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Projeto político-pedagógico no contexto do ensino para cada estudante

Mediação com crianças com necessidades educacionais especiais

UNIDADE 4 – ORGANIZAÇÃO DO ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO

4.1 Projeto político-pedagógico no contexto do ensino para cada estudante

Todo projeto supõe ruptura com o presente e promessas para o futuro. Projetar signi ica tentar quebrar um estado confortável para arriscar-se, atravessar um período de instabilidade na busca da qualidade (Gadotti, 2000).

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n.º 9394/94), em seu Artigo 12, Inciso I, prevê que “os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, têm a incumbência de elaborar e executar sua proposta pedagógica”. Prevê, ainda, em seu Artigo 15º, a autonomia da escola. Essas formulações trazem a obrigatoriedade da elaboração e execução do PPP, com base em normatizações vigentes, mas não exclui a ideia de que ele deve ser compreendido como resultado das re lexões coletivas acerca da inalidade da educação, do contexto no qual a comunidade escolar está inserida e dos problemas e proposições que afetam o cumprimento dessa inalidade. Dessa forma, cada PPP constitui uma obra única; obra esta decorrente do exercício da autonomia da escola e do compromisso de ensinar a cada aluno(a);

um instrumento teórico-metodológico que visa ajudar a enfrentar os desa ios do cotidiano da escola, só que de uma forma re letida, consciente, sistematizada, orgânica e, o que é essencial, participativa. E uma metodologia de trabalho que possibilita ressigni icar a ação de todos os agentes da instituição (Vasconcelos, 1995, p. 143).

Nessa perspectiva, o PPP não é apenas uma carta de intenção. Não é o Plano Diretor da Escola, pois não se restringe a objetivos, metas e

procedimentos. É um movimento permanente de fomento à garantia

de educação como direito humano. Esse movimento, ao assumir o compromisso com a educação de qualidade para cada aluno(a), orienta a elaboração e o desenvolvimento da ação educativa pelas seguintes diretrizes:

a) Participação ativa de toda a comunidade escolar e entorno da escola na elaboração, desenvolvimento e avaliação do PPP; b) Produção coletiva de conhecimentos livres de qualquer tipo de

preconceito e de discriminação;

c) Celebração e inclusão, no currículo, das culturas dos diferentes grupos da comunidade escolar e entorno;

d) Reconhecimento do direito à educação desenvolvida em todos os níveis de ensino a todos(as), independentemente de gênero, raça, etnia, classe social, de iciência e outras particularidades do sujeito; e) Recusa de hierarquizações e fragmentações de conteúdos; f) Articulação entre teoria e prática;

g) Devolução da palavra para os sujeitos que compõem a comunidade escolar e entorno;

h) Fomento à convivência humana entre alunos(as), educadores(as) e pessoas das comunidades que residem em torno da escola; i) Reconhecimento de que toda pessoa tem direito de acesso e

conclusão com qualidade de seus estudos em escola regular; j) Valorização da dimensão utópica no processo de criação de

Essas diretrizes demandam procedimentos fundamentais para a construção do PPP que, ao serem desenvolvidos, também contribuem para redesenhar a escola, uma vez que a história da educação escolar mostra a inexistência de uma escola para todos(as). Entre esses procedimentos, certamente, encontra-se a criação de espaços e de agenda de discussão coletiva no sentido de construir consensos, ainda que provisórios, sobre qual educação se quer e que tipo de cidadão(ã) se deseja, para qual projeto de sociedade. Encontra-se, ainda, o fomento à organização de conselhos escolares, associação de pais e mães, organizações estudantis – grêmios e diretórios, dentre outras formas de representação e participação dos diferentes sujeitos e grupos sociais.

Da re lexão sobre qual educação se quer e que tipo de cidadão(ã) se deseja, para qual projeto de sociedade, decorrem outras questões: Quem são os(as) alunos(as) e os grupos de convivência da instituição que fomenta o PPP? Quais espaços e tempos serão oferecidos para o desenvolvimento dos processos de ensino e aprendizagem? Como será feita a gestão da escola, da aula e do espaço do AEE? Como serão avaliados os processos de ensino e aprendizagem? De quais recursos inanceiros e pedagógicos a escola dispõe para colocar em movimento as ações educacionais no sentido de ensinar a cada um(a) dos(as) alunos(as)? Quem são as pessoas e ou instituições que fazem parte da rede de Apoio à Inclusão Escolar de cada um(a)? Quais são as formas mais adequadas de ensinar frente às particularidades dos(as) alunos(as)? Que tipo de relação, presente nas instituições, pode favorecer o ensino para cada um(a)? Quais estratégias serão utilizadas para construir as redes interna e externa de apoio à inclusão escolar? Qual concepção de avaliação e de práticas avaliativas será adotada pela escola? Qual concepção de desenvolvimento humano sustenta as considerações sobre as práticas escolares? Quais são as metas acordadas para a instituição escolar?

A elaboração coletiva de respostas para as questões citadas acima e a outras questões similares compõe a face teórico-prática do PP. Por exemplo: ao responder sobre a gestão da escola, de inindo o tipo e as condições de participação das famílias no desenvolvimento, avaliação e reformulação do PPP, pode-se projetar a possibilidade do trabalho com a comunidade escolar, principalmente pro issionais da educação, pais, mães e outros(as) responsáveis por alunos(as), no sentido de compartilhar informações sobre escolarização de pessoa com de iciência, legislação educacional vigente e aspectos teóricos e metodológicos do ensino para cada aluno(a), dentre outras questões. Além disso, essa resposta, certamente, permitirá visualizar se a participação das pessoas envolvidas no PPP tem caráter excludente – as pessoas são demandadas a participar, mas a forma de participação pode provocar processos de exclusão ou participação marcada pela comunicação, por meio da qual todos(as) se façam, simultaneamente, educadores(as) e educandos(as) (Freire, 1980). Disso resulta não uma carta

de intenção, mas a elaboração de um PPP em movimento permanente de reformulação e registros das decisões do grupo e de seus mecanismos de acompanhamento e avaliação.

4.2 O AEE no contexto de um