Condicionamento Clássico

É um tipo de aprendizagem associativa, através da qual um indivíduo aprende a associar estímulos a respostas específicas. Nela, um estímulo neutro é associado a um estímulo predeterminado, adquirindo após o estabelecimento dessa associação, a capacidade de provocar uma resposta esperada (Ormrod, 2012; Santrock, 2011; Schunk, 2012).

O Condicionamento Clássico foi desenvolvido pelo fisiologista russo Iván Pavlov (1849-1936), que realizou suas pesquisas condicionando um cão a uma campainha. Em seu experimento, Pavlov associou um estímulo neutro (som) a uma resposta (salivação), que por sua vez, estava associado a outro estímulo (comida). Transferindo esse experimento para a Educação, ele concluiu que o processo de aprendizagem se baseava no estabelecimento de uma associação entre um estímulo e uma resposta, aprendida através da repetição. Pavlov observou ainda que essa associação envolve alguma espécie de conexão no sistema nervoso central, capaz

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de ligar o estímulo à resposta de forma automática (Alves, 2014; Silva, 2004). Já no processo de aquisição de habilidades motoras, a aprendizagem ocorre através da repetição do movimento, até que seja atingido um padrão de desempenho previamente estabelecido (Silva, 2004).

Em seu experimento, Pavolv definiu quatro etapas distintas do processo de Condicionamento, cada uma com um papel específico (Santrock, 2011; Schunk, 2012):

 Estímulo incondicionado: produz uma resposta sem a necessidade de aprendizagem prévia (alimento no experimento);

 Resposta incondicionada: resposta não aprendida (salivação);

 Estímulo condicionado: estímulo inicialmente neutro, associado a uma resposta incondicionada (campainha);

 Resposta condicionada: resposta aprendida pela associação a um estímulo condicionado (salivação ao som da campainha).

Ao associar o alimento (estímulo condicionado) à campainha (estímulo incondicionado), obtendo como resultado a salivação (resposta condicionada), Pavlov ressaltou que outros sons também parecidos com a campainha, provocavam salivação no animal e denominou esse comportamento de Generalização (Bower & Hilgard, 2004; Ormrod, 2012; Schunk, 2012). A Generalização ocorre, por exemplo, quando um agricultor participante de um treinamento é exposto a uma situação constrangedora em uma avaliação ou teste. Ele passa a manifestar ansiedade e nervosismo sempre que participa de um treinamento e é submetido a uma situação de avaliação. Por outro lado, quando o indivíduo responde a determinados estímulos e é resistente a outros, acontece o processo de Discriminação. A Discriminação é, pois, a capacidade do indivíduo de identificar especificamente o estímulo que lhe desencadeia a resposta automática e responder apenas a ele (Bower & Hilgard, 2004; Ormrod, 2012; Schunk, 2012). Isso pode ser notado quando um agricultor, por ter danificado um equipamento em seu trabalho, fica sempre nervoso ao manuseá-lo, mas não se altera quando o manuseia próximo a um técnico de sua confiança.

O processo de estímulo e resposta estabelecido pelo Condicionamento Clássico é útil para se compreender algumas reações involuntárias dos indivíduos diante de respostas fisiológicas ou emocionais (Ormrod, 2012). As preferências e aversões por alimentos são situações típicas em que o condicionamento acontece. A aquisição da aversão ocorre na maioria das vezes, com a apresentação de apenas um estímulo gustativo. Particularmente, no que diz respeito ao paladar, é muito mais fácil adquirir aversão que preferência. Já a aprendizagem da preferência alimentar possui um caminho diferente, pois a simples exposição contínua a

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determinado alimento, sem que esse traga qualquer consequência negativa, provoca um aumento da preferência por ele (Grau & Bach, 1999).

Aranda (2016), menciona que a aversão a alimento ocorre para proteger o indivíduo de algo que possa lhe fazer mal, e confirma que esse aprendizado pode acontecer, sem que sejam necessárias mais de uma ingestão. O autor também destaca que uma associação entre o sabor de um alimento e uma enfermidade, é mais fácil de ser estabelecida que uma associação entre um som e uma enfermidade, por exemplo.

O Condicionamento Clássico pode ser utilizado também para influenciar atitudes em relação a alguma coisa ou situação. Olson e Fazio (2001), executaram um experimento com estudantes, associando alguns personagens de um jogo virtual (“Pokemon”) a imagens e palavras que traduziam um sentimento positivo. Outros personagens do mesmo jogo foram associados a imagens e palavras que traduziam sentimentos negativos. Posteriormente, os autores solicitaram aos participantes que pontuassem os personagens com notas de (-4 a +4: desagradável a agradável). Os resultados obtidos comprovaram que os personagens associados a sentimentos positivos, receberam pontuação mais elevada em relação aos personagens associados a sentimentos desagradáveis.

O medo do fracasso é outro exemplo de Condicionamento Clássico, quando o indivíduo associa um sentimento negativo a um evento. Em algum momento, pessoas que têm medo do fracasso, associam um erro a uma circunstância ou sentimento desagradável. A partir daí, elas evitam realizar tarefas semelhantes, por receio de que situação parecida volte a acontecer. Isso acontece, por exemplo, quando um aluno é chamado diante dos colegas para responder a uma questão. Caso a experiência seja negativa (zombaria ou provocações), ele evitará participar de qualquer outra atividade que o exponha ao grupo (Ormrod, 2012). Por outro lado, o Condicionamento Clássico pode se apresentar como uma associação positiva. Canções e eventos podem provocar sentimentos singulares em crianças e adultos, quando envolvidos no processo de aprendizagem, permitindo que ela ocorra mais facilmente (Santrock, 2011).

