• Nenhum resultado encontrado

Teoria Sócio-Cognitivista e Aprendizagem Motora

PARTE I PERCURSO TEÓRICO DA PESQUISA

II – TEORIAS DA APRENDIZAGEM NA FORMAÇÃO DE AGRICULTORES

2.2 Teorias de Aprendizagem na Formação Profissional

2.2.2 Teoria Sócio-Cognitivista

2.2.2.1 Teoria Sócio-Cognitivista e Aprendizagem Motora

A aprendizagem de uma habilidade Motora diz respeito às mudanças ocorridas no indivíduo, em relação à sua capacidade de executar movimentos para garantir maior eficiência dos mesmos. Ela é fruto da experiência e da prática desses movimentos e ocorre em três estágios:

 Cognitivo, caracterizado pela alta demanda cognitiva e ocorrência de muitos erros;

 Associativo, caracterizado pela detecção e correção dos erros, e

 Autônomo, caracterizado pela pouca necessidade de processamento da informação para a realização da tarefa (Neiva, 2010).

Para Magill (2000) e Santos (2011), os termos Aprendizagem Observacional, Modelamento e Demonstração, possuem o mesmo significado, embora esse último seja mais comumente usado para caracterizar a aprendizagem de Habilidades Motoras. O SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural [SENAR], 2013b), também considera a Demonstração como uma metodologia específica para o ensino de aprendizagem motora na formação de agricultores, uma vez que fornece informações suficientes para que ele realize corretamente uma tarefa em um tempo menor. Como técnica de ensino, a Demonstração possui muitas vantagens em sua utilização: oferece uma visão ampla da tarefa que será realizada; possibilita a visualização de diferentes partes da atividade; permite que sejam ressaltados os

70

detalhes relevantes da tarefa executada; evita descrições longas, pouco precisas e confusas; valoriza o executor, tornando-se um importante fator de motivação (Quina, 2009).

McCueeagh, Weiss & Ross (1989), sugerem que a Demonstração seja utilizada apenas em ocasiões onde se possa assegurar sua eficácia em relação às demais formas de ensino. Seguem listados alguns fatores que a asseguram segundo (Magill, 2000):

 A Demonstração é mais eficiente quando as habilidades ensinadas requerem um novo padrão de coordenação. Em tarefas que requerem habilidades já conhecidas, essa metodologia não difere de outras;

 A Demonstração é mais eficiente quando o instrutor realiza com habilidade e destreza os movimentos da tarefa. Instrutores pouco hábeis conseguem desempenho também pouco hábil do treinando, haja vista que esse observa mais a coordenação e a estratégia do instrutor para resolver o problema do movimento, que propriamente o movimento;

 Quando o observador é principiante, a observação de um instrutor pouco hábil já possibilita a obtenção de ganhos significativos. É importante ressaltar, no entanto, que essa vantagem ocorre apenas quando tanto o modelador quanto o modelado são iniciantes;

 A observação de um modelo menos hábil possui também a vantagem de permitir ao observador se envolver mentalmente para resolver o problema, o que traz benefícios para o aprendiz. A observação de outros colegas principiantes pode ajudar na aquisição de habilidade, mesmo que não tenham recebido feedback sobre seus acertos e erros;

 A frequência de Demonstração de uma atividade leva à aprendizagem da habilidade, por fornecer uma melhor ideia dos movimentos. Por essa razão, o instrutor deve repetir a prática quantas vezes forem necessárias;

 Os aprendizes modelam eficientemente tanto visual como auditivamente. E em alguns momentos, o modelamento auditivo ainda é mais eficiente, como por exemplo, no caso da aprendizagem do ritmo de passos de dança;

 Os aprendizes mantêm melhor o foco na Demonstração quando são feitos comentários, pois aumenta a capacidade de atenção;

 Os aprendizes modelam melhor quando os aspectos críticos da habilidade podem ser vistos com clareza. Nesse caso, é importante chamar a atenção para esses aspectos, antes de se realizar a Demonstração;

71

 Caso os aspectos críticos não possam ser mostrados, a utilização de outros recursos como vídeos, filmes ou imagem devem ser utilizados.

Modelos simbólicos como personagens de filmes, animações, eletrônicos, veiculados pelas diversas mídias, ou modelos impressos em livros e revistas, podem ser aplicados com eficiência no ensino de habilidades Motoras. Essas fontes da Aprendizagem por Observação ou Demonstração não-presenciais, oferecem como vantagem a aprendizagem de comportamentos que conduzem mais ao êxito que ao fracasso (Garcia, 2012; Schunk, 2012; Smith, 2004).

