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GESTÃO DE ÁGUA/SANEAMENTO

NOME ORGANIZAÇÃO CARGO SETOR ENTREVISTADO OP 6 CERB Coordenador de

7 A PERCEPÇÃO SOBRE O REÚSO AGRÍCOLA DE ÁGUA NO SEMIÁRIDO DA BAHIA

7.2 A PERCEPÇÃO DE FORMULADORES DA POLÍTICA DE RECURSOS HÍDRICOS

7.2.1 Aspectos Legais e Institucinais

A implementação de programas de reúso agrícola está estreitamente vinculada ao arranjo institucional e legal. É esta estrutura que vai permitir ou impedir que o reúso seja incorporado na agenda de políticas públicas, em todas as esferas de governo. Leis, regras e políticas específicas são fundamentais para a implantação do reúso, mas também fazem parte desta estrutura, leis que regulamentem: uso da água; lançamento de efluentes; uso do solo; e proteção ao meio ambiente, além disso, este arcabouço legal deve definir claramente responsabilidades e culpabilidades em relação à prática do reúso.

Os formuladores de política de recursos hídricos concordam que é fundamental a ampla discussão entre técnicos, poder público, usuários de água e sociedade civil, para uma adequada regulação do reúso. É consenso a necessidade de se definirem papéis entre os órgãos de governo a fim de fomentar o reúso. Entrevistados OP 1, OP 6, OP 7 e OP 12 afirmam que não é função das organizações em que atuam (EMBASA, CERB e INEMA) realizar reúso, com o que estão de acordo representantes do setor usuário (agrícola). Seria necessário que o Poder Público atribuísse responsabilidades nesse sentido.

Em que se destaque,

Considerando que as concessionárias de saneamento não foram inicialmente concebidas sob esse pressuposto, torna-se necessário, do ponto de vista institucional, que haja políticas específicas para mudança da cultura interna com relação a esse tema. Nesse sentido, cabe adotar uma postura de estimular, quando da concepção dos projetos de tratamento de esgoto, a localização de potenciais pontos de consumo dessa matéria prima para que sejam firmadas parcerias nesse sentido. (Entrevistado OP 1 – Poder Público).

É evidente que não é uma vocação da empresa de saneamento a realização de irrigação com água de reúso. É necessário definir a articulação institucional que permita a integração com agências governamentais que realizem ou fomentem a realização do reúso.

[...] o Estado não é produtor, não quer plantar nada. Então vai fazer a utilização daquilo para alguém. Tem que ter alguém que queira explorar empresarialmente aquela água. Porque não vai ser coisa para o Governo fazer. Mas ainda não se conseguiu grupos que se interessem em fazer o reúso (Entrevistado OP 9 – Setor Usuário).

O Entrevistado OP 7 levanta a questão da falta de clareza da legislação atual em relação à abrangência da responsabilidade profissional. Como ainda falta uma regulação clara, pode criar sérios problemas aos profissionais das empresas de saneamento, que poderiam ser chamados a responder legalmente por problemas de saúde pública atribuídos ao reúso. Ainda em relação à legislação atual, o representante da EMBASA observou que a atual legislação é excessivamente restritiva, sendo exageradamente exigente em relação aos padrões de qualidade, constituindo um entrave à realização do reúso. Concordando com ele, representante da sociedade civil afirma:

O padrão de qualidade é estabelecido entre quem trata o esgoto e quem compra. A atual legislação impede o reúso. Se o fornecedor de efluente tratado te diz: é esgoto. A partir daí você lida com ele da forma adequada como se deve lidar com esgoto. (Entrevistado OP 14).

Um aspecto mencionado pelos entrevistados, fundamental para a implantação do reúso, é a articulação interinstitucional. Uma vez que o reúso envolve as áreas de recursos hídricos, saneamento, agricultura e saúde pública, além de outras como desenvolvimento agrário e combate à pobreza, a articulação entre os diversos organismos do Estado é fundamental, além da, já mencionada, articulação com o setor privado, como foi observado pelos Entrevistados OP 8 e OP 9, representantes da Federação de Produtores Rurais da Bahia e da Associação de Agricultores Irrigantes da Bahia, consideram que:

[...] (a articulação interinstitucional) será indispensável para “facilitar” a implantação do reúso. Uma legislação “burocrática” poderá criar muitas dificuldades (Entrevistado OP 2, Usuário).

[...] essa constatação se estende aos outros órgãos públicos que de alguma forma podem ser envolvidos com a questão. Portanto, seria fundamental que houvesse uma articulação com as entidades ligadas à gestão dos recursos hídricos, do uso do solo para fins agrícolas e o órgão ambiental do estado. A instalação de fronteiras agrícolas poderia, a partir dessa articulação, estar submetida ao aproveitamento desses efluentes, sempre que viável, contando ainda com o apoio do órgão ambiental durante o processo de licenciamento

das ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) e de empreendimentos agrícolas, instituindo esse aproveitamento como uma medida de adequação desses dois tipos de empreendimentos (Entrevistado OP 1, Poder Público).

