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CAPÍTULO 3 ASPECTOS DA POLÍTICA DE SAN E A INTERAÇÃO COM O

3.4 FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR E DESENVOLVIMENTO

Nas últimas décadas, a modernização da agricultura se sobressaiu, ocorrendo, em contraponto, a desvalorização dos saberes empíricos dos pequenos agricultores. Os saberes tradicionais, passados por gerações de famílias de agricultores familiares que baseavam seu

planejamento de produção aos ritmos da natureza, foram substituídos pelo saber técnico e da produção em larga escala, com a valorização dos circuitos longos de abastecimento de alimentos. Nesse contexto, a diminuição de preços dos produtos, ainda que de forma insustentável, porque não refletiam os custos efetivos de produção, considerando a necessidade de remuneração justa da produção, transformou o desenho de abastecimento de alimentos e, por sua vez, o do consumo também. Na última década tem-se tentado resgatar algumas práticas e conhecimentos, por meio da valorização da produção da agricultura familiar e de mercados alternativos, como o institucional, o agroecológico e as redes de economia solidária, para garantir a reprodução social da categoria de pequenos produtores rurais.

O termo agricultura familiar emerge no Brasil durante a década de 1990, trazida pelos movimentos sociais que propunham o fortalecimento desta parcela do rural brasileiro. A unidade familiar corresponde ao termo central, para caracterizar a agricultura familiar, onde a unidade de produção agrícola, o trabalho e a família estão intimamente ligados. Há, nesse contexto, uma associação entre patrimônio, trabalho, consumo e família, com interações próprias que orientam práticas sociais e econômicas específicas e modos de vida.

Fornazier e Belik (2012) afirmam que a agricultura brasileira, especialmente a agricultura familiar, desempenha um importante papel econômico, bem como possui um aspecto social igualmente relevante, sendo fonte de renda e geração de riqueza para as famílias rurais, ajudando a manter um contingente de pessoas no campo e assim frear o êxodo rural. A migração das pessoas do campo, lembram os autores, contribui para o desordenamento urbano.

Turpin (2009) observa que há muito pouco tempo a agricultura familiar começou a ser reconhecida pelas políticas públicas como um segmento a merecer apoio. Até meados da década de 1990 o caráter concentrador da modernização agrícola, implementada por meio da Revolução Verde, impediu o desenvolvimento da agricultura familiar. A autora lembra que o papel do Estado foi decisivo, intervindo no sentido de privilegiar a produção capitalista de origem urbano-industrial, cuja base técnica assentava-se no latifúndio, na monocultura e o uso de produtos agroquímicos e na mecanização. Nesse modelo, vários agricultores familiares foram excluídos, gerando o êxodo rural e a formação dos grandes bolsões de pobreza urbanos. O Sistema Nacional de Crédito Rural, iniciado em 1965, era destinado a médios e grandes proprietários da região centro-sul do país, devido às exigências de garantia e excesso de burocracia, e chegava a subsidiar mais da metade do valor da maquinaria agrícola.

Anjos e Becker (2014) indicam que, até meados dos anos 1970, os produtores familiares tinham acesso aos mercados locais, exclusivamente, por meio da venda de seus produtos aos atravessadores ou diretamente, junto às feiras regionais, praticando a venda direta aos consumidores. Com o passar do tempo tem-se a concorrência imposta pelas grandes redes de varejo, via introdução de artigos de diversos locais do país e do Mercosul, produzindo um declínio acentuado do preço e desestruturação total das cadeias locais de comercialização. A saída de muitas famílias foi abandonar a atividade ou associar-se aos grandes complexos agroindustriais (conservas vegetais, tabaco, leite, aves, etc.) como estabelecimento de contratos de integração vertical. Todavia, os autores lembram que muitas famílias simplesmente deixaram o campo e migraram para as cidades.

Turpin (2009) mostra que, no âmbito do pequeno produtor rural, as políticas de crédito, que tradicionalmente não incluíam essa categoria, começaram a entrar na pauta governamental a partir das discussões prévias à Constituição Federal de 1988, com a elaboração de uma proposta de lei agrícola, pelos movimentos sindicais, que incluía uma política de crédito voltada para a agricultura familiar. Em 1994, o Ministério da Agricultura e Abastecimento criou o Programa de Valorização da Pequena Produção Rural (PROVAP), crédito de investimento subsidiado para os agricultores familiares, que viria a ser base para a elaboração do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF, em 1995.

