• Nenhum resultado encontrado

Fontes secundárias de informações

No documento Nathalie Beghin Tese de Doutorado (páginas 39-43)

1. Construção teórico-histórica, metodológica e conceitual do objeto de pesquisa

1.2 Procedimentos metodológicos: organização e análise dos dados

1.2.1 Fontes secundárias de informações

As fontes secundárias que dão suporte ao nosso trabalho se dividem em dois grupos: uma revisão da literatura e de outras fontes de informações (i. é, sites e portais, meios de comunicação de massa e especializados), para construir as categorias teóricas que fundamentam a reflexão; os resultados de tabulação especial de um estudo quantitativo promovido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)27. Essa tabulação especial, cujos dados são apresentados em caráter inédito nesta tese, possibilitou traçar, para o ano de 2004, um retrato das grandes empresas localizadas no Brasil que declaram efetuar parcerias com entidades governamentais para realizar suas ações sociais28.

A pesquisa original do IPEA, a partir da qual se extraiu a tabulação especial, foi estruturada em torno de indagações, tais como: quantas são as empresas que realizam ações sociais voltadas para a comunidade? Quais são as ações realizadas e a quem beneficiam? Quais as principais características da atuação empresarial, destacando-se a frequência do atendimento, os responsáveis pela realização das ações, as modalidades de atuação e a

27 Entre os anos de 1998 e 2006, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) realizou uma série de

pesquisas de âmbito nacional, cujo objetivo principal foi traçar um retrato do envolvimento do setor empresarial na promoção de atividades ou projetos sociais voltados para comunidades vivendo em situação de pobreza. Como pesquisadora do Instituto à época, participei dos processos de concepção, levantamento das informações e análise dos dados dessa série de pesquisas. A realização desse conjunto de estudos contou com o apoio financeiro do RedeIPEA e do Escritório da CEPAL no Brasil. Os resultados desse levantamento podem ser encontrados em Peliano e Beghin (2000, 2001, 2001a, 2001b, 2001c, 2003), Peliano e Silva (2001) e Peliano (2006).

28 Para o IPEA a “ação social das empresas” refere-se a: “Qualquer atividade que as empresas realizam, em

caráter voluntário, para o atendimento das comunidades, nas áreas de assistência social, alimentação, saúde e educação, entre outras. Essas atividades incluem desde pequenas doações eventuais a pessoas ou instituições até grandes projetos mais estruturados. Foram excluídas do conceito de ação social as atividades executadas por obrigação legal como, por exemplo, (...) as contribuições compulsórias ao Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), Serviço Social da Indústria (SESI), Serviço Social do Comércio (SESC), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) e Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR)” (PELIANO; BEGHIN, 2003: 9). A utilização do termo “ação social das empresas” deve levar em conta a falta de precisão do termo, o que possibilita que essa única expressão acabe encobrindo, sem distingui-los, fenômenos diferentes, como, por exemplo, doações eventuais de recursos impulsionadas por motivações filantrópicas, de um lado, e, de outro, o apoio a grandes projetos estruturados que visam, sobretudo, melhorar a imagem da empresa. Tentar enfrentar as ambiguidades e as ambivalências que subjazem a essa expressão é justamente um dos desafios da presente reflexão. Ou seja, trata-se de procurar descortinar, com o auxílio dos próprios resultados dos estudos do IPEA e com a construção de uma argumentação analítica que (re)interprete essas informações, os diferentes fenômenos que estão por trás da atuação do setor empresarial na área social. Enfim, quando nos referimos à pesquisa, utilizaremos frequentemente o termo “ação social das empresas”, na medida em que foi em torno dele que o IPEA organizou o levantamento dos dados.

participação dos empregados? Que recursos são utilizados nas ações sociais? Qual a dimensão do gasto social? Qual o percentual das empresas que fazem uso dos incentivos fiscais para desenvolver seus projetos sociais? Há avaliação e divulgação das atividades sociais desenvolvidas? Os empresários tendem a privilegiar as localidades mais próximas da empresa no seu atendimento social? Quais as motivações dos empresários para atuar no campo social? Quais os resultados obtidos e as dificuldades encontradas? Na edição de 2004 foram introduzidas algumas questões novas, a saber: qual a proporção de empresas que atua por meio de parcerias e com quem essas parcerias são realizadas? Quais as percepções dos empresários sobre seu papel no atendimento social?

