• Nenhum resultado encontrado

PARTE I PERCURSO TEÓRICO DA PESQUISA

II – TEORIAS DA APRENDIZAGEM NA FORMAÇÃO DE AGRICULTORES

2.2 Teorias de Aprendizagem na Formação Profissional

2.2.1 Teoria Behaviorista

2.2.1.2 Condicionamento Operante

A convicção de que as recompensas influenciam o comportamento, tem feito parte do pensamento humano há mais de um século e ocupado um lugar de destaque entre as teorias Comportamentalistas de Aprendizagem. Os trabalhos de dois estudiosos do Comportamentalismo, B. F. Skinner e Edward Thorndike merecem destaque, pois formam a base da Teoria do Condicionamento Operante (Ormrod, 2012). A teoria de que a aprendizagem ocorria no sistema nervoso e que era uma manifestação do funcionamento desse sistema, foi a base do pensamento de Pavlov. Skinner por sua vez, não negava a influência desse sistema e seu efeito sobre o comportamento, mas acreditava que seu estudo poderia ocorrer independentemente de mecanismos neurais (Schunk, 2012).

Os estudos de Skinner para comprovar a teoria utilizavam ratos colocados em uma caixa, a “caixa de Skinner”, em cujo interior havia uma barra de metal que, ao ser acionada pelo animal, liberava água. Após várias sessões reforçando o mesmo comportamento, o animal aprendeu a pressionar a barra para conseguir água quando sentisse sede. Skiner denominou esse processo de condicionamento de Modelagem de Comportamento. Por sua teoria, o reforço (saciar a sede) de um comportamento (pressão na barra), altera a probabilidade de repetição do mesmo comportamento no futuro (sempre que o animal sentir sede), gerando a Modelagem do Comportamento (saciar a sede pressionando a barra) (Alves, 2014; Santrock, 2011; Schunk, 2012).

O comportamento de um indivíduo também sofre influência do tipo de consequência a que é exposto. Quando se diminui a probabilidade de ocorrência da conduta no futuro, é denominada castigo; caso aumente é chamada de Reforço. Este, por sua vez, pode ser Positivo, quando a frequência de conduta é aumentada por ser o reforço gratificante, ou Negativo, quando a ausência de um determinado reforço desagradável, aumenta a possibilidade de ocorrência de

57

um comportamento anteriormente inibido por ele (Alves, 2014; Bower & Hilgard, 2004; Schunk, 2012).

Settle, Soumaré, Sarr, Garba e Poisot (2014), descreveram a utilização de um reforço positivo através do treinamento de agricultores que cultivavam algodão em Mali. Por um período de oito anos, parte do grupo foi treinada na utilização de técnicas mais econômicas e no controle de pragas das plantas. Diante das vantagens obtidas (reforço) pela utilização das novas técnicas, os agricultores substituíram os hábitos antigos pelo controle racional de pragas (conduta), reduzindo em 92% a utilização de inseticidas. Já o reforço negativo é exemplificado pela baixa utilização do equipamento de proteção (ausência de comportamento), provocado pelo desconforto do calor excessivo (reforço negativo), sentido pelo agricultor que utiliza o referido equipamento (comportamento), durante a aplicação de agrotóxicos (Rocha & Oliveira, 2016; Santos & Veita, 2010).

Da mesma forma que no Condicionamento Clássico, os fenômenos de Generalização, Discriminação e Extinção também existem no Condicionamento Operante. A Generalização ocorre quando estímulos semelhantes provocam o mesmo comportamento. Uma situação muito comum é aquela em que um instrutor valoriza (reforço) constantemente a participação dos agricultores (conduta) em treinamentos, e ao participarem de outro treinamento com outro instrutor (nova situação), eles continuam mantendo a forma de participação (manutenção da conduta), embora não recebam qualquer valorização (ausência de reforço) por parte do novo instrutor.

A Discriminação, por sua vez, implica em distinguir os estímulos e não responder a todos com a mesma forma de comportamento (Schunk, 2012). Os instrutores de cursos de formação profissional geralmente esperam que os treinandos utilizem o que aprenderam em situações de trabalho semelhantes (comportamento). A capacidade de identificar se um problema observado em uma máquina é semelhante ao ensinado ou não (identificação da situação), aumenta a qualidade do trabalho executado e consequentemente, a competência do profissional. É importante que o instrutor reforce quais as características do problema estão presentes e que critérios devem ser utilizados para identificá-los, a fim de corrigir o problema.