O PRONAF foi aceito na esfera governamental devido à comprovação da capacidade da agricultura familiar em absorver mão-de-obra, transformando-se em opção privilegiada para combater parte dos problemas sociais urbanos provocados pelo desemprego rural (TURPIN, 2009). E foi nesta direção que o governo federal passou a desenvolver esforços por meio de programas de crédito, programas de assistência técnica e associativismo e a criação de mercados institucionais para fortalecer a agricultura familiar, embora ainda haja um imenso desafio a vencer.

A agricultura familiar demonstrou ser grande empregadora e eficiente na atividade produtiva, tendo sido responsável pela ocupação de 74,4% das pessoas (12,3 milhões de indivíduos) do campo, segundo dados do último Censo Agropecuário realizado pelo IBGE, no ano de 2006, e publicado em 2009. Nas regiões norte, nordeste e sul, a proporção do pessoal ocupado em estabelecimentos agrícolas familiares está acima da média nacional, variando de 76,7% no sul, a aproximadamente 83% no norte e nordeste. No sudeste e centro- oeste a agricultura familiar representa, respectivamente, 54,8% e 52,6% das ocupações (VILLA REAL, 2011). Ao mesmo tempo, a agricultura não familiar ocupava 4,2 milhões de

pessoas, ou 25,6% do total das pessoas ocupadas na agropecuária brasileira. Foi apontada ainda a distribuição percentual dos estabelecimentos familiares pelas regiões brasileiras: no Nordeste estão 50% do total de estabelecimentos familiares existentes no Brasil, na Região Sul são 20%, na Região sudeste 16%, no Norte 9% e Centro-Oeste 5% (STOFFEL, 2013).

O Censo Agropecuário mostrou o tamanho da agricultura familiar no Brasil. Foi constatado que dos 5,17 milhões de estabelecimentos agropecuários existentes, 84,4% pertenciam à agricultura familiar (4,1 milhão de estabelecimentos) e 15,6% à agricultura patronal. Os estabelecimentos de agricultura familiar ocupavam apenas ¼ da área total dos estabelecimentos agropecuários do país, enquanto que os estabelecimentos patronais dominavam ¾ dela. Este predomínio fundiário da agricultura patronal contrasta com o predomínio demográfico da agricultura familiar (VILLA REAL, 2011).

O predomínio fundiário da agricultura patronal explica em grande parte a hegemonia econômica do agronegócio no setor agrícola como um todo, mas contrasta com o predomínio demográfico da agricultura familiar. Isto significa que, ao considerar o regime de atividade e de trabalho da grande maioria da população do campo, a agricultura familiar é o modelo que caracteriza a agricultura brasileira (BRASIL, 2011b).

Embora os mitos da modernidade tecnológica ainda estejam bastante presentes no imaginário da população, novos valores relacionados à qualidade dos alimentos ganham força, o que abre espaço para que o questionamento ao modelo tecnológico fosse compartilhado, como mostra o crescimento dos mercados consumidores de alimentos orgânicos. Com isso, a imagem negativa da agricultura familiar como sinônimo de atraso e baixa eficiência vem sendo aos poucos desconstruída. No lugar dessa percepção negativa, difundida pela Revolução Verde, a agricultura familiar vem sendo concebida por seus valores positivos como geradora de empregos, produtora da qualidade e da diversidade alimentar, mantenedora de diversidade biológica e cultural (EMBRAPA, 2013).

Em geral, os agricultores familiares possuem poucos anos de escolaridade formal e diversificam os produtos cultivados para diluir custos, aumentar a renda e aproveitar as oportunidades de oferta ambiental e disponibilidade de mão de obra. No meio rural brasileiro, a agricultura familiar é o segmento que mais gera postos de trabalho (BRASIL, 2009a). Este segmento tem um papel crucial na economia das pequenas cidades, 4.928 municípios têm menos de 50 mil habitantes e destes, mais de quatro mil têm menos de 20 mil habitantes. Estes produtores e seus familiares são responsáveis por inúmeros empregos no comércio e nos serviços prestados nas pequenas cidades. Portanto, a melhoria de renda deste segmento, por meio de sua maior inserção no mercado, tem impacto importante no

enfrentamento da crise econômica no interior, e indiretamente, também nas grandes cidades (BRASIL, 2011b).

