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SEIS CAPÍTULOS DE HISTÓRIA ALUSIVA AOS EMBAIXADORES

EUROPA — CONTINENTE DA GUERRA

A Europa tem-se demonstrado um continente sem paz, sem harmonia, desassossegado, em permanente reboliço. Desde que ali aportaram as suas atuais nacionalidades como povos bárbaros e belicosos, e se transformaram em modernas nações, até agora ainda não cessaram as lutas e desavenças entre elas. Em 1936, um professor russo, que vivia na Inglaterra, deu-se ao trabalho de verificar o número exato de guerras provocadas na Europa durante dez séculos. A estatística que organizou mostra um total de 827 conflitos armados. Dêstes, 185 foram provocados pela França, 176 pela Inglaterra, 151 pela Rússia, 75 pela Espanha, 32 pela Itália e 23 pela Alemanha. Isto dá quase uma guerra por ano! Eis o resultado duma política continental catastrófica e orgulhosa. As maiores potências, como apresenta a estatística, se demonstraram até agora as mais belicosas e responsáveis pelo caos do continente. Não cessaram até agora as lutas e o ódio. Quando a guerra cessa nos campos de batalha, continua nos bastidores internacionais! Somos forçados a perguntar se isso é o que consideram civilização?! Comprova-se que os povos bárbaros que fizeram capitular Roma Ocidental e se apossaram de seu território europeu, ali ainda estão com o mesmo espírito barbárico. A Europa tem sido o paiol de pólvora do mundo. As duas últimas grande guerras mundiais foram provocadas por suas maiores e mais ambiciosas nações. Nos dois terríveis conflitos, que de qualquer maneira se estenderam ao mundo inteiro e envolveram tôdas as nações, dum ou doutro modo, direta ou indiretamente, foram assassinadas nos campos de batalha, nos campos de concentração e nos bambardeios aéreos, nada menos do que cêrca do oitenta milhões de creaturas humanas. As nações ficaram econômicamente arrazadas. As perdas materiais foram enormíssimas.

ARACELI S. MELLO

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É surpreendente quantos planos têm sido elaborados a fim de deter o espirito belicoso das nações européias e uni-las fraternalmente numa só comunidade. Tratados têem sido feitos pelos quais quase tôdas celebraram um convênio com quasi tôdas as demais potências. Nada adiantou a Sociedade Internacional da Paz com seu suntuoso “templo da paz” em Haya, na Holanda, inaugurada em 1899. É bastante surpreendente a história dessa extinta agremiação internacional política, cujo objetivo real era unir as nações numa comunidade pacífica, mormente as da Europa.

Quando foi resolvida a construção de seu famoso Templo da Paz, rompeu a guerra dos Boers (colonos africanos de origem holandeza no Transval e Orange), contra a Inglaterra, e tramava-se já o conflito russo-japonês. Ao por-se a primeira pedra, o Kaiser fez sua viagem a Tanger, resultando no início das complicações marroquinas. Ao ser concluído o primeiro andar, a Áustria anexou a Boêmia e Herzogovins. Pronto o segundo andar, surge o conflito franco-alemão. Ao colocarem o telhado começa a guerra turco-italiana. Ao ser concluído, esperava-se a terceira conferência, mas veio a Grande Guerra Mundial que roubou a vida a 10.000.000 de homens das nações suas filiadas!

A Liga das Nações, com sua famosa séde em Gênebra, na Suíça, herdeira legítima da Sociedade Internacional da Paz, foi fundada em 10 de janeiro de 1920, como resultado do tratado de Versailles de 28 de agosto de 1919. Sua primeira sessão reuniu 41 nações. Uma série de importantes pactos foram realizados para dar-lhe estabilidade. Um dos mais importantes foi o Pacto Kellog, em 27 de agosto de 1928, por meio do qual 61 nações declararam a guerra fora da lei. Diziam os jornais da época, após assinado o famoso pacto: “Hoje foi a guerra internacional banida da civilização”. “Pela primeira vez na história do mundo, vai-se ter paz eterna e mundial”. O presidente Wilson, pai da Liga das Nações, foi saudado com ruidosos aplausos em Paris, Londres e na Itália onde os camponêses italianos acenderam velas diante do seu retrato, Wilson chegou a ser chamado: “O salvador do mundo”.

