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PARTE I PERCURSO TEÓRICO DA PESQUISA

II – TEORIAS DA APRENDIZAGEM NA FORMAÇÃO DE AGRICULTORES

3.4 A Avaliação dos Domínios da Aprendizagem

3.4.1 Avaliação Oral na Formação

O exame oral consiste em um diálogo ou uma discussão do aprendiz com o avaliador, onde o primeiro faz perguntas e o segundo responde. É uma oportunidade única para explorar em profundidade o conhecimento do aluno, bem como a capacidade de se expressar de forma precisa. A avaliação oral é utilizada também para avaliar a flexibilidade e testar as habilidades cognitivas do aprendiz (Roberts et al., 2000). Lee (2006a), caminha na mesma direção, ao dizer que a avaliação oral é uma oportunidade para se apresentar uma ou mais questões a um aluno, com o objetivo de avaliar e interagir com as respostas obtidas, permitindo uma elevada troca de informações. Vale (2005), afirma que o questionamento oral confirma o aprendizado, pois pode avaliar o conhecimento do aluno tanto no início quanto no fim do processo de aprendizagem. E acrescenta que o questionamento funciona também como uma ferramenta eficiente para despertar o interesse e a participação do aprendiz, conduzindo-o ao pensamento e à reflexão.

A habilidade do questionador em perguntar com efetividade é um componente importante para que se possa explorar em profundidade o conhecimento adquirido. Boas perguntas geram uma boa discussão e a maneira como elas são conduzidas faz toda a diferença para estimular ou inibir uma discussão. Questionar é, portanto, uma habilidade-chave para qualquer educador no processo de avaliação oral (Crowe & Stanford, 2010; Jones, 2010).

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Porém, essa forma de avaliação não é simples de ser realizada, mas de acordo com Jones (2010), quando corretamente aplicada, ela permite ao aluno:

 Obter uma visão do nível de compreensão do conteúdo;

 Desenvolver habilidade de comunicação;

 Ampliar a capacidade analítica;

 Desenvolver o pensamento crítico;

 Melhorar o relacionamento com a classe;

 Proporcionar reconhecimento e recompensa (reforço);

 Promover um ambiente de aprendizagem ativa.

Lee (2006a), por sua vez, acrescenta que, o questionamento oral bem conduzido, pode ser utilizado em um grande número de situações, oportunizando um retorno imediato, permitindo a sondagem do conhecimento adquirido e explorando a competência do aprendiz em profundidade. Quanto às áreas onde a avaliação oral possui maior eficiência quando empregada, o autor cita o conhecimento técnico factual, a resolução de problemas e o pensamento crítico; a habilidade de comunicação interpessoal e organização da informação de forma clara e lógica; o conhecimento acadêmico (utilização de evidências empíricas para suportar decisões) e a postura profissional (comportamento e raciocínio ético).

A avaliação Oral, como já mencionado anteriormente, é uma atividade complexa e dinâmica e as aplicações listadas acima indicam que ela pode ser utilizada não apenas como forma de avaliação, mas também como uma maneira de conectar o que os estudantes já sabem com o que irão aprender. Ao aplicar essa ferramenta, o formador deve considerar o tipo de pergunta realizada, o tempo de espera para a resposta e a finalidade ao usá-la. Outro cuidado importante é disponibilizar tempo suficiente e conforto para que o aprendiz possa responder e compartilhar suas respostas com o grupo (Crowe & Stanford, 2010; Jones, 2010). Lee (2006a), recomenda que se deve investir em um bom desenvolvimento do conteúdo, utilizar perguntas de sondagem, antecipar possíveis respostas dos alunos durante o planejamento, padronizar critérios de avaliação e evitar a improvisação. Planejar os processos de avaliação dentro de cada etapa da instrução é fundamental para se avaliar com precisão o conteúdo ministrado. O planejamento deve incluir a estrutura da pergunta e seu propósito, objetivando principalmente esclarecer possíveis mal-entendidos, estimular o raciocínio com novas perguntas e exibir a resposta correta (Jones, 2010). Vale (2005), complementa que é interessante que seja feita apenas uma pergunta por vez e que a primeira resposta seja recompensada positivamente de forma a estimular outras. A autora recomenda ainda que as boas respostas devem ser realçadas,

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que a formulação inicial da pergunta seja mantida para prevenir confusões de interpretação, que todos do grupo sejam valorizados e que tenham oportunidade de participar. No final do processo, ela recomenda que seja feito um resumo de todas as respostas recebidas como forma de fechamento do tema.

