos a ocorrência de repetições, elipses e substituições pronominais por meio de pronomes pessoais retos ‘eu’, ‘ele’, ‘eles’, além do oblíquo ‘mim’. Aparece, ainda, o pronome relativo ‘que’ (linha 3) e os pronomes possessivos ‘meu’ e ‘minha’. Há três ocorrências do advérbio ‘aqui’, substituindo ‘faculdade’. Quanto aos pronomes, ressaltamos o uso do pronome ‘ela’, na linha 11, que aparece sem referente endofórico. Verificamos a dificuldade do autor com a relação de concordância nominal na seqüência: “[...] aceitei um inscrição [...]”. O uso do artigo flexionado no masculino revela o provável desconhecimento do gênero a que pertence a palavra ‘inscrição’. Outra ocorrência que revela a dificuldade de reconhecimento das possibilidades de flexão de gênero de algumas palavras é a flexão do adjetivo ‘surpresa’, que indica um estado do interlocutor, que é do sexo masculino.

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TEXTO 13

Em 2003 todos 1os surdos tentam queriam fazem a 2prova do 3Vestibular4aqui na

4[NOME DA IES]

. O Diretor da 4[NOME DA IES] aceitou que assinou um contrato como LEI,

eles 1(surdos) 1que ficou muito felizes. Só 1alguns os surdos passam um aprovado no

3vestibular. 5Meu amigo tentou 5comigo, mandar que 5eu vou fazer a 2prova do

3vestibular 4aqui na 4[NOME DA IES], mas não5Ø [eu] posso vou fazer, por que 5Ø [eu]

tenho dois 6aempregos do trabalho pela manhã na Prefeitura e 6boutro pela tarde e noite

na [NOME DA EMPRESA REFERIDA], não deu tempo. O ano passado sai o 6cemprego na

Prefeitura. 5Ø [eu] Vou pensar que vontade fazer a 2prova do 3vestibular já 5Ø [eu] aceitei

um inscrição no mês de janeiro passado 5Ø [eu] passei um aprovado. Pela primeira vez

começar a 5minha aula mas não tem 6aintérprete, depois ela chamou que um 6binterprete

de 6b[NOME DA PESSOA REFERIDA], 5Ø [eu] fiquei feliz, porque 5Ø [eu] entendi muito bem mas

6bele saiu cedo, porque 6bele está estudando no cursode Pedagogia 5ª, 6bele 6b[(NOME DA

PESSOA REFERIDA)] estava escondido que 6b Ø [ele] acha e tímido. 5Eu fica surpresa6bele

6b [(NOME DA PESSOA REFERIDA)] coragem ensinar as línguas das mãos p/ mim, 5Ø [eu] fique

muito feliz. 5Ø [eu] Gosto muito 5Ø [eu] aprendo muito bem todas as matérias, também 5Ø

[eu] gosta de professores4aqui na 4 [NOME DA IES]. 5Ø [eu] Adoro fazer um trabalho com os

grupos no curso de Pedagogia. Agora 5Ø [eu] gosto muito de PORTUGUÊS 5Ø [eu] Quero

aprender bem.

No texto 14, além das repetições, da elipse e do uso de pronomes pessoais substituidores retos ‘eu’ e ‘eles’ e dos oblíquos ‘mim’, ‘o’ e ‘os’, identificamos duas ocorrências do pronome relativo ‘que’ (linhas 1 e 14). Identificamos, ainda, o uso anafórico do pronome demonstrativo ‘isso’, na linha 2, que retoma a idéia expressa na oração anterior: “Na faculdade que eu acho muito boa para os surdos por causa de

inclusão [...]”. Na primeira ocorrência desse pronome, observamos a dificuldade do autor

com a formulação do período. Ainda ocorre o uso anafórico do pronome demonstrativo ‘isso’, na linha 1, que retoma a idéia expressa na oração anterior: “Na faculdade que eu

acho muito boa para os surdos por causa de inclusão [...]”. Há, também, duas ocorrências

do advérbio ‘aqui’, nas linhas 6 e 11, substituindo ‘faculdade’. Também aparece o conector integrante ‘que’, nas linhas 7, 11 e 13. Chamamos a atenção para usos inadequados dos pronomes oblíquos ‘o’ e ‘os’, nas linhas 12 e 14.

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TEXTO 14

Na 1faculdade 1que 2eu acho muito boa para 3os surdos por causa de inclusão,

isso fica mais fácil para 3eles.

Pra 2mim, no começo 2eu achei muito dificuldade entender 4intepretes na aula e no

auditório, 2eu ficava confuso, porque 2eu sabia muito pouco libras, só gestos. Mas foi

otimo que 2eu aprendi muita coisa com 3surdos e 4interpretes.

Bom, 1aqui na 1faculdade que tem poucos 5cursos: Letras, Pedagogia, Psicologia e

Turismo. 2Eu acho que deve colocar mais 5cursos como Computação, Administração,

arquitetura... porque 2eu queria participar outro 5curso 1aqui o que 2eu gosto é

computação.