Ali, junto do lago Leman, em Gênebra, está ainda o palácio da Liga das Nações, de mármore branco simbólica da paz. Os transportes dos arquivos de Haya para Gênebra pesavam 600 toneladas! Mas a Liga das Nações nunca ligou coisa alguma. De 1920 a 1930, foram a ela submetidos 4.568 tratados, convênios e alianças políticas. Mas tudo era apenas papel! Em sua história, os seus filiados deflagraram 45 guerras e culminaram no mais terrível conflito da História humana,

TESTEMUNHOS HISTÓRICOS DAS PROFECIAS DE DANIEL

155 de 1939 a 1945. Em 8 de abril de 1946, delegados de 41 nações se reuniram em seu palácio para realizarem os seus funerais. O presidente, no discurso de encomendação de seu cadáver, disse entre outros fatos: “Reconhecemos que nos faltou a coragem moral, quando fôra necessário agir, e que muitas vêzes agimos quando teria sido melhor que tivéssemos hesitado”.

Entre 25 de abril e 26 de junho de 1945, foi fundada mais uma Liga das Nações — a O.N.U. Veio à sua real existência em 24 de outubro de 1945, quando a maioria das nações que assinaram a carta magna ratificaram-na em seus países. Herdou ela os arquivos da S.D.N. e seus bens avaliados em cêrca de 2.750.000 libras esterlinas. Mas a O.N.U., é uma nova Liga com os mesmos homens e as mesmas ambições internacionais. Até agora essas Nações Unidas não se uniram. Segundo dissera o ex-presidente Harry Truman em 1947, a O.N.U. constitue “a única esperança que agora temos para a paz mundial”. Pobre esperança! Esta nova entidade internacional gerou casos agudos e insolúveis; guerra fria, guerra de nervos, divisão entre Oriente e Ocidente, o caso de Berlim, e outros casos agudos e perigosos para a paz. Nunca os membros de uma Sociedade Internacional de Paz se prepararam tanto para a guerra como os membros da O.N.U.. Atrás dos seus estandartes de paz colocaram os seus canhões e bombas atômicas! O espírito da velha Roma dos Césares domina as nações membros da O.N.U.: “Civis pacem para belum” — se queres a paz prepara a guerra. Mas Roma não preparou a paz preparando a guerra! E o mesmo sucede em nossos dias. Não pode haver maior tolice do que preparar a paz preparando a guerra! É evidente incensatez!

Para preparar a guerra na ilusão de preparar a paz, podiam ter ficado na mesma séde internacional em Haya. Não havia razão para mudança para Gênebra nem para Nova York em novos, suntuosos e custosos palácios sédes. A paz não depende de edifícios especiais ou de lugares determinados para ser discutida e estabelecida. Se os estadistas tiverem verdadeiras intenções pacifistas, não precisarão discutir a paz, seja em Haya, Gênebra ou Nova York ou em outro qualquer lugar ou capital do mundo. A paz não pode e não deve ser discutida — mas sim vivida.

Todos os planos até agora laborados para unificar o continente europeu na Conferência Internacional da Paz, na liga das Nações ou na O.N.U. resultaram em nada. Tanto a Europa como os demais continentes ainda não se unificaram sob a custódia de nenhuma sociedade internacional — nem mesmo da O.N.U..

ARACELI S. MELLO

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Para infelicidade de seu continente e do mundo, as nações da Europa têm sido até agora o que a profecia de Deus previu o que elas voluntáriamente seriam. Aliás, territorial e ideologicamente — desunidas. Sim, desunidas já por quinze longos séculos. Têm sido o coração das intrigas internacionais e o vulcão das guerras cujas larvas chegaram a cobrir a terra inteira. É lamentável que um tão belo e tão rico continente, com seus 10.000.000 de quilômetros quadrados constantes de lindas planícies e fascinantes montanhas e planaltos: cortados por grandes rios; margeado por dois grandes oceanos e cinco históricos mares; com uma produção minéria, agrícola e industrial abundantes; bêrço da hodierna civilização, e de grandes artistas e cientistas; teria de notáveis navegadores e descobridores que fundaram colônias que se tornaram importantes nações; — seja estigmatizado pela alcunha de: O Continente da Guerra. Sim, esta tem sido a sua real; história: guerra, cáos.

As fronteiras da Europa jazem sempre a ferrolhos. Seus exércitos aguerridos estão sempre prontos para a primeira eventualidade. A desconfiança é a ordem do dia naquele infeliz continente. Tremenda profecia de Daniel, cumprida à risca através dos séculos. Nenhuma sombra de unidade territorial, nem por conquista, nem por tratado, nem por laços internacionais de família. Mais de trinta nacionalidades apertadas e agitadas ali vivem. Sim, a Europa é o continente da desunião, da discórdia, da guerra!