• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 4 PARTICIPAÇÃO NA AQUISIÇÃO DE GÊNEROS ALIMENTÍCIOS

4.2 ANÁLISE E RESULTADOS

4.2.2 Categoria 2 – O agricultor e o mercado

4.2.2.1 Assistência Técnica

O PRONAF trouxe crédito para investimento na produção, a partir de 1996. O PAA e o PNAE trouxeram possibilidades de inserção da produção familiar no mercado, respectivamente, em 2003 e 2009. Em 2010, foi instituída a Política Nacional de ATER – PNATER, criada pela Lei de nº 12.188, de 11 de janeiro de 2010 e pelo Decreto nº 7215, de 15 de junho de 2010. O PNATER institui ações a partir da promoção do desenvolvimento rural sustentável, apoiando iniciativas que promovam potencialidades e vocações regionais e locais.

A Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) visa aumentar a produção, a qualidade e a produtividade, promovendo a melhoria da qualidade de vida de seus beneficiários. A assessoria técnica deve acompanhar a organização, produção e a inserção no mercado, desenvolvendo ações voltadas ao uso e manejo, proteção, conservação e recuperação dos recursos naturais, construindo sistemas de produção sustentáveis a partir do conhecimento científico, empírico e tradicional, aumentando a renda do público beneficiário, agregando valor à sua produção e apoiando o associativismo e o cooperativismo (BRASIL, 2010).

Foi identificado, em todos os municípios de todas as regiões visitadas, que a demanda mais frequente entre os depoimentos dos agricultores é pela ampliação da oferta de serviços de assistência técnica com o objetivo de apoiá-los e orientá-los no decorrer dos processos de produção.

B1 informou que tiveram muito prejuízo com a produção. Perderam muito do que plantaram esse ano.

A única carência que nós estamos tendo é só na parte da assistência técnica, que nós não estamos tendo um suporte, entendeu? Os técnicos não estão dando suporte suficiente (B1).

A extensão rural é uma política de desenvolvimento. O papel do Estado é estimular condições que produzam dinâmicas sociais virtuosas, cujo resultado seja o aumento da renda dos indivíduos e das famílias. Seu potencial de transformação está em fazer aumentar a

produção agropecuária, melhorar sua qualidade, propiciar melhor renda ao agricultor e evitar o comprometimento da integridade dos recursos naturais. Um novo papel para a extensão rural deve ser o de organização voltada a assistir os agricultores, tornando-se um dos eixos centrais de planejamento local e da capacidade que as regiões terão de descobrir suas potencialidades e aproveitar recursos que estimulem o processo de desenvolvimento (ABRAMOVAY, 2007).

... o que município produz não atende os anseios de todo mundo. Por quê? Não tem incentivo, falta de produção, porque a terra está aí, agora, cadê os incentivos? Todo mundo desassistido. Porque o problema não é para ninguém comprar nada da CEASA, a não ser, no caso, a maçã, tudo bem, porque aqui não produz. Tem que sentar e fazer um programa de incentivo à agricultura (B1).

G1 relatou que a empresa de assistência técnica e extensão rural do estado participou ativamente no início do processo de articulação para a comercialização para a alimentação escolar. Segundo a agricultora, o representante da empresa pública esteve sempre presente no município, ministrava cursos, reunindo agricultores, ensinando boas práticas de plantio, colheita, etc. No entanto, G1 declarou que não recebe apoio técnico individualizado para produção. G1, ao relatar a dificuldade de vender para as escolas estaduais, declarou que o apoio técnico poderia auxiliar na aproximação com as escolas estaduais.

Mas, até nessa reunião que tivemos, aí, o rapaz que estava dando a palestra disse que é o sindicato e os agrônomos, técnicos, que têm que ajudar os agricultores a entrar na escola[...] (G1)

Até a vigência da Resolução CD/FNDE nº 38/2009 (BRASIL, 2009c) a participação de agricultores familiares, organizados em grupos informais, somente era permitida por meio da participação da entidade articuladora, que apoiava tecnicamente os grupos informais na elaboração dos projetos de venda. As empresas de assistência técnica exerciam o papel de entidade articuladora em muitos municípios. A partir da vigência da Resolução CD/FNDE nº 26/2013 (BRASIL, 2013a) essa obrigação deixou de existir, abrindo, inclusive, a possibilidade de agricultores familiares individuais participarem dos processos de comercialização para a alimentação escolar. Embora os depoimentos apontem que a assistência técnica, na execução do PNAE, esteja acontecendo hoje, apoiando o agricultor familiar na elaboração dos projetos de venda na participação da seleção do edital da chamada pública, alguns depoimentos apontaram que a exclusão da obrigação da participação da entidade articuladora, como requisito para apresentação dos projetos venda de grupos informais, pode ter enfraquecido essa parceria na participação mais direta da ATER na

comercialização para o PNAE, no sentido do apoio técnico para a produção e para a comercialização.

