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Oxitocina ou ocitocina

No documento O Poder das Emoções (páginas 195-200)

A oxitocina é produzida principalmente no cérebro (núcleos supra- ótico e parvoventral do hipotálamo) e nos ovários e testículos. Ela tem uma importante ação na conduta de afiliação ou, de outro modo, na associação da cria com sua mãe ou com outro criador. A produção da oxitocina também facilita a resposta sócio-sexual nos répteis, pássaros e, também, nos seres humanos.

Além disso, a oxitocina liberada durante o parto apresenta um efeito sobre a contração uterina e na produção do leite materno. A oxitocina é ainda liberada durante a estimulação dos órgãos sexuais (mamilos, clitóris, pênis) e durante o orgasmo, quando há um aumento de sua produção e liberação, tanto nas mulheres como nos homens.

A oxitocina, por todas essas ações, é vista por muitos como

funcionando “como um selecionador” ou estabilizador das preferências relacionadas às ligações amorosas. Assim, quanto mais o namorado fica apaixonado, perdido ou seduzido pelo outro, mais elevados serão os níveis de oxitocina produzida e liberada em seu organismo. Parece que, conforme haja maior produção de oxitocina, haverá maior atração e apego ao companheiro (o responsável pelo estado corporal sentido) não só pelo prazer obtido, mas, também, pela calma que ocorre no amante sortudo. A oxitocina é uma forte candidata para mediar os sentimentos de aceitação nas ligações sociais. De modo simples: amamos uma pessoa porque a presença dela leva nosso organismo a produzir oxitocina. Esta, uma vez liberada, nos transforma numa pessoa feliz e calma. Desse modo, “amamos” uma pessoa porque ela transforma nosso organismo do mal-estar para o bem-estar.

Enquanto um beliscão aumenta os níveis de cortisol preparando o animal para atacar ou fugir, uma escovada, ao contrário, diminui os efeitos ruins do beliscão, possivelmente devido ao efeito antiestresse da oxitocina. Um carinho ou um sorriso espontâneo nos faz bem, nos tranquiliza, devido ao aumento da oxitocina cerebral que produz

uma diminuição da ansiedade. Além disso, a produção da oxitocina devido ao sorriso, ao tom agradável da voz ou ao assunto interessante ventilado irá diminuir a pressão arterial e produzir aumento da insulina circulante, possivelmente devido à ativação do vago. Mas o poder da oxitocina vai mais longe. Através da amamentação ou de massagens delicadas realizadas em humanos, cães, gatos e ratos, ao elevar os picos de oxitocina cerebral, liberadas pelo contato amável do corpo, produz efeitos calmantes e altamente agradáveis. Quem experimentar, verá.

Os estudos mostraram que esses efeitos agradáveis e calmantes produzidos pela liberação desse peptídeo são bloqueados

(interrompidos) pela liberação do cortisol, da prolactina e por qualquer outro antagonista da oxitocina (substâncias liberadas durante o

beliscão, a briga, a conversa e visita chatas, a gritaria, o discurso político e milhares de outros aborrecimentos). O estado corporal do “anti-oxitocina” é sempre acompanhado por tensão muscular e transtornos viscerais (hipertensão, acidez do estômago, espasmos intestinais, taquicardia, etc.) além de dificuldade para solucionar problemas.

O efeito da oxitocina, como descrevi, assemelha-se aos elixires lendários ao liberar uma série de condutas sexuais e maternais, além de facilitar as interações sociais e induzir as ligações entre os parceiros amorosos. Para exemplificar: um roedor denominado arganaz, após um primeiro dia de cópula com a fêmea, permanece junto a esta até a morte – como muitos amantes, até que a morte os separe – e o macho fica hostil a todos, menos para sua parceira que é ajudada tanto em torno do ninho quanto nos cuidados da prole. A fêmea também não procura outro rato macho. Segundo as pesquisas, se colocarmos a fêmea fiel do rato macho diante de outro rato, ela o agride e não aceita seus carinhos. Entretanto, se fizermos a mesma experiência e injetarmos na fêmea oxitocina, ela se transforma e aceita a proposta do rato estranho. Isso indica que a conduta dela, como a nossa, é, em grande parte, comandada por nossos estados emocionais e

estes, por sua vez, são desencadeados pela produção e liberação de determinadas substâncias químicas.

Para muitos, o amor, a generosidade, a bondade, a compaixão, a honestidade e outras características humanas louváveis, examinadas sob o ângulo do “espírito” ou “alma”, ou, ainda, “mente”, não são mais do que o resultado de uma regulação neurobiológica orientada para a sobrevivência. Isto é, ela ajuda a pessoa a descobrir quem faz ela se sentir bem. Na realidade, esta conduta, como ficar perto de quem gosto e fugir de quem não gosto, é uma atitude bastante egoísta, ainda que ajude o outro também. Mas agimos assim porque nos faz bem, pois a pessoa se apega a outra porque o contato está sendo muito bom para ela mesma. Sempre vigora o egoísmo. Para essa idéia não existe altruísmo. Este sempre é uma escolha que agrada ao executor denominado bonzinho, caridoso, etc.

Endorfina

A endorfina ou morfina endógena teve esse termo cunhado em 1970 como uma morfina produzida pelo corpo. Os opiáceos endógenos são formados por uma cadeia de 91 aminoácidos (formados pelos aminoácidos que dão origem ao ACTH e ao MSH, isto é, hormônio estimulante dos melanócitos). A endorfina é um poderoso analgésico, mais potente que a morfina e mais aditivo que a heroína. A dor é regulada pela endorfina, onde interneurônios contendo encefalina inibem a liberação do peptídeo neurotransmissor, a substância P, que leva a mensagem da dor.

