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Os atores sociais que promovem a RSE

No documento Nathalie Beghin Tese de Doutorado (páginas 92-100)

2. Formação da agenda internacional das parcerias público-privadas do social (PPPGs)

2.1 A emergência da Responsabilidade Social Empresarial (RSE)

2.1.2 Os atores sociais que promovem a RSE

O tema da responsabilidade social faz parte da agenda das principais associações empresariais dos países desenvolvidos e globais, seja como estratégia transversal das organizações de defesa de interesses corporativos, como, por exemplo, do Fórum Econômico Mundial (FEM) ou das poderosas International Chamber of Commerce (ICC) e International Organization for Employers (IOE), seja por intermédio de entidades criadas para esse fim, tais como o World Business Council for Sustainable Development (WBCSD)77 e o Business for Social Responsibility (BSR)78, entre tantas outras. A relevância do tema para o setor empresarial global pode ser claramente percebida nas palavras de Klaus Schwab (2008), Presidente do Fórum Econômico Mundial:

Global corporate citizenship means that companies must not only be engaged with stakeholders but be stakeholders themselves alongside governments and civil society. Since companies depend on global development, which in turn relies on stability and increased prosperity, it is in their direct interest to help improve the state of the world79.

76 “O movimento da responsabilidade social empresarial é bastante forte do ponto de vista político. Na realidade,

a principal razão pela qual a RSE foi catapultada em âmbito global e converteu-se em importante referência no discurso dominante diz respeito ao fato de que é promovida por uma ampla coalizão de forças sociais” (UTTING, 2005: 22, tradução nossa).

77 O WBCSD resulta de uma coalizão de mais de 200 empresas, criada em 1995, para responder, do ponto de

vista empresarial, aos desafios levantados na Rio-92. Para maiores informações, consultar o site da WBCS:

http://www.wbcsd.org.

78 O BSR é uma rede global de mais de 250 empresas, que foi lançada em 1992 e que se propõe a promover

estratégias empresariais voltadas para o que consideram estratégias de negócios sustentáveis. Para mais informações, consultar o site da BSR: http://www.bsr.org.

79 “A cidadania global empresarial significa que as empresas devem não somente dialogar com stakeholders,

mas, também, assumir o papel de stakeholders perante os governos e a sociedade civil. Como as empresas dependem do desenvolvimento global que, por seu turno, requer estabilidade e prosperidade, é de interesse direto do setor empresarial contribuir para melhorar o estado do mundo”(SCHWAB, 2008, tradução nossa).

De maneira geral, os argumentos utilizados pelos empresários e suas associações para defender a RSE podem ser resumidos conforme apresentado a seguir80:

(i) A RSE contribui para uma governança global mais democrática na medida e que envolve um espectro maior de atores ou stakeholders nos processos de decisão e de monitoramento das empresas (i. é, organizações não governamentais, organizações de trabalhadores, organizações de consumidores, organizações ambientalistas);

(ii) A RSE contribui para aumentar os lucros das empresas uma vez que: (a) ao envolver os trabalhadores aumenta a motivação dos funcionários, diminuindo a rotatividade e elevando a produtividade do trabalho; (b) ao envolver organizações não governamentais, diminui o risco reputacional da empresa e valoriza sua imagem e sua marca. Com efeito, estima-se que atualmente cerca de 40% do valor de mercado das TNCs se deve ao valor intangível de sua marca (KELL; RUGGIE, 1999); (iii) ao promover a diversidade, isto é, compondo equipes de trabalhadores e dirigentes que incorporem mulheres, distintas etnias e raças, pessoas com deficiência, entre outros, surgem ideias criativas que por vezes diminuem os custos das empresas;

(iii) a RSE contribui para harmonizar padrões e procedimentos de implementação de práticas sustentáveis do ponto de vista social e ambiental, tanto da empresa e de suas filiais quanto de suas cadeias de fornecedores. Devido à ampla e extensa capilaridade dessas organizações em todo o planeta, elas servem de veículo para a promoção do desenvolvimento;

(iv) A RSE contribui para disseminar a promoção e a proteção dos direitos humanos. Segundo os resultados de uma pesquisa coordenada pelo Relator Especial das Nações Unidas sobre Negócios e Direitos Humanos, John G. Ruggie, realizada no universo das 500 maiores empresas do mundo, a absoluta maioria dos respondentes declarou adotar princípios ou práticas relacionados com direitos humanos, tendo como marcos referenciais acordos internacionais, especialmente, as convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas, o Global Compact e as Diretrizes para Empresas Multinacionais da OCDE. Ainda que existam vários problemas na interpretação e na implementação dos direitos humanos no mundo empresarial, o coordenador da pesquisa conclui:

80 A esse respeito, ver Kell e Ruggie (1999), Utting (2002c, 2005), UNRISD (2000, 2005), Bendell (2004),

“Nevertheless, this survey indicates that the human rights discourse has begun to enter the corporate arena”81 (RUGGIE, 2006: 2).