6Outra faculdade tem inclusão, mas Ø1[outra faculdade] paga 3interpretes por fora,

fica mais caro. 1Aqui não, porque já tem tudo pronto, por isso 2eu tenho esperança que o

diretor resolve para colocar mais cursos.

Os 6funcionários atendem bem aos surdos e entendem-3los pouquinho como

gestos, mas 2eu espero que 6eles melhorem mais a comunicar com os 3surdos.

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Eu agradeço os 6funcionarios, professores e 4interpretes 4que ajudaram-3os

muito.

Nos textos integrantes do segundo conjunto (textos 1, 2, 3, 4, 6, 8, 9, 11, 12 e 15), escritos por surdos usuários de LIBRAS há dez anos ou mais, encontramos os recursos de repetição, elipse, substituição pronominal, principalmente por meio de pronomes pessoais retos. Como já informamos anteriormente, os textos 3, 4, 6, 8, 9, 11, 12 e 15 não apresentam usos de pronomes pessoais oblíquos. Aparece, nos textos 1, 2, 3 e 12, o advérbio ‘aqui’, substituindo ‘faculdade’. Não verificamos a ocorrência do conector integrante ‘que’ na maioria dos textos desse conjunto. Apenas o texto 2 apresenta o uso desse conector.

No texto 1, escrito por um surdo usuário de LIBRAS há 17 anos, na época da coleta, identificamos a ocorrência dos recursos de reiteração por repetição, retomadas por elipse e substituição pronominal, por meio do pronome pessoal reto ‘eu’ e do pronome oblíquo ‘me’. Há uma ocorrência do pronome ‘você’, em referência exofórica ao interlocutor. Aparece, também, o pronome possessivo ‘minhas’ e o pronome indefinido ‘alguma’. 1

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TEXTO 1

Ø1[eu]

Gostaria de saber, Ø1[eu] posso escrever uma carta para você.

Quando 1eu passei no vestibular na 2[NOME DA IES]Ø1[eu] fiquei feliz mesmo. Primeiro

dia de aula, Ø1[eu] começei que tinha medo a relação com 3professores, porque 1eu tenho

dificuldades a relação com 3professores, por isso 1eu não entendia com lábios. Depois

segundo dia que 1eu fiquei abrindo a relação com 4interprete, porque tem Ø1[intérprete]

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me explicou claramente e também Ø1[eu] tenho dificuldades a relação com 5ouvintes, pois

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eu tentei atenção com lábios o que 5ouvintes estava falando. Depois um ano que 1minhas

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colegas, 3professores, alguns as pessoas estudam na 2[NOME DA IES], sabem alguns

7 libras.

Ø1[eu] Fiquei feliz que coordenadora3[NOME DA PESSOA REFERIDA] sabe 7Libras, 1eu

tinha alívio pois não Ø1 [eu] tenho dificuldade a relação com 3[NOME DA PESSOA REFERIDA].

Ø1[eu] Agradeço à Deus, 3alguns professores da 2[NOME DA IES] aceitaram que surdos

escreveram próprio de escrita a 7LIBRAS.

Ø1[eu] Adorei de estudar2aqui na 2[NOME DA IES] e Ø1[eu] tenho conviver com 6colegas

da 2[NOME DA IES].

No texto 2, produzido por um surdo usuário de LIBRAS há 17 anos na época da coleta, predomina o recurso de reiteração por repetição, mas também há retomadas por elipse e substituição pronominal, por meio dos pronomes pessoais retos ‘eu’, ‘ele’, ‘eles’, ‘elas’ e da contração ‘dela’, e o sintagma nominal ‘a gente’, substituindo o referente ‘surdos’ (linha 7). Aparece, ainda, o pronome oblíquo ‘os’, na forma ‘los’ (linha 6). Ocorre, também, o uso do advérbio ‘aqui’, grafada inadequadamente na linha 14 (aque), em substituição da palavra ‘faculdade’.

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TEXTO 2

Ø1[eu]

Percebi a 2[NOME DA IES] ficar melhorar e claro que nunca Ø2[IES] vai a parar,

mas assim vai continuando tem oportunidade, porque que já Ø2[IES] tem planejou com

ouvintes e 3surdos são inclusão.

Então, nas 3asalas dar todos certos, pois é, os 4aprofessores não eram experiências

como próprios 3surdos, depois 4aeles abrim experiências como 3surdos fazem escrivem

próprios de português, mas tem outros disciplinas e 4bprofessores estão preocupadas como

ajuda-3los.

5Coordenação também tem interesse com 3a gente, Ø [eu] percebi 4dela que 4elas

estão preocupadas, dar duas 4cprofessas para reforço com 3os surdos para Ø [os surdos]

entender bem.

