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CAPÍTULO 4. SEGURADOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL E O

5.1 Relação de emprego

5.1.2 Natureza jurídica da relação de emprego

Acirradas discussões sempre nortearam o tema “natureza jurídica da relação de emprego ou natureza jurídica do contrato individual de trabalho”.

Como já afirmado, a relação de emprego pressupõe a existência de um contrato de trabalho, ainda que elaborado de forma tácita. Por isso, a doutrina acabou tratando essas expressões como similares, embora grandes doutrinadores tenham negado a natureza contratual desta relação, como ver- se-á a seguir.

No que se refere ao questionamento quanto à natureza jurídica contratual ou não da relação de emprego, encontram-se as seguintes teorias:

a) Teoria anticontratualista: segundo essa teoria, não existe qualquer relação contratual entre empregado e empregador, já que o empregado não discute as cláusulas contratuais. O que haveria, na verdade,

seria um estatuto elaborado pela própria empresa. O empregado não discute contrato, ele simplesmente segue o estatuto previamente constituído;

b) Teoria contratualista: de acordo com essa teoria, a relação entre empregado e empregador é formada por um contrato, já que depende da aquiescência das partes para ser constituído. Ainda que o empregador imponha as cláusulas ao empregado, há um contrato, já que decorre da vontade do empregado o exercício da atividade. Cabe ao Estado impor os limites contratuais ao empregador. Tais limites são encontrados tanto na Consolidação das Leis do Trabalho como na Constituição Federal. Considerando ainda o fato de que não há discussão das cláusulas contratuais entre empregado e empregador, estar-se-á diante de um contrato de adesão, em que o empregador impõe o contrato de trabalho ao empregado, que a este adere ou não.

c) Teoria mista: segundo esta teoria, a relação entre empregado e empregador não advém apenas de contrato, mas da atividade exercida pelo empregado.

Em que pese o surgimento de diversas teorias na tentativa de delimitar a natureza jurídica dos contratos de trabalho, deve perdurar a teoria que a define como contrato de adesão.

Para LUIZ FERNANDO COELHO, ao se referir aos princípios que norteiam o Direito do Trabalho esclarece que:

Na ordem social legitimada por tais princípios, conjugados com o aspecto alienante da ideologia, nem o Estado é entidade neutra, que protege os oprimidos, nem o trabalhador é autônomo para decidir sua própria participação na relação

de emprego, nem o contrato individual de trabalho é uma ordem sinalagmática de igualdades96.

Desse entendimento, extrai-se que a natureza jurídica do contrato de trabalho, em que pese a proteção dada pela legislação trabalhista, é de contrato de adesão, já que as regras são previamente impostas pelo empregador (com a ressalva de que devem estar de acordo com a Consolidação das Leis de Trabalho, com a Constituição Federal e com os acordos e convenções coletivas). Não se pode falar em autonomia da vontade, quando se está diante de uma relação em que há evidente desigualdade econômica e social entre empregado e empregador.

DÉLIO MARANHÃO concorda que a natureza jurídica da relação de emprego seja contratual. Segundo este doutrinador “[...] se o empregado é admitido para trabalhar na empresa, essa admissão pressupõe, como é lógico, um acordo de vontades: um contrato, pois. Dir-se-á que a manifestação de vontade do empregado se resume em um ato de adesão a condições prefixadas pelo empregador ou pela lei”.97

Com isso, embora se fale em relação de emprego a partir da existência do contrato de trabalho, há que se ressalvar que neste contrato não se verifica a expressão máxima da autonomia individual, já que esta é mitigada em virtude do contrato de adesão que traz esquemas pré-

96COELHO, Luiz Fernando. Op. cit.; p. 541-542.

97 MARANHÃO, Délio. In: SÜSSEKIND, Arnaldo et. al. Instituições de Direito do

determinados pelo empregador. A autonomia do empregado restringe-se ao fato de aderir ou não ao contrato de trabalho.

