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Atualizando e ilustrando os sistemas de objetos e de ações

Capítulo 4: A AGRECO e os sistemas de objetos e de ações implementados

4.1. As estratégias e a dinâmica do espaço institucional

4.1.7. Atualizando e ilustrando os sistemas de objetos e de ações

Num certo sentido, os primeiros meses de 2002 não foram mais favoráveis que os anteriores. As atas de reuniões e assembléias permitem constatar que enquanto certas dificuldades persistiram, outras foram redefinidas, atualizando, portanto, a pauta de problemas: aumento dos custos de produção; falta de planejamento e desorganização das propriedades; diminuição nas vendas; sazonalidade no fornecimento para merenda escolar em função das férias letivas; comercialização arbitrária e taxas de devolução que chegavam a 40%; desconhecimento do processo de comercialização por parte dos agricultores; falta de

conscientização dos consumidores e transportadores; falta de comunicação entre escritório, CPC, CD, e entre condomínios; implantação do processo de nucleação sem organização da produção.

Tendo em mente este quadro, é possível entender porque dentre as perspectivas projetadas para o período sobressaem-se: intensificar as vendas (priorizando negociações com desconto ao invés de devolução) para supermercados com o intuito de compensar a baixa da merenda orgânica nos meses de férias letivas, aumentar as vendas fora do grande mercado e diversificar das formas de comercialização (merenda escolar e cestas), organização da produção das vendas e da entidade, aumentar a diversidade nas propriedades, fazer no setor de hortaliças uma nucleação planejada, com a participação de todos, organizando antes a produção (AGRECO, 2002a).

Contudo, mais do que simplesmente atualizar a pauta de problemas e de perspectivas, interessa-nos caracterizar melhor e ilustrar certos aspectos vinculados às estratégias de desenvolvimento, a começar pela apresentação de um gráfico da evolução do faturamento da Entidade entre outubro de 1999 e outubro de 2003.

Gráfico 1: Evolução do faturamento mensal (bruto) da AGRECO (out./1999 a out./2003).

0,00 20.000,00 40.000,00 60.000,00 80.000,00 100.000,00 120.000,00 140.000,00

out. 1999nov. 1999dez. 1999jan. 2000fev. 2000mar. 2000abr. 2000mai. 2000jun. 2000jul. 2000ago. 2000set. 2000out. 2000nov. 2000dez. 2000jan. 2001fev. 2001mar. 2001abr. 2001mai. 2001jun. 2001jul. 2001ago. 2001set. 2001out. 2001nov. 2001dez. 2001jan. 2002fev. 2002mar. 2002abr. 2002mai. 2002jun. 2002jul. 2002ago. 2002set. 2002out. 2002nov. 2002dez. 2002jan. 2003fev. 2003mar. 2003abr. 2003mai. 2003jun. 2003jul. 2003ago. 2003set. 2003out. 2003 '

Em face deste gráfico é possível abstrair duas fases distintas na evolução do faturamento: 1) uma de comportamento menos irregular, que se estende até meados de 2001, onde predomina as vendas pro mercado convencional (supermercados), com variações gradativas ao longo do ano e picos de venda coincidindo com os meses de verão; 2) outra bem mais irregular, que começa a ser evidenciada a partir do segundo semestre de 2001 e coincide com o início do fornecimento para o “mercado institucional”, acompanhado da redução das vendas aos supermercados. Nessa segunda fase, note-se a ocorrência de variações mensais abruptas e a mudança dos picos de faturamento que passam a ocorrer nos períodos letivos em função das vendas para a merenda escolar.

Quanto à Entidade, as mudanças visando fazer frente aos problemas e demandas mais prementes levaram à seguinte configuração:

Figura 2: Organograma simplificado da AGRECO

Fonte: Pesquisa documental, março de 2003.

ASSEMBLÉIA GERAL Conselho Deliberativo Coordenação Geral Parcerias/Assessorias Comissão de Produção e Comercialização Comissão de Formação, Certificação e Ética Conselho Consultivo Condomínio 2 Unidades produtivas familiares

Unidade Central de Apoio Gerencial - UCAG Comissão de Finanças, Patrimônio e Crédito Condomínio 1 Condomínio n Comissão de Cultura Lazer e Turismo Comissão de Articulação Institucional

Em face deste organograma, note-se que desde março de 2002 a estrutura técnico- administrativa tem se organizado em torno de diversas comissões: Finanças, Patrimônio e Crédito; Formação, Certificação e Ética; Cultura, Lazer e Turismo; e Articulação Institucional; além da já conhecida Comissão de Produção e Comercialização.

