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Atendimento Educacional Especializado para pessoa surdocega

Como usar a estratégia de ensino de Libras? É importante destacar que o trabalho do AEE direcionado para o ensino

FATORES DE RISCO

5.3.2 Atendimento Educacional Especializado para pessoa surdocega

Após compreender um pouco mais sobre a pessoa surdocega, é natural que iquemos apreensivos quanto às possibilidades educacionais e de desenvolvimento humano em ambientes formais de educação, principalmente por meio da classe regular e sala de recursos. E o primeiro passo para entender essa dinâmica, é não esquecer que antes de existir a surdocegueira existe um sujeito capaz de compreender o mundo, os fenômenos e as pessoas que o rodeiam. E não foi por acaso que anteriormente citamos casos de pessoas surdocegas que, inclusive, concluíram o ensino superior; e que umas das características dessas pessoas é a necessidade do atendimento especializado e a possibilidade de estudo na rede regular de ensino, com todas as suas vantagens e garantias legais.

Segundo o Plano Nacional de Educação (Brasil, MEC, 2000), todos nós temos direito à educação de qualidade, preferencialmente, no ensino regular. Como revelam alguns estudos, a presença do aluno surdocego na classe regular traz bene ícios tanto para este quanto para os pro issionais envolvidos. Podemos citar como exemplo de tais bene ícios: o crescimento da responsabilidade pelo desenvolvimento do aluno com de iciência e sua interação com a classe, assim como aprendizagem das técnicas necessárias para ensiná-los e a expansão de oportunidades de acesso à sociedade por parte dos alunos nesta condição. (Giangrego et al, 1993, Cloninger e Giangreco, 1995, Luiselli et al, 1995, Giangreco et al, 1997 apud Cader-Nascimento, 2003).

Nessa perspectiva, a família juntamente com a equipe da escola e a própria pessoa surdocega (se essa possuir condições), deve avaliar qual modalidade de Educação Especial será mais adequada para o aluno, considerando principalmente o repertório comunicativo e conduta social deste; as condições oferecidas pela escola; e o tipo de atendimento que melhor potenciará o processo de ensino-aprendizagem.

No caso da comunicação e conduta social, por exemplo, o recomendado é que o aluno surdocego, antes de matricular-se na escola regular, domine alguma forma de comunicação e entenda o signi icado da mesma; tenha saído do isolamento; permita o contato com outras pessoas; tenha comportamento socialmente adequado (como, por exemplo, respeitar o direito do outro de se expressar, esperar sua vez, não dar “birra”, chorar ou ser agressivo).

A escola, por sua vez, além do currículo formal, deve apresentar um currículo funcional que considere elementos tais como: as vias de comunicação, atividade de vida diária, alimentação, controle de es íncteres, higiene pessoal, orientação e mobilidade – parâmetros que fazem parte da rotina escolar. Além disso, ela deve oferecer Atendimento Educacional Especializado , reservando o direito ao guia-intérprete, instrutor de línguas, materiais

adaptados, máquina braile, estratégias de comunicação, aplicação do tempo para processos avaliativos, participação de ambientes e eventos comuns a pessoas com e sem de iciência; e pro issional especializado em surdocegueira (Brasil, MEC, 2004, grifo nosso). Neste último caso, frisamos a importância de se ter um pro issional que tem conhecimento sobre a surdocegueira, pois existem muitos relatos de estudiosos e dos próprios pro issionais da área, que o indivíduo surdocego exige conhecimentos especí icos e que, portanto, não é recomendado que se responsabilize um pro issional especializado em de iciência auditiva ou de iciência visual para trabalhar com esses indivíduos. Essa é a realidade de muitas escolas que deve, urgentemente, mudar, pois o acompanhamento realizado por pessoas especializadas em apenas uma área (de iciência auditiva ou visual) prejudica o aluno na exploração de suas potencialidades e estratégias de aprendizagem.

