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Conceito e espécies de autonomia: um enfoque no

CAPÍTULO 3. DIREITO DO TRABALHO E DIREITO PREVIDENCIÁRIO:

3.3 Conceito e espécies de autonomia: um enfoque no

A palavra “auto” pode expressar o sentido de próprio. Autonomia vem significar funcionamento separado, liberdade de agir etc.

A autonomia, juridicamente considerada, não representa conceito facilmente delineado, pois não significa independência de qualquer ordem, tão pouco rompimento com o todo jurídico.

A ciência jurídica é representada de forma integrada por diversas partes que se perfazem como conjunto ordenado em prol da ordem e regulamentação legal das situações da vida.

O Direito não se realiza de forma separada, em fragmentos; representa conjunto harmônico e equilibrado de normas tendentes a proteger a sociedade, estabelecendo limites a serem seguidos por esta.

A norma representa a vontade abstrata do legislador, que irradia seus efeitos sobre o ordenamento jurídico de tal forma que não se pode separá-la do todo, mas dar-lhe força para alcançar seus próprios objetivos.

Falar em autonomia de determinado ramo jurídico, requer contradizer aquilo que a ciência jurídica preleciona: o Direito é uno, sendo formado pela integração de ramos, que forma um todo indissociável.

JOSÉ MARTINS CATHARINO entende que:

Não há autonomia absoluta, e sim relativa, de grau, salvo se ela for incomparável; a do todo único, que tudo compreenda sem deixar resto. De um todo exclusivo e absoluto, com menos nada, antes, durante e depois. Nascido de si mesmo, existente por si e para si próprio. Autobastante enquanto existir, até ao nada, novamente.

[...] O Direito é fundamentalmente uno, mas também ele, com autonomia maior que cada uma das espécies, sofre a interferência de outras ciências, máxime das sociais, suas parentas. 62

62 CATHARINO, José Martins. Compêndio de Direito do Trabalho, vol. 1, 3. ed. rev.

Em que pese a unicidade do Direito, foram criados certos critérios com o intuito de se estabelecer a autonomia de determinados ramos que o compõem, como forma de facilitar o estudo e o aprofundamento jurídico.

Para se determinar a autonomia de determinado ramo do Direito, é preciso que a matéria a ser tratada por tal ramo seja de suma importância jurídica e social; que contenha conceitos próprios e específicos; que tenha métodos e princípios peculiares.

Na lição de ALFREDO ROCCO que perpetua em diversas obras jurídicas:

[...] a autonomia duma ciência não deve confundir-se com a sua independência, ou melhor, com o seu isolamento. Para que um corpo de doutrinas tenha razão de existir e de ser considerado como ciência autônoma é necessário e suficiente: 1.º. que ele seja bastante vasto a ponto de merecer um estudo adequado e particular;

2.º. que ele contenha doutrinas homogêneas, dominadas por conceitos gerais comuns e distintos dos conceitos gerais informadores doutras disciplinas;

3.º. que possua um método próprio, isto é, que empregue processos especiais para o conhecimento das verdades que constituem o objeto das suas investigações.63

A autonomia é vislumbrada do ponto de vista legislativo, científico, e para fins didáticos.

Na seara legislativa, a autonomia é apresentada através de princípios e regras próprias. Para ser considerado autônomo, o ramo do

63 ROCCO, Alfredo. Princípios de Direito Comercial: parte geral. Tradução: Cabral de

Direito deve ter um número considerável de normas jurídicas a ele relacionadas.

Especificamente em relação ao Direito do Trabalho e ao Direito Previdenciário, é importante destacar que ambos possuem autonomia legislativa em relação aos demais ramos do Direito e entre si. Tanto é verdade, que o Direito do Trabalho, além de possuir inúmeros artigos constitucionais que o delimitam, também é regrado pela Consolidação das Leis do Trabalho (Decreto-Lei n. 5.452, de 1.º de maio de 1943). O Direito Previdenciário, por sua vez, é disciplinado pelas Leis n. 8.212 e 8.213 datadas de 24 de julho de 1991, além do Decreto 3.048/99, que as regulamenta.

É importante lembrar que o artigo 12 da Consolidação das Leis do Trabalho estabelece que “os preceitos concernentes ao regime do seguro social são objeto de lei especial”. Neste diapasão, a própria legislação trabalhista reconhece a autonomia da legislação previdenciária, regulamentada, na atualidade, por duas leis específicas: Lei 8.212/91 e Lei 8.213/91.

Do ponto de vista científico, o Direito é considerado autônomo quando possui método particular, objeto delimitado e regras e institutos próprios. Para tanto, devem ser identificados conceitos peculiares analisados de forma sistemática no Direito.

Não há que se negar que o Direito do Trabalho e o Direito Previdenciário possuem regras tão peculiares que, mesmo tratando de assunto similar, algumas vezes se diferem um do outro, como ocorre com a questão da periculosidade e insalubridade - concedida como adicional pelo

empregador, nos termos da Consolidação das Leis do Trabalho, e observada para a caracterização da atividade especial para fins de aposentadoria. O conceito de periculosidade e insalubridade no Direito do Trabalho e no Direito Previdenciário não guarda perfeita relação. Justamente por isso, o empregado pode estar recebendo adicional de insalubridade pago pelo empregador, sem que isso signifique que terá direito à obtenção da aposentadoria especial.

Em relação à autonomia didática, esta é representada pela possibilidade de ensinar a disciplina separadamente nas instituições de ensino, ainda que se comuniquem direta ou indiretamente com outras disciplinas. Ora, a matéria “Direito do Trabalho” é reconhecida por todas as instituições de ensino do País, sendo incluída nas grades curriculares como matéria obrigatória, além de ser considerada essencial nos exames aplicados pela Ordem dos Advogados do Brasil. O Direito Previdenciário, por sua vez, embora tenha sido colocado em posição secundária durante alguns anos pelas instituições de ensino, teve sua importância resgatada por grandes doutrinadores como MOACYR VELLOSO CARDOSO DE OLIVEIRA e WAGNER BALERA. Hoje, referida disciplina possui respaldo nas grandes instituições do País, que se preocupam, inclusive, com o aperfeiçoamento de profissionais na área. Desta maneira, ainda que o Direito do Trabalho e o Direito Previdenciário possam ser inseridos no contexto de outras disciplinas, não é admissível negar-se a autonomia didática dos mesmos.

Sem embargo, a autonomia de determinado ramo do Direito deve ser analisada sob os aspectos apresentados: legislativo, científico e didático.

Tanto o Direito do Trabalho, como o Direito Previdenciário são considerados autônomos frente os demais ramos do Direito.

Cabe, agora, analisar a autonomia e relações existentes entre eles (Direito do Trabalho e Direito Previdenciário).

3.4 Direito Previdenciário e Direito do Trabalho: taxinomia,