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GESTÃO DE ÁGUA/SANEAMENTO

NOME ORGANIZAÇÃO CARGO SETOR ENTREVISTADO OP 6 CERB Coordenador de

7 A PERCEPÇÃO SOBRE O REÚSO AGRÍCOLA DE ÁGUA NO SEMIÁRIDO DA BAHIA

7.2 A PERCEPÇÃO DE FORMULADORES DA POLÍTICA DE RECURSOS HÍDRICOS

7.2.4 Riscos e Problemas Associados ao Reúso

O reúso de água é uma atividade que envolve riscos à saúde pública, riscos ambientais e riscos econômicos. Em termos dos riscos ambientais, os entrevistados observaram que o impacto em termos da contaminação do solo e das plantas e a degradação do solo e da paisagem depende do manejo adequado do reúso. O que significa constante monitoramento e planejamento da aplicação da água de reúso. Para o Entrevistado OP 2, setor usuário, é necessário acompanhamento técnico e fiscalização. No que concordam os seguintes entrevistados, que acrescentam:

Há sim a possibilidade de aumento de degradação dos solos, tanto pelo uso inadequado da irrigação, quanto por práticas agrícolas mal conduzidas (Entrevistado OP 4 – Sociedade Civil).

Neste caso, o entrevistado refere-se a riscos agronômicos de perda de fertilidade do solo, com o aumento dos teores de substâncias tóxicas para as plantas, como também alterações na estrutura do solo.

A aplicação de efluentes contendo matéria orgânica e nutrientes deve ser precedida ainda por um estudo da capacidade de suporte inerente ao solo utilizado. O sódio contido no esgoto tratado pode, a depender do tipo de solo em questão, aumentar o nível de salinização e comprometer algumas culturas. Porém, considerando a realidade brasileira, onde a maior parte dos solos está submetida a níveis pluviométricos altos, essa condição é minoritária. No caso do Nordeste, principalmente no Semiárido, este aspecto merece ser analisado para que a cultura utilizada seja de caráter resistente (Entrevistado OP 1, Poder Público).

Os entrevistados concordam que embora o risco exista, o reúso feito com manejo adequado, da forma correta não acarreta riscos á saúde. Lembrando-se que esta prática envolve dois grandes grupos de risco: o dos trabalhadores que vão lidar com a irrigação e o grupo de consumidores de produtos produzidos com água de reúso. Observa-se que;

Riscos sempre vamos ter. O que agente tem que ter na verdade, é uma certa segurança do ponto de vista das metodologias para o que se aplica. [...] De uma maneira geral, eu não vejo nenhuma restrição, desde que seja bem indicada e considerando a segurança que merece para cada indicação. [...] O mais importante é a indicação do que se vai destinar o reúso. Que não seja uso indiscriminado. Sempre que possível, do ponto de vista da saúde humana, o risco deve ser próximo a zero. Trabalhadores que lidam com esgoto fazem parte de um grupo ocupacional de risco para determinadas doenças. [...] Trabalhar para reduzir a probabilidade de ocorrência de eventos de contaminação e doença dos trabalhadores e suas famílias. Reduzir ao máximo o risco para o consumidor (Entrevistado OP 13, Sociedade Civil).

O risco à saúde do trabalhador, mencionado pelo entrevistado 13, configura- se como uma das questões mais destacadas na literatura: Blumenthal et al. (2001), observou a maior incidência de doenças relacionadas à infestação por helmintos entre agricultores que trabalham com água de reúso e aumento da incidência de doenças entéricas entre crianças das famílias desses agricultores. No entanto, estas observações foram realizadas entre agricultores que trabalham com irrigação com esgoto bruto no México. A adoção de parâmetros de qualidade técnicas de irrigação adequados não devem aumentar os riscos aos trabalhadores.

Em relação aos riscos à saúde, há que se levar em consideração que a desinfecção dos produtos alimentícios deve ser feita sempre no ponto de consumo, não importando qual tenha sido o seu processo de produção. Dessa forma, considerando que o tipo e a concentração de contaminantes existentes no esgoto doméstico são amplamente estudados e conhecidos, os processos de desinfecção ordinariamente utilizados no tratamento de esgotos são garantidores de um consumo seguro para muitas frutas, a maior parte dos cereais e certos tipos de outros vegetais.

Ademais, os padrões de qualidade de efluentes que podem ser utilizados para os diversos tipos de reúso agrícola estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde são tipicamente alcançados pelos métodos de tratamento de esgoto amplamente difundidos no Brasil e adotados pela Embasa. (Entrevistado OP 1, Poder Público).

O entrevistado OP 1, representante da EMBASA evidenciou a participação de outros atores no processo, no caso os comerciantes ou os próprios consumidores que seriam responsáveis pela desinfecção dos produtos no ponto de consumo. Essa não tem sido a tendência internacional. A fim de evitar surtos de doenças veiculadas pelo contato de alimentos com águas contaminadas, é fundamental garantir a segurança dos alimentos ofertados à população, são as recomendações da OMS (2006). Esta posição indica que a empresa de saneamento não tem interesse em assumir responsabilidades relativas a esses riscos.

O entrevistado OP 8, representante da Federação de Produtores Rurais da Bahia relativa os riscos à saúde em função dos riscos que a escassez de água representa, mas não deixa de salientar a importância de observar os critérios de segurança. O prefeito (OP 11) destacou a questão da escolha de produtos. A escolha de cultivos não alimentares, forrageiras ou alimentos que serão consumidos após processamentos que eliminem riscos microbiológicos é uma forma de evitar os riscos ao consumidor. Em tais situações os parâmetros de qualidade podem ser menos rígidos facilitando a implantação de reúso onde os recursos para tratamento de esgoto sejam limitados.

As principais preocupações em relação ao reúso seriam de como usar essa água e o que poderia ser feito com essa água, em que lavoura poderia ser reutilizada, em que situação seria útil para o produtor rural. (Entrevistado OP 11, Poder Público).

Outros problemas associados ao reúso referem-se à continuidade das ações e à confiança nas autoridades que atuam na fiscalização sanitária. A continuidade de ações tem duas instâncias, a primeira diz respeito aos programas de governo, que não mantêm a continuidade entre gestões, e a segunda refere-se à própria comunidade que muitas vezes mostra-se incapaz de manter as ações, uma vez que o Estado sai do processo (Entrevistados OP 7 e OP 12, Poder Público). A fiscalização sanitária, por sua vez, é um importante elemento para a implantação do reúso, que pode apresentar problemas de credibilidade junto às comunidades, que se apresenta como uma questão, que os entrevistados acreditam poder ser resolvido institucionalmente (Entrevistado OP 9).