Na Extinção, uma resposta, alvo de reforço anterior, passa a não ocorrer mais, ou ocorrer com menor intensidade ao reforço aplicado (Ormrod, 2012; Santrock, 2011). É comum em um treinamento que os participantes levantem a mão (conduta) para que possam responder a uma pergunta (reforço); se o instrutor ignora esse comportamento e concede a um participante que não levantou a mão (ausência de reforço) esse direito, os agricultores ignorados deixarão de

58

responder aos questionamentos do instrutor (ausência de conduta).

2.2.1.2.1 Uso de Instigadores e de Modeladores de Comportamento

Instigadores ou Estimuladores são estímulos utilizados pouco antes da resposta, com a função de aumentar a possibilidade de ocorrência da mesma. Nomes ou apelidos divertidos em equipamentos ou definições ajudam a memorizar e facilitam a resposta correta. Pode-se ainda utilizar sinais como colocar a mão no ouvido para estimular o grupo a falar com mais firmeza a resposta desejada. Ao usar Instigadores, o instrutor mostra que seus treinandos sabem a resposta, mas os incita a deixá-la pública para o grupo. Já os Modeladores de Comportamento, são utilizados quando o indivíduo possui alguma dificuldade de realizar toda a tarefa desejada. Na Modelagem, estabelecem-se metas sucessivas que vão aproximando o aprendiz do desempenho final desejado. Por isso, para ensinar conteúdos que requerem tempo, é preciso persistência e habilidade (Ormrod, 2012; Santrock, 2011). No presente estudo, a Modelagem (ou Aproximações Sucessivas) foi utilizada com o conteúdo de habilidade Motora. Nele, a tarefa de colocação e retirada do respirador foi dividida em operações menores, de forma que, uma vez atingido um objetivo, passava-se para o próximo, até que a tarefa de colocação e retirada fosse completada. É uma estratégia empregada no treinamento presencial para facilitar o aprendizado e melhorar o desempenho final.

A implementação de Estratégias de Modelação devem seguir algumas regras, a fim de gerar o comportamento desejado (Ormrod, 2012; Santrock, 2011):

 Escolher o reforço mais eficaz: essa escolha deve considerar que alguns indivíduos são mais sensíveis a determinado tipo de reforço que outros. A escolha do reforço mais eficaz pode ser feita de duas maneiras: analisar o passado (história de reforços e seus resultados), perguntar diretamente ao indivíduo ou variar o tipo de reforço utilizado e analisar os resultados;

 Utilizar um reforço congruente e oportuno: o reforço obtido pela realização do comportamento desejado deve ser superior ao reforço obtido por não realizá-lo. Ele também deve ser aplicado o mais próximo possível do comportamento pretendido;

 Seleção do melhor programa de reforço: programas de reforço contínuo promovem uma fixação do comportamento rapidamente, mas também podem tornar o indivíduo dependente do reforço aplicado, além de que, ele pode ser facilmente extinto. Estratégias de reforços parciais, previamente combinadas,

59

também podem ser utilizadas; elas promovem uma persistência maior do comportamento e são dificilmente extintas;

 Elaboração de contratos: consiste em um acordo firmado com o aprendiz que se compromete a exibir um determinado comportamento e em contrapartida recebe um reforço específico. O acordo pode ser feito verbalmente, mas frequentemente é realizado por escrito e assinado pelos envolvidos de forma participativa e comprometida. Qualquer que seja o modo de elaboração, o comportamento acordado deve ser claramente definido e observável. Uma especial atenção deve ser dada à duração do contrato: contratos mais curtos são mais motivadores e possuem maior capacidade de reforço (Schunk, 2012);

 Emprego eficaz de reforço negativo: o reforço negativo é a remoção de uma consequência ruim ocorrida após um determinado comportamento. Sua eficácia depende da capacidade do indivíduo de se comportar corretamente. Especificamente para o público rural, longas exposições teóricas e monótonas levam o agricultor a sentir sono ou a se dispersar e constituem um reforço negativo ao seu desempenho durante o treinamento. Ao mesclar atividades práticas com explicações teóricas, o reforço negativo (aulas teóricas e monótonas) é retirado e o desempenho do grupo automaticamente melhora (Ormrod, 2012; Santrock, 2011).

2.2.1.2.2 Aplicações práticas nos processos educativos

Skinner (1953), considerava que o Condicionamento Operante era empregado pelos professores de maneira incoerente e no momento incorreto. Para ele, boa parte do conteúdo ensinado aos alunos seria útil apenas em um futuro relativamente distante. Sob esse prisma, a aplicação do reforço tardiamente desmotiva bastante a dedicação ao estudo. A forma de resolução de uma equação, por exemplo, não possui qualquer utilidade para um aluno de 15 anos; provavelmente ela lhe será útil apenas aos 22 ou mais, ao cursar o Ensino Técnico ou Superior. Como consequência, o estímulo ou reforço para se dedicar ao conteúdo ensinado não é valorizado. Para minimizar essa situação, os professores lançam mão de reforços artificiais como notas ou elogios para valorizar o desempenho e a motivação dos alunos. Essa atitude, embora melhore a motivação, não resolve o distanciamento entre o conteúdo ministrado e o reforço aplicado pelo educador, deixando essa relação pouco evidente para o aluno (Ormrod, 2012).