Em relação à Rede AGRECO de Agroindústrias, é sabido que foram construídas 26 unidades: 11 de beneficiamento mínimo de hortaliças, 5 de cana-de-açúcar (açúcar mascavo e melado), 3 de laticínios (leite e queijo), 2 de mel, 2 de conservas, 1 de ovos caipira, 1 de suínos (carne e salame) e 1 de panificação (pão de milho). A Figura 3, na página seguinte, procura localizar e representar as unidades agroindustriais de pequeno porte existentes, bem como outros empreendimentos relacionados às demais estratégias de desenvolvimento.

Por outro lado, a partir do início de 2002, três classes de eventos vêm contribuindo para redefinir esta configuração original: desligamento, readequação e fechamento de unidades agroindustriais.

A primeira ocorrência está relacionada ao desligamento do Laticínio Silva da Rede AGRECO de Agroindústrias, em março de 2002. Devido a irregularidades identificadas (não recolhimento da taxa de 1% e utilização de matéria-prima produzida com agroquímicos), decide-se pela suspensão do uso da marca AGRECO pelo referido estabelecimento e, posteriormente, por seu desligamento da Entidade (2002b).

A segunda e a terceira classe de eventos são conseqüências do acirramento e persistência das dificuldades em torno do sistema de produção e comercialização de hortaliças. Em face disto, enquanto algumas unidades de beneficiamento mínimo de hortaliças têm modificado suas instalações a fim de processarem produtos de maior valor agregado, algumas unidades com dificuldades diversas e incapazes economicamente de promover tais mudanças, têm interrompido suas atividades de beneficiamento e fechado (temporariamente?) a agroindústria. Por sua vez, a readequação das agroindústrias de hortaliças ajuda a explicar as mudanças na pauta de itens comercializados pela AGRECO, que cada vez mais passa a incluir produtos processados e de maior valor agregado (laticínios, derivados da cana-de-açúcar, panificados, conservas, carnes e derivados, ovos, desidratados,

Sobre o serviço de assistência técnica, com o término do convênio com o Programa Desenvolver e a saída dos técnicos, a AGRECO passou a contar apenas com a atuação do técnico agrícola cedido pela Prefeitura Municipal de Santa Rosa de Lima (desde março de 1999), sendo que em agosto de 2001, o quadro foi reforçado mediante a contratação pelo PVRS de um veterinário. Posteriormente, a Associação passou a receber assessoria dos técnicos da EPAGRI (um agrônomo e dois técnicos agrícolas) que foram lotados no município de Santa Rosa de Lima em setembro de 2002. Mais recentemente, em meados de 2003, foi contratada uma agrônoma com especialização em agroecologia que veio para a AGRECO para efetuar o levantamento necessário ao processo de certificação dos produtores.

Aliás, com relação a isto, é sabido que desde o primeiro ano de existência da AGRECO a certificação já figurava na agenda de prioridades, no entanto, somente em janeiro de 2003 – em função do fato de que algumas negociações com importantes clientes vinham esbarrando na falta de certificação dos produtos – é que uma proposta elaborada pelo presidente da Comissão de Formação, Certificação e Ética foi apreciada e aprovada em reunião do Conselho Deliberativo. Neste sentido, optou-se pela “certificação em grupo” concedida pela ECOCERT-Brasil9, uma empresa certificadora de origem francesa.

Concluído o processo, foram certificados 40 produtores e 21 unidades agroindustriais (13 de produtos vegetais e 8 de origem animal), sendo que a área total cadastrada foi de aproximadamente 50ha (a maioria ocupada com pastagem) (ECOCERT BRASIL, 2003).10

Por fim, é importante ressaltar que nas questões abordadas até aqui, privilegiamos elementos do espaço institucional, até porque desse patamar de observação foi possível

9 Neste caso, a própria entidade representativa dos agricultores é que é certificada por seu “Sistema

de Controle Interno” (SCI), que consiste do acompanhamento das propriedades e agroindústrias, da documentação (cadastro, croqui e ficha histórica da propriedade e registros feitos pelo próprio agricultor da compra de insumos, venda de produtos e práticas de manejo) e da inspeção obrigatória pelo menos uma vez por ano de cada unidade. Além da auditoria sobre o SCI, a certificadora realiza ainda a inspeção direta de um determinado número (amostragem) de unidades produtivas e agroindustriais escolhidas por sorteio (AGRECO, 2003).

10 Portanto, aproximadamente 10% das unidades de produção agrícola de Santa Rosa de Lima são

relacionar com mais facilidade as estratégias mobilizadas pela AGRECO enquanto sistemas ou conjuntos. Entretanto, o sentido dessa dinâmica não poderá ficar aí restrito, sendo necessário, portanto, efetuar reconstituições que permitam observar em outras escalas os elementos relacionados ao contexto de desenvolvimento protagonizado pela Entidade.