Além de influenciar governos, por meio do lobby, do financiamento de campanhas políticas e da rápida circulação de recursos financeiros, as TNCs influenciam a cultura, por intermédio do controle dos meios de comunicação de massa. Tal poder lhes permite produzir, diariamente, mensagens escritas, visuais e de áudio que sirvam a seus interesses econômicos e políticos. Segundo Chomsky e Hernan (apud BENDELL 2004: 10), as transnacionais da mídia filtram as notícias de cinco maneiras: primeiro, as reportagens são pautadas pelas agendas dos seus proprietários; segundo, é preciso agradar os atuais e potenciais anunciantes, uma das principais fontes de recursos; em terceiro lugar, os jornalistas frequentemente redigem suas matérias a partir de releases elaborados por organizações que possuem interesse comercial na influência da agenda; em quarto lugar, eliminam-se os profissionais que tendem a contestar essas regras do jogo e, em quinto, contratam-se jornalistas que não questionem o modelo econômico vigente.

A influência das transnacionais e das associações que defendem seus interesses também se estende nos meios acadêmicos e científicos. Um exemplo dessa proximidade se reflete no fato de que o atual Representante Especial do Secretário-Geral das Nações Unidas para Negócios e Direitos Humanos, John G. Ruggie, é renomado professor da Universidade de Havard e fervoroso defensor da responsabilidade social empresarial. As escolas de administração vêm incorporando a temática da responsabilidade social nos seus currículos acadêmicos. Cresce o entendimento de que as responsabilidades das empresas não são somente com seus acionistas (shareholders), mas todo o conjunto de suas partes interessadas (stakeholders). Desenvolveram-se ainda abordagens de aprendizagem organizacional, por intermédio das quais aponta-se a importância do diálogo, das parcerias e do aprendizado social como mecanismos centrais por meios dos quais as empresas podem adquirir valores, conhecimento e competências necessárias para sua adaptação e sua sobrevivência num mundo cada vez mais dinâmico e eivado de riscos. Emergem novos temas de gestão articulados em torno do aquecimento global, tais como “empregos verdes” e “negócios verdes”. Em 2007, o hipercongresso anual da Academy of Management teve por tema “Doing Good by Doing Well” (Fazendo o Bem Fazendo Bem Feito)82.

81 “Contudo, a pesquisa revela que o discurso dos direitos humanos começou a entrar na arena do setor

empresarial” (RUGGIE, 2006: 2, tradução nossa).

82 A esse respeito, ver a coluna de Thomaz Wood Jr. “Boas companhias”, Carta Capital, 14 de novembro de

O discurso da responsabilidade social empresarial e de suas vantagens encontra eco num conjunto amplo de organizações da sociedade civil global que apresenta certo ceticismo em relação à capacidade dos Estados de por limites à atuação do mercado. Os dirigentes dessas entidades entendem que nos países desenvolvidos, a onda neoliberal enfraqueceu o poder público nas esferas nacional, regional e internacional. E, nos países em desenvolvimento, a capacidade de intervenção dos governos é extremamente limitada quando não minada pela corrupção. Nessas condições, avalia-se que é melhor tentar mudar práticas empresariais predadoras por meio de estratégias que articulem ações de confronto com ações de colaboração. Com isso, fortalece-se a noção de regulação civil ou regulação social ou, ainda, corregulação. Victoria Baxter (2003: 14 e 17) expressa bem essa corrente de pensamento:

The ethic of responsibility is geared both to the consumer who is urged to buy socially conscious goods and to corporations who are lobbied to raise labor standards and protect workers’ rights (…) In a globalized world where nation-states are declining in power, civil society can be seen as the mechanism to confront and regulate the world economy83.