60

Quando se avalia a percepção de risco para os agricultores que utilizam defensivos agrícolas, observa-se que eles não conseguem estabelecer claramente a relação entre a manipulação do veneno e os sinais de intoxicação. Isso acontece porque o tempo decorrido entre a exposição ao veneno (conduta) e a observação do sintoma de intoxicação (reforço) é longo, dificultando a identificação da relação entre os dois fatores. O trabalho de Gasparini (2012), demonstra claramente a inexistência dessa relação na mente do agricultor. O pesquisador estudou a percepção do risco da utilização de agrotóxicos pelos agricultores que produziam flores no estado do Rio de Janeiro. Ele relatou em seu estudo que embora metade dos produtores entrevistados assumisse que a aplicação de defensivos agrícolas era um dos seus maiores motivos de preocupação, prevaleceu entre eles uma postura de minimização do risco de intoxicação pela manipulação do produto. Na falta de condição de se fazer uma relação direta entre uma situação e outra, os agricultores ampliaram os agentes de causas, citando a idade, o sexo e até mesmo fatores sócio-demográficos e históricos como causadores dos problemas de intoxicação.

Partindo do princípio da imediaticidade, em que o reforço deve ser dado logo após o comportamento, Skinner (1953) desenvolveu uma técnica denominada de Instrução Programada. Utilizada inicialmente em um equipamento chamado “máquina de ensinar”, consistia em uma caixa com mecanismos internos, onde era possível ver as partes do conteúdo a ser estudado em uma sequência cuidadosamente elaborada. Os programas de ensino elaborados para essa máquina eram desenhados para reduzir erros e dar retorno imediato ao aluno caso algum erro ocorresse (Benjamim, 1988).

A Instrução Programada possui quatro princípios intrínsecos de funcionamento, que, segundo Ormrod (2012), caracterizam seu funcionamento:

 Perguntas Específicas: ao serem respondidas possibilitam o estudo de determinado conteúdo;

 Modelamento do Conteúdo: à medida que a instrução avança, o grau de dificuldade do conteúdo também aumenta e progressivamente dirige o aprendiz para os objetivos da aprendizagem;

 Reforço Imediato devido ao Modelamento: o conteúdo avança lentamente, permitindo maior número de acertos, que são reforçados imediatamente;

 Modelamento do Conteúdo e Progressão da Aprendizagem: ambos são individuais, permitindo que cada caminhe dentro de suas possibilidades.

61

Computador possui os mesmos conceitos anteriormente descritos, com a vantagem de utilizar instrumentos gráficos que tornam o processo bem mais atrativo, e a grande capacidade de armazenamento dos equipamentos de informática, que facilitam o acompanhamento e a avaliação dos resultados de cada aprendiz.

Enquanto em meados da década de 60, argumentava-se que os tradicionais exames acadêmicos não garantiam o êxito no trabalho e muito menos na vida, Bloom (1968) escrevia um artigo utilizando os conceitos de Skinner, para quem cinco variáveis deveriam ser focadas para resolver o problema da aprendizagem: o tempo necessário para a aprendizagem; a qualidade da instrução; a capacidade do aluno de compreender a instrução; a perseverança em se dedicar aos estudos e o tempo necessário a cada um para que ocorra a aprendizagem. Bloom concluiu dizendo que, 90 a 95% dos alunos aprenderiam o conteúdo, caso lhes fossem oferecidas condições para isso e que o ensino deveria também considerar três grandes áreas: a Cognitiva, a Afetiva e a Psicomotora. As colocações de Bloom formaram a base para uma teoria de ensino denominada Aprendizagem de Domínio, que inclui a definição do Domínio, o Planejamento, o Ensino e a Avaliação (Schunk, 2012). Segundo Guskey (1985), esse tipo de aprendizagem utiliza conceitos do Condicionamento Operante, em que uma resposta relativamente simples é reforçada e direciona o aluno a um tema ligeiramente mais complexo e assim por diante. Ao final do processo, obtém-se do aluno o domínio desejado de uma tarefa. De acordo com o Princípio de Modelagem, a Aprendizagem de Domínio é composta por cinco características básicas:

 Unidades de conteúdo pequenas e distintas: possibilitam uma aprendizagem mais fácil e a aplicação imediata do reforço;

 Sequência lógica: os conceitos e habilidades aprendidas inicialmente servem de base para conceitos e habilidades mais complexas. A técnica de análise e identificação dos conteúdos que compõem a sequência lógica é realizada por uma técnica denominada Análise de Tarefas;

 Necessidade de demonstrar o domínio do conteúdo ao encerrar cada unidade: constitui um pré-requisito para se iniciar uma nova;

 O domínio do conteúdo é demonstrado por um critério concreto e específico, estabelecido previamente;

 Estabelecimento de atividades extras para estudantes que não atingem o domínio necessário.

