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CAPÍTULO 4. SEGURADOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL E O

5.2 Benefícios previdenciários de responsabilidade da

5.2.3 Salário-família

O salário-família garantido aos empregados, surge no Brasil com a Constituição de 1946109 (art. 157, n. I e art. 164). No entanto, sua efetiva aplicabilidade deu-se apenas em 1963, com a Lei 4.266, de 3 de outubro, regulamentada pelo Decreto n. 53.153, de 10 de dezembro do mesmo ano.

Assim, com a Lei 4.266/46, o empregador efetuava uma contribuição mensal de seis por cento sobre o salário mínimo da localidade, multiplicada pelo número de seus trabalhadores, independentemente do

109 Antes disso, o Decreto-Lei n, 5.976, de 10.11.1943, regulamentado pelo Decreto 6.022,

estado civil dos mesmos (art. 3.º). Esta contribuição formava o Fundo de Compensação do Salário Família, em conformidade com o art. 3.º, §2.º do mesmo diploma legal. Receberia este benefício o trabalhador que tivesse filho menor de quatorze anos de idade, sendo o salário-família correspondente a uma quota percentual calculada sobre o salário-mínimo vigente (art. 3.º), à razão de cinco por cento, conforme inciso I do artigo 7.º da lei em comento.

Desde então, o empregador apenas adiantava o valor devido aos trabalhadores mensalmente, sendo reembolsado da quantia paga pelo Instituto Nacional da Previdência Social – INPS (atual Instituto Nacional do Seguro Social – INSS), mediante desconto do total das contribuições devidas.

Em 29 de novembro de 1965, a Lei 4.683 reduziu a contribuição do empregador de 6% para 4,3% referente ao salário-família, modificando também a base-de-cálculo sobre a qual incidia esta alíquota, que passou a ser o salário-de-contribuição definido na Lei Orgânica da Previdência Social – LOPS.

A Lei 6.136 de 7 de novembro de 1974 trouxe nova redução à alíquota para contribuição do salário-família, que a partir de então seria de 4% (não mais de 4,3%).

O valor recebido pelo empregado a título de quota de salário- família equivalia a 5% sobre o valor do salário-mínimo local. Observe-se que esta regra perdurou até 3 de julho de 1989, através da Lei 7.789, que seguiu o preceito constitucional (Constituição Federal de 1988) estampado no artigo 7.º, inciso IV, que proibiu a vinculação do salário-mínimo para qualquer fim.

A Constituição de 1967 (art. 158, inciso II) e a Constituição de 1969 (art. 165, inciso II), trouxeram expressamente o salário-família.

Saliente-se que com o intuito de estender a proteção desse benefício, a Lei 5.559, de 11 de dezembro de 1968, conferiu o direito ao salário-família ao empregado com filhos inválidos, de qualquer idade, e aos dependentes do trabalhador aposentado por invalidez ou velhice e, bem assim, daquele que, aposentado por outras razões, conte ou venha contar com sessenta e cinco anos de idade, respectivamente, conforme fosse do sexo masculino ou feminino (arts. 1.º e 2.º). Em se tratando dos aposentados, o benefício seria pago diretamente pelo Fundo de Compensação (art. 3.º).

O artigo 29 da Lei 5.890, de 8 de junho de 1973 extinguiu o “Fundo de Compensação”. No entanto, o salário-família continuou a ser efetuado pela empresa, com reembolso mensal pela previdência social.

A Carta Constitucional de 5 de outubro de 1988 também trouxe de forma expressa (artigo 7.º, inciso XII) o direito do empregado ao salário- família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei (redação conferida pela Emenda Constitucional n. 20, de quinze de dezembro de 1998, que inseriu a expressão “baixa renda”).

Embora o salário-família mantenha algumas semelhanças com a forma em que era aplicado antes da Constituição Federal de 1988, não há mais a vinculação do seu valor ao salário-mínimo, vez que o artigo 7.º, inciso IV da Constituição Federal estabeleceu a proibição da vinculação deste para qualquer fim.

Ficou mantida, no entanto, a regra de que quem deve pagar o salário-família ao empregado, homem ou mulher, é o próprio empregador. Desta forma, as quotas do salário-família serão pagas pela empresa, mensalmente, junto com o salário, efetivando-se a compensação quando do recolhimento das contribuições, conforme dispuser o regulamento (artigo 68, da Lei 8.213/91).

Ressalte-se que o empregado terá direito ao salário-família em relação a cada emprego.

Acerca do salário-família e o contrato de trabalho, EMÍLIO GONÇALVES questiona se “no caso de dualidade de contratos com o mesmo empregador, terá o empregado direito de receber, em relação a um dos contratos, as quotas do salário-família” concluindo de forma positiva, já que “o direito à percepção das respectivas quotas deriva do status de empregado [...]”110.

