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4.2 A coesão textual

4.2.1.2 Recursos de substituição

A substituição é o procedimento por meio do qual também se retoma um segmento anterior, variando-se, porém, as expressões lingüísticas. Como recursos de substituição, a autora apresenta a substituição gramatical por meio da retomada por pronomes e advérbios, e a substituição lexical, por meio da retomada por sinônimos, hiperônimos e caracterizadores situacionais. Acrescentamos, também, a retomada por nomes genéricos; por último, Antunes alude à retomada por elipse.

4.2.1.2.1 Recursos de substituição gramatical

Os recursos de substituição gramatical se efetivam por meio do uso de elementos da gramática, a saber, pronomes e advérbios, que retomam outros segmentos presentes nas superfícies dos textos, mantendo com estes, nos contextos em que aparecem, identidade referencial.

4.2.1.2.1.1 Retomada por pronomes

A língua dispõe de diferentes mecanismos de referenciação, que podem funcionar nos textos como recursos coesivos de reiteração. Entre esses mecanismos, estão os pronomes, que, segundo Neves (2000, p. 389), são elementos lingüísticos “que têm a função particular de fazer referenciação, sem, entretanto, nomear, ou denominar como os substantivos”. Antunes (2005, p. 87) informa que os pronomes exercem o grande papel textual “de funcionar como elementos de substituição, como elementos que asseguram a cadeia referencial do texto. Funcionam, assim, como nós de ligação entre seus diferentes segmentos, possibilitando a reiteração, a continuidade que o texto exige para ser coerente”. Os pronomes são palavras fóricas, pois remetem a algum outro elemento.

De acordo com Neves (2000, p. 449), os pronomes pessoais têm como traço categorial a capacidade de fazer referência pessoal, “a uma pessoa ou coisa que foi (função anafórica) ou vai ser (função catafórica) referida no texto; é o caso especificamente dos pronomes de terceira pessoa”. (Grifos da autora). Essas operações ocorrem em relação a referentes presentes nas superfícies dos textos. São, portanto, endofóricas. Os pronomes têm ainda a capacidade de remeter a algum referente que esteja fora da superfície textual. Esse tipo de remissão é denominada exofórica.

EXEMPLO 10

A casa era por aqui ... Onde? Procuro-a e não acho. (Manuel Bandeira)

EXEMPLO 10

Muita e muita gente já a desejou. Alguns a tiveram. Ao longo da década de 80, ela deslumbrou o Brasil desfilando nas passarelas do Rio de Janeiro. Os anônimos que a desejaram, é natural, já a esqueceram. Ela se chama Josette Armênia de Campos Rodrigues. No auge de seu estrelato, chamava-se Josi Campos. Era uma mulher introspectiva, mas batalhadora e guerreira. (ISTOÉ, 29/09/2004).

In: Antunes, 2005, p. 87-88

Todos os demais pronomes (possessivos, demonstrativos, indefinidos e relativos) também funcionam como substituidores, obedecendo, evidentemente, a especificidades de uso inerentes a natureza de cada categoria pronominal.

4.2.1.2.1.2 Retomada por advérbios

Os advérbios que funcionam como substituidores são os que indicam circunstâncias de lugar e de tempo. Estes são categorias dêiticas que, de acordo com Neves (2000, p. 256), “fazem orientação por referência ao falante e ao aqui-agora, que constituem o complexo modo-temporal que fixa o ponto de referência do evento de fala.”

EXEMPLO 11

Passei dois dias em Roma. Lá, encontrei amigos.

4.2.1.2.2 Recursos de substituição lexical

Segundo Antunes (2005, p. 96), o recurso de substituição lexical implica o uso de uma palavra no lugar de outra que lhe seja textualmente equivalente. Em relação à repetição, a substituição oferece uma vantagem, que é aquela de se poder acrescentar informações ou dados acerca de uma referência já introduzida anteriormente.”