Em um tom mais otimista, o referido entrevistado considera que:

[...] não é difícil não. Procurando seguir as recomendações e articulando com as outras secretarias a gente consegue. A ANA tem normas próprias para isso e bastaria segui-las (Entrevistado OP 10, Poder Público).

7.2.2 Custos do Reúso

Os custos relativos à prática do reúso apresentam-se como uma questão bastante polêmica: não há consenso se os custos aumentariam ou diminuiriam, seja no tratamento do esgoto ou na sua utilização agrícola; não há consenso sobre quem deveria pagar os custos do reúso. Os entrevistados que atuam em gestão de recursos hídricos e saneamento defendem que o usuário pague pelo menos parte do custo de tratamento do esgoto, enquanto que os representantes da agricultura não concordam com essa ideia.

A metodologia de cálculo de custos apresentada por Winpenny (2010) demonstra que é, de fato, necessária uma análise econômica caso a caso para determinar a viabilidade econômica do reúso. Na Região Semiárida, sobretudo, no Território do Sisal, onde a produção agrícola tem tido cada vez menos representatividade na economia, é difícil equacionar positivamente a relação custo benefício. No entanto, a necessidade de diminuir as cargas poluentes que chegam nos rios e, ao mesmo tempo, encontrar soluções de tratamento de esgotos que sejam economicamente viáveis, como determinam as políticas nacional e estadual, possivelmente farão o pêndulo da economia mover-se favoravelmente a favor do reúso.

Os entrevistados OP 2 e OP 3, representantes da Petrobrás e SEDUR, respectivamente, acreditam que o reúso é uma alternativa economicamente viável, podendo ser vantajosa no Semiárido. Outros entrevistados, representantes do CREA, Secretaria da Agricultura, Federação dos Produtores Rurais e EMBASA (OP 4, OP 10, OP 8 e OP1) acreditam que os custos seriam elevados, dificultando a implantação desta prática, sendo levantados os seguintes aspectos:

[...] creio serem elevados, para o cenário atual, levando-se em conta que o custo da água é relativamente baixo. Entretanto, se levarmos em conta o

princípio do poluidor-pagador, a futura cobrança pelo uso das águas pelas agências de bacias e eventuais barreiras por danos ambientais, impostas por países desenvolvidos, a médio e longo prazo esses custos serão absorvidos pela cadeia produtiva. Talvez, num primeiro momento, seja mais interessante ao produtor, buscar métodos mais eficientes de irrigação para reduzir o volume de água utilizado, já que o seu custo tende a crescer (Entrevistado OP 4 – Sociedade Civil).

Este comentário do representante do entrevistado OP 4 está de acordo com a necessidade de se manter o equilíbrio econômico, mas não considera os valores relativos a potenciais melhorias sociais e ambientais que podem resultar do reúso de água. Também não considera que a melhoria da fertilidade do solo e o acesso à água, como mostra experiência internacional, pode resultar da prática do reúso, podem permitir aumentar o interesse sobre a agricultura do Semiárido, permitindo a introdução de culturas de maior valor.

[...] tem vantagem para os dois: a empresa de saneamento economiza alguma coisa e o agricultor tem acesso a uma água que não teria. Deveria ter um rateio entre os dois. Acho que é mais vantagem para a empresa de saneamento. (...) É difícil pagar por água de reúso quando se tem água natural de graça (Entrevistado OP 10, Poder Público).

A disposição de esgoto no solo tem sido uma prática de tratamento de esgotos adotada desde o século XIX em países da Europa, nos EUA e na Austrália. Como tal, o reúso para fins agrícolas pode integrar o sistema de tratamento com vantagens econômicas.

[...] reúso resolve problema ambiental e econômico, e traria benefício financeiro à empresa de saneamento. Onde está definido que o agricultor tem que pagar por essa água? (Entrevistado OP 8, Usuário).

Essa mudança da cultura traz reflexos nos aspectos operacionais e nos custos das concessionárias, bastante positivos. Ao se implantar um projeto de tratamento que vise adequar a qualidade dos esgotos, no sentido de serem aproveitados na agricultura, a matéria orgânica deixa de ser um potencial poluente e passa a ser a matéria prima do processo de produção de alimentos. Esse é o princípio do chamado “reúso direto planejado”, diante do qual o esgoto é tratado e encaminhado diretamente ao ponto onde será utilizado. Considerando que o efluente final deixa de ser um passivo e passa a ser uma matéria prima, é constituída uma nova fonte de receita para a empresa (Entrevistado OP 1, Poder Público).

Esta perspectiva de redução de custos com adubação é observada por Haruvy (1997) e confirmada por Jimenez et al. (2004). É notável que, no México, o reúso de água, não apenas melhorou a estrutura e a fertilidade do solo, como também, as lâminas de água de reúso usadas para retirar o excesso de sal do solo, fez aumentar significativamente a disponibilidade de água subterrânea no estado de Hidalgo.