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Classificação dos neurotransmissores

No documento O Poder das Emoções (páginas 160-165)

Os neurotransmissores de maior interesse para o comportamento têm sido divididos em duas amplas categorias:

1. Catecolaminas: DA (dopamina), NA (noradrenalina) e AD (Adrenalina)

2. Indolaminas: incluindo histamina e 5HT (serotonina)

Para facilitar as explicações, descreverei, seguindo uma outra ordem, apenas os neurotransmissores noradrenalina (NA), serotonina (5HT) e dopamina (DA).

1) Noradrenalina; sistema noradrenérgico,

lócus cerúleos; grupo das catecolaminas

O lócus cerúleo (lugar azul) contém a maioria, mas não todos os neurônios noradrenérgicos do cérebro. O lócus cerúleo é um par de pequenos núcleos localizados na parte rostral (rostro, extremidade anterior frente) da ponte, na orla da formação reticular dorsolateral, perto do aqueduto cerebral. Esses neurônios pigmentados enviam projeções para o córtex cerebral, tálamo, hipotálamo, cerebelo, cérebro médio e medula espinhal. Este é o mais disperso (espalhado) de todos os sistemas de moduladores difusos, e potencialmente pode estar envolvido, de algum modo, na atenção, no alerta, sono, memória, aprendizagem, ansiedade, dor, humor e no metabolismo cerebral. Contudo, experimentos com macacos sugerem que os eventos

específicos que a maioria dessas células ativa é a presença do novo, do estímulo sensorial inesperado.

2) Serotonina e sistemas serotoninérgicos:

grupo das indolaminas

Há mais de uma dezena de receptores isolados de serotoninas divididos em 7 famílias principais. As alterações nesses

neurotransmissores ocorrem numa variedade de transtornos

psicológicos que vão desde transtorno de personalidade, a ansiedade,

depressão, transtorno da alimentação, esquizofrenia, psicoses

induzidas por drogas e, também, sensibilidade à dor e transtornos do sono.

Parece haver, além disso, uma relação entre os níveis de 5HT (serotonina) e o poder. Foi constatado que no sangue do macaco macho verver dominante há duas vezes mais serotonina que nos macacos dominados. Parece que um aumento da noradrenalina fornece uma postura oposta à de dominância: a de submissão. No macaco líder, a 5HT elevada parece ser mantida pela conduta submissa recebida de seus seguidores. Tudo indica que o mesmo acontece entre os homens.

Se o macaco líder é removido do grupo, sua serotonina cai para o normal. Mas caso o líder seja afastado e, ao mesmo tempo, a produção e a liberação da serotonina seja aumentada em um dos subordinados, fornecendo a ele triptofano, que é um precursor da serotonina (5HT), mais algum medicamento que funciona como inibidor seletivo da recaptação de serotonina (fluoxetina, sertralina, paroxetina e outros), o macaco medicado tende a adquirir o poder que estava nas mãos do macaco dominante e, assim, o antigo dominante torna-se “um João ninguém qualquer”. O mesmo evento foi demonstrado nas lagostas. Entre os animais, o mais poderoso e dominante, ao contrário da sabedoria popular, não é o mais forte e mais agressivo. Entre os lobos, o macho dominante é muitas vezes político e constrói coligações para receber cooperação dos outros em suas caçadas e na defesa de predadores.

Há estudos que especulam que as mulheres, por serem mais

submissas, apresentam mais transtornos depressivos que os homens. A postura submissa da mulher ao homem, defendida e incentivada por várias religiões, como sendo a maneira correta do casal viver, foi pensada como principal fator da queda da liberação da serotonina (como relatado nos macacos) e, consequentemente, do aparecimento da depressão (tristeza, apatia, cansaço, dores diversas, irritabilidade e impulsividade, insônia, etc.).

Mas, além disso, uma serotonina baixa associa-se à impulsividade. Esta nada mais é que uma menor habilidade e abertura de atenção às diversas possibilidades de ações diante de problemas; o mesmo acontece com uma baixa em dopamina.

Foi sugerido também que uma 5HT baixa funcionaria produzindo maior sensibilidade à rejeição. Nessa condição, descrita mais frequentemente entre as mulheres, a pessoa fica altamente vulnerável à não aceitação ou à perda. Esses sintomas e outros deram origem ao “Transtorno da Personalidade Borderline” ou “Personalidade Limítrofe”. Esses pacientes geralmente apresentam também outros transtornos ao mesmo tempo, como os Transtornos da Personalidade Histérica, Narcisística e Anti-Social.

