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SEIS CAPÍTULOS DE HISTÓRIA ALUSIVA AOS EMBAIXADORES

“TÚ ÉS A CABEÇA DE OURO”

Cremos, sem sombra de dúvida, que a cabeça de ouro é simbólica do Império mundial dos caldeus ou de Babilônia. Como, porém, diz Daniel simbolizar o rei Nabucodonosor? Em primeiro lugar porque êle enfeixava em suas mãos todo o poder do trono. Em segundo lugar, aludindo ao seu sonho duma árvore que enchia tôda a terra, diz-lhe o profeta: “A árvore és tu, ó rei”.1 O grande rei era a personificação de seu Império que êle mesmo fundou e em cujas mãos cresceu e tornou- se poderoso no orbe inteiro, sendo considerado o mais rico de todos os reinos terrestres. O Império era êle e êle era o Império. Como supremo e absoluto, sua côrte não era mais que mera fantasia; seus cortesões nada pesavam nas decisões que êle tomava. Êle era o “tudo”, a majestade suprema dum cêtro que cobria vitorioso inteiramente o orbe conhecido e habitado. Além disso, desempenhou Nabucodonosor uma administração que conservou as nações tôdas em harmonia, bem como sob completa segurança e proteção. E, mais ainda, jamais a história registrou um soberano político no trono do mundo maior do que êle. Êle a todos sobrepujou em glória, grandeza e majestade. Assim achou por bem Deus — que lhe dera todo o poder e a glória de que era senhor — honrá-lo no símbolo da cabeça de “ouro fino” da estátua de seu impressionante sonho inspirado, ainda que ela representasse com tôda a evidência o Império Caldeu Neo-Babilônia. E é surpreendente notar que a interpretação de Daniel ignorou por completo não somente os reis que precederam Nabucodonosor no trono de Babilônia como também os que o sucederam. Sim, só êle foi levado em alta conta pelo céu naquele trono do mundo. Todos os demais que ali se assentaram, praticamente nada representavam aos olhos d’Aquele que é a suprema autoridade na terra e no céu. Em tôda a terra e em tôda a História não houve outro potentado que governasse o mundo tão a contento de Deus.

É notável que nem Ciro, nem Alexandre e nem os maiores Césares são mencionados na interpretação de Daniel como figurados respectivamente pela prata, o cobre e o ferro da estátua, alusivos à Medo-Persa, Grécia e Roma. Já os símbolos inferiores ao ouro interiorizaram os Impérios que eles fundaram, e, além disso, logo sucumbiram na morte. O pouco tempo que estiveram no trono, permaneceram bastante aquém de Nabucodonosor em glória, poder e

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ARACELI S. MELLO

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respeito enquanto senhores do poder. O profeta foi claro em sua interpretação: “E depois de ti”, disse, “se levantará outro reino... e um terceiro reino... e o quarto reino”. Não dissera Daniel: “E depois de ti se levantará Ciro da Pérsia, Alexandre da Macedônia e César de Roma. Não, êles todos seriam inferiores ao grande rei de Babilônia — quer em caráter quer em administração. E, além de tudo, não se converteriam a Deus como o fêz êle de todo o coração, reconhecendo- O, adorando-O e testemunhando a Sua supremacia e poder perante todo o orbe sob seu áureo cêtro.

“E DEPOIS DE TI ...”

Indo de encontro às aspirações do rei Nabucodonosor, de que seu domínio mundial continuaria nas mãos de seus compatriotas por séculos infindáveis, Daniel o notificou de que seu Império seria liquidado depois dêle deixar o trono pela morte. Posto que quatro fracos sucessores legais seus empunhassem o cêtro herdado ainda por vinte e três anos, não foram levados em conta pela profecia, dada a incompetência dêles para o govêrno e bem assim para a manutenção da unidade, da estabilidade e da inviolabilidade do reino. Em comprovação da indignidade dos quatro para manterem o Império, êle rapidamente se desmoronou. Pràticamente o Império de Nabucodonosor deixou de existir depois dêle, pois seus pretensos sucessores o precipitaram no abismo duma política incapaz de conservá-lo forte como o receberam do poderoso rei.

Desafortunadamente, a grandiosa soberania de Nabucodonosor caiu imediatamente nas mãos de seu indigno filho e sucessor Amelmarduk (O Evil-Merodach da Bíblia — Jeremias 52:31), que, de acordo ao historiador babilônio Berossus, era arbitrário e licencioso. Outros de seus biógrafos o acusam de desenfreado, de deslealdade, de torpezas, de leviandade de intemperança. Além do mais seguiu uma política desfavorável à antiga nobreza militar, o que maior descontentamento causou. O partido sacerdotal cansou-se logo dele e de sua côrte, e uma conspiração o assassinou depois dum desprezível reinado de apenas dois anos (562-560). Nergal-Shar-usur, um poderoso príncipe do exército de Nabucodonosor1 e seu cunhado, foi o cabeça da conspiração que deu-lhe a morte, bem como o seu sucessor por quatro anos (560-556), nada fazendo de importância no govêrno. Seu filho Labashi-Marduk, um rapazola inexperiente, o sucedeu,

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TESTEMUNHOS HISTÓRICOS DAS PROFECIAS DE DANIEL

119 sendo porém assassinado por uma conjuração após um efêmero reinado de menos de dois mêses. Os conjurados empossaram no trono um de seu bando — Nabonidus, genro de Nabucodonosor, que aliou ao trono, como co-regente, a seu filho Belshazzar, um jovem licencioso, libertino, irreverente e ébrio.

Temendo, porém, Nabonidus o crescente perigo persa, aliou-se com o Egito, Lídia e Sparta. Entretanto, em 539 cai nas mãos de Ciro Babilônia, o último reduto remanescente do que fôra o áureo e poderoso Império de Nabucodonosor. Êste grande rei, o maior da história política, como vimos, preencheu plenamente o propósito de Deus em promover o engrandecimento de Seu nome entre as nações e em proteger Seu povo cativo no Oriente. Seus fracos e incompetentes sucessores, porém, foram desqualificados para tão altas responsabilidades, embora herdassem a corôa até à derrocada final sob os Medas e Persas coligados. Portanto, Nabucodonosor, o único monarca babilônio reconhecido pela profecia, em verdade não teve sucessores na altura de empunharem o seu glorioso cêtro invencível e poderoso, pois os que pretenderam sucedê-lo e para isso lutaram e se aniquilaram, foram deveras indignos de se assentarem em seu trono. Dêste modo, o “e depois de ti”, referido por Daniel, equivale a que outro reino, não caldeu, tomaria o lugar do seu por conquista armada e destruição.

Ainda que um outro reino sucedesse o seu depois dêle, nenhum monarca o igualaria em poder mundial soberano e inconquistável. Indiscutivelmente, nem os Faraós, nem os Aquemenides, nem os Seleucidas, nem os Tolomeus, nem os Césares, nem mesmo o poderoso Alexandre e nem nenhum outro da idade antiga ou moderna chegou a seus pés como majestade real. Basta dizermos que Nabucodonosor fôra tomado nas mãos de Deus para empunhar o seu cêtro, para dizermos tudo de inigualável supremacia em face de todos os potentados que nesta terra viveram e governaram.