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SEIS CAPÍTULOS DE HISTÓRIA ALUSIVA AOS EMBAIXADORES

NABUCODONOSOR — REI DO MUNDO

Senhor absoluto do trono herdado, começa Nabucodonosor a dar evidente expressão ao Império Neo-babilônio, do qual fôra êle o seu verdadeiro fundador, já que a morte arrebatou a seu pai antes de ter podido consolidá-lo e expandí-lo.

A partir do ano 605 a.C., o primeiro de seu reinado oficial, começou Nabucodonosor a estender suas conquistas aos quatro ventos. Neste ano, sua primeira e imediata campanha após sua coroação, foi mais uma vez contra o exército egípcio de Faraó Neco que tentava pela segunda vez a recuperação dos territórios perdidos aos babilônios, tendo avançado novamente até ao Eufrates. Mas foram os egípcios mais uma vez vencidos, agora em Carchemis.1

Nos livros das Sagradas Escrituras, os de Jeremias e Ezequiel, principalmente, deparam-se-nos as conquistas de Nabucodonosor no Sul do Ocidente da Ásia, submetendo a todos os países daquela vasta região. Síria, Tiro, Sidom, Galiléia, Samária, Judéia, Filistéia, Adom, Moab, Amem, Arábia, Egito, Etiópia, e outros paises — todos foram reduzidos a satrapias de Babilônia, por conquista armada. As suas mais memoráveis campanhas de que temos conhecimento foram as de Tiro, Judéia e Egito,2 tendo a capital do primeiro poder resistido um cêrco de treze anos.

No Oriente, Ocidente, Norte e Sul, o reino de Nabucodonosor estendeu-se a tôdas as nações constituídas. Levando em conta a interpretação de seu primeiro sonho, dominou êle onde quer que no seu tempo haviam filhos de homens, animais ao campo, e aves do céu”.3 O segundo sonho inspirado do monarca é claro em atestar que o seu reino ou domínio se estendeu “até à extremidade da terra”.4

1 Jeremias 46:1-2. 2 II Reis 24:7. 3 Daniel 2:38. 4 Daniel 4:22.

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Baseados nestas palavras da inspiração constatamos que não houve potentado cujo império fôsse maior do que o de Nabucodonosor e dentro de cujas fronteiras houve unidade e cuidado especial do grande soberano pelo bem geral de seus numerosos súditos vassalos.

Pouco a pouco o mundo caiu prostrado aos pés do grande potentado caldeu, vencido como resultado do juízo divino a uma civilização desequilibrada e irreverente para com Deus. Verdadeiramente êle foi o açoite do céu sôbre as nações de seu tempo, para despertá-las da indiferença e rebeldia e levá-las a reconhecer ao Todo-poderoso como absoluto supremo soberano da terra. Durante todo o seu reinado de quarenta e três anos,— época em que o Império Babilônio alcançou o seu apogeu e a sua idade de ouro — seus súditos foram fiéis a seu comando, pois vimos que Deus deu em suas mãos “todo o domínio” debaixo do céu.

James Moffatt, em sua versão da Bíblia, traduz o versículo trinta e sete nestes têrmos: “Tú, ó rei, és rei de reis, a quem o Deus do céu deu todo o domínio, poder, fôrça e glória”. A expressão: “Todo o domínio” — evidencia em verdade o seu absoluto poder no mundo internacional de seus dias como “rei dos reis” — titulo êste que lhe dá a própria inspiração.1 Nabucodonosor, porém, em suas inscrições, atribuiu os sucessos de seu reinado mundial ao seu deus Marduk.

Daniel, todavia, com um raro e inspirado tato, corrige esta errônea pretenção, e assevera-lhe solenemente ter êle recebido seu reinado das mãos do “Deus do céu”, o Deus de Israel, assim como seu grande poder, sua fôrça e sua glória como supremo potentado político do mundo. Dissera-lhe o profeta que sua realeza fôra reconhecida do céu como áurea, no símbolo do mais precioso metal — o ouro. Sim, todo este reconhecimento do céu evidencia que fôra o Rei do universo quem o empossara no trono da terra e lhe dera poder sobre tôdas as nações. Através do profeta Jeremias, Deus mesmo chama Nabucodonosor “meu servo”, e declara ter entregue “todo o domínio” das nações à sua soberania.2

A realeza de Nabucodonosor fôra um verdadeiro fenômeno político. Mal completara êle dois anos de mandato sobre a terra, já alcançara majestade, fôrça e glória políticas jamais alcançadas por outro soberano mundial antes ou depois dêle. A história não menciona outro rei que o igualasse no comando das nacionalidades. Ciro,