Segundo informações da representante do sindicato dos trabalhadores rurais, que nos acompanhou na visita a G1, a empresa de assistência técnica e extensão rural do estado, que funciona no mesmo prédio do sindicato, possuía agrônoma contratada para essa atividade, mas o contrato acabou. Contam agora com um quadro muito reduzido para assistência técnica. O Quadro 7 apresenta as informações sobre o acesso dos entrevistados aos serviços de ATER.

Quadro 7 - Acesso à ATER.

Entrevistado Acesso a ATER

G1 Não G2 Sim G3 Não S1 Não S2 Sim B1 Não B2 Sim

B3 Informou que são 3 técnicos para 700 famílias – insuficiente. T1 Já recebeu os técnicos, hoje não há mais.

T2 Já recebeu os técnicos, hoje não há mais.

S3 Não

S4 Sim, de empresa privada S5 Sim, de empresa privada.

Fonte: Pesquisa de campo (2014).

G2 informou que recebe apoio técnico para produção. Quando há dúvidas os técnicos auxiliam a família. G2 faz parte de um grupo de famílias de assentados da reforma agrária. G3 informou que um há escritório da empresa de assistência técnica e extensão rural do estado no município. No entanto, nunca recebeu apoio técnico.

T2 informou que já teve apoio de assistência técnica para ajudar na produção, mas também já fez cursos por iniciativa própria:

Eu mesma uso, inclusive na horta mesmo nós já tivemos assistência técnica, mas nessa parte aí eu fiz os cursos aprendi um bocado de combate natural mesmo. Eu mesma (T2)

S3 informou que não se lembra de técnicos agrícolas prestarem assistência técnica à sua produção. S3 informou que procura por conta própria cursos para melhorar as técnicas de produção. S4 informa que a empresa que fornece os insumos da produção que o agricultor compra faz assistência técnica. Ele também afirma que a empresa de extensão rural fornece apoio, mas como são poucos técnicos não dão conta de acompanhar de perto todos os agricultores. S5 informou que a assistência técnica que o agricultor tem tido é do técnico da empresa com a qual ele comercializa a sua produção de fumo.

Os serviços de ATER se constituem em ação educativa informal, continuada e permanente no meio rural, voltados para a disseminação de conteúdos e temas estratégicos importantes para a agricultura familiar (ABRANDH E IBASE, 2012). O aumento da oferta desses serviços é um pleito muito presente nas diversas regiões do país. Os depoimentos apontaram a necessidade de criação de programas específicos e complementares de assessoria técnica para atendimento do PNAE. Este elemento é percebido como um fator de fundamental importância para promover o fortalecimento da agricultura familiar e garantir o pleno acesso dos produtores ao mercado.

Um dos maiores desafios das políticas para inclusão produtiva da agricultura familiar no mercado é a necessidade da presença sistemática da assistência técnica mais próxima e contínua, com ações articuladas entre o PAA, PNAE, a agroecologia e o crédito rural. Desponta-se a necessidade do trabalho articulado da secretaria da educação e do órgão local de agricultura, para o suporte necessário aos agricultores promovendo o planejamento da produção associado às demandas da alimentação escolar local.

Neste sentido, a assistência técnica tem a importante missão de prestar serviços especializados para aprimorar os processos produtivos, auxiliar o conjunto de agricultores locais a organizar a produção, de forma que atendam em conjunto às necessidades das escolas, sem comprometer a regularidade da entrega e, acima de tudo, criar estratégias locais para expandir as possibilidades de comercialização e de fortalecimento dos agricultores locais, empoderando-os nos processos de participação nas políticas públicas locais. Para que a ATER seja desenvolvida com perspectiva de apoiar o desenvolvimento econômico e sociocultural das famílias e comunidade como um todo, é necessário o desenvolvimento de relações com as famílias e comunidades rurais, pautadas em enfoques participativos e que

empreguem uma visão sistêmica das unidades familiares e do território, respeitando e potencializando os saberes locais existentes.