Claro que tem cada uma 3bsala e tem um intreperter esclarado e Ø3[os surdos] entende

melhor.

A biblioteca, informaça, lanche, laboratorio, xerox e mais são comunidade com os

3surdos foi ótimo.

Ø1[eu] Agradito o Direito porque que ele aceitou 3os surdos estudam por 2aque a

2[NOME DA IES].

Ø1[eu] Gostaria de recebo a 2[NOME DA IES].

Nos demais textos desse conjunto, também há o predomínio dos recursos de reiteração por repetição e retomadas por elipse. Aparece a substituição pronominal, por meio dos pronomes pessoais retos (‘eu’, ‘ele’, no texto 3), (‘eu’, no texto 4), (‘ela’, no texto 9), (‘eu’ e ‘elas’) no texto 12. Nesse texto, também aparece o pronome de tratamento ‘você’, fazendo referência exofórica ao interlocutor. Outro elemento substituidor presente no texto 12 é o advérbio ‘aqui’ na primeira linha, num movimento catafórico, referindo-se à ‘faculdade’, que aparece citada na última linha. Nos textos 6 e 11, não há usos de pronomes pessoais. No texto 9, identificamos, ainda, o uso do pronome indefinido ‘alguém’. No texto 11, identificamos apenas o uso do pronome possessivo ‘nosso’. Já nos textos 8 e 15, não há uso de pronome algum. No texto 3, identificamos, também, o uso do pronome indefinido ‘outro’ e do advérbio ‘aqui’. No texto 4, ocorre o uso da contração entre a preposição ‘de’ e o pronome demonstrativo ‘isso’ (linha 6) e o pronome possessivo ‘minha’ (linha 13). No texto 6, aparecem os pronomes possessivos ‘meu’ e ‘ minha’. Nos textos 6 e 15, percebemos dificuldades dos autores com as flexões de gênero dos nomes. Nesses textos, chamou-nos a atenção o fato de os autores terem se utilizado de um mesmo recurso que revela a dificuldade com a flexão de gênero (no texto 6, linhas 5 e 8; 1

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no texto 15, linhas 2 e 4). Embora tenham usado artigos definidos do gênero feminino na maioria das ocorrências, optaram por escrever os substantivos nucleares dos sintagmas no masculino, seguidos da desinência ‘a’ entre parênteses. No texto 6, vemos, ainda, o uso do pronome ‘meu’, flexionado de modo inadequado quanto ao gênero, já que se refere à palavra ‘opinião’. No texto 3, transcrito mais adiante, identificamos a palavra ‘lotado’ referindo-se à palavra ‘sala’. No texto 12, observa-se a dificuldade do autor com a flexão de número do pronome ‘elas’, que aparece no plural, substituindo a palavra ‘secretária’.

TEXTO 6

Minha faculdade [NOME DA IES], muito bom, mas 1diretora (feira) falta respeito

com os 2surdos.

funcionário as 3pessoas tem interesse aprender 4libras, mas 3as pessoas tem

vontade aprender de 4libras, porém a 1direito falta aceitar abri o curso de 4libras.

4A professor(a) não saber fazer preparar p/ 2os surdos, Ø4[a professora] não saber

conversar c/ 2os surdos.

Falta fazer organizar como ensinar p/ os 2surdos.

Meu opinião, só falta preparar como ensinar p/ 2os surdos. também 4as professores

precisam aprender c/ conviver os 2surdos.

TEXTO 15

[NOME DA IES]

Na faculdade mais importante de estuda na 1sala. Mas Ø2[eu] dificuldades 3disciplina à

prova ao trabalha escrevelíngua português, Ø2[eu] usar libras igual escreve. 4Professor(a)

e secretaria sabe 3libra falta cartina, tesouro, Biblioteca outro não saber 3libra como

comunicar. Sempre na 1sala 3disciplina Ø [eu] aprende dificuldade a 4professor(a)

necessaria interprete explicar entende claro.

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TEXTO 12 1

Aqui, estam bom, 2alunos estam relação na 3sala, também os 5aprofessores e outras.

Ø6[eu] Acho melhor na 3sala à 4aula, as 5bprofessora vão 7LIBRAS melhor, 5elas ajudam

cada 8surdos desenvolvem e 9relação também funcionários e outros

10Secretária tem responsável organização só 8surdos, cada papel o nome, 5eu gosta

10secratáriaØ6[eu] gosta 8surdos 9relação 10elas.

1[NOME DA IES]

assume ajudar os 8surdos, 6eu esta feliz, mas 8surdos culturais diferente

cada à vida. 8Surdos tem interesse e curiosa à 4aula, 5cprofessora fala muito, Ø 6[eu]

aprende melhor.

11Interprete tem 9relação os 8surdos também ouvir, 6Eu ajuda ensinar 7LIBRAS

diferente o 11interpreteaprende melhor e Ø11[o intérprete] desenvolver.