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SEIS CAPÍTULOS DE HISTÓRIA ALUSIVA AOS EMBAIXADORES

JOAQUIM — REI DE JUDÁ

Depois da morte do rei Josias, seu filho Joacaz foi elevado ao trono em seu lugar, sendo, porém, deposto três meses depois por Faraó Neco. Como seu sucessor o rei no Egito estabeleceu a Eliakim, seu irmão, mudando-lhe o nome em Joaquim. Êste nôvo soberano ascendeu ao trono aos 25 anos de idade, tendo reinado 11 anos em Jerusalém e seguido os maus passos dos maus reis judeus naquele trono.1

O rei Joaquim fêz transbordar a taça do pecado do trono de Judá e aproximou a nação mais e mais da beira do precipício fatal como realeza independente. O profeta de seu reinado, Jeremias, fêz em nome de Deus tudo o que era possível para salvar o trono e o reino do colapso que se avisinhava. Porém, suas poderosas mensagens de conselhos e apelos, resultaram em nada. Finalmente foi pronunciada a irrevogável sentença como prêmio da abjeta rebelião contra Deus: Deveriam ser levados em cativeiro para Babilônia, por setenta anos, e tôda a nação e suas cidades seriam totalmente arrazadas, incluso o famoso templo. Os caldeus com seu poderoso rei, seriam os

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53 instrumentos que Deus usaria para justiçá-los como povo rebelde, sacrílego e irreverente.

As mensagens de Jeremias ao rei, aos sacerdotes e ao povo despertaram o antagonismo de muitos, mesmo de falsos profetas que se ergueram contra êle. Assim a mensagem de Deus foi desprezada e Seu mensageiro ameaçado de morte.1 Jeremias, entretanto, com firmeza e destemor, continuou a repreender o pecado e a asseverar a iminência do juízo sob Nabucodonosor e o cativeiro de setenta anos em Babilônia como prêmio da desobediência.

No ano 606 a.C., Nabucodonosor, em campanha no sul do ocidente da Ásia, invadiu a Judéia, cercou Jerusalém e aprisionou o rei Joaquim “e o amarrou com cadeias, para o levar a Babilônia”.2 (ver apêndice nota 8). O rei judeu, porém, prestou juramento de fidelidade ao vencedor e foi deixado no trono como vassalo. Três anos depois, todavia, em 604, rebelou-se e “violou sua palavra de honra ao rei de Babilônia”.3 Isto o levou, como também o seu reino, a um caminho de grande apêrto. Jeremias continuou vibrando da parte de Deus tremendas mensagens de censura à quebra da palavra empenhada ao rei Nabucodonosor pelo rei de Judá.

A fim de tornar claro o juízo impendente e a destruição total que se apressava, o profeta é ordenado por Deus a levar consigo os anciãos do povo e os sacerdotes ao vale do filho do Hinn, lugar onde muitas vêzes os reis se corromperam com o falso culto de Baal, e, depois de mais uma vez adverti-los da sorte que aguardava tôda a nação, quebrou em muitos pedaços, diante dêles, uma botija que levara por ordem de Deus, e lhes disse: “Assim diz o Senhor dos Exércitos: Dêste modo quebrarei Eu a êste povo, e a esta cidade, como se quebra o vaso do oleiro, que não pode mais refazer-se”.4 Mas não se arrependeram! Possuídos de satânica ira, feriram a Jeremias e o aprisionaram pondo-o no “cepo”.

