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PRENÚNCIOS DO PODER MUNDIAL DE ROMA

SEIS CAPÍTULOS DE HISTÓRIA ALUSIVA AOS EMBAIXADORES

PRENÚNCIOS DO PODER MUNDIAL DE ROMA

Em 265 tôda a Itália estava já sob o controle romano. Solidamente assim constituída no interior da península, pensou então a vitoriosa Roma dilatar o seu território e o seu poder. Determinou firmemente tornar-se senhora suprema de todo o Mediterrâneo. Porém, reconheceu no sul como sua maior competidora e antagonista — Cártago, uma forte Cidade-Estado, fundada pelos colonizadores fenícios no norte da África, um grande poder marítimo dominando todo o Mediterrâneo Central, e Ocidental. Cártago possuía o melhor porto da costa da África; era um porto situado no meio do Mediterrâneo, onde se cruzavam tôdas as rotas comerciais. Nada havia para contrabalançar essa atração do mar, pois o interior do país era árido e montanhoso. Tornava-se por conseguinte inevitável que, a

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131 exemplo de seus antepassados, os cartagineses fundassem um império marítimo. E, desde o século sexto a.C. Cártago havia estabelecido tão solidamente o seu poderio no Mediterrâneo Ocidental, que podia determinar limites precisos além dos quais os romanos não tinham o direito de passar. É assim que se lê, na primeira frase de um tratado de 509 a.C., entre Roma e Cártago: “Entre os romanos, e seus aliados de um lado, e os cartagineses e seus aliados do outro lado, reinará paz com a condição de que nem os romanos, nem seus aliados navegarão além do cabo Bom (promontório ao norte de Cártago), a menos que a isto sejam obrigados por tempestade ou por algum inimigo. E no caso em que sejam assim impelidos pela fôrça para além do cabo Bom, não terão o direito de tomar ou comprar o quer que seja, com exceção do que fôr estritamente necessário para repor os seus navios em condições de navegar ou para fazer sacrifícios aos deuses, e deverão partir dentro do prazo de cinco dias.1 Um segundo, e depois um terceiro tratados afirmaram ainda com maior energia a hegemonia de Cártago no Mediterrâneo.

As duas potências — Cártago e Roma — tinham interesses rivais na ilha de Sicília e no Mediterrâneo, e o choque dêstes interesses não se fez esperar muito. Logo os dois poderes se encontravam através de embaixadas vindas de praias opostas do Mediterrâneo: — Aqui vos trago a paz e a guerra, disse o chefe da embaixada romana. Escolhei, cartaginezes, a que preferis. — Dai-nos o que quizerdes, foi a resposta. — Seja a guerra! bradou Fábio, deixando cair a toga. Inicia- se então uma das mais cruentas lutas da antiguidade compreendendo três fases e conhecida pelo nome de “Guerras Púnicas”, entre Cártago e Roma.

Êsse duelo de morte teve como causa indiscutível a conquista da Sicília e o fechamento do Mediterrâneo Ocidental pela frota cartaginêsa. O conflito estendera-se por mais de um século — 264- 146.

Quando as duas nações pegaram em armas, Cártago possuía a vantagem do prestígio e a marinha de guerra mais forte do mundo. Por outro lado os romanos tinham apenas uma pequena marinha de guerra e nenhuma experiência da guerra no mar; seu poderio residia em suas legiões. Em terra não havia melhor combatente que o soldado romano. No mar, porém, tôdas as vantagens estavam do lado dos cartagineses, e tornava-se evidente que, se os romanos quisessem vencer, teriam que aprender a combater no mar.

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Durante os três primeiros anos de guerra, as frotas cartaginezas pilharam impunemente as costas da Sicília e da Itália.

Afinal, em ato de desespêro, os romanos puzeram-se a criar uma frota de guerra. O primeiro contacto com o adversário não foi animador para os romanos. No encontro seguinte, porém, tudo correu diferente. Antes do fim do dia, em Mylae (260), haviam os cartaginezes perdido 14 navios afundados e 31 capturados; era quase a metade da frota, e o restante fugiu em desordem para Cártago. A vitória estimulou Roma a aumentar sua marinha de guerra e a levar com ela a guerra ao território inimigo. Pouco tempo depois do êxito de Mylae, apoderaram-se os romanos da maior parte da Sicília e em 256 expediram uma frota para uma ofensiva na África. Esta frota romana de 330 navios encontrou-se em frente a Eonomos, na costa sul da Sicília, com uma frota de 350 navios cartaginezes e travaram uma grande batalha, interessante pela importância das forças que nela tomaram parte e pela tática empregada.

A esquadra romana, que havia desencadeado primeiro a ação, alcançou uma vitória tão completa que Amilcar (o comandante-chefe cartaginês), se viu obrigado a fugir e o cônsul Manlio poude recuperar os navios que haviam sido capturados. Os cartagineses subitamente cercados de maneira tão inopinada, atacados pela frente e retaguarda, foram obrigados a procurar a salvação em alto mar, tendo perdido 30 navios afundados e 65 capturados. 300.000 homens, remadores e combatentes, tomaram parte nêsse episódio, assim como perto de 700 navios de guerra. Até a batalha de Aecio, travada dois séculos depois, a batalha de Ecnomos ficou sendo a maior batalha naval da história.