Höffler e Leutner (2007), compararam animações e imagens estáticas. Quando a visualização tem uma função meramente decorativa, as animações não são superiores às imagens estáticas, mas quando o movimento apresentado reflete explicitamente o tópico ensinado, as animações são especialmente superiores às imagens. E concluíram que as animações facilitam a aprendizagem. Garcia (2012), por sua vez, comparou a demonstração ao vivo e por meio de vídeo dos movimentos do jogo de tênis. O autor não viu diferença significativa entre os grupos experimentais, mas para a exatidão do movimento, a demonstração ao vivo teve relevante importância na melhoria do desempenho motor dos grupos testados.

Outras questões referentes à implementação da Demonstração em situações de aprendizagem merecem ser citadas. A primeira delas diz respeito ao efeito da posição da informação na ordem em que é repassada ao executor. Sobre o tema, Magill (2000) e Hurlstone, Hitch e Baddeley (2014), afirmam que as primeiras e as últimas informações de uma sequência, são mais facilmente lembradas que as informações posicionadas no meio. Os autores chamam o fenômeno de “efeito de posição serial”, em que, quanto maior a sequência e maior o número de itens, mais pronunciado é o efeito. O efeito de posição serial é válido tanto para conteúdos cognitivos, como para psicomotores, e se reduz na medida em que a proficiência do treinando aumenta. Uma forma de minimizá-lo é enfatizar as informações intermediárias e demonstrá-las com mais frequência nos processos de aprendizagem. Outra estratégia é a representação simbólica da tarefa mentalmente, também chamada de prática mental.

Para Fonseca et al. (2008), Hardy (2006) e Spessato e Valentini (2013), a prática mental é a recordação (pela verbalização ou não) dos movimentos necessários para a realização de uma determinada tarefa, sem a correspondente realização física dos movimentos. Ela possui sua base na Teoria da Aprendizagem Simbólica e nada mais é que a repetição mental dos símbolos cognitivos da tarefa motora. É um importante fator na aquisição de uma habilidade Motora, e pode ser realizada por intermédio da prática física, mental e da combinação das duas. Guillot et al. (2015), avaliaram a utilização de imagens mentais no treinamento de tenistas e verificaram

72

que ela é benéfica no desenvolvimento da habilidade física durante o desempenho da tarefa analisada.

Rao, Tait e Alijani (2015), estudaram os benefícios da criação de imagens mentais em nove ensaios com 474 estudantes de Medicina, para a aquisição de habilidades cirúrgicas. A experiência mostrou que a imagem mental pode ser uma ferramenta suplementar importante de aprendizagem, quando realizada em conjunto com o treinamento físico.

A utilização de instruções verbais durante a realização de uma tarefa também é um aspecto importante a ser considerado na Demonstração. Para Magill (2000), Silva et al. (2013) e Spessato e Valentini (2013), o uso de pistas verbais, frases curtas e objetivas orientam o modelador na execução de sua tarefa. Elas são utilizadas com dois objetivos básicos: o primeiro é chamar a atenção para questões relacionadas à execução da tarefa, facilitando sua correção; o segundo é preparar o executor para a realização de um movimento específico fornecendo uma ideia do referido movimento. A eficiência de uma pista verbal depende da associação que o modelador faz entre a pista e o movimento, facilitando a execução do mesmo pela redução do número de instruções recebidas e focando a atenção na tarefa e seus movimentos.

Magill (2000), enumera alguns critérios para a utilização de instruções ou pistas verbais eficazes:

 O tamanho da instrução é importante, devendo conter uma ou duas palavras. A quantidade de pistas fornecidas deve ser mínima, evitando sobrecarga e dispersão da atenção;

 As pistas devem orientar uma sequência de vários movimentos;

 Devem focar apenas as questões mais críticas ou difíceis da tarefa a ser executada;

 Devem ser utilizadas para evitar a dispersão de atenção durante a execução;

 São úteis para montar uma estrutura rítmica específica para uma sequência de movimentos, como por exemplo, na dança;

 Elas devem melhorar o desempenho da tarefa e não interferir negativamente no desempenho da mesma.

Carroll e Bandura (1990), avaliaram o efeito de pistas verbais na modelagem dos movimentos e observaram que elas aumentaram a precisão cognitiva e a reprodução dos movimentos realizados pelos participantes do experimento.

Moura (2006), avaliou e utilização de pistas verbais como facilitador no ensino da dança e notou indícios de que o uso de dicas verbais pode ter efeito positivo, principalmente no que se refere à qualidade dos movimentos.

73

Janelle, Champenoy, Coombes e Mousseau (2003), avaliaram a eficácia das pistas verbais na precisão do passe de futebol. Nesse experimento, os grupos expostos a pistas visuais e verbais apresentaram menos erros e melhor retenção das atividades modeladas, favorecendo a reprodução das tarefas.

Xeroulis et al. (2007), avaliaram o efeito de pistas verbais para estudantes de Medicina na aquisição de habilidade para realizar suturas, e concluíram que a realização delas é mais eficiente com a presença das pistas.