A agricultura familiar é responsável por 70% dos alimentos que chegam à mesa das famílias brasileiras. É, portanto, responsável por garantir boa parte da segurança alimentar do País, como importante fornecedora de alimentos para o mercado interno, sendo responsável por 87,0% da produção nacional de mandioca, 70,0% da produção de feijão, 46,0% do milho, 38,0% do café, 34,0% do arroz, 58,0% do leite. Os produtores familiares possuem 59,0% do plantel de suínos, 50,0% do plantel de aves, 30,0% dos bovinos, tendo menor importância na participação de algumas culturas, como a soja (IBGE, 2009).

Melão (2012) afirma, no entanto, que a agricultura familiar ainda é marginalizada no contexto das políticas públicas que ainda estão direcionadas ao modelo agrícola dominante, mesmo na região sul do país, onde esses agricultores são mais especializados. Esse quadro é mais grave em outras regiões, como o sertão e o semiárido nordestino, em que os agricultores apresentam dificuldades para a reprodução social e econômica de suas atividades.

Villa Real (2011) frisa que, ainda que os agricultores familiares tenham uma marcante participação na produção agropecuária brasileira, percebe-se que os pequenos produtores ainda são marginalizados. Os alimentos processados tornaram-se importante estratégia de crescimento das exportações, por isso o enfoque da produção agrícola para médios e grandes produtores, pois requerem infraestrutura de logística e produção com Selo de Inspeção Federal (SIF).

Fornazier e Belik (2012) afirmam que a pobreza ainda está presente em muitas regiões rurais, seja por dificuldades de inserção em mercados e por outros fatores como os climáticos, má distribuição de terras, entre outras, porém, em centros urbanos, muitas pessoas passam fome por não terem acesso aos alimentos. Condições de pobreza prevalecem em muitas regiões agrícolas, muitas vezes pelo baixo incentivo que há em produzir e não ter condições de comercializar os produtos agrícolas nos mercados. Muitas famílias agrícolas, excluídas do mercado, permanecerão marginalizadas ou se tornarão famílias não agrícolas, porque tenderão a abandonar a atividade agrícola que lhes passa a ser mais onerosa do que o contrário. Ao mesmo tempo, muitas pessoas não têm acesso a determinados alimentos por falta de recursos. Os autores destacam que tanto as transferências de renda como o fortalecimento da iniciativa econômica popular e local podem ser decisivos. Outras ações estruturantes podem ser a oferta de serviços de infraestrutura ou no apoio às atividades que permitam a inserção de grupos de produtores rurais nos mercados.

Stoffel (2013) acredita que, à medida em que os agricultores familiares puderem garantir melhores condições de vida no meio rural, os estímulos para migrarem do campo para a cidade serão menores. A autora afirma que regiões com maior participação de agricultura familiar organizada são aquelas em que há tendências a uma melhor distribuição de renda, no entanto, assevera que, para que estes produtores possam atuar com autonomia, é necessário que estejam organizados em grupos associativos. Normalmente as escolhas dos agricultores familiares não são decorrentes, unicamente, da disponibilidade de renda, mas também de fatores subjetivos como o gosto pelo trabalho na terra, a possibilidade de ser seu próprio patrão, o apego à integração entre vida familiar e o trabalho, a possibilidade de participar de empreendimentos coletivos, aliada à possibilidade de acesso a bens duráveis e a serviços de educação e saúde.

Entretanto, Turpin (2009) argumenta que a agricultura familiar, apesar de sua heterogeneidade interna, foi capaz de assegurar a independência do modelo de produção capitalista, basicamente por não haver separação total entre o capital e os demais fatores de produção; pelo trabalho não ser totalmente alienado; pela subordinação do capital não estar no mesmo patamar que os demais setores produtivos; e pela divisão social do trabalho não estar consolidada. Essas características são ainda mais valorizadas ao se constatar a insustentabilidade do modo de produção capitalista, devido aos seus efeitos de concentração de renda e aumento das desigualdades, surgindo a agricultura familiar como uma alternativa para a superação desses problemas.

O modo de reprodução social da categoria agricultura familiar tem fortes laços familiares. Normalmente, agricultores familiares são filhos de agricultores familiares. As políticas públicas e os equipamentos públicos (escolas) devem ter em mente que os meios de produção dos agricultores familiares representam mais do que sustento, como acontece com outras categorias. A terra, a produção e a organização do grupo contam a história de vida da família. Por isso, tudo que está relacionado ao trabalho do agricultor familiar tem um significado histórico e afetivo.