Esta vitória romana deixou aberta a rota para o avanço até à África. Os romanos nela desembarcaram e tinham chegado até quasi às portas de Cártago quando seu exército foi destruído pela habilidade de um mercenário espartano, Zantipo. No mar, porém, logo depois, os romanos obtiveram mais uma vitória naval, tendo capturado 115 navios com suas equipagens. Todavia, uma violenta tempestade põe a pique 384 navios romanos na costa da Sicília. Uma nova frota de costas africanas, perdendo 150 navios. A seguir os cartagineses obtiveram triunfal vitória no mar, capturando 93 navios romanos. E uma nova frota romana foi destruída por tempestade, nada restando.

Criaram agora os romanos uma nova frota de 900 quinquerremes. Ao largo das ilhas Aegates trava-se nova batalha entre os dois terríveis inimigos. E quasi que desde o primeiro ataque os romanos alcançaram

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133 um triunfo esmagador, afundando 50 navios cartaginezes e capturando 70 (241 a.C.). Os cartagineses não mais possuíam frota de guerra, e seus exércitos da Sicília estavam privados de qualquer comunicação com suas bases.

Foram então enviados embaixadores a Roma a fim de implorar a paz. E esta grande luta, que durara sem esmorecimento vinte e quatro anos e levara os dois adversários aos limites do esgotamento, terminou com o triunfo de Roma, graças a uma vitória naval. O tratado de paz forçou Cártago a renunciar a quaisquer pretenções na Sicília e pagar avultada indenização de guerra.

Quaisquer que sejam as conclusões morais que a história possa retirar da primeira Guerra Púnica, permanecerá, o fato de que uma nação de “terrestres”, havia combatido a maior potência marítima do mundo, e a havia vencido em seu próprio elemento. Com exceção de uma só, tôdas as batalhas navais terminaram em triunfos para os romanos. Roma deu prova de melhor aptidão para vencer.

Na primeira guerra púnica, o movel principal da luta foi uma ilha, a Sicília. Por consequência, a luta foi principalmente marítima. A Segunda guerra púnica (218-202) foi essencialmente uma guerra terrestre. Expulsa da Sicília, Cártago voltou-se para a Espanha e transformou em sua colônia a parte meridional dessa península. Utilizando essa colônia como base, Anibal seguiu por terra, atravessando os Alpes e invadindo a Itália pelo norte. Esta segunda guerra compreendeu quasi exclusivamente as campanhas do grande Anibal. Em seguida ao cêrco de Sagunto, tomou Anibal a ofensiva, marchou sôbre a Itália atravessando a Espanha, o sul da Gália e os Alpes. Esmagou os romanos no Tessino e na Trébia. (281. Vitoriou-se Aníbal em Trassimenes (217), e em Cannas (216), e apoderou-se de Capua onde passou o inverno. Porém, enfraquecido o grande general cartaíginês por suas próprias vitórias, viu-se abandonado pela própria fortuna. Foi obrigado a aceitar uma paz humilhante (202). Anibal fugiu então para junto de Antíoco, rei da Efésia, e depois para a côrte de Prússia, rei de Bitínia. Suspeitando que êste projetava entregá-lo aos romanos, suicidou-se com veneno que trazia sempre consigo num anel.

A terceira guerra púnica foi curta, decisiva e de nenhum interêsse sob o ponto de vista naval (149-146). Cártago, no impulso de Anibal, recuperara fôrças pouco a pouco, o que inspirava a Catão o seu incessante Delenda Cártago. A voz do velho romano foi ouvida. Depois da vitória de Roma sobre Perseu da Macedônia, empreendeu

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ela a destruição sistemática de Cártago, apesar de terem os cartaginezes sido fiéis ao tratado de paz. Marcio Porcio Catão, o

Censor, proclamou a necessidade de terminar definitivamente com

Cártago. Os cartaginezes, concebendo a verdadeira intensão dos romanos de fazer desaparecer a sua capital com esta nova guerra, empreenderam uma luta de desespero, infligindo aos romanos grandes perdas nos anos 149 e 148. Contudo Cártago foi bloqueada por terra e mar e tomada em 146. A cidade foi totalmente destruída e seus habitantes vendidos como escravos e o território cartaginez foi convertido em província romana na África com a capital em UTICA.

Eis, nos dados históricos precedentes, a origem de Roma e de seu poder mundial. Roma, agora vencedora triunfante de Cártago, a maior potência de seu tempo, e poderosamente consolidada na Itália e no Mediterrâneo Ocidental, volta então as suas armas para além de suas fronteiras — para o Oriente e para o Ocidente, para o Norte e para o Sul — e converte-se no quarto grande Império mundial da profecia. A história de suas conquistas nos três continentes nos dias de seu crescente poder, depois da vitória sôbre Cártago, pode ser apreciada no capítulo sete versículo sete desta exposição das profecias do livro de Daniel, no símbolo que ali lhe corresponde — um terrível animal inominável e desconhecido no mundo da zoologia.

Nas guerras púnicas Roma foi apertada e constantemente derrotada e mutilada em terra, mas emergiu no final como evidente vencedora de Cártago poderosamente influente em todos os países do Oeste e do Mediterrâneo Ocidental, e mais poderosa do que alguns dos Estados do Oriente.