Segue que se o empregado possui dois ou mais empregos, ainda que o empregador seja o mesmo, não se contesta o direito de receber, em relação a cada um deles, quota(s) do salário-família.

Destaque-se que o salário-família é devido ao segurado empregado registrado. Para EMÍLIO GONÇALVES:

Reconhecida pela Justiça do trabalho a relação de emprego, é inegável o direito do empregado ao salário-família, desde a data do nascimento dos filhos, ou da admissão no emprego, se posterior àquela, sendo irrelevante o fato de não ter apresentado as certidões de nascimento, uma vez que a

110 GONÇALVES, Emílio. Contrato de Trabalho: aspectos gerais e especiais de sua

impossibilidade foi criada pelo próprio empregador que deixou de proceder ao registro do empregado, conforme determina a lei111.

Em se tratando do aposentado por invalidez ou por idade e os demais aposentados com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais de idade, se do sexo masculino, ou 60 (sessenta) anos ou mais, se do feminino, terão direito ao salário-família, pago juntamente com a aposentadoria (art. 65, parágrafo único da Lei 8.213/91), ou seja, pelo próprio Instituto Nacional do Seguro Social.

Colocadas as considerações gerais sobre o salário-família, bem como a obrigatoriedade da empresa efetuar o pagamento do mesmo ao empregado, resta esclarecer as severas críticas em relação à expressão “salário-família”.

Em primeiro lugar, o salário-família não diz respeito ao salário propriamente dito, assim entendido como aquele devido pelo empregador ao empregado como contraprestação pelo serviço prestado.

A Lei n. 4.266, de 1963, ao instituir o salário-família, prescrevia que:

Art. 9.º. As cotas do salário-família não se incorporarão, para nenhum efeito, ao salário ou remuneração devidos aos empregados.

Em segundo lugar, o salário visa a manutenção do empregado de forma digna, sendo responsável pela possibilidade de sua própria mantença e de sua família. O salário-família, por sua vez, é benefício previdenciário de

proteção familiar, que visa apenas a complementação da renda da família, tendo função diversa daquela conferida ao salário.

Desde o princípio, restou claro que a natureza do salário-família não era salarial.

Ainda assim, a natureza jurídica do salário-família é discutida pela doutrina. Para FÁBIO ZAMBITTE IBRAHIM, “o salário-família tem verdadeira natureza de benefício trabalhista, sendo atualmente encargo da previdência social”112.

ARNALDO SÜSSEKIND, por sua vez, afirma que antigamente o salário-família era visto como “suplemento de natureza assistencial”, já que não constituía parcela do salário do empregado. No entanto, ao comentar o salário-família na atualidade, coloca que “é inquestionável que, no Brasil, sem embargo do seu caráter assistencial, ela assumiu feição previdenciária; não é salário”113.

Nas palavras de EMÍLIO GONÇALVES, o salário-família “constitui subsídio familiar, de caráter eminentemente social, recebido pelo trabalhador, em nome dos filhos sob sua guarda e manutenção, e sem relação direta com a prestação do trabalho, não se confundindo com o salário do empregado”114.

Assim, caso o empregado seja dispensado de forma imotivada pelo empregador, o salário-família não será computado para cálculo da indenização devida por este àquele.

112 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. 7. ed. rev. e atual. até a

EC 48/2005. Rio de Janeiro: Impetus, 2006, p. 506.

113SÜSSEKIND, Arnaldo et. al. Instituições de Direito do Trabalho..., v. 1, p. 427. 114GONÇALVES, Emílio. Op. cit.; p. 161-162.

Mesmo que possa surgir alguma divergência, a nosso ver não existe qualquer dúvida: o salário-família é benefício típico previdenciário, não tendo natureza trabalhista, embora cesse com o vínculo empregatício.

Tal benefício vem inserido no artigo 201, IV, da Carta Constitucional de 1988, como benefício típico previdenciário. Para ele, são vertidas contribuições de toda sociedade, mediante financiamento direto (contribuições sociais) e indireto (receita orçamentária proveniente da União, Estados, Distrito Federal e Municípios).

Como se isso não bastasse, o empregador apenas tem a responsabilidade de efetuar o pagamento ao empregado, ficando ao Instituto Nacional do Seguro Social o verdadeiro ônus no que se refere a este benefício, vez que o empregador deduz a quantia eventualmente paga a título de salário-família ao empregado, das contribuições por ele (empregador) devidas para a previdência social.

Tanto é assim que no caso do aposentado, o próprio INSS é responsável pelo pagamento do salário-família, o que vem confirmar a natureza jurídica previdenciária complementar do benefício em comento.

Tecidas as considerações relativas ao contrato de trabalho a aos benefícios previdenciários cujo pagamento é de responsabilidade da empresa, é preciso adentrar nos aspectos práticos e teóricos concernentes aos efeitos do recebimento dos benefícios previdenciários no contrato de trabalho.