Silva (2001) exemplifica como as ações voltadas exclusivamente para o desenvolvimento agrícola, com modernização tecnoprodutiva, em algumas regiões do Centro-Sul do país, não se fizeram acompanhar pelo desenvolvimento rural. Uma das principais razões foi a de privilegiar as dimensões tecnológicas e econômicas, ficando em segundo plano as mudanças sociais e políticas, como a organização sindical dos trabalhadores rurais sem terra e dos pequenos produtores. Nesse sentido, a organização dos atores sociais pode impulsionar a implementação de planos de desenvolvimento local. No

entanto, ainda há muitas restrições quanto às formas de participação e representação, não só devido à sua pouca mobilização, mas também à dificuldade de se ter todos os segmentos sociais devidamente representados.

Josué de Castro, na primeira edição da obra Geografia da Fome, em 1946, já utilizava o termo agricultura de sustentação para definir os cultivos que possibilitam a ampliação das possibilidades alimentares de uma região. Castro defendia uma agricultura em que se encontram presentes relações de cooperação, policultivos, práticas sustentáveis em termos econômicos, sociais, ambientais e culturais, importantes para a constituição de uma alimentação variada e rica em nutrientes, e destacava os cultivos tradicionais, especialmente dos quilombolas e sertanejos, revelando a importância da agricultura familiar no combate à fome (CASTRO, 2012).

Melão (2012) evidencia que a agricultura familiar tem sido determinante para a sustentabilidade do desenvolvimento rural, por conseguir atender a aspectos sociais e ambientais, procurando equilibrar as dimensões econômica, social e ambiental do desenvolvimento. O modelo familiar de produção agrícola tem como característica a estreita relação entre trabalho e gestão, a direção do processo produtivo conduzido pelos proprietários, a ênfase na diversificação produtiva, na durabilidade dos recursos e na qualidade de vida, a utilização do trabalho assalariado em caráter complementar e a tomada de decisões imediatas, ligadas ao alto grau de imprevisibilidade do processo produtivo.

Silva (2001) demonstrou que a busca do desenvolvimento da agricultura, mediante uma abordagem eminentemente setorial, não é suficiente para levar ao desenvolvimento de uma região. O autor aponta também que a falta de organização social tem se caracterizado como uma barreira tão ou mais forte que a miséria das populações rurais. O autor ressalta que o enfoque do desenvolvimento local pressupõe que haja um mínimo de organização social para que os diferentes sujeitos sociais possam ser os reais protagonistas dos processos de transformação de seus lugares. Mas essa organização nem sempre existe em nível local. E quando existe é limitada pelo próprio subdesenvolvimento do local. Nesse sentido, o autor coloca que o desenvolvimento local sustentável precisa ser também entendido como desenvolvimento político, no sentido de permitir uma melhor representação dos diversos atores, especialmente daqueles segmentos majoritários e que quase sempre são excluídos pelas elites locais.

Anjos e Becker (2014) asseveram que o crescimento econômico não está associado diretamente com o desenvolvimento. Entretanto, o desenvolvimento poderá representar um importante meio para expandir as alternativas, haja vista a relevância exercida pelas políticas

públicas na criação de oportunidades. Os autores lembram que no passado dos atuais países ricos, o amplo compartilhamento das oportunidades sociais possibilitou que a população participasse diretamente do processo de expansão econômica.

Acredita-se, por isso, que o sentido do desenvolvimento sustentável possa estar presente nas ações para a comercialização para a alimentação escolar, por promover os circuitos curtos de comercialização do alimento, respeito ao modo de produção da agricultura familiar (calendário, características dos produtos, diversificação da produção), incentivo ao associativismo, promoção da remuneração justa do trabalho, afastando a figura do atravessador, além de possibilitar uma aproximação entre a demanda e a oferta, de modo a promover a reconexão entre a produção e o consumo, valorizando a categoria social ao reconhecer a importância do trabalho e dos saberes do campo para a garantia da segurança alimentar.

Teixeira (2013) afirma que a efetiva implementação dos dispositivos estabelecidos no PNAE coloca-se como uma importante ferramenta para a inserção do tripé da sustentabilidade nas aquisições públicas de alimentos para abastecimento das escolas.

