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b) Dopamina; sistema de recompensa e núcleo acumbente

No documento O Poder das Emoções (páginas 165-168)

Embora diferentes neurotransmissores se liguem em série durante o mecanismo de recompensa do cérebro humano, talvez a mais

importante interação seja a da dopamina do núcleo acumbente, um grupo de neurônios que tem uma relação especial com as recompensas e motivações; nele se encontra uma das mais elevadas reservas de dopamina de todo o cérebro.

O núcleo acumbente localiza-se logo abaixo da parte frontal do estriado, uma parte dos gânglios da base. Os gânglios basais são estruturas importantes do setor subcortical do cérebro envolvidas nos movimentos, nas cognições e nas emoções, bem como outras funções. Se o núcleo acumbente é lesado em ratos, que normalmente calcam uma alavanca para receber drogas, tais como a cocaína, os ratos param de calcar, pois não mais sentem o prazer fornecido provisoriamente pela cocaína. A perda de dopamina nos neurônios da substância negra produz a diminuição dos movimentos, vistos na Doença de Parkinson O que os anatomistas chamam de área tegmentar ventral, a literatura psiquiatra chama de “sistema mesolímbico dopaminérgico”. O que ambos se referem é a projeção dopaminérgica das células na área ventral tegmentar (mesolímbica) do cérebro médio (situada medial para a substância negra) para o estriado ventral, o “gânglio basal do sistema límbico”.

Pois bem. Depois dessa série de termos que você não precisa memorizar, vamos retornar às explicações mais úteis. Pensa-se que essa projeção está envolvida nos sistemas de recompensa que de algum modo reforçam certas condutas. Aparentemente, o “alto” (“Tô numa boa”) produzido pelas drogas está também correlacionado com a ativação dessas projeções. Alguns pensam que a adição a uma droga pode possivelmente refletir uma contínua escalada na quantidade da droga necessária para ativar a projeção da dopamina (onde os estoques cada vez mais diminuem e, assim, mais estímulos serão necessários); mas há outras explicações teóricas, como a teoria do defeito semelhante ao transtorno obsessivo compulsivo.

existe mais de uma divisão de função: a capa e seu miolo, onde cada um desses setores tem funções diferentes. A capa exterior do núcleo acumbente parece estar envolvida sobretudo nas emoções, motivação e dependência (apetitivo); uma área com conexões diretas com

estruturas do sistema límbico (sistema emocional). Essa parte (capa) do núcleo acumbente é descrita como fazendo parte da “amígdala ampliada”, formando uma área importante para a aprendizagem (memória), em parte porque marca a informação vivenciada com um sinal de intensidade que diz ao resto do cérebro para prestar atenção e procurá-la ou, o contrário, fugir do encontro. Assim, ora é ativado o medo (através da amígdala), ora é ativada a aproximação (através da liberação da dopamina e noradrenalina).

Macacos com lesões no núcleo acumbente são incapazes de manter a atenção, o que os impede de executarem tarefas que não os recompensam, afetando, portanto, a motivação. Os macacos com lesões buscam o prazer imediato ao comer nozes descascadas, não prevendo os benefícios futuros caso guardem algumas nozes para serem ingeridas posteriormente e não de imediato.

Esse tipo de característica é observado nos obesos (comem e não queriam comer), drogaditos (usam drogas sabendo que serão

prejudicados), anti-sociais diversos e pacientes com lesões em certas regiões encefálicas. A meta de longa duração de fazer reserva de alimentos para os períodos de escassez (o que é, em última análise, mais importante) é incapaz de competir com o irresistível e desinibido sistema de recompensa que instrui o macaco para buscar o prazer e comer imediatamente a noz descascada; é como gastar todo o dinheiro que recebemos com qualquer coisa e depois ele nos faltar para as mercadorias essenciais; comer exageradamente e depois se arrepender pois não queria engordar. O independente (ou impulsivo e dominante) sistema de recompensa dos macacos derrotou (abafou) os sinais sobre o que era o melhor para sobreviver por muito tempo.

para aprenderem mais depressa e usarem mais áreas extensas do córtex durante a aprendizagem (talvez por maior despolarização e maior descarga de potencial). O sistema de recompensa produz sensações de prazer e, por isso, atribui um valor emocional positivo a um determinado estímulo (o sorvete; a companhia), e, ao mesmo tempo, nossa memória é ativada no instante que estamos nos sentindo bem. De outro modo, ao mesmo tempo é armazenado o estímulo da visão do saboroso sorvete e, também, o prazer do seu sabor agradável. Esses dois estímulos (sabor e visão) são reunidos ou associados e guardados em nossa memória passando a ser procurados conforme nossa fome e dinheiro. Se mais tarde o mesmo estímulo reaparece (sorvete), a memória dessas emoções viscerais fornece uma resposta de alegria (no caso do sorvete) ou de repugnância (diante do alimento estragado comido que nos levou a uma gastrenterite), isto é, conforme o organismo detecta, ao lembrar do caso ou diante dele, o prazer ou o sofrimento também aparece. Nesses casos, as sensações antecipadas do fato, ajudadas pela memória, irão nos levar a produzir um plano de ação para aproximarmos ou fugirmos do alvo cobiçado ou temido. Os viciados em cocaína e ou “crack” têm a sensação interna de que estão alcançando alguma meta, terminando algo difícil. Entretanto, eles estão sendo enganados; obtêm apenas a sensação de estar realizando metas importantes, quando realmente não estão fazendo nada. É o próprio conto do vigário, comem gato por lebre, pois na realidade esses viciados em drogas estão se afastando de metas possíveis e que poderiam fornecer dopamina e noradrenalina natural, produzidas pelo próprio organismo do indivíduo, nas dosagens

adequadas.

No documento O Poder das Emoções (páginas 165-168)