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Teoria da Modi icabilidade Cognitiva Estrutural A Teoria da Modi icabilidade Cognitiva Estrutural é um pressuposto

EDUCACIONAL ESPECIALIZADO

3.3 Teoria da Modi icabilidade Cognitiva Estrutural A Teoria da Modi icabilidade Cognitiva Estrutural é um pressuposto

teórico embasado no conjunto de crenças sobre a potencialidade da aprendizagem e do desenvolvimento humano que nos ajuda a compreender esses processos como um sistema contínuo e multifacetado que se associa diretamente com a construção cultural. Essa teoria traz uma nova maneira de vislumbrar a inteligência, transformando o conceito de inteligência estático para um entendimento desse conceito como algo plástico, lexível, modi icável. Origina-se em uma iloso ia humana que tem como intencionalidade a estratégia de mudança consubstanciada em uma mediação inovadora, em termos de desenvolvimento cognitivo e em termos de potencial de aprendizagem. (Fonseca, 1998).

A teoria da Modi icabilidade2 Cognitiva Estrutural considera

a possibilidade da transformação (com alto nível de permanência e penetrabilidade) estrutural da cognição, ou seja, na capacidade de modi icabilidade das estruturas cerebrais que são responsáveis pelo funcionamento cognitivo superior, possibilitando a apresentação de uma melhor adaptação cognitiva (expresso em comportamentos) às exigências das situações do meio social. O conceito de modi icabilidade é equivalente

2 Termo especí ico da linguagem de Feuerstein que signi ica mudança com alto grau

de permanência e penetrabilidade, não permite regressão, pois pressupõe mudança no signi icado. A modi icabilidade tem uma reação direta na estrutura do indivíduo.

ao de potencial de aprendizagem e tende a substituir a ideia tradicional de inteligência, de inindo-a como uma potencialidade ou tendência do organismo a ser modi icado em sua própria estrutura. (Feuerstein, 1997).

A MCE é, ainda, caracterizada por uma transformação que se refere não a eventos isolados ou normais esperados durante o processo de desenvolvimento humano, mas ao desenvolvimento e ampliação das funções cognitivas superiores e às mudanças no estado geral do sujeito, ou seja, na maneira como o indivíduo interage com as informações no momento da ação e à resposta da mesma. (Goldani, 1998; Fonseca, 1998).

A modi icação esperada pela teoria é quali icada por Feuerstein como cognitiva, mas os aspectos afetivos, motivacionais e emocionais não foram de modo algum desconsiderados por esse autor. Pelo contrário, na sua maneira de entender o processo de modi icabilidade estrutural, todos os componentes afetivos estão intrínsecos e são indissociáveis ao processo de desenvolvimento. Essa a irmação será contemplada mais adiante, quando discutiremos a importância da presença de um mediador para fazer a ponte entre o mundo e o sujeito, assim como os critérios mediacionais que fundamentam a prática proposta por Feuerstein.

De acordo com Feuerstein (1997), a dimensão cognitiva e afetiva (entendendo os aspectos motivacionais e emocionais constituídos no afetivo) são faces de uma mesma moeda. Os aspectos cognitivos correspondem aos elementos estruturais que explicam como uma pessoa aprende, como ela elabora a informação e como, ou o quê, ela faz dela. O aspecto afetivo é a expressão do fator energético do ato de aprender, ou seja, são os entornos que circunscrevem as condições de aprendizagem para aquele indivíduo.

A concepção de que é possível a modi icabilidade estrutural das funções cognitivas é calcada no conceito de que a inteligência não é edi icada por fatores ixos e intransponíveis. Assim, para Feuerstein a inteligência é plástica, sofre in luência das relações sociais, do ambiente externo sendo um processo dialético. “[...] entre a ontogenia sociocultural e a ontogenia biológica, a primeira de fato, tem a última palavra.” (Feuerstein e Feuerstein Ra i, 2002, p.14)

Para Feuerstein, segundo Souza (2004), a inteligência é dinâmica, plástica e adaptável, constituída de múltiplos fatores que não podem ser reduzidos ou pré-determinados (fatores genéticos, orgânicos ou hereditários). A adaptação da qual Feuerstein fala deve ser entendida como uma transformação e não como uma acomodação. A inteligência está diretamente associada à construção cultural na qual o indivíduo está imerso e que demanda dele elementos especí icos para sua apropriação e construção.