Por cêrca dêsse tempo, no quarto ano de Joaquim, Jeremias, que estava prêso, escreveu em nome de Deus um livro em pergaminho, por intermédio de Baruch filho de Nerias, um escriba seu amigo, contendo tôdas as ameaças do Céu contra o ímpio rei e seus súditos. Baruch devia ler o livro ao povo na casa do Senhor, no dia nacional de jejum no nono mês no seguinte ano — o quinto de Joaquim. E assim o

1 Jeremias 26:8-15. 2 II Crônicas 36:6. 3 II Reis 24:1. 4 Jeremias 19:1-15; 20:1-2.

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fêz Baruch no “átrio superior à entrada da porta nova da casa do Senhor, aos ouvidos de todo o povo”.1

A surpreendente nova chegou aos príncipes que estavam reunidos no palácio real. Ordenaram êles a Baruch que lêsse o livro em particular para êles. E, ouvindo-o todos e temerosos de sua mensagem, comunicaram-se com o rei. O monarca pede que um de seus assistentes, Jeudi, lêsse o livro em sua presença. Entretanto, o ímpio rei, à medida que ia sendo lida a mensagem de reprovação e de juízo, cortava o livro com um canivete e o consumia em um brazeiro que havia à sua frente, até que o livro e sua mensagem foram inteiramente consumidos. Êste ato manifestou, em vez de temor e arrependimento, um verdadeiro desafio a Deus. Deu ordem o rei que prendessem a Baruch e Jeremias — mas Deus os tinha em segurança. Um outro livro idêntico foi escrito por Baruch, ditado por Jeremias.

A sorte do rei Joaquim e seus cortesões foi terminantemente selada: “Portanto assim diz o Senhor, acêrca de Joaquim, rei de Judá: Não terá quem se assente sôbre o trono de Davi, e será lançado o seu cadáver ao calor do dia, e à geada de noite”. “Não lamentarão por êle, dizendo: Ai, meu irmão, ou ai, minha irmã! nem lamentarão por êle, dizendo: Ai, senhor, ou, ai, majestoso! Em sepultura de jumento o sepultarão, arrastando-o e lançando-o para bem longe, fora das portas de Jerusalém”.2 Êste destino que êle mesmo procurou, seria a recompensa de sua própria rebelião contra o céu, de sua perseguição contra Jeremias e de seu crime de morte contra um dos profetas de Deus — Urias.3

No undécimo ano de seu reinado, 598 a.C., vê Joaquim o seu reino novamente invadido pelo exército de Nabucodonosor — constituído de caldeus, sírios, moabitas, amonitas — cujo fim era tudo destruir.4 Cumpriu-se então em Joaquim o juízo particular de Deus sôbre sua pessoa, como acima descrevemos da predição de Jeremias. Josefo confirma o juízo sôbre o rei de Judá nestas palavras: “Pouco tempo depois, o rei Nabucodonosor veio com um grande exército e o rei Joaquim, que não desconfiava dêle e que estava perturbado pelas predições do profeta, não se tinha preparado para a guerra. Assim, êle o recebeu em Jerusalém, com a certeza que lhe dera de não lhe fazer mal algum. Mas faltou-lhe à palavra, mandou matá-lo, com a fina flôr

1 Jeremias 36:10. 2 Jeremias 36:30; 22:18-19. 3 Jeremias 26:20-24. 4 II Reis 24:2.

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55 da juventude da cidade e ordenou que lhes lançassem os corpos fora de Jerusalém, sem lhes dar sepultura”.1

Mas a grande lição não foi aprendida pelos dois seguintes sucessores de Joaquim, postos no trono da Judéia pelo rei Nabucodonosor. Continuaram firmes na rebelião a Deus e ao rei de Babilônia. E o próprio santo profeta de Deus continuou a ser hostilizado, prêso e ameaçado de morte. Com o último rei, Zedequias, o reino foi definitivamente liquidado pelo rei vencedor, e o povo judeu continuou sendo transportado para o cativeiro babilônico predito, em levas sucessivas. O último ato do drama foi o arrazamento da cidade capital do reino — Jerusalém. (Ver apêndice notas 8 e 11).

Estava encerrada a história da realeza judia. Em poucos anos Joaquim “encerrou o seu desastroso reinado em ignomínia, rejeitado do céu, malquisto por seu povo e desprezado pelos senhores de Babilônia cuja confiança traíra — e tudo isto como resultado de seu êrro fatal de virar as costas aos propósitos de Deus como revelados por meio de Seu escolhido mensageiro”. E seus sucessores imediatos não tiveram também senão o destino terrível que escolheram livremente.