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UMA PODEROSA LIÇÃO DE LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA

SEIS CAPÍTULOS DE HISTÓRIA ALUSIVA AOS EMBAIXADORES

UMA PODEROSA LIÇÃO DE LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA

Introdução

O presente capítulo encerra uma dramática história. Diríamos — uma grave crise oriunda da obstinação do rei Nabucodonosor, que, tal como a descrita no capítulo anterior, pôs em cheque a vida dos representantes de Deus em Babilônia.

Nabucodonosor, o altivo monarca caldeu e rei de toda a terra, estava sempre pronto a promover a exaltação do seu reino e de si em particular através dêle. Em seu orgulho e exaltação, nada realizava senão para elevar-se e engrandecer-se diante do mundo sôbre o qual reinava e dar a entender às nações a invencibilidade de seu poder e a superioridade dos caldeus sôbre os demais povos da terra. Esta foi a infeliz razão por que muitos — além dêste soberano — reinaram e governaram na antiguidade; porque ambicionaram e se esforçaram ao sumo por galgarem o trono e se sobreporem às massas. Faziam questão de estar acima de todos; de exercer supremacia e domínio sôbre todos; de receberem inauditos aplausos de todos; de serem seguidos por numerosas multidões e nações cegadas pela sêde de glória e de fama que os dominava e os intoxicava. Cativados por falsas ideologias, por falsas grandezas, por falso poder de um só indivíduo absurdamente altivo e que arrogava até honras de divindade, massas humanas o adoravam de boa mente como um semi-deus ou representante dos deuses na terra, e se dispunham em dar a própria vida para conservarem-no em sua exaltada posição de supremo soberano e supremo líder.

Aquilo que será a nossa consideração neste terceiro capítulo, é evidência dêste desnaturado espírito que dominou também grandemente o rei Nabucodonosor, que o infelicitou e o pôs em maus

ARACELI S. MELLO

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lençóis com o Deus do céu a quem somente pertence de direito tôda a honra, glória e poder na Terra e no Céu.

Esta orgulhosa jactância de superioridade racial e pessoal e com ela o direito de mando e coação sôbre todos os considerados inferiores, levou os monarcas do passado a arrogarem até mesmo o domínio sôbre as consciências de seus súditos. Êste mal, — máximo mal e atrevido mal — fôra a culminante expressão da arrogância a que chegaram aquêles antigos potentados do poder terreno. A morte era o resultado certo e imediato de todos os que se arriscassem a dizer “não”, em matéria de consciência, àqueles tirânicos senhores do mundo de então.

O rei Nabucodonosor foi talvez o que no passado mais que todos os outros monarcas julgou-se dono das consciências de seus súditos. Sua audácia em assim proceder, o arrastava a atitudes e medidas absurdas, a extremas violências, à ira sem limites como um desvairado, ao ponto de fulminar os recalcitrantes. Porém, a história que agora iremos considerar neste nôvo capítulo, trata duma corajosa e intrépida oposição e recusa — firmes e abertas — às suas pretenções de senhorio sôbre as consciências alheias de seus concidadãos por êle governados. Um trio de valorosos jovens o enfrentou com decisão e categoria neste malsão direito pretendido. Em nenhum caso entregariam êles as suas consciências para que delas fizesse aquêle rei um joguete como bem lhe parecesse a serviço de seus desqualificados caprichos e de sua desmedida exaltação.

O vidente e eloqüente “não” daqueles três jovens hebreus adoradores de Jeová, exasperou terrivelmente o rei Nabucodonosor, que foi levado incontinentemente à vingança fatal, julgando-se desautorado e desacatado publicamente, e ainda por cativos submetidos da Judéia, que eram aquêles moços. Todavia, a execução não tomou lugar ainda que fôra levada a cabo. Um poder infinitamente mais alto do que o de Nabucodonosor, que, embora criasse a consciência e a legasse ao homem como um de seus maiores patrimônios ou faculdades, e que não obstante não forçou direito algum sôbre ela — ainda que seu Criador, senão que deixou ao homem a liberdade de exercê-la segundo bem lhe aprouvesse, intervíu para sustar a absurda e injusta execução de Seus embaixadores naquela côrte do mundo, e demonstrar ao rei de Babilônia a sua nula tutela sôbre as consciências de outrem, que não teve o poder e a sabedoria de criá-las.

TESTEMUNHOS HISTÓRICOS DAS PROFECIAS DE DANIEL

177 Esta triste história do paganismo de outrora repetiu-se profusamente em tôda a era cristã e mesmo em nosso pujante século da ciência. Sempre houve e ainda há pretensos semi-deuses que se alvoram em donos das consciências de seus iguais. Êste descalabro se verifica principalmente nos setores da política e da religião — mormente neste último. É em virtude dêste falso conceito de supremacia sôbre as consciências das massas cívicas e religiosas, que as nações são jogadas constantemente no caos e as religiões jazem em permanente confusão.

Surgem indivíduos aqui e ali no mundo — no meio político e eclesiástico — pretendendo serem grandes coisas, uns predestinados — impondo ideologias vãs, opressivas, daninhas à civilização, e lançando mãos de falsos discursos, da fôrça e da violência, para inflamar, impor e coagir as massas e nações a se submeterem a idéias e pretenções. Julgam-se êles, como os déspotas de outrora, donos das consciências humanas. E êste hediondo mal é mais acentuado em questões de religião em que incontáveis eclesiásticos arrogam a posse das consciências livres de seus chamados fiéis, e ameaçam com fogo, perseguições e anátemas a todos quantos se opõem a esta tão vil pretenção. A usurpação dêste sagrado direito que só ao indivíduo em particular pertence — é uma das maiores ofensas ao Criador que deu ao homem uma consciência livre e absoluta. Mas vejamos o que nô-lo informa sobre esta questão o capítulo que nos está em mão.

UMA ESTÁTUA SUI GENERIS

VERSO 1: — “O rei Nabucodonosor fêz uma estátua de ouro, a altura da qual era de sessenta côvados, e a sua largura de seis côvados; levantou-a no campo de Dura, na província de Babilônia”.