A teoria da Modi icabilidade Cognitiva Estrutural leva em conta a ação do indivíduo sobre sua forma de pensar e de aprender, permitindo a

valorização da pessoa na medida em que seus comportamentos (resultados dos seus processos cognitivos e emocionais) mudam sempre para melhor. Há uma ênfase, não naquilo que a pessoa não sabe, mas naquilo que a pessoa é capaz de aprender. (Cruz, 2007)

Com as experiências no campo da neurociência, em particular, com os avanços nos conhecimentos sobre plasticidade neuronal3, podemos ter acesso a experiências que também reforçam a teoria e a prática de Feuerstein, mostrando-nos um campo em aberto para futuras propostas e pesquisas. O conceito de plasticidade neuronal pode ser resumido na capacidade de reintegração ou reestruturação das estruturas neurais a uma nova organização e funcionamento (Ferrari, Toyoda, Faleiros & Cerutti, 2001). Essa nova organização e funcionamento celular garantem comportamentos mais adaptados às exigências do meio.

Dessa forma, nos esquemas responsáveis pelo processo de aprendizagem e de desenvolvimento do indivíduo estão, para Feuerstein, duas modalidades de interação com o meio igualmente importante:

(1º) há exposição direta do estímulo, por meio dos canais sensoriais (visão, audição, tato, paladar e olfato);

(2º) há a experiência da aprendizagem mediada, isto é, quando uma pessoa serve como mediadora entre a criança ou aprendiz e o ambiente, preparando e reinterpretando o estímulo ambiental, de forma a torná-lo signi icativo e relevante para a criança. (Feuerstein, Rand, Hoffman e Miller, 1980, como citado em Cruz, 2007).

Pela exposição direta aos estímulos, os estímulos agem ao acaso, diretamente e sem mediação4, ou seja, a criança em seu processo de exploração

do meio interage com os estímulos, construindo a partir dessa aproximação, o conhecimento dos objetos.

(“S” signi ica estímulos, “O” signi ica indivíduo e “R” signi ica resposta do indivíduo ao meio ambiente)

3 Para que entendamos com clareza a amplitude do trabalho proposto por Feuerstein

e pela viabilidade de suas ideias, é imprescindível que saibamos um pouco do que se trata Plasticidade Neuronal. Portanto, abordaremos sobre esse assunto no item 3.4.

4 A exposição direta aos estímulos, como propõe os comportamentalistas e o próprio

Piaget, não explicam a diversidade de comportamentos entre as pessoas, visto que todas receberam a mesma fonte de estímulos. (Cruz, 2007, p. 23)

Já a Experiência de Aprendizagem Mediada (EAM) é de inida por Feuerstein (1994) como a qualidade da interação entre o indivíduo e o meio em que está inserido, enfatizando que essa qualidade advém da interposição intencional de um ser humano que medeia a percepção e a análise dos estímulos para os indivíduos. (Feuerstein e Feuerstein, S, 1994)

Nesse contexto, a mediação é um processo ativo que inclui a ação do mediador sob os estímulos, de forma a selecioná-los, acentuá-los, focalizá-los, estruturá-los, propiciando signi icados no tempo e no espaço para o mediado. Essa é uma atividade de construção cultural.

Em geral, a EAM prepara o indivíduo para extrair experiências de novas aprendizagens, de forma a organizar uma estrutura de referência, o que é fundamental para o desenvolvimento do seu potencial cognitivo.

O esquema a seguir, que se refere à qualidade da interação entre o organismo (O) e o ambiente, foi proposto por Feuerstein (1997) para explicar a EAM. Assim, o S relaciona-se aos estímulos externos (visuais, auditivos, táteis, olfativos, gustativos; proprioceptivos, aqueles vindos do próprio corpo do indivíduo), H mostra a presença humana, representada pelo mediador, o qual se interpõe entre o mediado (O) e os estímulos ambientais (S), de modo a acentuá-los, selecioná-los, en im, organizá-los para o mediado (O).

Conforme mencionado anteriormente, os estímulos atingem o organismo de forma direta, pelos canais sensoriais e pela aprendizagem mediada, por meio da atuação do mediador. Nesse sentido, a aprendizagem de que o fogo é quente e queima pode ocorrer quando aproximamos a nossa mão de uma vela com a chama acesa e, ao sentir o desconforto, retiramos imediatamente a mão. Nesse caso, a aprendizagem se dá basicamente por meio dos canais sensoriais do aprendiz, ou seja, pela percepção tátil.

Fonte: (FONSECA, 1998, p. 61)

Quando queremos ensinar algo por meio da aprendizagem mediada, isto é, sendo mediadores (H), devemos nos colocar deliberadamente e de maneira planejada entre o que deve ser ensinado - estímulo (S) - e o mediado (O).

Acreditando que a aprendizagem precede o desenvolvimento (ou que é através da aprendizagem que o ser humano consegue desenvolver-se),

Feuerstein assevera que quanto mais e melhores forem as experiências de aprendizagem mediada, maior será a capacidade do indivíduo de bene iciar- se e desenvolver-se pela exposição direta aos estímulos.