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UM VIL ATENTADO À CONSCIÊNCIA LIVRE

SEIS CAPÍTULOS DE HISTÓRIA ALUSIVA AOS EMBAIXADORES

UM VIL ATENTADO À CONSCIÊNCIA LIVRE

VERSOS 4-7: — “E o arauto apregoava em alta voz: Ordena-se a vós, ó povos, nações e gentes de tôdas as línguas; Quando ouvirdes o som da buzina, do pífaro, da harpa, da sambuca, do saltério, da gaita de foles, e de tôda a sorte de música, vos prostrareis, e adorareis a imagem de ouro que o rei Nabucodonosor tem levantado. E qualquer que se não prostrar e não a adorar, será na mesma hora lançado dentro do forno de fogo ardente. Portanto, no mesmo instante em que todos os povos ouviram o som da buzina, do pífaro, da harpa, da sambuca, do saltério, e de tôda a sorte de música, se prostraram todos os povos, nações e línguas, e adoraram a estátua de ouro que o rei Nabucodonosor tinha levantado”

Um porta-voz do rei, o “arauto”, inesperadamente, anuncia a altas vozes — através de um instrumento para ampliar sua voz o tão anunciado e espectante momento, e o tão sigiloso programa inaugural. O rei estava presente, assentado em seu trôno conduzido àquele local do “Campo de Dura”. As primeiras palavras do “arauto”, foram uma aterradora ordem do império: “Ordena-se a vós”! Aqui está revelado o espírito intolerante de Nabucodonosor como mandatário absoluto do mundo. Êle nada pedia, nem mesmo ao maior homem de seu reino, — tão somente ordenava. A ordem compulsória de adoração da estátua ao sonido da música, não só foi descortês para uma solenidade como aquela, como também um atentado à consciência dos presentes.

Ali estava um nôvo “deus”, pela primeira vez em evidência num reino mundial, o “deus pátria”, que devia tornar-se “deus-mundo”, ou “deus império”, “babilônio” por excelência, e, muitas daquelas sumidades presentes, não eram babilônias ou caldaicas, e sim destacados personagens de povos conquistados, humilhados, que o rei deixara como administradoras em seus próprios reinos agora vassalos. Êles prefeririam adorar um “deus-pátria”, lá em suas próprias pátrias do que um “deus-pátria”, dum poder opressor de suas nações e povos. Mas, que fazer quando não eram mais senhores de si mesmos no império babilônio, embora empossados em cargos de responsabilidade? Ainda que fôsse contraditório às suas consciências o ajoelhar-se diante duma estátua convertida em um “deus-pátria”, fariam isso como uma mera formalidade, mormente como desconhecedores do verdadeiro Deus a quem unicamente compete aos homens servir e adorar.

TESTEMUNHOS HISTÓRICOS DAS PROFECIAS DE DANIEL

187 Neste ponto o rei Nabucodonosor cometeu uma deslealdade e uma fraude. Convidara os presentes para a “consagração da estátua”, e, no momento que a isto devia proceder, inverte os papéis exigindo adoração: “Vos prostrareis, e adorareis a imagem de ouro”. Adoração de joelhos é bem diferente do que “consagração”. Exigiu-lhes o monarca um “culto”, em honra de Babilônia e do domínio caldeu no mundo. Sem dúvida o rei faltou com a sua palavra exigindo o que antes não pedira em sua ordem de comparecimento ao ato no “Campo de Dura”.

Havia uma ameaça de extermínio no forno ardente a todos quantos ousassem recusar adorar o “ídolo-pátria”. Com esta ameaça o rei demonstrou-se indiscutivelmente um intransigente déspota e muito arrogante. Usou de violência e ameaça para coagir a consciência dos presentes e conseguir os seus objetivos de grandeza e de irredutível obediência de todos pelo temor de sua majestade. Negar adoração à imagem, era a seu vêr, equivalente a um crime de lesa-majestade e

lesa-pátria, e de aberta oposição ao reino e suas leis. O soberano

queria consolidar tôdas as nacionalidades do mundo em uma só nação. Para alcançar tal propósito era essencial que o govêrno fôsse supremo em tudo, tanto no sentido civil como no sentido religioso. E o rei Nabucodonosor era absoluto em seu estado-civil-religioso.

Um antigo provérbio diz: “A vida do Estado é a lei do Estado”. E era esta a concepção do rei Nabucodonosor como estadista de tôda a terra. Para êle Estado era tudo: Suas necessidades eram soberanas; suas demandas, imperativas; sua autoridade, uma inquebrantável lei. Para o monarca nenhuma consciência privada era admissível no Estado ou contra o Estado. O indivíduo era uma mera parte do Estado e só existia para o seu progresso ou não podia existir dentro do Estado. Daí não ser aceitável nenhuma religião independente do Estado — mas unicamente uma religião nacional, própria do Estado, e sob as vistas do Estado.

A estátua de ouro era um símbolo do Estado e da Igreja fundidos num só poder com uma só cabeça diretiva — o rei. Daí, nada menos do que honras divinas deviam ser tributadas ao Estado através de sua religião oficial única.

Ao tempo de Babilônia como poder mundial, o Estado subordinava a religião a seu belo prazer, ao contrário da Idade Média em que a igreja subordinava o Estado para alcançar seus inglórios fins. O rei Nabucodonosor, visava, submeter a Igreja sob o poder e contrôle do Estado, — honras supremas para si, quer como credor do Estado

ARACELI S. MELLO

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mundial, quer como gênio inspirador do Estado. Em outros termos, pretendeu adoração e honras divinas a si próprio de todos os seus súditos, como figura absoluta do Estado e representante honrado dos deuses do Estado mundial. Em outras palavras — o rei era a suprema autoridade civil e eclesiástica do Estado, era o cérebro, a razão e a consciência dos súditos do Estado.

Em consequência, pois, do escandaloso consórcio entre Igreja e Estado, a religião para Nabucodonosor era um negócio do Estado, enquanto na Idade Média o Estado era um negócio da religião. Para o rei de Babilônia era inadmissível uma religião independente ou fóra da alçada do Estado. Só era aceita uma religião que servisse o Estado, que estivesse sob o controle do Estado. A pena para os inconformados, com a religião do Estado era extrema — a morte — e uma morte no forno de fogo. Dentro do Estado — tudo sob o controle do Estado.

A tôdas as províncias conquistadas impunha o rei que abandonassem a religião tradicional e se conformassem com a religião do Estado Babilônio Mundial, ou com o Estado Religioso que os conquistara. Os grandes que compareceram à consagração da estátua simbólica ou Babilônia, deviam promover, pela fôrça, em tôdas as províncias do reino, a religião do Estado-Babilônio e com ela a adoração do rei-soberano como um deus. Todos deviam jurar fidelidade e obediência ao Estado Religioso e ao rei prestar honras como estadista supremo, chefe religioso divinizado.

O caráter da religião do Estado Babilônico e decretada por êste Estado, devia confirmar-se aos sete pontos dados abaixo:

1. Externa e visível — como a grande estátua.

2. Magnificente — como a estátua de grande magnitude e esplendor — tôda de ouro.

3. Sedutiva aos sentidos — Havia muita música variada. 4. Impressiva — os adetos seriam numerosos, aparatosos.

5. Unida — todos adorariam em um determinado lugar e tempo. 6. Regulamentada — regulada por decreto real do soberano.

7. Dignificada — o próprio monarca estaria presente como cabeça e promotor do culto ao Estado.

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189 Esta era a religião de Babilônia — imposta por seu soberano.