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CAPÍTULO 2. A PROTEÇÃO AO TRABALHADOR E OS RISCOS

2.5 Política do pleno emprego

O texto Constitucional de 1946 assegurava no artigo 145 o trabalho a todos, possibilitando a existência digna. Colocava ainda o trabalho como obrigação social, seguindo a linha da política do pleno emprego.

Referida política é uma forma do Estado concretizar o bem-estar e a justiça sociais.

Para LORD BEREVIDGE34 “es necesario que el número de puestos vacantes sea superior al número de candidatos a un empleo y que los puestos sean tales, y estén localizados de tal manera, que el paro se reduzca a breves intervalos de tiempo de espera”.

Conforme a experiência jurídica e social, o trabalho deve ser visto sob dois aspectos: individual e social.

Individualmente considerado, o trabalho engrandece o homem e faz com que este seja inserido no processo de inclusão social. O trabalho consegue despertar no homem sua dignidade muitas vezes adormecida.

Num aspecto social, o trabalho funciona como impulsionador da economia, a alavanca mestre, que regula o mercado e diminui os riscos sociais aos quais a sociedade fica sujeita.

34 Lord Beveridge, p. 133, apud, DURAND, Paul. La política contemporánea de

Em verdade, é interesse de toda a sociedade que novas vagas no mercado de trabalho surjam.

O Estado moderno busca atingir a política do pleno emprego. Num plano fático, há necessidade de intervenção do Estado para que esta política seja efetivada.

Nesta concepção, o Estado deve intervir a fim de organizar o mercado de trabalho. Mas não basta a intervenção do Estado no sentido de inserir novos postos de trabalho, visto que o emprego está associado à dignidade humana. O Estado deve garantir dignidade no trabalho e trabalho com dignidade.

PAUL DURAND expressa sua opinião no sentido de que “el Estado es el único que dispone de una visión general de la economia y solo él posee poderes suficientes para imprimir una determinada orientación a la economía”.35

O incentivo ao investimento privado, a redução de impostos, o estímulo a reservas, a previsão fiscal, bem como um salário digno constitucionalmente assegurado são medidas concretizadoras do aumento de postos de trabalho, corroborando com a idéia do pleno emprego.

Razões de ordem econômica determinaram que esta política deve ser implantada de forma moderada, para que não crie alterações

35 DURAND, Paul. La política contemporánea de Seguridad Social. Madrid: Ministerio

bruscas e excessivas. O Estado está aberto à mudança. No entanto, em decorrência dos inconvenientes práticos, esta deve ser paulatina.

Bruscas alterações poderiam elevar a inflação do País, como também favorecer o crescimento do emprego com a queda da qualidade dos produtos e a redução de salários.

Apesar destes argumentos, o fato é que o Estado mostra-se mais evoluído quanto maior sua aproximação com a política do pleno emprego.

É através do trabalho que se alcança a dignidade da pessoa humana, princípio norteador de todas as relações jurídicas e sociais (artigo 1.º, inciso III, Constituição Federal de 1988).

Assim é que dentre os fundamentos da República Federativa do Brasil estabelecidos no artigo 1.º da Carta Constitucional de 1988, vêm disciplinados no inciso IV os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa.

Consignou-se expressamente no artigo 170, inciso VIII, da Carta Constitucional de 1988, o trabalho como chave do desenvolvimento econômico. O crescimento da economia reflete diretamente na política do pleno emprego. O aumento do fluxo de renda acarreta elevação da produção.

A observação do panorama social e ideológico do mundo moderno revela que deve haver equilíbrio de oferta de mão-de-obra e procura, para que exista relação entre os recursos empregados na mão-de-obra e o pleno emprego.

O Título VIII, da Constituição Federal de 1988, em seu Capítulo I, traz como disposição geral o artigo 193, que preleciona que “a ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a

justiça sociais”. Neste sentido, a Carta Constitucional de 1988 relaciona o trabalho em primeiro lugar para alcance da ordem social: protegendo o trabalhador será alcançado o bem-estar e a justiça sociais.

