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CAPÍTULO 2. A PROTEÇÃO AO TRABALHADOR E OS RISCOS

2.6 Riscos sociais

2.6.3 Classificação dos riscos sociais

Como já mencionado, o risco social possui dimensão variável conforme a situação econômica, demográfica etc. da sociedade.

Na realidade, o risco social é maior ou menor conforme a sociedade a que se refere. Mas ainda que haja este grau de variação, não se discute que os riscos sociais relacionados no artigo 201 da Constituição Federal de 1988 atingem a sociedade quando da sua ocorrência.

PAUL DURAND55 classifica os riscos inerentes à vida social em cinco grupos, a saber:

a) Riscos provenientes do meio físico: nestes podemos encontrar os que dependem de fenômenos geológicos, como terremotos, erosão,

54 COIMBRA, Feijó. Op. cit.; p. 20. 55 DURAND, Paul. Op. cit.; p. 57-58.

deslizamento de terra ou meteorológicos, decorrentes de inundações, granizos etc.

b) Riscos provenientes do meio social: dentre estes riscos, são destacados o risco de guerra, fonte de danos e prejuízo para as pessoas e bens; o risco político, ligado a uma eventual troca de regime; o risco legislativo, que pode surgir em virtude da aplicação de uma nova lei; o risco monetário, provocado pelas variações do valor da moeda e que cria um clima de falta de segurança do regime civil e da vida econômica; o risco administrativo, que pode resultar da imperfeição do funcionamento dos serviços públicos; o risco de desigualdade das condições sociais, que implica atender à instrução e ao bem-estar por parte de certos elementos da população.

c) Riscos ligados à organização dos grupos familiares: dentre estes riscos PAUL DURAND classifica como os mais importantes os que provêem dos encargos familiares, que acabam diminuindo o nível de vida de toda família, ou de riscos como a enfermidade, a invalidez.

d)Riscos de ordem fisiológica: a enfermidade (inclusive a maternidade), a invalidez, a velhice, o falecimento.

e)Riscos da vida profissional: neste contexto, citam-se como exemplos riscos como a insegurança no emprego, risco de uma insuficiente remuneração da atividade profissional e risco de lesões corporais.

A doutrina nacional classifica os riscos sociais da seguinte maneira:

a) Riscos que aumentam a necessidade, como os encargos familiares.

b) Riscos que atingem a saúde do trabalhador, como a doença, invalidez, idade avançada.

c) Riscos que atingem diretamente os dependentes do segurado, como a morte e a reclusão do segurado.

MOACYR VELOSO CARDOSO DE OLIVEIRA56 classifica os riscos ou contingências sociais da seguinte maneira:

I – De origem patológica: a) Doença, que pode ser comum ou ocasionada por acidente do trabalho ou moléstia profissional; b) Invalidez.

II – De origem biológica: a) maternidade; b) velhice; c) morte, sendo que esta se divide em natural (comum ou resultante de doença profissional) e violenta (comum ou por acidente de trabalho).

III – De origem econômico social, onde se destaca o desemprego, os encargos familiares e a prisão.

Como se verifica, ainda não se pode traçar, com rigor geométrico, classificação exata dos riscos sociais.

Apesar da profusão de idéias que cercam o tema, merece respaldo classificar os riscos sociais em:

56 OLIVEIRA, Moacyr Veloso Cardoso de. Previdência social comentada, p. 94, apud

a) Risco por desgaste físico e/ou psicológico natural: nesta classificação destaca-se a aposentadoria por idade, por tempo de contribuição e a aposentadoria especial.

Os benefícios previdenciários relacionados às aposentadorias (salvo por invalidez), estão relacionados ao desgaste natural físico e/ou psicológico que o trabalhador sofre após longos anos de atividade.

Há a necessidade de descanso, repouso, paralisação das atividades que o segurado desenvolveu durante o período laborativo. Sem a proteção previdenciária, o trabalhador não teria outra opção senão a de continuar trabalhando mesmo em idade avançada. Por isso, a previdência social reconhece a necessidade de descanso do segurado, para evitar maiores problemas sociais.

b) Risco por necessidade de complementação da renda familiar: sob este enfoque pode ser relacionado o salário-família. Referido benefício tem por escopo a complementação da renda familiar, em vista das necessidades básicas a que a família está sujeita, considerando-se sua baixa-renda. A proteção deste risco social relaciona-se à tentativa de amenizar a dificuldade do empregado face os dispêndios com necessidades básicas.

c) Risco de proteção familiar: na seara de benefícios de proteção familiar, destacam-se o salário-maternidade, a pensão por morte e o auxílio- reclusão.

Durante muito tempo, o salário-maternidade representou proteção exclusiva da mulher que sofria um parto. Com o transcurso dos anos, passou-

se a considerar o salário-maternidade não como benefício de proteção exclusiva da gestante, mas também da adotante e daquela que obtém guarda para fins de adoção. A criança também foi relacionada nesta proteção, vez que o salário-maternidade acaba conferindo a integração social e a adaptação da criança ao lar.

Como se pode notar, o salário-maternidade acaba substituindo o salário da segurada durante certo lapso de tempo, protegendo a família.

A pensão por morte e o auxílio-reclusão, por sua vez, são benefícios que visam reparar a ausência do segurado do convívio familiar. Note-se que não têm natureza indenizatória, mas sim alimentar. A falta do segurado poderia desestruturar a família, criando necessidades sociais, se a previdência social não concedesse o benefício pensão por morte. No que se refere ao auxílio-reclusão, a proteção não é do preso, mas sim da sua família durante o período em que o segurado estiver detido ou recluso.

d) Risco por incapacidade laborativa: dentre os riscos por incapacidade, arrola-se a aposentadoria por invalidez, o auxílio-doença e o auxílio-acidente. Enquanto a aposentadoria por invalidez representa incapacidade total e permanente, o auxílio-doença vem significar incapacidade total (ou parcial) temporária. O auxílio-acidente representa diminuição da capacidade laborativa.