Os defensores da regulação civil entendem que a globalização estimulou a criação de uma “sociedade civil global”, espaço no qual consumidores e ONGs procuram controlar a atuação das TNCs por meio de diversos mecanismos (i. é, iniciativas de múltiplas partes interessadas, campanhas, boicotes, ocupações de empresas). Em última instância, os “consumidores conscientes” são os reguladores, pois detem o poder de premiar ou punir empresas por sua atuação. Isso resulta, sobretudo, da crescente importância da marca para o aumento do poder das transnacionais. A ideia é que a sanção oriunda do descumprimento da regra viria do próprio mercado: os consumidores, insatisfeitos com a forma como a empresa se comporta, puni-la-iam, deixando de comprar seus produtos ou serviços. A imagem da empresa ficaria comprometida, seu valor no mercado cairia, assim como seus lucros e sua rentabilidade. O movimento em prol da regulação civil tem contribuído para a expansão de um conjunto de organizações não governamentais voltadas para a realização de uma série de atividades relacionadas com a RSE: prestação de serviços, execução de projetos sociais, realização de estudos e pesquisas, outorga de certificados e realização de atividades de monitoramento. Essa “nova indústria da RSE”, conforme a batiza Bendell (2004), mobiliza

83 “A ética da responsabilidade é transmitida, de um lado, para o consumidor, que é instado a praticar o consumo

consciente e, de outro, para as empresas que são objeto de lobby para melhorar as condições de trabalho e proteger os direitos dos trabalhadores (...) Em uma sociedade globalizada onde os Estados-nação estão perdendo poder, a sociedade civil pode vir a ser um mecanismo de confronto e de regulação da economia global” (BAXTER, 2003: 14 e 17, tradução nossa).

um crescente conjunto de prestadores de serviços, de empresas de auditoria e certificação, de editoras, de consultores, de especialistas, de publicitários, de institutos de pesquisa etc.

A progressiva consolidação das práticas de responsabilidade social também decorre do enfraquecimento, da fragmentação, bem como das contradições que se verificam no interior das organizações da sociedade civil e entre estas últimas e os partidos políticos. A seguir, apresentam-se alguns exemplos desses processos, que acabam dificultando uma efetiva regulação do mercado por parte da sociedade em torno de um projeto político que articule o conjunto das demandas sociais84:

(i) enfraquecimento dos sindicatos de trabalhadores devido às consequências da globalização econômica e financeira. O atual perfil da classe trabalhadora, resultante do “derretimento dos sólidos” próprios da modernidade líquida, não permite fazer frente à força avassaladora das transnacionais: tem-se, de um lado, uma minoria de profissionais altamente qualificados com acesso aos direitos trabalhistas e às boas condições de trabalho e, de outro, a maioria composta por trabalhadores que transitam entre a formalidade e a informalidade, com baixa qualificação profissional, salários reduzidos e poucos direitos. A esses dois grupos, soma-se um conjunto significativo de excluídos que vive à margem do sistema. Diante dessa fragilização, muitas organizações de trabalhadores vêm assinando Acordos Marcos Internacionais, adotando, pois, uma postura de diálogo com as transnacionais em detrimento do tradicional confronto;

(ii) tensões entre sindicatos e ONGs, uma vez que, em alguns casos, os representantes dos trabalhadores consideram que as organizações não governamentais não possuem legitimidade e representatividade para estabelecer arranjos com empresas em nome das populações em situação de pobreza ou dos trabalhadores. Além disso, nem sempre os sindicatos concordam com as estratégias de atuação de ONGs, como por exemplo os boicotes, pois entendem que ameaçam os empregos dos trabalhadores. Por vezes, ONGs criticam as organizações de trabalhadores, acusando-as de corporativas, fossilizadas, corruptas, racistas e machistas, além de apresentarem poucas preocupações em relação a questões ligadas ao meio ambiente, aos trabalhadores informais ou ainda às questões referentes a gênero, raça/etnia, orientação sexual e pessoas com deficiência;

84 A esse respeito, ver Murphy e Bendell (1999), UNRISD (2000, 2003, 2005), Bendell (2004), Utting (2002a,

(iii) tensões entre organizações da sociedade civil e movimentos sociais que defendem direitos e organizações não governamentais que executam projetos sociais com recursos públicos ou privados, o chamando terceiro setor. Para as primeiras, a atuação das segundas fortalece o jogo das transnacionais, contribuindo para esvaziar a agenda da universalização dos direitos humanos e do necessário e indispensável papel do Estado na sua implementação. Já o segundo grupo entende que, diante da magnitude da pobreza e da miséria, algo deve ser feito de imediato para aliviar o sofrimento dessas pessoas;