O levantamento mais recente do IPEA, que se refere ao ano de 2004, foi realizado com uma amostra composta de 9.978 empresas privadas, selecionadas a partir do universo de empresas com um ou mais empregados para os quais se dispunha de endereço no cadastro mantido pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e constituído pela Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) e pelo Cadastro de Empregados e Desempregados (CAGED). Esse é o mais completo cadastro de âmbito nacional que identifica, localiza e fornece o número de empregados e a atividade econômica das empresas. A expansão da amostra para todo o país, por meio de procedimentos estatísticos, resultou num universo estimado em 871 mil empresas formais com um ou mais empregados. Note-se que a pesquisa realizada pelo IPEA tem o mérito de constituir-se, até o momento, no único banco de dados de abrangência nacional disponível no país, com informações sobre o envolvimento do setor empresarial na área social que possibilita a generalização dos resultados para todo o setor privado lucrativo com um ou mais empregados, no Brasil, no começo da década de 2000.

Para contribuir com a realização do objetivo da presente tese de doutorado, foi solicitada ao IPEA uma tabulação especial da pesquisa referente ao universo das empresas com mais de 500 empregados que declararam realizar parceria com organizações governamentais29. Note-se que esse recorte corresponde a uma aproximação mais restritiva do

29

A tabulação especial resultou das seguintes etapas, a partir das informações da amostra da pesquisa para o ano de 2004: (1) cruzamento das variáveis “empresas que declararam realizar, em caráter voluntário, ações sociais para a comunidade” (pergunta 3 do questionário) e porte da empresa (pergunta 2 do mesmo questionário); (2) obteve-se, assim, o subgrupo de empresas com mais de 500 empregados que fazem doações ou desenvolvem projetos sociais; (3) cruzamento das empresas que compõem esse subgrupo com a variável “empresas que declaram celebrar parcerias com órgãos governamentais para realizar suas ações sociais” (perguntas 8 e 9 do questionário da pesquisa do IPEA); (4) desse último cruzamento, extraiu-se o grupo de empresas que nos interessa para efeitos dessa tese e para o qual foram aplicadas todas as demais variáveis do questionário, de modo a compor o perfil dessas empresas (i. é, em que áreas atuam, quem atendem e de que forma, quais suas motivações, que dificuldades encontram para expandir seu atendimento). De posse dessas tabulações da amostra, a partir de procedimentos estatísticos, esse conjunto de empresas foi expandido para o universo das empresas no Brasil que atendem aos requisitos especificados.

que é usualmente definido como grande empresa. Com efeito, segundo a classificação do SEBRAE30, são consideradas grandes empresas da indústria as que contam com 500 ou mais

empregados e, nos serviços e no comércio, as que empregam 100 ou mais trabalhadores. De acordo com os resultados da tabulação especial da pesquisa do IPEA, em 2004, existiam no país 4.469 empresas com mais de 500 empregados, o que correspondia a 0,5% do universo das 871 mil empresas privadas formais com um ou mais empregados, para o mesmo ano. Segundo o IPEA, entre o universo das grandes empresas, 4.193, o que equivalia a 93,8% delas, praticavam, em caráter voluntário, ações sociais para a comunidade; dessas, 3.324, ou seja, 79,3%, declaravam ter celebrado parcerias com organizações governamentais para realizar atividades sociais em 2004. Em outras palavras, a absoluta maioria do setor empresarial de grande porte do país que atua na área social se associa, de alguma forma, a entidades públicas dos três níveis de governo para poder atender comunidades carentes. É importante deixar claro que essa tabulação especial não permite aprofundar diretamente o que significa essa “parceria”, nem saber com quem e como são realizadas as parcerias e em que consistem, pois esses não eram os objetivos do levantamento do IPEA. Ela possibilita traçar um perfil das empresas que declaram se associar a entidades governamentais para realizar alguma atividade na área social.