Ao aderir ao contrato de trabalho, o empregado prende-se também ao regulamento da empresa, bem como às normas referentes ao serviço a ser prestado. Não há que se falar em livre consentimento das partes, nem em autonomia da vontade, quando ao empregado só resta aceitar ou não o contrato de emprego. Nesta situação, a hipossuficiência e a fragilidade do empregado, acabam sendo alarmantes.

É importante consignar que o Estado pode e deve intervir em tais relações de emprego com o intuito de proteção ao hipossuficiente.

Observe-se que serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na Consolidação das Leis do Trabalho (art. 9.º, CLT). Desta feita, mesmo as cláusulas contratuais sendo estabelecidas pelo empregador, o Estado impõe limites que devem ser obedecidos pelas partes.

Portanto, como já salientado neste subitem, a natureza jurídica do contrato de trabalho é de adesão. Esse entendimento é o mais adequado, vez que o empregador estabelece unilateralmente as cláusulas contratuais, sem que o empregado possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.

Dentre as teorias que se aventuraram a estabelecer a natureza jurídica desta espécie contratual, destacam-se:

a) Teoria que compara o contrato individual de trabalho à compra e venda: para essa teoria, o empregado vende seu trabalho ao empregador, e

este, por sua vez, compra o trabalho prestado pelo empregado através da remuneração.

b) Teoria que coloca o contrato individual de trabalho como espécie de contrato de sociedade: de acordo com essa teoria, é firmada uma sociedade entre empregado e empregador, através da qual ambos colaboram para o alcance do bem comum.

c) Teoria que compara o contrato individual de trabalho à troca: essa teoria afirma que existe uma troca realizada entre empregado e empregador. O empregado presta seu serviço, em troca de salário pago pelo empregador.

d) Teoria que compara o trabalho ao contrato de locação: para esta teoria, o empregado loca seu serviço ao empregador.

Após enumerar as teorias acerca da natureza do contrato de trabalho, é preciso tecer algumas considerações referentes às mesmas.

Ora, não se pode falar em contrato de compra e venda, já que neste o objeto vendido se separa de seu antigo dono. Esta espécie contratual pressupõe um objeto, ao passo que no contrato de trabalho fala-se em prestação de serviços.

Também não se pode falar em contrato de sociedade. As sociedades são classificadas em:

a) Empresárias: quando exercentes de atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou serviços.

b) Não empresárias (simples): quando não exercem atividade econômica organizada ou quando praticam atividade econômica civil, como ocorre com as sociedades de profissionais intelectuais.

Uma sociedade empresarial detém os seguintes pressupostos: - pluralidade de sócios;

- constituição do capital social; - affectio societatis;

- Participação dos resultados, positivos ou negativos, sendo nula a estipulação contratual que exclua qualquer sócio de participar dos lucros e das perdas da sociedade (art. 1.008, Cciv.).

A sociedade, tanto empresária, como não empresária, visa o alcance de objetivos comuns. Como acentua JOAQUIM PIMENTA:

[...] se uma das características do contrato de sociedade é o compromisso entre os sócios de disporem em comum de seus bens, de seus capitais, e, como conseqüência, distribuírem equitativamente os benefícios decorrentes da administração do patrimônio social, de que bens ou capital dispõe o trabalhador para associar-se e quais os benefícios que aufere ou que lhe cabem como juros ou dividendos?98

Nesta acepção, o contrato de trabalho está longe de ser considerado contrato de sociedade.

Não é certo também se falar em natureza jurídica de troca, já que se está diante da figura do trabalhador (elemento humano) e não de um objeto (coisa).

De igual modo, associar o contrato de trabalho à locação não está correto, pois o homem não é objeto de locação.

A questão é muito mais perceptível ao se compreender que não é admissível separar o conceito de trabalho do conceito de trabalhador.

Tais considerações explicam porque o contrato de trabalho deve ser visto como categoria contratual autônoma, não se enquadrando como contrato de permuta, locação, compra e venda etc.