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Caso especial vivenciado por mim: um exemplo do descrito acima

No documento O Poder das Emoções (páginas 101-105)

Pedindo permissão ao leitor, vou dar mais um exemplo vivido por mim. Certa manhã, peguei um catálogo telefônico para procurar um endereço na Av. Alfredo Balena. Olhei na ordem alfabética os nomes começados com a letra A. Entretanto, não encontrei o nome “Alfredo Balena” e meu centro emocional gerou uma emoção negativa, por não encontrar o procurado como desejava.

Depois procurei na letra B, imaginando encontrar “Balena”; também não encontrei o nome da avenida; nova frustração e sofrimento. Em seguida, lembrei-me de outras vezes que havia procurado quando o nome era precedido dos títulos como: Desembargador, Comendador,

etc., antes do nome da pessoa. Diante desse pensamento, fiquei mais alegre (nova mudança no meu centro emocional) esperando encontrar a numeração procurada com o título: “Professor Alfredo Balena”. Meu centro emocional produziu mais sensações agradáveis quando observei que haviam muitos nomes precedidos do título “professor”. Imaginei que possivelmente encontraria o desejado. Fui passando um a um buscando o nome procurado. Enxerguei um nome familiar: “Professor Baeta Viana”. Ele foi um dos professores mais admirados durante meu curso na Faculdade de Medicina. Posteriormente, quando me tornei professor da Faculdade, tive com o professor Baeta Viana diversos encontros e papos altamente interessantes. Desse modo, lembrando do professor, minha mente foi inundada por essas lembranças presas às emoções e meu centro emocional se transformou; uma mistura de sentimentos agradáveis e de outros tristes e pesarosos pela sua ausência.

Mas meus olhos foram até a rua Prof. Amaro Xisto de Queiroz; novas recordações. Amaro Xisto foi meu companheiro quando, eu e ele, fomos professores da Faculdade de Filosofia. Lembrei-me em segundos de um concurso que fiz na Medicina e, para mim injustamente, não fui classificado. Entrei com um recurso que foi julgado pelo Conselho Universitário da UFMG. O professor Amaro Xisto foi um dos que mais defendeu meus direitos. Ganhei o recurso desejado; o concurso foi anulado, sendo 37 votos a favor da anulação e 9 contra. Novas emoções; lembranças do novo concurso realizado. No segundo

concurso, com nova banca, fui aprovado. Todas essas recuperações de memória e de emoções surgiram na minha mente e não duraram mais que uns pouquíssimos segundos; levei muito mais tempo para escrevê- las. Meus olhos apressados continuavam a procurar a “Avenida Alfredo Balena” e o endereço desejado.

Antes de lá chegar entrei em outras ruas e avenidas. Encontrei um outro nome que me emocionou positiva e negativamente: Rua Prof. Lincoln Continentino. Este foi o presidente da banca examinadora

quando fiz o concurso para Livre-Docente em Psicologia da Faculdade de Filosofia da UFMG. Passei nesse concurso, mas não consegui as notas desejadas e imaginadas. Achei que a banca não aceitou minha espontaneidade e críticas; eu era um jovem cheio de planos, acabara de completar 31 anos. Uma vez no cargo de professor titular, fui aos poucos entrando num grupo que não era o meu, fruto de minha origem humilde.

Finalmente cheguei onde queria: Prof. Alfredo Balena. Novas recordações; seu olhar, sua mão carinhosa passando pelos meus ombros magros. Procurei-o após ver o resultado do vestibular de Medicina. Fui até seu gabinete reclamar as notas obtidas. Ele recebeu- me cordialmente. Ao examinar as notas, ele, espantado com minha reclamação, constatou que eu tinha passado. Sem entender minha ida até ele, perguntou-me, num tom de voz paternal, ou melhor, quase maternal:

Mas…Você passou!

Sim, passei. Estou reclamando das notas. Resmunguei olhando para chão; começando a ficar envergonhado.

— Ora meu filho, vá para casa. Comemore junto com sua família seu ingresso na Faculdade.

Saí chateado por não ter conseguido o desejado.

Tudo isso me veio à cabeça a partir das representações nascidas a partir do nome e, ao mesmo tempo, ligadas às emoções advindas da leitura de cada nome no catálogo. Tudo muito rápido. Uma emoção era, instantaneamente, transformada em outra conforme as imagens representadas em minha mente iam surgindo, diante de cada nome observado e automaticamente.

Quando consultei a lista telefônica eu estava em casa, calmo e com tempo para tantas recordações. Entretanto, se porventura estivesse

na Av. Alfredo Balena, como já fiz milhares de vezes, essas emoções não me viriam à cabeça. A minha presença física no local concreto, Av. Alfredo Balena, obriga-me a prestar atenção no trânsito, nos “trombadinhas”, nos objetivos propostos, etc. Esses não permitem ao meu cérebro retornar ao tempo e às emoções antigas. Os estímulos do momento não me deixam “assistir” em paz a cada cena representada neste filme, no qual, durante cada parte, vão se desencadeando diversas emoções ligadas ao vivenciado.

Um outro ponto importante enquanto procurava o endereço: bastou ler o título “professor” para preparar minha mente para focalizar certo tipo, padrão ou modelo de lembranças, todas elas relacionadas, principalmente, com minha vida de aluno e professor. Entretanto, ao abrir o catálogo telefônico de endereços, onde se encontra o termo “desembargador”, por exemplo, minha mente e atenção se focalizam nos problemas de disputa que tive algumas vezes na vida; todas desagradáveis no contato com advogados, juízes e desembargadores. Se você sente uma mudança no seu “coração afetivo” ao ler cada nome ou uma cena que lhe traz lembranças boas ou ruins, esses disparos das emoções são menores, em grandeza, que as vividas diante da percepção real dos eventos descritos. Não se pode comparar a agonia de ver alguém torturar seu filho e ler uma frase sobre isso, ou ler sobre a beleza das águas azuis e as ondas do mar e, por outro lado, estar vendo, sentindo o odor e ouvindo o barulho do mar.

Uma grande parte de nomes nos provoca, imediatamente, sem querer, emoções diversas. Eis algumas e prepare-se para tê-las: mãe, filho, pai, casamento, nascimento, moradia antiga, juventude, velhice, doença, morte, passeio, namorada(o), Natal, aniversário, concurso, formatura, repetência, amigos, separação, briga, hospital, acidente. Paro aqui! Fiquei emocionado com tanto estímulo. Deixo outros exemplos para você.

A Qualidade Afetiva e

No documento O Poder das Emoções (páginas 101-105)