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2 FUNDAMENTOS DA PERCEPÇÃO SOCIAL SOBRE O REÚSO DE ÁGUA

2.6 REGULAÇÃO DO REÚSO AGRÍCOLA NO ESTADO DA BAHIA

Como acontece a nível nacional, na Bahia, a regulação do reúso está atrelada às Políticas Estaduais de Saneamento Básico (Lei No 11.172 de 2008) e de Recursos Hídricos (Lei Nº 11.612 de 2009). A essas leis somou-se a Resolução Estadual Nº 75, de 2010. Este arcabouço legal estabelece as bases para a institucionalização do reúso de água na Bahia, que necessita de leis e resoluções complementares que definam papeis e responsabilidades, no sentido de estabelecer quem vai executar e quem vai regular todas as etapas do sistema de reúso na Bahia.

A Política Estadual de Saneamento Básico, Lei No 11.172 de 2008, foi elaborado em consonância com a Política Federal (Lei No 11.445/2007), com características similares. Vale destacar nesta lei o seguinte princípio estabelecido no Art. 8º:

A Política Estadual de Saneamento Básico será formulada com base nos seguintes princípios:

III - controle social, a ser exercido através de mecanismos e procedimentos que garantam à sociedade informações, representações técnicas e participações nos processos de formulação de políticas, de planejamento e de

avaliação relacionados aos serviços públicos de saneamento básico (BAHIA, 2008).

A Política Estadual de Recursos Hídricos e o Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos foram criados pela Lei Nº 11.612 de 2009, à semelhança da Política Nacional, promulgada na Lei 9.433 de 1997. Estabelece-se o acesso universal à água, o uso prioritário para abastecimento humano e dessedentação animal em situações de escassez, o valor econômico da água e seu caráter finito, o princípio usuário-pagador e a ética ambiental como princípios.

A Lei estadual tem como princípios (Artigo 2º):

“I - todos têm direito ao acesso à água, bem de uso comum do povo, recurso natural indispensável à vida, à promoção social e ao desenvolvimento;

II - em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais;

III - a gestão de recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas;

O reúso, como uma nova fonte de água, favorece a universalização do acesso. A água de reúso pode suprir a carência por esse recurso, em situações de escassez, sem competir com os usos prioritários. Da mesma forma, o reúso contribui para o uso múltiplo da água.

IV - a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;

A cobrança pelo uso da água torna o reúso uma prática interessante aos agricultores que podem ter acesso a uma água de menor custo.

V - o gerenciamento do uso das águas deve ser descentralizado, com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades;

Como já foi mencionado anteriormente, a participação pública é essencial à implantação de sistemas sustentáveis de reúso, compatível com este princípio da lei. VI - a bacia hidrográfica é a unidade territorial definida para o planejamento e o gerenciamento dos recursos hídricos, devendo ser articulada com a política de Territórios de Identidade;

VII - do usuário-pagador e do poluidor-pagador; (Alterado pela lei 12377/2011)

A política de Territórios de Identidade pode facilitar a identificação de vocações agrícolas locais que favoreçam a integração entre tratamento de esgotos e reúso agrícola dos efluentes. Pode-se amenizar para a companhia de saneamento os custos relativos ao cumprimento do princípio do usuário-pagador ou poluidor- pagador, reduzindo-se a carga poluidora que chegaria aos rios por meio da aplicação agrícola de efluentes tratados.

Entre os objetivos desta lei, cabe destacar:

“I - assegurar que os recursos hídricos sejam utilizados pelas atuais e futuras gerações, de forma racional e com padrões satisfatórios de qualidade e de proteção à biodiversidade;

II - compatibilizar o uso da água com os objetivos estratégicos da promoção social, do desenvolvimento regional e da sustentabilidade ambiental;

III - assegurar medidas de prevenção e defesa contra danos ambientais e eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrente do uso dos recursos naturais;

IV - assegurar a equidade e a justa distribuição de ônus e benefícios pelo uso dos recursos hídricos.”

O reúso de água, portanto, apresenta-se como opção de gestão de recursos hídricos e de saneamento compatível e desejável para a efetivação dos princípios e objetivos contidos nesta lei.

A gestão das águas e meio ambiente na Bahia é de competência da Secretaria de Meio ambiente, SEMA. Estão vincados a esta secretaria o Conselho Estadual de Meio Ambiente, CEPRAM, e o Conselho Estadual de Recursos Hídricos, CONERH e o INEMA. As atuações desses três órgãos estão intrinsecamente relacionadas à formulação do arranjo institucional que irá favorecer ou impedir a implantação do reúso agrícola de água no Estado. Nesse sentido, destacam-se entre as suas competências, respectivamente:

– CEPRAM – entre as competências do CEPRAM, destacam-se: formular, acompanhar e avaliar a política estadual de meio ambiente e sua execução, promovendo as medidas necessárias à sua atualização e eficácia; estabelecer as diretrizes, normas, critérios e padrões relativos ao

controle e à manutenção da qualidade do meio ambiente, com vistas ao uso racional dos recursos ambientais (BAHIA, 2011).