Assim, para aproveitar os dados existentes e procurar entender melhor esse universo empresarial específico, buscou-se analisar, por meio da tabulação especial, o comportamento dessas 3.324 empresas que declararam realizar, em 2004, atividades sociais em parceria com entidades governamentais. Para tal, os resultados da pesquisa foram interpretados a partir de um referencial analítico que se aproxima do marco conceitual adaptado de Kingdon (1984), em torno das categorias: problema, estratégias de ação, motivações e ideias, conforme apresentado no Quadro 1.1.

Quadro 1.1 – Brasil: Tabulação especial da pesquisa Ação Social das Empresas, IPEA, 2004 - Plano de análise

Informantes = universo das empresas no Brasil com mais de 500 empregados que declararam realizar ações sociais em parceria com órgãos governamentais.

Trata-se de uma tabulação especial da PASE/IPEA (2006)

Categorias de análise Perguntas do questionário fechado da pesquisa do IPEA

Problema

Trata-se de identificar quais os problemas sociais que as empresas que fazem parcerias com organizações governamentais buscam enfrentar.

1. Para quais finalidades se dirigiram as atividades sociais ou doações realizadas pela empresa em 2004?

2. Quais os grupos da comunidade que se beneficiaram das atividades sociais ou doações realizadas para a comunidade em 2004?

Estratégias de ação

Trata-se de analisar as formas como as empresas operacionalizam seu atendimento.

3. Realizar ações sociais faz parte da estratégia da empresa? 4. A empresa divulgou a ação social que realizou em 2004? 5. Com que frequência a empresa realiza atividades sociais? 6. A empresa utilizou deduções permitidas pela legislação do

imposto de renda para realizar as atividades sociais? 7. Quais deduções foram utilizadas?

8. Por que motivos a empresa não se beneficiou de incentivos fiscais para financiar a ação social realizada em 2004? 9. A empresa tem planos de ampliar os recursos e o atendimento

social que vem desenvolvendo?

10. Onde foi realizada a ação social em 2004?

11. De que forma a empresa realizou atividades sociais ou fez doações em 2004?

12. Que tipo de recursos foram utilizados pela empresa nas atividades sociais em 2004?

13. Com quais outras organizações a empresa fez parcerias em 2004?

14. Quem na empresa foi responsável pelas atividades sociais ou doações em 2004?

15. Os empregados da empresa participaram nas atividades sociais apoiadas ou realizadas pela empresa em 2004? 16. Os dirigentes ou proprietários da empresa participam de

conselhos ou da direção de entidades comunitárias que executam projetos sociais?

17. Os dirigentes da empresa participaram de conselhos ou comissões de políticas sociais com representantes do governo em 2004? (Como, por exemplo, Conselho de Saúde,

Assistência Social, dos Direitos da Criança e do Adolescente, Tutelar, da Merenda Escolar, do Trabalho).

18. Existem avaliações documentadas sobre a ação social que a empresa realizou em 2004?

19. Como ocorreu a participação dos empregados na ação social apoiada ou realizada pela empresa em 2004?

Motivações

Trata-se de identificar quais as motivações e os resultados percebidos pelos empresários em decorrência de sua atuação.

20. Quais motivos levaram a empresa a realizar atividades sociais em 2004?

com a realização de atividades sociais?

Ideias

São as percepções que os empresários têm sobre o seu papel na provisão voluntária de bens e serviços sociais. Busca-se, ainda, apurar quais as principais dificuldades detectadas para realizar as ações sociais, o que contribui para melhor entender tais

percepções.

22. Quais as principais dificuldades?

23. Percepção dos empresários sobre sua atuação na área social.

Fonte: Elaboração própria.

No documento Nathalie Beghin Tese de Doutorado (páginas 39-43)