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CAPÍTULO 4. SEGURADOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL E O

5.2 Benefícios previdenciários de responsabilidade da

5.2.1 Auxílio-doença (primeiros 15 dias)

A doença representa a moléstia, o mal, a enfermidade. Diz respeito à alteração ou falta de saúde. Representa, em regra, a perturbação das funções orgânicas. Excepcionalmente, é configurada pela perturbação das funções mentais.

O Decreto-lei n. 6.905, de 26 de setembro de 1944 determinou como obrigação do empregador pagar a remuneração correspondente a 10(dez) dos primeiros 15(quinze) dias do afastamento.

O artigo 25 da Lei Orgânica da Previdência Social, com a redação dada pela Lei 5.890, de 8 de junho de 1973, circunscrevia que durante os primeiros 15 (quinze) dias de afastamento do trabalho, por motivo de doença, incumbiria à empresa pagar ao segurado o respectivo salário. O artigo 26, caput, deste diploma legal considerava licenciado pela empresa o segurado em gozo de auxílio-doença.

A Lei 8.213/91 regula o auxílio-doença nos artigos 59 a 63, delimitando no artigo 60, §3.º que “durante os primeiros 15(quinze) dias consecutivos ao do afastamento da atividade por motivo de doença, incumbirá à empresa pagar ao segurado empregado o seu salário integral”.

O benefício previdenciário auxílio-doença só é devido ao segurado que ficar incapacitado para o trabalho por mais de quinze dias. Isso significa que até o décimo quinto dia, é de responsabilidade da empresa a proteção do trabalhador.

Esse fato demonstra que é traçada uma linha divisória: a natureza jurídica da proteção ocorrida ao empregado doente nos quinze primeiros dias consecutivos é trabalhista, passando à natureza previdenciária a partir do décimo sexto dia. Como acentua RAIMUNDO CERQUEIRA ALLY, “a lei, a doutrina majoritária e a jurisprudência dominante afinam-se no entendimento de que a natureza jurídica desse pagamento constitui salário, tecnicamente chamado de salário-doença ou, com imprecisão terminológica, salário-enfermidade,

expressão ainda em voga. E, por ser salário, sofre a incidência das contribuições previdenciárias e descontos legais”.105

Apesar disso, o artigo 473 da Consolidação das Leis do Trabalho, esqueceu-se de relacionar no rol de situações nas quais o empregado precisa se ausentar, sem que haja prejuízo do salário, a hipótese dos quinze primeiros dias em que o empregado apresenta-se doente. Ainda assim, o entendimento é de que este direito do empregado está disposto de forma clara em outros dispositivos legais (art. 476, CLT, art. 60, §3.º da Lei 8.213/91).

Nesses primeiros quinze dias, a empresa que dispuser de serviço médico, próprio ou em convênio, terá a seu cargo o exame médico e o abono das faltas correspondentes a este período, somente devendo encaminhar o segurado à perícia médica da previdência social quando a incapacidade ultrapassar 15(quinze) dias (art. 60, §4.º da Lei 8.213/91).

Como se denota, o legislador procurou não sobrecarregar ainda mais a previdência social, deixando claro que sua responsabilidade só passa a existir do décimo sexto dia em diante. Até então, o empregador se responsabiliza.

Imaginando que o segurado empregado tenha ficado doente e que a empresa tenha cumprido sua obrigação até o décimo quinto dia, se concedido novo benefício decorrente da mesma doença dentro de 60(sessenta) dias contados da cessação do benefício anterior, a empresa fica

105 ALLY, Raimundo Cerqueira. Normas Previdenciárias no Direito do Trabalho. São

desobrigada do pagamento relativo aos 15(quinze) primeiros dias de afastamento, prorrogando-se o benefício anterior e descontando-se os dias trabalhados, se for o caso (art. 75, §3.º, Decreto 3.048/99).

Sob outro prisma, imagine-se a situação do empregado não ter usufruído os 15(quinze) primeiros dias pagos pela empresa, mas somente 10(dez) dias. Caso se afaste pela mesma doença nos próximos sessenta dias do retorno à atividade, a empresa se responsabilizará apenas por mais 5(cinco) dias, quando então o auxílio-doença passa a ser de responsabilidade do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS.

Nas hipóteses mencionadas, a legislação quis beneficiar o empregador, que embora tenha assumido sua responsabilidade pelos 15(quinze) primeiros dias, num curto período de tempo, teve seu empregado acometido da mesma doença.

Observe-se que o auxílio-doença pode ser concedido de ofício pelo Instituto Nacional do Seguro Social em conformidade com o artigo 76, do Decreto 3.048/99, embora seja notória a dificuldade prática de aplicabilidade deste artigo.

Em se tratando de doenças distintas - ainda que dentro de sessenta dias contados da cessação do benefício anterior - terá o empregador o dever de arcar com os 15(quinze) primeiros dias da doença do segurado.

É preciso ainda ter em mente que na hipótese de doença proveniente de acidente, caso o acidentado não se afaste do trabalho no dia do acidente, os quinze dias de responsabilidade da empresa pela sua

remuneração integral são contados a partir da data do afastamento (art. 72, §1.º, Decreto 3.048/99).

Ocorrendo a doença durante o período de férias, o empregador só deverá pagar os primeiros 15(quinze) dias caso ultrapassem o período de férias. Se assim não fosse, restaria como encargo do empregador o pagamento conjunto das férias e do salário pago em decorrência da doença. Por certo, não foi essa a intenção do legislador.

No que se refere ao valor devido ao empregado pelo empregador nesse período de 15(quinze) dias, é preciso mencionar que o Decreto-lei 6.905, de 26 de setembro de 1944, determinava a concessão de auxílio- pecuniário por motivo de enfermidade do empregado. Durante os quinze primeiros dias de doença, o benefício era pago pelo empregador, no valor de dois terços do salário normal auferido pelo empregado como se estivesse em atividade. Em consonância com os artigos 1.º e 2.º deste Decreto-lei, a partir do décimo sexto dia de seu afastamento, o benefício começava a ser pago pela previdência social.

Na atualidade, o pagamento dos quinze primeiros dias efetuado pelo empregador deve ser correspondente ao valor integral (§3.º do artigo 60 da Lei 8.213/91). Realmente, não é justo que o empregado suporte o peso de sua doença. A proteção deve ser integral, até mesmo porque a doença é um risco social que atinge diretamente toda a sociedade.

Saliente-se que o empregado doente merece tratamento decente, pois faz parte do desenvolvimento econômico e social do País. Por isso, em caso de doença do empregado, o empregador assume a responsabilidade integral pelo pagamento do salário nos quinze primeiros dias e, não cessada

a doença após esse período, a responsabilidade pela proteção ao trabalhador é da previdência social, através do benefício previdenciário auxílio-doença.