Goodwin, Sharp, Cloutier e Diamond (1983), Jones (2010) e Tienken, Goldberg e Dirocco (2009) descreveram algumas estratégias práticas na aplicação do questionamento oral em sala de aula:

 Ambiente físico: a disposição do grupo em círculo facilita a visualização, a interação e a discussão das respostas;

 Habilidades auditivas: escutar atentamente o aluno e não interromper (mesmo que ele esteja indo em uma direção incorreta). Caso isso aconteça, peça mais explicações para a resposta fornecida, mantenha contato visual com o aprendiz e o acompanhe com gestos afirmativos;

 Tempo de espera: é o tempo entre a realização da pergunta e o início da resposta. Pesquisas revelam que os estudantes necessitam de pelo menos três segundos para que possam entender uma pergunta, encontrar a informação correta, formular a resposta e começar a responder. Um bom tempo de espera aumenta a participação, a complexidade da resposta e o número de alunos que respondem;

 Atitude em relação à resposta: o educador pode ter quatro atitudes diante da resposta do aluno: reforçar, testar, reformular ou redirecionar. O reforço ocorre no caso de uma resposta correta e é realizado através de um elogio, um sorriso ou mesmo um aceno com a cabeça. No caso de dúvida em relação à resposta, pode utilizar da sondagem (testar), fazendo uma pergunta complementar ou mesmo reformulando a questão. Em casos onde o estudante responde a pergunta incorretamente ou não a responde, pode-se utilizar o redirecionamento, pedindo a um colega que a responda.

Segundo Vale (2005), existem quatro tipos básicos de questões conforme sua abertura e direcionamento, e a compreensão de suas características é bastante útil para o formador durante a avaliação em uma instrução (vide Tabela 6). O primeiro tipo são as questões fechadas, que servem para avaliar um conhecimento específico, possuem respostas definidas e não geram discussão. O segundo são as abertas, que promovem o debate, auxiliam a exploração e a compreensão de um tema. Questões do tipo indiretas compõem o terceiro tipo, elas auxiliam no raciocínio crítico e oferecem a oportunidade de participação, criando um ambiente motivador.

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Já o quarto tipo é composto pelas questões diretas, utilizadas para promover a participação ou avaliação de um indivíduo em específico. Elas podem aumentar a tensão no ambiente e por esse motivo devem ser empregadas com cautela.

Tabela 6: Interação entre os tipos de perguntas, quanto a sua abertura e o seu direcionamento

Tipo Fechada Aberta

Direta Direcionada a apenas um participante e possui apenas uma resposta.

Direcionada a apenas um participante e possui mais de uma resposta.

Indireta Direcionada ao grupo e possui apenas uma resposta.

Direcionada ao grupo e possui mais de uma resposta.

Fonte: Vale (2005), adaptado pelo autor.

Os diferentes tipos de questões devem ser cuidadosamente planejados pelo professor de forma a aplicá-los adequadamente durante o processo de aprendizagem. A aplicação de um questionamento oral eficaz envolve cinco atitudes que precisam ser consideradas: perguntar, aguardar o processamento da pergunta e da resposta, escolher o respondente (por manifestação dele ou não), ouvir a resposta (focando o respondente e o motivando), e avaliar a resposta (corrigindo se for o caso) (Goodwin, Sharp, Cloutier & Diamond, 1983; Jones, 2010; Tienken, Goldberg & Dirocco, 2009).

Mas apesar de toda eficácia, a Avaliação Oral também apresenta desvantagens devido à dificuldades de padronizar o teste e a sua implementação; de estabelecer e aplicar critérios de classificação sistemáticos, consistentes e padronizados; de obter questões semelhantes para todos os alunos e de se evitar pistas não verbais. No que diz respeito às limitações de utilização, Lee (2006a), afirma que a Avaliação Oral é pouco adequada para medir habilidades Psicomotoras, desempenho em situações reais, conteúdos de conhecimento amplo, atitudes em relação ao trabalho em equipe como colaboração e liderança. Esse tipo de avaliação possui comprovadamente maior grau de dificuldade que outros exames. Dadgar, Saleh, Bahador e Baradaran (2008), avaliaram a percepção de 63 alunos de Medicina sobre as dificuldades da Avaliação Oral em relação ao exame clínico oral e à avaliação escrita, e consideraram essa forma de avaliação mais difícil que as demais, embora a percebessem como um processo educativo. Há, no entanto, um amplo consenso de que a ansiedade ocorrida nos testes, está associada a um menor desempenho do respondente e que existe uma relação linear entre ansiedade e o desempenho no exame (Naveh-Benjamin, McKeachie, Lin & Holinger, 1981; Zeidner, 1990). Fassi et al. (1999), avaliaram as reações fisiológicas de 114 estudantes de

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Medicina e constataram um estresse psicológico associado ao aumento da pressão arterial e frequência cardíaca.