Um outro efeito da endorfina, importante para o aqui discutido, é seu efeito produtor de euforia e de paz e, também, sua maior liberação diante de pessoas que nos são simpáticas e agradáveis. Desse modo, a endorfina e também a oxitocina atuam como fatores importantes na manutenção das ligações afetivas.

É sabido que o feto dentro do útero materno está submerso num líquido contendo um alto nível de endorfina. Podemos imaginá-lo tranquilo, protegido contra dores e, presumivelmente, eufórico, além de não respirar. Aos nascer, há uma queda repentina da endorfina anteriormente existente, um fato que pode ser traumático para mãe e filho. Os altos níveis de endorfinas anteriores podem ser recuperados através dos contatos e das comunicações mãe/filho (abraços,

amamentação, etc.).

Como essa ligação afetiva é uma experiência extremamente prazerosa para ambos os envolvidos, a criança recém-nascida tende a procurar e manter novas e novas relações pelo resto da vida, já que elas podem - nem sempre isso ocorre - ser uma importante fonte de euforia e paz, aliviando os sofrimentos que vão aparecendo devido aos estresses surgidos.

oxitocina e endorfina), por outro lado, é aversiva e dolorosa, o que certos autores chamam de “pânico”. Quando ocorre a separação, os mamíferos e as aves, particularmente as mais novas, emitem vocalizações (choro, latido, etc.) sinalizando o sofrimento existente. Esse pedido de socorro não ocorre entre os répteis, pois a maioria deles nasce auto-suficiente, sem necessidade de cuidado parental e o chamado deles poderia levar os adultos a comerem os próprios filhotes.

Portanto, os passarinhos, pintinhos, gatinhos e cachorrinhos, bem como os macacos e as crianças, diante da separação, miam, piam, uivam, grunhem e choram numa tentativa de informar seus sofrimentos para o meio, sugerindo uma ativação do cuidado maternal- paternal.

A região cerebral associada a esse tipo de sofrimento, ou chamada de socorro, é rica em opióides endógenos, como as endorfinas e, talvez, também a oxitocina, segundo outros autores. Esses sussurros, implorando ajuda, associam-se, durante o sofrimento da separação, a uma menor produção de opiáceos endógenos no septo e no cíngulo, regiões ricas desse peptídeo. As vocalizações são reduzidas pela aplicação de pequenas doses de morfina, e, por outro lado, há um aumento das vocalizações, ou seja, do sofrimento, com doses de naloxone, um antagonista da morfina (usado para tratamento de

alcoolismo). Assim, o naloxone produz um efeito semelhante ao da separação.

A evolução dos mamíferos associou-se a uma diversidade notável dos mecanismos de ligação afetiva (amorosa/carinhosa) diminuindo em parte nossas tendências egoístas puras. Coletivamente, esses mecanismos de ligação, biologicamente assentados, ou seja, não- aprendidos, determinam a motivação da pessoa para aproximar-se ou ligar-se às pessoas da mesma espécie através da troca de carinhos biológicos que têm sido chamados de afetos pró-sociais.

Podemos especular que o sistema opióide (produtor e liberador de endorfinas) constitui um substrato fisiológico para a afiliação e coesão social levando o organismo a sentir segurança e tranquilidade, mesmo quando esta não existe, isto é, quando ele supõe.

Como a necessidade e o prazer de pertencer ou de ligar-se a alguém importante para a pessoa é forte, a ação em busca da ligação exige do indivíduo solicitador fazer concessões ao outro para tê-lo junto de si. Essa avaliação das perdas e dos lucros, feita geralmente

automaticamente, força a pessoa a procurar alguém ou algum grupo e fazer parte dele. Caso a pessoa não faça o pretendido pela fonte de ligação, ou seja, não se submeta também às necessidades do outro, poderá sofrer mais ainda do que ao ceder alguma coisa. Neste caso, o solicitador do contato, devido ao seu “egoísmo burro”, poderá ficar sem sua importante fonte de prazer e de proteção, isto é, seu principal antídoto contra os estresses. De um modo mais simples, podemos dizer que uma pessoa procura a outra (ou outras) para receber através dela sua cota de endorfinas e ou de oxitocina, para assim poder ficar tranquila e eufórica. Pensando assim, seria absurdo e irracional buscar um relacionamento que provoca seu oposto: raiva, decepção e tristeza, ou seja, sentimentos de abandono.

Esses afetos, os pró-sociais, que considero aqui como afetos egoístas, estão presentes virtualmente em nosso organismo o tempo todo, isto é, sempre estão prontos para agirem, mas são despertos ou atuam no contexto de uma relação social particular. Podemos sempre perguntar- nos como nos encontramos ou nos sentimos com respeito ao “amor” e às nossas ligações íntimas, mas esse estado ocorre somente em relação a alguém com o qual nós temos ou imaginamos ter uma relação

específica pessoal ou social.

Agindo em direção a outras pessoas, seja para conversar, namorar, etc., estamos assentados na emoção de ligação afetiva (afiliação), contribuindo para a produção de sentimentos básicos em nós mesmos e na outra pessoa, a quem estamos ligados. Essa ligação pode provocar

No documento O Poder das Emoções (páginas 195-200)