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O PIAMER e a ampliação do espaço de atuação

Capítulo 4: A AGRECO e os sistemas de objetos e de ações implementados

4.1. As estratégias e a dinâmica do espaço institucional

4.1.3. O PIAMER e a ampliação do espaço de atuação

Embora os documentos elencados acima já viessem dando destaque à agroindustrialização de pequeno porte como um instrumento indispensável à ampliação do processo de desenvolvimento, sua formulação enquanto estratégia dependeu da parceria com uma outra entidade.

De acordo com Luzzi (2001), no início de 1998, a Secretaria de Desenvolvimento Rural do Ministério da Agricultura propôs ao CEPAGRO que gerenciasse, em Santa Catarina, a implantação de dois projetos piloto de indústria rural de pequeno porte, financiados pelo PRONAF Agroindústria, com a condição de que tivessem resultados em curto prazo. Na verdade, o governo havia lançado oito projetos em todo o Brasil mas nenhum havia sido implantado. Então era crucial que algum fosse implantado e apresentasse resultados positivos. Este projeto tinha como público alvo os agricultores familiares e não exigia que fossem agroecológicos. O crédito seria coletivo, isto é, com aval solidário e deveria ser concedido (via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social/BNDES) para a instalação de agroindústrias que reunissem em torno de 20 famílias. Para cada grupo de 200 produtores haveria a liberação de R$ 30.000,00 a fundo perdido para ser aplicado em assistência técnica e 10% do valor do projeto para obras de infra- estrutura (AGRECO, 1998).

Em maio daquele mesmo ano, numa nova edição da Gemüse Fest, houve um ciclo de debates sobre agroecologia e um professor da UFSC e assessor do CEPAGRO participou proferindo uma palestra sobre agroecologia. Entusiasmado pela experiência e pela proposta da AGRECO, sugeriu numa reunião do CEPAGRO que a região de atuação da entidade fosse beneficiária do referido projeto, o que foi prontamente aceito.

Para divulgar a idéia, os dirigentes da AGRECO iniciaram um intenso trabalho de contato e de mobilização. Uma primeira iniciativa foi convocar, por meio de um programa de rádio, uma reunião para apresentar a proposta e efetuar um levantamento de quem estava interessado. Uma outra estratégia de divulgação se deu via cultos dominicais. Com o grupo que demonstrasse interesse era agendada uma reunião para detalhamento da proposta e

Convém dizer que já em meados daquele ano – devido aos bons resultados em termos de produção, comercialização e, por conseguinte, de renda logrados pelos produtores AGRECO – o número de famílias associadas era de aproximadamente 50 (algumas em Rio Fortuna e Gravatal), perfazendo um total de 200 filiados. Entretanto, a partir da mobilização em torno do projeto das agroindústrias o contingente de associados quase triplicou num tempo relativamente curto.

Isto porque se estava correndo contra o tempo em função dos prazos (data de entrega do projeto) e parâmetros (200 famílias) impostos pelo Ministério, o que acabou acelerando o processo de formação dos grupos e comprometendo a participação efetiva dos agricultores na construção da proposta, bem como na avaliação de suas limitações e implicações.

Os grupos de agricultores mobilizados foram enquadrados juridicamente sob a forma de “condomínios rurais”. A priori, todo condomínio seria proprietário de uma agroindústria e responsável pelo seu gerenciamento. Apesar das recomendações do Ministério (grupos com 20 famílias), o número de membros de cada condomínio mostrou- se reduzido (em média quatro) e bastante variável (de uma a onze famílias).

A formulação do projeto, por sua vez, ocorreu paralelamente ao processo de organização dos condomínios sob a responsabilidade de uma equipe de trabalho composta por técnicos do CEPAGRO e das prefeituras envolvidas. Desse modo, foi concebido o “Projeto Intermunicipal de Agroindústrias Modulares em Rede (PIAMER)”, cujo objetivo geral consistia em alavancar um amplo processo de desenvolvimento solidário na região, pela agregação de valor à produção da agricultura familiar e pela geração de oportunidades de trabalho e renda (AGRECO, 2000c).