(iv) tensões entre ONGs que defendem direitos humanos e organizações de consumidores, uma vez que as primeiras entendem que uma atuação estruturada somente em torno do interesse imediato dos consumidores reforça a individualização, o consumismo e o modo de produção capitalista, opressor e excludente. Avanços têm sido obtidos na aproximação desses dois grupos em torno da noção de consumo “consciente” ou “sustentável”;

(v) tensões entre ONGs e movimentos sociais do Norte e do Sul. Muitas organizações dos países em desenvolvimento sentem que decisões que afetam seus países estão sendo tomadas por quem mal conhece suas realidades e demandas. Bendell (2004: 44) dá o exemplo de iniciativas em torno do combate ao trabalho degradante na indústria de vestuário e esporte (sweatshop) promovidas por organizações, tais como, Worldwide Response Apparel Production (WRAP)85, Fair Labor Association (FLA)86 e Social Accountability International (SAI)87, nos Estados Unidos, e Ethical Trading Initiative (ETI)88, no Reino Unido. Essas iniciativas praticamente não incluem representações de países em desenvolvimento;

(vi) limites das ONGs para exercer o adequado monitoramento das iniciativas: elas não dispõem de recursos suficientes (financeiros, humanos, organizacionais, logísticos) diante da magnitude e da complexidade da atuação das transnacionais;

(vii) tensões entre os partidos políticos e as organizações da sociedade civil, uma vez que os primeiros não souberam processar adequadamente as demandas sociais oriundas de uma sociedade cada vez mais complexa e dinâmica. Conforme enfatiza Nogueira (2004: 163):

85 Para mais informações, consultar o site da WRAP: http://www.wrap.org.uk. 86 Para mais informações, consultar o site da FLA: http://www.fairlabor.org. 87 Para mais informações, consultar o site da SAI: http://www.sa-intl.org. 88 Para mais informações, consultar o site da ETI: http://www.ethicaltrade.org.

A própria participação política não se expandiu consistentemente e continua a claudicar, oscilando entre formato eleitoral e minimalista definido pelo liberalismo e a impetuosidade “anárquica” e anti-institucional da “nova esquerda”. O reformismo liberal prevalecente ao longo da década de 1990 mostrou-se particularmente eficaz no enquadramento da democracia, seja porque fez com que aumentasse o poder econômico dos grandes grupos e conglomerados (via privatizações, abertura dos mercados, desregulamentações e subsídios), seja porque implicou um elevado custo social, fatores que repercutiram negativamente na disposição participativa e associativa das classes subalternas, colaborando também, de modo decisivo para o enfraquecimento simultâneo de todo o sistema de representação política.

Outro elemento importante para o avanço do movimento da responsabilidade social empresarial diz respeito ao apoio que recebe dos governos dos países ricos e das Nações Unidas que, no geral, têm preferido apostar em iniciativas voluntárias a impor regras e normas legais. Assim, por exemplo, o lançamento do Global Compact, em 1999, foi feito em Davos, durante a reunião do Fórum Econômico Mundial. No seu discurso, o então Secretário-Geral da ONU, Kofi Annan, convocou um pacto no qual as Nações Unidas validariam a ideia de um regime internacional de comércio e de investimentos livre de restrições, desde que as empresas adotassem medidas voluntárias de melhoria de sua atuação nas áreas trabalhistas, de direitos humanos e de meio ambiente. Mais recentemente, na reunião da Cúpula do G8 realizada em Heiligendamm, na Alemanha, em junho de 2007, os governos dos países mais poderosos do mundo recomendaram o fortalecimento da responsabilidade social empresarial a partir de mecanismos voluntários, como as Diretrizes da OCDE e o Global Compact das Nações Unidas89.

O enfraquecimento dos Estados e de suas organizações internacionais, resultante do que Bauman (2001) batizou de os tempos líquidos-moderno, tem levado os governantes a procurar por recursos privados, tanto financeiros como de legitimação. Entretanto, diante da magnitude da exclusão que esse mesmo processo de liquefação produz, o setor empresarial tem sido pressionado a dar algum tipo de resposta e, para tal, busca fazê-lo fora da esfera da regulação pública. Conforme destacam Kell e Ruggie (1999: 11):

(...) There are some signs that elements in the global corporate community are themselves increasingly concerned by the unsustainability of the current imbalance in global governance structures, recognizing that global markets no less than national ones need to be embedded in broader frameworks of social values and practices if they are to survive and thrive90.

