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GESTÃO DE ÁGUA/SANEAMENTO

3 EXPERIÊNCIAS INTERNACIONAIS DE REÚSO

3.2 O REÚSO DE ÁGUA NA ÁSIA E ORIENTE MÉDIO

A Ásia é o continente mais populoso, com 60% da população mundial, mas com apenas 36% da água disponível. A distribuição da água é muito irregular, havendo grandes concentrações populacionais onde a água é parca ao sul do continente (UN, 2009). Na China, pelo menos 1,33 milhões de hectares localizados à jusante de grandes cidades são irrigados com águas altamente poluídas, uma vez que apenas cerca de 30% dos esgotos neste país são tratados. No Oriente Médio, onde a água é muito escassa, o reúso é considerado uma fonte alternativa e viável de água. Na região, boa parte da água consumida vem de aquíferos não recarregáveis ou da dessalinização direta da água do mar (USEPA, 2006).

No Irã, ainda não existe uma estrutura institucional e legal capaz de garantir a segurança e a sustentabilidade do uso de águas residuais. Não há atualmente padrões de qualidade adequados para o reúso de água, portanto são utilizados critérios internacionais desenvolvidos pela OMS para regular esta prática. No entanto, a água de reúso tem grande aceitação entre os fazendeiros. Estudos realizados observaram que o reúso agrícola fez diminuir significativamente o uso de água e o consumo de fertilizantes devido aos nutrientes presentes na água de reúso. (USEPA, 2004).

Na Jordânia, as águas residuais tratadas correspondem a cerca de 25% da água disponível para irrigação. Embora a maior parte do reúso tenha ocorrido incidentalmente, o crescimento da indústria e o aumento da população impulsionaram a pressão sobre os mananciais hídricos decorrentes da ampliação dos serviços de abastecimento de água e tratamento de água. Estas condições criaram o ambiente propício para a revisão das práticas de reúso no país. Atualmente, estão sendo elaborados os regulamentos para a prática do reúso direto planejado da água, com o apoio de agências internacionais. Programas experimentais de reúso estão sendo implantados com a finalidade de verificar a viabilidade e a sustentabilidade da prática na Jordânia. (USEPA, 2004).

A Arábia Saudita tem na dessalinização da água do mar uma importante fonte de água para o país. O custo energético relativo ao uso desse manancial faz da água de reúso um recurso ainda mais valioso em um país com extremo déficit hídrico. Assim sendo, a água de reúso é considerada uma alternativa desejável para atender as demandas de água. Estima-se que seria viável o aproveitamento de 40% dos efluentes tratados. Os regulamentos exigem tratamento e parâmetros de qualidade de efluente mais rígidos do que os recomendados pela OMS para a irrigação irrestrita. Atualmente, a autoridade em água e esgoto da região de Riyadh estabeleceu a exigência de tratamento terciário para a aplicação em reúso agrícola de água.

A Índia é o segundo país mais populoso do mundo e cerca de 80% dos efluentes domésticos e industriais produzidos é lançado, sem tratamento, nos rios devido à falta de infraestrutura e recursos para o tratamento. Apesar de haver autoridades irrigação e gestão das águas responsáveis pela qualidade da água, bem como a sustentabilidade do seu uso, águas servidas de grandes cidades indianas como Nova Deli, Mumbai, Bangalore, kolkata, Hyderabad e Ahmedabad, lançadas em corpos d’água, compõem boa parte das vazões de rios e são empregadas no cultivo de cereais, vegetais, flores, forrageiras, florestas plantadas, irrigação de parques e jardins e aquicultura. Desta forma, o reúso indireto não planejado é habitual em todo o país, implicando em sérios problemas para a saúde pública e o meio ambiente. Contraditoriamente, o reúso direto planejado enfrentou resistência de agricultores que consideravam o esgoto tratado sujo. Face à escassez de água, essa percepção mudou, gerando um grande interesse desse público em relação à água de reúso (BHAMORIYA, 2007).

Não existe ainda uma lei nacional que defina os parâmetros para o reúso de água e controle os níveis de tratamento para o reúso. Como resultado, doenças gastrointestinais são frequentes entre os agricultores, além da diminuição progressiva da fertilidade dos solos. Para os agricultores que têm direito de acesso a qualquer água que corra nos rios, a garantia de vazão nos rios proveniente dos lançamentos de esgotos se configuram como uma vantagem, apesar dos problemas associados a essa situação. Desta forma, os sistemas de reúso direto planejado que impedem os lançamentos nos rios não são bem aceitos pelos agricultores que deixam de ter acesso a essa vazão, considerada como um direito adquirido

(MEKALA et al., 2008). Por outro lado, algumas experiências de aplicação de esgoto bruto, que já duram mais de 15 anos, têm contribuído para a melhoria da estrutura do solo e o aumento dos teores de nutriente e carbono orgânico, sem que tenham sido relatados efeitos adversos de acumulação de substâncias tóxicas (SCOTT et al., 2000).

Em Israel, o reúso de águas servidas é uma prioridade nacional. Esta situação é devida à combinação de condições climáticas severas, poluição e uma população concentrada em áreas urbanas. O reúso em Israel é, basicamente, para a agricultura irrigada, ocorrendo em sistemas de grande escala. Em 2000, mais de 65% de todos os esgotos municipais eram usados na agricultura, havendo planos de se chegar a 90% na década seguinte. Essa é a única maneira efetiva desse país lidar com um balanço de água que tende ao negativo. O reúso de água integra a gestão de recursos hídricos de tal modo que efluentes tratados são armazenados em reservatórios superficiais a fim de suprir o déficit de água dos períodos secos. Essa prática tem a vantagem de contribuir para a melhoria de qualidade do efluente (FRIEDLER, 2000).

Os parâmetros para reúso de água foram propostos pelo Ministério de Meio Ambiente de Israel, exigindo altos níveis de tratamento de efluentes, incompatíveis com os padrões utilizados anteriores a 2005. Os valores recomendados dos parâmetros microbiológicos e químicos foram definidos para minimizar danos potenciais à água, flora e solo, como também à saúde humana. É objetivo de Israel tratar 100% dos efluentes gerados no país de acordo com os parâmetros propostos a fim de viabilizar a prática segura de reúso de água. (INBAR, 2007). Neste país, surveys realizados demonstraram que a aceitação do reúso agrícola tem uma relação direta com a escassez de água percebida pela população. O grau de contato mostrou uma relação inversa: quanto menor o contato com o efluente percebido pela população, maior a aceitação do reúso (FRIEDLER et al., 2006).