Aludido artigo da Constituição Federal de 1988 coloca o trabalho como base primeira da Ordem Social. Quer isso significar, que o sistema de seguridade social – tendo seu objetivo interligado ao da Ordem Social - estará baseado em ações que estabeleçam, como prioridade, o trabalho. A partir da garantia do primado do trabalho, ter-se-á, conseqüentemente, o passo fundamental para que sejam alcançados o bem-estar e a justiça sociais.

Segundo nos expõe WAGNER BALERA, “o primado do trabalho – verdadeira pedra angular da nova Ordem Social – é valor condicionante dos rumos da legislação e da própria vida social”.36

EVARISTO DE MORAES FILHO coloca que:

Sendo o trabalho um prolongamento da própria personalidade, que se projeta no grupo em que vive o indivíduo, vinculando-o, pela própria divisão do trabalho social, aos demais que a compõem, representa esse direito, por si só, a raiz da própria existência do homem, pelo que lhe proporciona ou lhe pode proporcionar de subsistência, de liberdade, de auto-afirmação e de dignidade. O direito ao trabalho é a possibilidade de vir a participar cada um da produção de todos, recebendo, em troca, a remuneração que lhe é devida37.

Conforme preceitua EROS ROBERTO GRAU, “o desenvolvimento nacional que cumpre realizar, um dos objetivos da República Federativa do

36 BALERA, Wagner. O Valor Social do Trabalho. Revista LTr 58-10/1167-1178. São Paulo: LTr Editora Ltda., outubro de 1994, p.1176.

Brasil, e o pleno emprego que impende assegurar supõem economia auto- sustentada, suficientemente equilibrada para permitir ao homem reencontrar- se consigo próprio, como ser humano e não apenas como um dado ou índice econômico”.38

A política do pleno emprego está aliada à idéia de liberdade. O trabalho traz a sonhada liberdade ao homem, dando asas às aspirações sociais em torno de uma vida mais digna.

Liberdade de trabalho é a liberdade que todo homem deve ter ao escolher sua função, profissão, dentro do mercado de trabalho.

Liberdade através do trabalho significa liberdade a partir do respeito do empregador/empresa ao hipossuficiente. Está relacionada a salários dignos – que permitam a subsistência do trabalhador e de sua família -, ambiente de trabalho saudável, descanso semanal remunerado, férias etc.

A idéia é que o Estado crie incentivos à utilização da mão-de-obra, conforme artigos 195, §9.º39 e 239, §4.º40 da Constituição Federal de 1988.

Infelizmente, não se pode detectar uma sociedade em que não há índice de desemprego, até mesmo porque a existência de índice nesse sentido acaba funcionando como propulsor de novas políticas econômicas

38 GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988: interpretação e

crítica. 8. ed., rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 220.

39 Art. 195.

§9.º. As contribuições sociais previstas no inciso I do caput deste artigo poderão ter alíquotas ou base de cálculo diferenciadas, em razão da atividade econômica, da utilização intensiva de mão-de-obra, do porte da empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho.

40 Art. 239.

§4.º. O financiamento do seguro-desemprego receberá uma contribuição adicional da empresa cujo índice de rotatividade da força de trabalho superar o índice médio da rotatividade do setor, na forma estabelecida por lei.

tendentes a encontrar equilíbrio entre oferta e demanda de emprego. Afirma- se, inclusive, que sem uma taxa mínima de desemprego haverá forte propensão a baixos níveis de desenvolvimento, já que existirá pequena preocupação do Estado em criar políticas públicas.

Enquanto a política do pleno emprego ficar limitada à ideologia, resta ao Estado criar programas com o intuito de concretizar esta política. Mas antes de preocupar-se com o emprego, é preciso criar condições dignas de trabalho ao homem e protegê-lo face os riscos sociais que possam surgir.