89 A esse respeito, ver G8 Summit Declaration: “Growth and responsibility in the world economy”.

Heiligendamm, Germany, 7 June 2007.

90 “(...) Existem sinais de que alguns empresários pertencentes à comunidade global estão cada vez mais

conscientes da insustentabilidade do desequilíbrio atual da estrutura global de governança; eles reconhecem que a sobrevivência e a prosperidade dos mercados, nacionais e globais, necessitam de um amplo enquadramento de valores e práticas sociais” (KELL e RUGGIE, 1999: 11, tradução nossa).

É em grande parte por isso que a poderosa associação empresarial Câmara de Comércio Internacional (International Chamber of Commerce – ICC) e o Fórum Econômico Mundial defendem o fortalecimento das Nações Unidas como organização capaz de criar um ambiente favorável para o desenvolvimento do setor privado, especialmente no marco do comércio internacional, partindo do entendimento de que “uma ONU forte é boa para os negócios” (MEZZALAMA; OUEDRAOGO, 1999: 5). Seguindo essa mesma lógica, o setor empresarial global passou a ser defensor do Global Compact, das Nações Unidas, como forma de consolidar um “novo pacto social de âmbito global”, fora da esfera dos direitos e da regulação pública e norteado pela regulação privada com a mediação complacente do poder público multilateral. Assim, por exemplo, no final dos anos de 1990, o ICC lançou uma declaração sobre o papel da ONU na promoção da RSE91 que foi atualizada em julho de 200792. Nessa ocasião, o Secretário Geral do ICC, Guy Sebban, destacou que:

As a global, multistakeholder initiative under the leadership of the UN Secretary- General, the Global Compact has contributed to advancing voluntary corporate responsibility among a broad range of actors, articulating universal principles for voluntary corporate responsibility initiatives, and acting as a convening and learning forum to share and promote good practice (…) In this context, ICC believes that the role of the United Nations should be to promote CR (corporate responsibility) broadly, including through the continued creation of new initiatives – whether local, regional or global – and to support their development93.

O movimento da responsabilidade social empresarial, apesar de sua rápida expansão, enfrenta severas críticas oriundas de diversos setores, tanto do mundo empresarial e acadêmico de estirpe liberal, como de organizações não governamentais internacionais e das próprias Nações Unidas94. A principal objeção dos adversários liberais, liderados pelo economista americano Milton Friedman (1970)95, refere-se à razão de ser de uma empresa privada, que, segundo alegam, não pode tornar-se uma instituição com fins definidos por uma moralidade além da que figura no mundo dos negócios. Em uma empresa capitalista,

91 A esse respeito, ver a declaração, de 5 de julho de 1999, no site:

http://www.iccwbo.org/id406/index.html.

92 A esse respeito, ver International Chamber of Commerce (2007) e o site da ICC:

http://www.iccwbo.org/policy/society/iccbeiac/index.html.

93

“O Global Compact, como iniciativa global de múltiplas partes interessadas liderada pelo Secretário-Geral da ONU, tem contribuído para fortalecer a responsabilidade social empresarial de caráter voluntário perante número expressivo de atores, tem articulado princípios universais para nortear iniciativas de responsabilidade social empresarial voluntária e tem servido como fórum de encontro e de aprendizado para partilhar e promover boas práticas (...) Nesse contexto, a Câmara de Comércio Internacional acredita que o papel das Nações Unidas é o de promover amplamente a RSE, inclusive por meio da criação contínua de novas iniciativas – sejam elas locais, regionais ou globais – e apoiar seu desenvolvimento” (SEBBAN, 2007, tradução nossa).

94 A Organização das Nações Unidas possui programa de pesquisa sobre as Parcerias Público-Privadas Globais

(PPPGs) no bojo da linha de investigação “Markets, Business and Regulation”. Para mais informações, consultar o site: http://www.unrisd.org.

95 A esse respeito, ver o famoso artigo de Milton Friedman, publicado em 13 de setembro de 1970, no The New

No documento Nathalie Beghin Tese de Doutorado (páginas 92-100)