Assim é que se propôs a implantação de 53 agroindústrias de pequeno porte.5

Visava-se ainda, manter ou gerar 499 postos de trabalho na produção de matéria prima e

5 Do total de agroindústrias, 26 eram de beneficiamento mínimo de hortaliças, 6 de produção de

conservas (conservas vegetais, compotas e geléias de frutas), 5 de processamento de cana-de-açúcar (açúcar, melado e cachaça), 4 de industrialização de leite (leite pasteurizado, queijo e iogurte), 3 de beneficiamento de mel, 2 de abate de aves, 2 de abate e processamento de suínos (carnes, defumados, embutidos e banha), 2 de beneficiamento de grãos (feijão, arroz), 1 de beneficiamento de ovo, 1 de panificação e 1 de processamento de raízes (AGRECO, 1998).

criar 208 empregos diretos nas unidades de beneficiamento e/ou transformação. A renda líquida mensal a ser alcançada em cada unidade agroindustrial equivaleria a R$ 573,40 por família. O total de recursos financeiros mobilizados para o Projeto seria da ordem de R$ 2.512.618,6 (AGRECO, 1998).

É fácil perceber que em sua própria denominação, o Projeto propõe que as unidades agroindustriais fossem de âmbito intermunicipal e articuladas em rede. A grande variedade de unidades de beneficiamento ia ao encontro da necessidade de diversificação das atividades produtivas nos estabelecimentos agrícolas, permitindo que cada agricultor, além de produzir a matéria-prima para a agroindústria a que está associado, fornecesse outros produtos (excedentes) para outras unidades agroindustriais. O conjunto destas unidades associativas e descentralizadas seria organizado em torno de uma Unidade Central de Apoio Gerencial – UCAG, administrada pelos próprios agricultores e com a finalidade de prestar serviços de assistência técnica, capacitação, marketing, comercialização e aquisição de insumos, máquinas e equipamentos para as unidades agroindustriais (AGRECO, 1998).

Consumada as etapas de organização dos condomínios rurais e de elaboração do projeto, em novembro de 1998 o PIAMER foi encaminhado, apreciado e aprovado pelo Ministério e, no mês seguinte, por ocasião da Assembléia Geral, foi aprovada a filiação do grande número de famílias que haviam ingressado em função do PIAMER, isto é, o contingente de filiados chega a aproximadamente 500, envolvendo formalmente 211 famílias de pequenos agricultores dos municípios de Santa Rosa de Lima (grande maioria), Rio Fortuna, Anitápolis, Gravatal, São Martinho, Armazém e Grão Pará.

Num certo sentido, este processo de ampliação ia ao encontro do que defendia a coordenação da AGRECO, isto é, que a alternativa produtiva e organizativa em curso deveria ser acessível ao maior número de famílias possível (AGRECO, 1999). Schmidt et al. (2002, p. 88), acrescentam que os dirigentes da entidade “(...) buscavam implementar um projeto que não fosse apenas uma experiência “marginal” e que pudesse provocar um impacto significativo na dinâmica de geração de emprego e renda na região”.

número de filiados e do território de atuação foi acompanhado de um quadro de tensões e dificuldades relacionadas tanto à cadeia produtiva (problemas na produção primária, dificuldades na comercialização) como à aprovação e implementação do próprio PIAMER, desafiando, desse modo, o propósito e a persistência dos agricultores vinculados à proposta.6

Entretanto, antes de caracterizarmos este quadro de dificuldades, é preciso lembrar que o referido Projeto foi sendo implementado juntamente com a realização de outras estratégias de desenvolvimento, bem como do aprimoramento da equipe técnica e da metodologia de trabalho.

4.1.4. Diversificação das estratégias e aprimoramento do