62

Domínio, concluiu que existe um efeito positivo no aproveitamento e retenção do conteúdo quanto ao curso escolhido e ao tempo dedicado aos estudos, pois o tempo de aprendizagem diminui à medida que o conteúdo avança. Por outro lado, ela possui limitações para ser aplicada nos níveis iniciais de ensino, onde se obtém os piores resultados. Sendo assim, a Aprendizagem de Domínio necessita de condições específicas no que se refere à planejamento, metodologia e avaliação.

Em relação ao planejamento, ela deve envolver atividades tanto do aprendiz quanto do formador, e incluir ações de instrução corretiva para aqueles alunos que não atingiram o domínio esperado em alguma área. No que se refere à metodologia, as atividades devem abranger toda a classe, um grupo ou mesmo atividades individuais com monitoria. Já a avaliação inclui a avaliação formativa (durante as atividades) e somativa (ao final). Essa envolve o estabelecimento de uma pontuação máxima para os que obtiveram um nível superior de domínio (Schunk, 2012).

2.2.1.2.3 Críticas à Teoria Comportamentalista

A Teoria Comportamentalista não é unanimidade entre os teóricos, seja no âmbito acadêmico, seja nas discussões públicas sobre o tema. Carrara (2005) e Pacca (2013) enumeram algumas críticas mais comuns ao behaviorismo:

 Atenção excessiva no comportamento do indivíduo em detrimento do estudo de sua consciência. Por esse ponto de vista, o comportamento é observado e estudado na teoria behaviorista, enquanto as manifestações da consciência são também considerados fatos comportamentais;

 Generalização da pesquisa dos animais para os seres humanos. O trabalho utilizando animais em experimentos, nem sempre vem acompanhado de uma análise teórica e seu possível alcance para o ser humano. Embora exista uma continuidade entre as espécies, deve-se levar em conta que há uma distância significativa entre o ser humano e os demais animais, e para se transferir os resultados para o homem, muitas adaptações devem ser feitas. Segundo os autores, alguns behavioristas disseminaram indiscriminadamente princípios e pressupostos obtidos com animais, antes que fossem feitos estudos em humanos, o que resultou em equívocos éticos;

 O behaviorismo explica as relações estímulos-resposta de forma rígida, é uma teoria mecanicista. Para esses críticos, o Comportamentalismo tem por base a ideia

63

de que as ações humanas poderiam ser explicadas a partir da comparação do homem com uma máquina, ignorando-se o que ocorre dentro dessa máquina, mais precisamente no cérebro. A crítica se refere à impossibilidade de entender o ser humano como um todo, e o behaviorismo não se preocupam com o todo;

 O Comportamentalismo objetifica a pessoa humana. Esse raciocínio possui como base a ideia de que o mundo humano é apenas de natureza física e somente através da Ciência, é possível explicar as relações funcionais e até causais da conduta humana.

Em contrapartida, ao revisar os mitos e os equívocos dirigidos ao behaviorismo, Rodrigues (2006), concluiu que vários autores atribuem a essa teoria, rótulos desprovidos de qualquer sustentação. Dentre as causas dos mitos, a autora cita o conhecimento incorreto sobre a teoria, sua terminologia relativamente complexa, a volumosa obra produzida por Skinner, e ainda a discordância filosófica, epistemológica e metodológica sobre a teoria. Entre os equívocos, ela cita as percepções negativas ou enviesadas sobre a toria, o conhecimento incorreto e muitas vezes deturpado. Nesses, encontram-se a maior parte das críticas ao Behaviorismo.

Pacca (2013) considera que o educador se identifica e aceita as ideias behavioristas, embora as conheça pouco. Segundo ele, qualquer teoria está sujeita a críticas e essas devem ser debatidas de maneira aberta, principalmente nos meios acadêmicos. Mas ao que parece, além das críticas, algumas vezes pertinentes, existe também um elevado grau de desconhecimento da teoria behaviorista de muitos profissionais de Educação.