O incentivo ao consumo de alimentos produzidos em âmbito local tem como objetivo estimular o uso de alimentos que respeitem a cultura e os hábitos alimentares saudáveis, apoiar o desenvolvimento local sustentável, por meio da oferta de preparações com alimentos consumidos tradicionalmente na região e produzidos por agricultores locais, aproximar a produção e o consumo e gerar renda aos agricultores familiares locais. Além disso, criar espaço de interlocução entre quem compra e quem vende, aproximando o produtor e o consumidor, baseado em referenciais de promoção da saúde conjugada à sustentabilidade ambiental, cultural, econômica e social.

Um dos maiores contribuidores do conceito de desenvolvimento sustentável, Ignacy Sachs (2001) considera que a agricultura familiar é imprescindível para um desenvolvimento rural sustentável, pois:

Os agricultores familiares afiguram-se como protagonistas importantes da transição à economia sustentável, já que, ao mesmo tempo em que são produtores de alimentos e outros produtos agrícolas, eles desempenham a função de guardiães da paisagem e conservadores da biodiversidade. A agricultura familiar constitui assim a melhor forma de ocupação do território, respondendo a critérios sociais (geração de auto emprego e renda a um custo inferior ao da geração de empregos urbanos) e ambientais. Além de que, nas condições brasileiras, nas quais um décimo da população passa ainda fome, a meta da segurança alimentar continua bem atual (SACHS, 2001, p.78).

Sachs (2001) avalia que a agricultura familiar é eficiente nas três esferas do desenvolvimento sustentável: econômica, social e ambiental. Sachs ressalta que o desenvolvimento não pode ser visto por uma visão reducionista e economicista. Para o autor, o caminho a seguir deve ter como objetivo o bem estar da sociedade, o qual passa por mais igualdade, mais equidade e mais solidariedade. Segundo Sachs (2002) o Estado e a sociedade devem garantir o melhor aproveitamento dos recursos existentes e alcançar um equilíbrio entre as oito dimensões da sustentabilidade: ecológica, cultural, social, ambiental, territorial, política nacional, política internacional e econômica.

Dessa forma, considerando que o desenvolvimento sustentável significa atender às necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atender suas próprias necessidades, o apoio à agricultura familiar confere ao PNAE um caráter sustentável por apresentar-se como uma política educativa, que promove a emancipação do setor produtivo e a promoção de autonomia no consumo para as gerações futuras.

A sustentabilidade social está ancorada na equidade de trabalho e renda, a fim de se ter qualidade de vida e igualdade de direitos sociais inerentes à cidadania. Os programas de alimentação escolar municipais se apresentam com grande potencial de incentivar a produção local dos agricultores familiares, com mercado certo para a venda. Trazem segurança para os agricultores diversificarem a sua produção para atender a demanda do Programa e contribuem para dinamizar a economia local.

Villa Real e Schneider (2011) avaliam que, neste contexto, a aprovação da Lei 11.947/2009 foi mais um importante passo para o reconhecimento do papel econômico e social da agricultura familiar na produção de alimentos no Brasil. Essa articulação das compras de alimentos do PNAE com os produtos advindos da agricultura familiar traz inúmeras vantagens para a promoção do desenvolvimento rural e da educação: transferência de renda diretamente aos produtores com as compras locais; a aproximação entre os produtores de alimentos com os consumidores, possibilidade de fortalecimento de circuitos locais de produção, propiciando o aquecimento da economia local e regional. E, em relação à produção, diversifica a pauta de produtos, promovendo um aumento da produção de alimentos para o consumo, preservando recursos naturais.

O PNAE, ao incentivar o desenvolvimento local, com o incentivo à aquisição de produtos da agricultura familiar, contribui para a sustentabilidade do próprio Programa. A promoção de circuitos locais e regionais de produção e consumo estimula a diversificação da produção e dos hábitos de consumo. O Programa, ao incentivar o desenvolvimento sustentável com a aquisição da produção local em articulação com a promoção da

alimentação saudável e do resgate de culturas alimentares locais, contribui para a promoção da discussão estratégica do papel dessas culturas para o abastecimento alimentar comprometido com a SAN e a soberania alimentar.

A defesa da sustentabilidade e da soberania alimentar propõe mudança nos padrões