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Ezequiel 26:7. 2

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115 Alexandre e César, também mencionados nas profecias — ficaram bem longe dêle e tiveram um reinado efêmero bastante acidentado, enquanto Nabucodonosor reinou quase meio século, cujo governo foi marcado por abundantes e evidentes bênçãos do céu. Tudo isto foi devido tê-lo Deus usado bem como sua espada para pôr em ordem as nações e justiçar os altivos reis pela arrogância, desacato e irreverência por êles manifestados para com a Majestade do universo, e pela atrevida recusa do cumprimento do dever conhecido para com Deus que lhes dera poder para em seu nome governarem a família humana em justiça, no setor que lhes coube no plano do Onipotente. Especialmente devia Nabucodonosor sujeitar as nações enquanto o povo de Deus era transportado ao cativeiro e nêle permanecesse — para que tudo corresse segundo o propósito pré-determinado por Êle, e no tempo assinalado pelo vaticínio dos profetas pudessem os cativos serem libertados e retornarem à Judéia para reconstruírem o seu lar nacional.

Contudo, o rei Nabucodonosor custou a reconhecer sua inteira dependência do “Deus do céu” ou Deus de Israel como sustentáculo do seu poder governamental. Julgara que, na conquista da Judéia, o Deus dos judeus fôra vencido por seu deus Marduk. Como, pois, reconhecer a Sua supremacia e poder se Marduk O vencera? Foi necessário o “Deus do céu” empregar até mesmo o rigor descrito no quarto capítulo, para que por fim o rei de Babilônia O reconhecesse e O reverenciasse, não só como único Deus, mas também como único Dominador que põe nos seus tronos os monarcas da terra e os depõe quando deixam de preencher os requisitos de Sua Augusta vontade universal.

Os soberanos persas eram limitados pelo poder dos grandes nobres. No capítulo seis do livro de Daniel vemos o poder de Dario, o Medo, restringido pelas leis e frustrado pela nobreza — o poder era aristocrático. Uma cena similar sucedeu na Inglaterra quando o rei João Sem Terra foi forçado pelos barões a assinar com êles e a favor dêles um pacto a que se deu o nome bem conhecido de Magna carta, em 1215 a.C. Na Grécia antiga a autoridade era militar, Alexandre Magno foi colocado no trono da nação por ser um grande soldado. O poder de Roma emanava do Senado. Todavia, o poder do rei Nabucodonosor, antes de sua conversão ao Deus de Israel, era

autocrático, e a êle estava afeto mesmo a faculdade de tirar ou dar a

vida a qualquer de seus súditos, em circunstâncias que assim julgasse necessário.1 Porém, a maravilha de sua entrega a Deus, resolveu êste

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grave problema de sua vida como soberano do mundo, e trouxe felicidade a seus súditos.

Os acontecimentos do reinado de Nabucodonosor demonstraram ter sido êle um chefe de Estado vigoroso e brilhante. Tanto física como mentalmente era um homem forte e mui digno de ter galgado o trono do mundo em sucessão a seu pai. Chegara a ser o maior homem da história como soldado, estadista e arquiteto. Houvessem seus sucessores sido de sua têmpera em vez de noviços, inexperientes, sem afeição, sem capacidade administrativa, os persas teriam encontrado em Babilônia um mui sério problema a resolver, em vez da facilidade que tiveram na conquista da grande cidade.

Depois de consolidar o seu poder mundial, o grande rei Nabucodonosor empregou longo tempo de paz em realizar numerosas obras de vulto, principalmente em sua capital, que, embelezando-a, tornou-a a mais bela, mais fascinante e mais poderosa cidade fortaleza da terra no mundo antigo. Sôbre isto consulte-se o capítulo quatro desta dissertação do livro de Daniel. Seu orgulho manifesto em face de suas realizações não teve limites. Êle procurou fazer de sua realeza um memorável testemunho de seu poder através de todo o futuro e de sua soberba metrópole uma inexcedível glória perdurável de geração em geração. Embora a cidade não mais exista, sua fama perdura nas páginas da história de seus dias como a cidade de ouro e inigualável capital da terra. Fascinado pelas obras grandiosas pelas quais êle tornou Babilônia a mais famosa capital de todos os tempos, chegou a exclamar em sua altivez: “Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a casa real, com a fôrça do meu poder, e para glória de minha magnificência?”1 Esta declaração de soberba de sua parte custou-lhe caro, conforme vemos no quarto capítulo, mas foi uma expressão de seu contentamento, embora jactancioso e ofensivo ao céu.

A famosa realeza mundial de Nabucodonosor e sua formosa metrópole da terra desapareceram para sempre. Profecias evidentes lavraram a ruína completa do grande Império, e isto porque Nabucodonosor não teve sucessores dignos e sim ímpios herdeiros do trono que lançaram indevidamente mão de seu cêtro e não reverenciaram a Deus como por fim êle o fêz e o exaltou sôbre tudo e todos.

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