4.2.1.2.2.1 Retomada por sinônimos

Antunes informa que a retomada por sinônimos se dá quando se faz a substituição de uma palavra por outra que tenha o mesmo sentido, ou pelo menos, um sentido aproximado.

EXEMPLO 13

O combate à inflação, a luta pelo equilíbrio orçamentário, (...) a batalha da moralização da coisa pública (...) estão sendo levados a sério (Diario de Pernambuco, 1969)

In: Antunes, 2005, p. 101

4.2.1.2.2.2 Retomada por hiperônimos

Os hiperônimos são palavras de sentido geral, que designam classes de seres, por isso, conforme Antunes (2005, p. 98), são denominadas palavras superordenadas. ‘Animal’, por exemplo, pode substituir a palavra ‘gato’ em determinado texto, pelo fato de esta palavra denominar um ser que pertence à classe referida pela palavra superordenada. ‘Gato’, nessa relação, é um hipônimo de ‘animal’. No exemplo abaixo, temos a palavra ‘anfíbios’, o hiperônimo, substituindo na seqüência do texto, a palavra ‘sapos’, o hipônimo.

EXEMPLO 14

Existem evidências de que os sapos habitam a terra desde o período jurássico. Mas, ao contrário dos dinossauros, a mais imponente estirpe de 200 milhões de anos atrás, os anfíbios sempre foram considerados párias do reino animal. (Época, 2004)

In: Antunes, 2005, p. 104

4.2.1.2.2.3 Retomada por nomes genéricos

Um nome genérico, assim como um hiperônimo, também tem sentido geral. Mas o sentido de um nome genérico é mais amplo do que de um hiperônimo; pois não está restrito a determinado campo semântico e, por isso, pode ser usado para fazer referência a coisas de diferentes universos. A palavra ‘item’, por exemplo, pode substituir, em determinado contexto, uma palavra que designe tanto uma peça de vestuário, como um produto alimentício, quanto um equipamento de automóvel, como o ‘air bag’, tal como pode ser visto no próximo exemplo.

EXEMPLO 15

Graças a Deus eu não experimentei a força e eficiência do air bag, pois nunca fui vítima de um acidente. Mas sou totalmente a favor do equipamento. Jamais soube de casos em que pessoas que dirigiam um carro com esse dispositivo tiveram um ferimento mais grave. (...)

Na compra de um automóvel, o brasileiro deve levar em conta os diversos parâmetros de segurança, e não somente a disponibilidade do air bag. Este último item, sozinho, não pode ser considerado o “salvador da pátria”. (ISTOÉ, 1996)

4.2.1.2.2.4 Retomada por caracterizadores situacionais

Como informa Antunes (2005, p. 109), um caracterizador situacional é uma expressão que funciona como uma descrição de um referente, conforme o que é relevante focalizar na situação concreta da enunciação. “O termo caracterização situacional tem, exatamente, a pretensão de pôr em evidência seu aspecto de caracterizar o objeto em questão, porém, conforme as particularidades de cada situação”.

EXEMPLO 16

É com indignação que vejo o sucesso dos Mamonas Assassinas. Tal fato demonstra o baixíssimo nível cultural do povo brasileiro, que, além de engolir sem digerir a futilidade de sertanejos, pagodes, raps e outras idiotices, incorpora a seu cardápio terceiro-mundista a mediocridade desses estelionatários da arte. (Veja, 1995).

4.2.1.2.3 Retomada por elipse

A elipse, segundo Antunes (2005, p. 119), “corresponde à estratégia de se omitir um termo, uma expressão ou até mesmo uma seqüência maior (uma frase inteira, por exemplo) já introduzida anteriormente em outro segmento do texto, mas recuperável por marcas do próprio contexto verbal em que ocorre”.

EXEMPLO 13

O prefeito e o governador se reuniram e Ø [o prefeito e o governador] assinaram um contrato de cooperação.

A elipse assinala a reiteração de um determinado referente na continuidade do texto.