– CONERH – a este órgão compete estabelecer normas para implementação da Política Estadual de Recursos Hídricos e para a aplicação de seus instrumentos; fomentar a articulação do planejamento de recursos hídricos com os planejamentos nacionais, regionais, estaduais e dos setores usuários; apresentar contribuições para a elaboração do Plano Estadual de Meio Ambiente (BAHIA, 2011).

– INEMA – “é o órgão executor da Política Ambiental do Estado da Bahia. Criado a partir da junção de duas autarquias da Sema (o Instituto do Meio Ambiente - Ima, e o Instituto de Gestão das Águas e Clima - Ingá), o Inema propõe integração e fortalecimento das políticas ambientais e de recursos hídricos, levando mais agilidade e qualidade aos processos. Para os usuários do Sistema Estadual do Meio Ambiente (SISEMA), o Inema atende às demandas de meio ambiente e recursos hídricos de forma integrada, implicando em mais comodidade.” (BAHIA, 2011).

No estado da Bahia, o reúso tem sido discutido na esfera governamental, mas ainda é uma prática incipiente. No Fórum África – Brasil Sustentabilidade das Águas, promovido pelo (já extinto e substituído pelo INEMA) Instituto de Gestão das Águas e Clima – INGÁ, o reúso de águas servidas foi apresentado como elemento fundamental da gestão de recursos hídricos. Atualmente, está sendo estudada a possibilidade de adaptação para o Semiárido Baiano de ações de reúso de água adotadas em Israel (BAHIA, 2009). Em julho de 2010, o Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CONERH) aprovou a proposta de resolução que estabelece procedimentos para disciplinar a prática de reúso direto não potável de água no setor agrícola e/ou florestal, em consonância com a Política Nacional de Recursos Hídricos definida pela resolução CNRH nº 54, de 28 de novembro de 2005.

A Resolução Estadual nº 75, de 29 de julho de 2010 estabelece procedimentos para disciplinar a pratica de reúso direto não potável de água na modalidade agrícola e/ou florestal, adotando as recomendações da OMS de características microbiológicas para a água de reúso.

O Artigo 3º da Resolução no 75 estabelece as características microbiológicas recomendadas em todos os tipos de reúso para fins agrícolas e/ou florestais, tais como remendadas pela OMS (Quadro 3):

Categoria CTer por 100 ml(1)

Ovos de

helmintos por litro(2)

Observações

A(3) ≤1x103 ≤1 ≤1x104 CTer por 100 ml no caso de irrigação localizada, por gotejamento, de cultivos que se desenvolvem distantes do nível do solo ou técnicas hidropônicas em que o contato com a parte comestível da planta seja minimizado.

B(4) ≤1x104 ≤1 ≤1x105 no caso da existencia de barreiras adicionais de protecao ao trabalhador (5).

E facultado o uso de efluentes (primarios e secundarios) de tecnicas de tratamento com reduzida capacidade de remocao de patogenos, desde que associado ao metodo de irrigacao subsuperficial(6).

Notas:

(1) Coliformes termotolerantes (CTer); média geométrica durante o período de irrigação, alternativa e

preferencialmente pode-se determinar E.coli.

(2) Nematóides intestinais humanos; média aritmética durante o período de irrigação.

(3) Irrigação, inclusive hidroponia, de qualquer cultura incluindo produtos alimentícios consumidos crus.

(4) Irrigação, inclusive hidroponia, de produtos alimentícios não consumidos crus, produtos não alimentícios, forrageiras, pastagens, árvores, cultivos usados em revegetação e recuperação de áreas degradadas.

(5) Barreiras adicionais de proteção encontradas em agricultura de elevado nível tecnológico, incluindo o emprego de irrigação localizada e equipamentos de proteção individual. Exclui-se desta nota a irrigação de pastagens e forrageiras destinadas à alimentação animal.

(6) Neste caso não se aplicam os limites estipulados de coliformes e ovos de helmintos, sendo a qualidade do efluente uma consequência das técnicas de tratamento empregadas.

Quadro 3: Características microbiológicas da água de reúso para fins agrícolas e/ou florestais

Fonte: BAHIA (2010)

A Resolução no 75 define ainda as características físicas e químicas recomendadas para a água em todos os tipos de reúso para fins agrícolas e/ou florestais e a caracterização e o monitoramento periódico da água de reúso que deverão ser realizados de acordo com critérios definidos pelo órgão competente, levando-se em conta aspectos como: a natureza da água de reúso; a tipologia do processo de tratamento; o porte das instalações e vazão tratada; a variabilidade dos insumos; e as variações nos fluxos envolvidos (BAHIA, 2010).