Com relação à adequação do ambiente escolar, é importante que exista a preocupação com as barreiras arquitetônicas, a sinalização com referências indicativas de local, cores contrastantes, texturas diferentes e utilização de objetos de referência. Exempli icando essas adequações no caso especí ico da sala de aula, por exemplo, destacamos que deve haver:

um número reduzido de crianças, área espaçosa, permitindo boa locomoção do surdocego, piso antiderrapante, parede pintada em cor clara, boa luminosidade, instalação elétrica adequada para uso de equipamentos especializados, identi icação em Braile e em letra ampliada e um objeto referencial do local, lousa pintada na cor preta, cantinho de referência dos materiais de comunicação e da rotina diária. (Brasil, MEC, 2004, p. 55). Além disso, no cotidiano em sala recomenda-se que :

a) Os alunos sentem-se em posições ixas;

b) Os alunos ou o professor devem estar a uma distância mínima de 2 metros, ou outra posição mais adequada;

c) Se a iluminação for luorescente ou incandescente deve ser adequada e de intensidade ajustável; ter lâmpadas individuais na mesa sempre que possível, e eliminar o re lexo se há iluminação natural;

d) O professor ique sempre na mesma área durante as explicações ou instruções para o grupo; e que exista um fundo contínuo se possível;

e) As janelas no im da sala devem ser mais apropriadas do que as laterais;

f) A lousa ique limpa para que tenha o máximo de contraste; g) As cores atrás do professor devem ser neutras, sem brilho e se

h) Os móveis devem estar dispostos de modo que permitam uma considerável liberdade de movimentos em espaços abertos; devem ser “estáveis” e não pontiagudos;

i) Todos os materiais didáticos devem ter letras maiores que a média de acordo com a necessidade;

j) Os materiais visuais e a comunicação devem continuar enquanto o aluno tiver uma visão funcional.

No caso da não existência de pro issionais com formação especializada, oferta de AEE, currículo funcional, adequação do ambiente escolar ou ainda a falta de preparação do aluno surdocego para ingressar no ensino regular, é preciso considerar a existência da Escola Especializada. Esta pode servir como um centro de recursos que oferecerá condições favoráveis ao melhor domínio da comunicação e conduta por parte da pessoa surdocega e, dessa forma, prepará-la para o ingresso na escola regular. Ou, ainda, servir como complementação ou suplementação da educação oferecida na classe regular, pois pode acontecer do aluno ou da família optar pela escola regular, mesmo com suas poucas adequações ou insu iciência (mas que também podem contribuir de alguma forma), não dispensando o apoio da escola especial. O que queremos dizer é que deve existir um bom senso por parte da equipe que avalia essas situações e uma garantia do direito de escolha da família e da pessoa surdocega.

A esse respeito, nos apoiamos em Freeman (1991) que ao tratar da escola especial e regular, acredita que a associação de surdez e cegueira geram inicialmente quadros especí icos de comportamento que exigem atendimento que respondam à singularidade de cada pessoa. A autora a irma que após a aquisição de um sistema de comunicação e segundo as condições dos alunos, eles podem ser inseridos em grupos sociais, inclusive na escola comum ou na classe especial para cegos ou para surdos. Mas neste caso, pessoas surdocegas podem encontrar di iculdades em salas de atendimento só para cegos ou só para surdos.

Por outro lado, se houver condições para que o indivíduo surdocego estude no ensino regular, seu primeiro contato com a escola deve ser feito, preferencialmente, pelo professor do AEE que, por sua vez, deve contar com o auxílio do acompanhante do aluno que o apresentará ao professor. Assim, evitará desconforto e insegurança em relação ao novo ambiente por parte da pessoa surdocega e uma primeira possibilidade de estabelecer vínculo afetivo, por parte do professor para com o aluno.

Após o primeiro contato com o aluno, o professor deve observar, dentre outros aspectos, como são seus movimentos, comportamentos, posição das mãos e como posiciona o globo ocular. (Brasil, MEC, 2004). Nos encontros subsequentes, o professor deve preencher uma anamnese sobre

o aluno, contando, para isso, com informações dos familiares, história de vida, laudos e relatórios médicos; além disso, o professor deve pesquisar nas instituições que o aluno frequentou ou ainda frequenta, mais algumas informações importantes, aliada a observação sistematizada ou espontânea, diagnóstica e processual. Essas avaliações devem ser periódicas e devem

desconsiderar testes padronizados, considerados inadequados.

Para melhor organização do professor e equipe responsável, a avaliação pode ser dividida em áreas (para cada área, trouxemos um exemplo de icha utilizada por Cader-Nascimento, 2003), quais sejam: