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Cooperativismo de crédito e agroturismo: das estratégias complementares às entidades

Capítulo 4: A AGRECO e os sistemas de objetos e de ações implementados

4.2. As parcerias e o espaço interinstitucional

4.2.3. Cooperativismo de crédito e agroturismo: das estratégias complementares às entidades

estratégias complementares às entidades pa rceiras

Já mencionamos que desde meados de 1999, além da produção orgânica, da agroindustrialização de pequeno porte e do processo de comercialização coletiva, outras estratégias estavam em curso, como o agroturismo e o cooperativismo de crédito. Entretanto, o desenvolvimento desses instrumentos complementares perpassou pela institucionalização de entidades autônomas e parceiras da AGRECO.

Em relação aos eventos que antecedem a mobilização em torno do agroturismo deve-se enfatizar, por um lado, que a expectativa em torno do turismo rural como atividade

complementar e alternativa de renda já vinha se configurando nas pautas e deliberações das reuniões e seminários de planejamento, por outro, que a repercussão do trabalho da AGRECO passou a atrair um número crescente de técnicos, agricultores e até consumidores interessados em conhecer de perto a experiência.

Portanto, foi a partir da percepção do potencial turístico representado pelo crescente afluxo de visitantes que foi concebido o “Projeto de Apoio ao Agroturismo como Estratégia para Promover o Desenvolvimento Local” como resultado de uma parceria entre o CEPAGRO, o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial/SENAC, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (através do PRONAF), a Empresa Brasileira de Turismo/EMBRATUR e a Accueil Paysan, uma associação francesa de agroturismo. Suas metas consistiam: na sensibilização e capacitação dos agricultores familiares, diagnóstico das propriedades e dos municípios, organização dos agricultores em torno de uma associação e do próprio agroturismo em circuitos locais e regionais, assessoria técnica aos agricultores para a implantação da infra-estrutura e dos serviços agroturísticos, divulgação e comercialização do produto agroturístico, valorização e conservação da cultura e da natureza da região (CARDOSO e GUZZATTI, 1999).

A parceria com a Accueil Paysan, por sua vez, foi possível devido aos contatos estabelecidos pela técnica do CEPAGRO coordenadora do referido projeto e que por ocasião da realização de um estágio na França, em 1997, conheceu a experiência em agroturismo daquela entidade. A partir desta referência e da realização de “Cursos de Sensibilização” com agricultores familiares em alguns municípios da região de atuação da AGRECO, viu-se a possibilidade de realização de um projeto semelhante, inclusive com apoio daquela associação. Para tanto, foi encaminhado um pedido de cooperação técnica para a Accueil Paysan que por sua vez, enviou uma representante em novembro de 1998 para conhecer o projeto e as potencialidades daquela região. Dado o parecer favorável, o acordo – que incluía, dentre outros aspectos, a utilização da marca e dos princípios da associação francesa – foi firmado em abril de 1999 e, a partir de então, iniciou-se o processo de constituição de uma associação de agroturismo (id. ibid.).

Fundada em junho de 1999, a “Associação de Agroturismo Acolhida na Colônia” passou a desenvolver a atividade, sendo que atualmente a entidade é responsável pela coordenação de um “circuito agroturístico” que envolve dezenas de famílias e empreendimentos (pousada ou quarto colonial, restaurante e café colonial, agroindústria familiar, posto de venda de produtos, camping, etc.) em Anitápolis, Gravatal, Rancho Queimado, Rio Fortuna e Santa Rosa de Lima, onde a iniciativa tem apresentando melhores resultados devido ao trabalho da AGRECO.13

Hoje, além do público interessado em conhecer o trabalho da AGRECO, as pousadas recebem pessoas atraídas pelas oportunidades de lazer e convívio com o ambiente local. No final de 2002, os resultados desta experiência com agroturismo garantiram à Acolhida o segundo lugar na categoria “Diversificação das Economias Rurais” do “Prêmio Destaque Ministério do Desenvolvimento Agrário”, disputado com outras 135 experiências de todo território nacional.

No que se refere ao cooperativismo de crédito, já dissemos que a mobilização em torno dessa estratégia foi motivada pela necessidade de se ter acesso a formas diferenciadas de crédito, menos burocráticas e com custos menores de operacionalização. Vencidas as resistências e face ao interesse despertado nos agricultores a partir da realização de várias reuniões, a Diretoria da AGRECO (especialmente o seu Coordenador Geral) juntamente com alguns assessores do CEPAGRO assumiram a coordenação do processo de constituição de uma cooperativa de crédito, que culminou em novembro de 1999 com a fundação da “Credicolônia”.

Vinculada atualmente ao Sistema CRESOL, além de representar um instrumento que visa facilitar o acesso do agricultor familiar ao crédito agrícola, a Credicolônia vem sendo vista como uma instituição eficaz na captação, gestão e aplicação de recursos financeiros voltados ao desenvolvimento sustentável da agricultura na região. SCHMIDT et al. (2002), acreditam que se a Cooperativa mantiver seu objetivo de funcionar como uma “agência” de desenvolvimento local, poderá contribuir no aporte (potencialização da poupança local) ou

13 Torna-se curioso (e très chic) observar que o “Circuito Agroturístico das Encostas da Serra Geral”

é o único no Brasil e na América Latina a figurar no guia turístico da entidade francesa que divulga o agroturismo em diferentes países da Europa (ver Anexo 2, p. 256).

na intermediação (fundos de incentivos nacionais ou estrangeiros) dos recursos financeiros e humanos exigidos para a implantação de alternativas de desenvolvimento nos municípios de sua área de abrangência (Santa Rosa de Lima, onde funciona a sede da cooperativa, Rio Fortuna e Anitápolis).

Em seu primeiro ano de funcionamento, a maioria dos sócios da cooperativa era constituída de agricultores filiados também à AGRECO. Atualmente esse perfil se inverteu, ou seja, a grande maioria dos mais de 600 sócios existentes no final de 2003 é de agricultores convencionais. Mesmo assim, aproximadamente 90% dos agricultores AGRECO são filiados da Cooperativa e desfrutam de serviços que incluem conta corrente, cheque especial, talão de cheque, limite de cheque, microcrédito e crédito pessoal, pagamento/recebimento de duplicatas, PRONAF custeio e investimento, acesso a recursos financeiros específicos (fundo agroecológico, fundo rotativo de agroturismo, etc.). Além de uma carteira de crédito em torno de R$ 450 mil, a instituição dispõe de recursos de repasses do BNDES, BRDE e Banco do Brasil.

Como a maior parte da demanda é por créditos para custeio (capital de giro, compra de sementes e embalagens) não há limite mínimo e a média de empréstimos oscila entre R$ 2 mil a R$ 3 mil, sendo possível aprovar créditos maiores de até R$ 15 mil. Além de participar do controle da Cooperativa, os agricultores têm como vantagens: acesso a serviços financeiros com menos burocracia, rapidez na liberação de recursos e taxas de juros menores e isenção do pagamento de tarifas.

Em março de 2003, por ocasião da Assembléia Geral Ordinária foi aprovada a mudança da razão social da Cooperativa, passando a ser denominada de “CRESOL Santa Rosa de Lima”. Este procedimento se deu em função de duas razões: da necessidade de padronização exigida pelo Sistema CRESOL, já que se recomenda que o nome do município configure na denominação da agência; e em função da possibilidade de conversão do posto de atendimento de Rio Fortuna em uma outra cooperativa de crédito, haja vista que na ocasião, o número de filiados da CRESOL Santa Rosa de Lima estava perto de superar o contingente estabelecido como ideal pelo Sistema (500 a 600 associados).

Contudo, embora a cooperativa de crédito e a associação de agroturismo tenham se consolidado como entidades com personalidade jurídica própria, as relações mantidas com a AGRECO têm apresentado algumas diferenças. Enquanto a Cresol SRL vem construindo uma autonomia e consolidando uma dinâmica própria, até porque a maior parte do público filiado é de agricultores familiares convencionais, a Acolhida na Colônia vem trabalhando no sentido de manter e até mesmo de aprofundar a sua dependência em relação às ações da AGRECO. Uma evidência espacial disto pode ser percebida na recente mudança do escritório da entidade que saiu do prédio ao lado de onde funcionava a Credicolônia para o prédio onde funciona a UCAG.