Há, por fim, o processo de Extinção de um Condicionamento, que acontece quando o indivíduo passa a reduzir sua resposta condicionada ao estímulo incondicionado (Bower & Hilgard, 2004; Ormrod, 2012; Schunk, 2012). A Extinção ocorre, por exemplo, quando o agricultor, após observar um parente ou amigo utilizando eficientemente uma técnica que ele rejeita, resolve experimentá-la e passa a utilizá-la normalmente em sua propriedade.

Os estímulos descritos até o momento, capazes de produzir respostas condicionadas, são denominados de Sistema de Sinais Primários. Os seres humanos, por possuírem sentimentos e

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a possibilidade de expressão verbal, possuem uma capacidade muito maior de condicionamento. Tanto os sentimentos quanto a fala podem representar eventos ou objetos capazes de gerar estímulos condicionados, denominados de Sistema de Sinais Secundários (Schunk, 2012). Pensar em um dano a uma máquina de elevado valor ao ouvir o instrutor dizer que a manutenção daquela máquina será avaliada, pode desencadear ansiedade em um agricultor. Nesse caso, embora o dano não tenha ocorrido, houve uma representação mental do mesmo, tornando o treinando ansioso.

Pavlov não foi o único teórico na área da Educação a divulgar as ideias Comportamentalistas Clássicas. Estudiosos como John Watson, Edwin Guthrie e Clark Hull, também desenvolveram trabalhos a partir das conclusões dos seus estudos.

O Quadro 2 abaixo mostra os teóricos citados e um resumo das características de suas teorias.

Quadro 2: Teóricos Behavioristas Clássicos e algumas características de suas teorias

Teórico Características

John Broadus Watson

 Demonstrou que respostas emocionais podem ser condicionadas e introduziu o conceito de Generalização.

 Toda aprendizagem é consequência de um Condicionamento Clássico; novos e complexos comportamentos podem ser aprendidos pela combinação de reflexos em série.

 Os reforços e as punições são conceitos muito subjetivos para serem considerados como causa da aprendizagem. A conexão entre um estímulo e uma resposta é aprendida simplesmente por ocorrerem juntos.

 A aprendizagem pode ser explicada por dois princípios:

o O princípio da frequência: quanto mais uma resposta é associada a um estímulo específico, mais fortemente eles serão associados entre si.

o O princípio da imediaticidade: quanto mais próximo temporalmente da resposta o reforço estiver, mais eficaz ele será.

 Tudo que o indivíduo pensa, sente, diz ou faz, envolve variáveis de respostas de seu corpo.

 O comportamento significa em última análise, um movimento muscular.

Edwin Guthrie

 A intensidade da ligação estímulo-resposta (hábito) ocorre durante o primeiro pareamento entre eles, e não é reforçada pela prática.

 Apesar de não considerar a importância da prática, achava importante a repetição dos movimentos para que ocorressem novas

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conexões estímulos-resposta.

 Preocupou-se especificamente com a mudança de hábitos na Educação, descrevendo três técnicas pelas quais ela pode ocorrer:

o A técnica da fadiga: o estímulo é repetido até que a resposta antiga seja substituída por uma nova;

o A técnica do limiar: o estímulo é apresentado de maneira tão sutil que deixa de provocar a resposta, permitindo que seja provocada uma resposta desejada;

o A técnica do estímulo incompatível: o estímulo é apresentado em um momento no qual a resposta não pode ocorrer, o que induz o aparecimento da resposta desejada.

 Não utiliza o conceito de reforço positivo ou negativo para explicar mudanças de comportamento.

Clark L. Hull

 Foi o mais formal dos teóricos behavioristas.

 Produziu uma teoria bastante estruturada, lógica, com postulados corolários e teoremas. Foram escritos 17 postulados, dos quais derivaram 133 teoremas e vários corolários.

 Sua teoria pode ser descrita como uma teoria behaviorista típica, do tipo E-O-R, ou seja, estímulo E, que afeta o organismo O, produzindo uma resposta R.

 Afasta-se das demais teorias behavioristas, na medida em que admite outras influências sobre o organismo além do ambiente, chamadas por ele de “intervenientes”.

 A utilização de variáveis “intervenientes” permite chamá-lo de neobehaviorista.

 Alguns dos postulados produzidos por ele são: o Postulado 1: Algumas conexões estímulos-resposta não são aprendidas, o indivíduo nasce com elas;

o Postulado 2: Os estímulos, ao atingirem o receptor, provocam impulsos neurais aferentes;

o Postulado 4: A tendência de um estímulo provocar uma resposta a ele associada (hábito) aumenta em função do número de ensaios ocorridos, desde que sejam regularmente distribuídos e o reforço ocorra em todos eles;

o Postulado 8: O potencial de reação a um estímulo é influenciado pelo hábito, pelo impulso em reagir, pela intensidade do estímulo e pela motivação do incentivo.

 Pela teoria proposta por Hull, o reforço é a explicação básica para a ocorrência da aprendizagem pelo indivíduo. Por este motivo ele é chamado de teórico do reforço.

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diferentes tipos de respostas podem ser dadas pelo indivíduo e muitas delas o levarão ao mesmo resultado.

Fonte: Criado pelo autor utilizando informações de Moreira (1999).

Outros pesquisadores como Edward Thorndike, Albert Brandura, Burrhus Frederic Skinner e Robert Gagné, concentraram-se no estudo dos efeitos dos estímulos que ocorriam após as respostas (as consequências e as recompensas), denominado Condicionamento Operante (Bower & Hilgard, 2004).