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CAPÍTULO 4 PARTICIPAÇÃO NA AQUISIÇÃO DE GÊNEROS ALIMENTÍCIOS

4.2 ANÁLISE E RESULTADOS

4.2.3 Categoria 3 – O agricultor e a escola

4.2.3.2 Relação com o Conselho de Alimentação Escolar local

O Controle Social é uma ferramenta, reconhecida pela Constituição de 1988, para o exercício e fortalecimento da democracia representativa e participativa na formulação, gestão e controle de políticas públicas. O controle social pode ser exercido de diversas formas: por meio de conselhos de políticas públicas, de plebiscitos, do orçamento participativo ou diretamente, pelos cidadãos, que podem atuar individualmente ou de forma organizada. Os conselhos são instâncias de exercício da cidadania que possibilitam a participação popular na gestão pública e exercem diversas funções, tais como acompanhamento, fiscalização, mobilização e deliberação, como é o caso dos Conselhos de Alimentação Escolar no PNAE.

As funções de orientar, fiscalizar e controlar a aplicação dos recursos destinados à alimentação escolar, bem como colaborar na elaboração dos cardápios e nos processos de aquisição de gêneros alimentícios da agricultura familiar, devem ser exercidas pelo CAE com o fim de efetivar a participação da comunidade no acompanhamento da execução do Programa, promovendo a garantia da eficiência e eficácia do PNAE, num processo de gestão descentralizado.

Apesar de ser um elemento fundamental para a boa execução do PNAE, deve-se ressaltar o pouco conhecimento dos agricultores familiares em relação à existência do CAE no município, sua composição e função. Cabe pontuar, também, uma participação limitada dos agricultores entrevistados nos CAE‟s. Constata-se desconhecimento ou pouco conhecimento, nos relatos dos agricultores, em relação ao CAE. Daí a importância de ações permanentes para formação política da comunidade escolar, dando condições de exercer o controle social das políticas públicas, não só como membro de conselhos, mas como sujeitos atuantes nos espaços públicos de discussão.

Quadro 11 - Relação com o CAE do município

Entrevistado Relação com o Conselho de Alimentação Escolar

G1 Não conhece a composição atual G2 É vice-presidente do CAE G3 Conhece os membros do CAE S1 Não conhece o CAE do município

S2 Representa os agricultores familiares nas reuniões do CAE do município

B1 Conhece o CAE

B2 É membro do CAE – representa o executivo B3 Não conhece o CAE

T1 Não conhece o CAE T2 Não conhece o CAE S3 Não conhece o CAE S4 Não informou S5 Não conhece o CAE

Fonte: Pesquisa de campo, (2014).

G1 declarou que quando a representante da empresa de assistência técnica e extensão rural articulava os processos de compra para o PNAE, visitava os agricultores com um representante do CAE, mas isso acontecia com a composição anterior do CAE no município. S1 é presidente do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável e não conhece o CAE. Acredita que o CAE do município seja fictício. G2 é vice-presidente do CAE. Informou que há reunião do Conselho 1 vez por mês. Informou que o CAE tem visitado as escolas. S2 conhece os membros do CAE. Informou que representa a associação de produtores familiares nas reuniões do CAE. S2 disse que o CAE do município é atuante, acompanham a aceitabilidade das refeições nas escolas. B2 é membro do CAE, representa o executivo. Segundo B2, o CAE faz visita quinzenal, um dia depois da entrega e volta depois de 15 dias. G3 informou que conhece alguns membros do CAE, mas eles não acompanham a entrega na escola. B1 conhece o CAE. Representantes da associação de produtores familiares já participaram de reunião em que membros do CAE estavam presentes. No entanto, informou que o CAE nunca visitou a propriedade da associação.

Diniz (2014) avalia que o CAE é um espaço muitas vezes negligenciado. Para além de sua função fiscalizadora, pode-se contar com o CAE como apoio à equipe gestora responsável pela execução, já que sua atuação prevê a integração entre instituições, agentes das

comunidades e órgãos públicos. O CAE pode vir a agregar novos atores, como os próprios agricultores das associações e cooperativas. Essa incorporação abriria espaços para suas reivindicações, principalmente no que diz respeito à inclusão e exclusão de determinados produtos no cardápio, o que influenciaria diretamente na organização interna e coletiva destes agricultores, modificando, diretamente, o cenário do desenvolvimento rural local. Os agricultores poderiam vir a compor o CAE de forma a legitimar e avançar nas articulações necessárias para a promoção da política, o que tornaria a rede ainda mais coesa no que diz respeito ao estabelecimento de vínculos sociais.

O CAE pode exercer um importante papel de articulação entre a produção local e a secretaria de educação. Como deve acompanhar toda a execução do Programa, o CAE possuiria condições de auxiliar a instrumentalizar as organizações de agricultura familiar local para participarem do processo de venda para o PNAE. Além do importante papel de auxiliar na identificação de produtores, no potencial de venda e nas condições de comercialização das organizações de agricultores familiares locais, para auxiliar o RT no planejamento adequado de cardápio que reflita a produção local.

É importante que o CAE promova o acesso regular dos agricultores familiares às atividades e reuniões do Conselho, com o objetivo de integrá-los às demais ações do Programa. O CAE pode ser uma boa porta de entrada dos agricultores familiares na escola. Pode-se promover, por essa via, maior interação do agricultor com a escola, com perspectivas de integrá-lo às demais ações do PNAE, como as ações educativas que devem ser incorporadas ao currículo escolar, na temática de produção, consumo e alimentação saudável.

O trabalho integrado entre o CAE, o Conselho Municipal de Educação, os conselhos das unidades escolares, o Conselho local de segurança alimentar e nutricional e o conselho local de desenvolvimento rural sustentável pode auxiliar a aproximação entre os agricultores familiares e o setor educação, principalmente para instrumentalizar ações de promoção da discussão da aproximação da produção e consumo nas escolas. Esta medida poderia potencializar a inserção de ação educativa, a partir da discussão da produção, acesso e consumo de alimentos locais.