Os pacientes denominados “limítrofes”, bem como os chamados de anti-sociais, narcisistas e histéricos, parecem ter um fator comum: uma extroversão extrema. Se essa idéia é correta, podemos especular que esses transtornos emocionais e cognitivos se associam ao fracasso dos extrovertidos para estabelecerem ligações apropriadas com as pessoas desejadas. Podemos então deduzir que é o fracasso em conseguir ligações com essas pessoas, mais do que a extroversão em si, que deve estar associado a uma baixa da serotonina produzida ou liberada nas sinapses neuronais dessas pessoas.

A idéia supõe que o meio social normal de todo dia (principalmente os relacionamentos entre pessoas queridas) mantém continuadamente

um nível apropriado de liberação de serotonina. Ora, se a pessoa é amada e respeitada pelos que têm importância para ela, seus níveis de 5HT tendem a ficar mais elevados e, talvez, devido à taxa mais alta de serotonina, torná-la menos extrovertida; caso isso aconteça, ela se torna mais introvertida que extrovertida. Agora, pensando o oposto do acima descrito: caso a pessoa não consiga as ligações desejadas, ou seja, haja rejeição, os níveis normais de serotonina abaixam-se diante do fracasso em manter os contatos sociais desejados. Ao mesmo tempo, há uma tendência ao aparecimento de condutas associadas à agressão impulsiva, a maior sensibilidade à rejeição, ao pavor de ficar só e outros diversos sinais e sintomas descritos entre os pacientes com Transtorno de Personalidade “Borderline”. Há um livro sobre os “Borderlines” com um título interessante, que eu não me lembro de modo exato, mas lembro-me da mensagem: “Odeio-te, mas não posso viver sem você”. Esses pacientes, eu já tive alguns, são hipersensíveis a qualquer fato mínimo, que são interpretados como rejeição, pouco caso. Nestes casos, caso o casal brigue e os cônjuges se separem, o paciente entra em profundo desespero pela perda; muitas vezes, parte para a agressão do cônjuge e ou para agredir a si mesmo, como, por exemplo, tentando o suicídio; algumas vezes, acaba por suicidar-se. As idéias acima imaginadas como hipóteses buscam relacionar os fatores situacionais sociais (perda de contatos importantes) com fatores biológicos importantes (queda da serotonina liberada) no controle do comportamento. A sabedoria convencional sugere que a conduta está sob controle do inato e do aprendido, ora é um, ora outro, o mais forte ou mais poderoso. Se uma pessoa pobre apresenta um nível baixo de 5HT, alguém poderia argumentar que sua pobreza é biologicamente fundada. Entretanto, correlação não prova causalidade e é possível que fatores associados à pobreza, como a falta de poder, a privação (miséria, falta do necessário à vida) das crianças, a dieta pobre, o isolamento social e o emprego que exige grande esforço com baixa decisão, tudo isso poderá contribuir para um baixo nível da serotonina cerebral.

3) Dopamina: sistema dopaminérgico

a) Introdução

A dopamina faz parte dos organismos vivos há perto de um bilhão de anos. As idéias atuais colocam o sistema dopaminérgico assentado na expectativa de algo, isto é, a busca de algo pretendido, inclusive o término de uma tarefa não desejada ou desagradável, como tomar um banho frio ou, pior ainda, terminar a declaração do imposto de renda. A dopamina é liberada nas sinapses neuronais em diversas

circunstâncias, indo do encontro ansiosamente desejado e esperado até a entrega da declaração do imposto de renda, por ficar livre do mal-estar que ela nos causa. A dopamina, relacionada à expectativa de algo, é mais liberada quando o animal sai à procura de alimento, do sexo ou de qualquer outra coisa pretendida; também é liberada quando estamos envolvidos numa tarefa chata e desagradável que queremos ou precisamos terminar, como terminar o trabalho na sexta- feira à tarde.

Mas ela é liberada ainda quando a mente representa – ainda sem agir – o que se deseja alcançar, ou seja, quando criamos uma visão interna do que pretendemos. Nesse caso, antes do comportamento concreto, nós antecipamos mentalmente o roteiro a ser seguido através de uma ou outra conduta. Por isso agimos indo atrás do imaginado, idealizado ou pretendido. A pessoa que produz pouca dopamina tem dificuldade de seguir um caminho determinado por muito tempo.

A função atual da dopamina do homem – esperar alcançar algo – é, seguramente, um desenvolvimento evolucionário de outros sistemas neuroquímicos mais primitivos que lhe deram origem. Possivelmente, de outras catecolaminas arcaicas como a adrenalina, que antes servia como mediador do alerta do organismo e ou do despertamento metabólico. O alerta do organismo nada mais é que a demonstração clara de que o animal está vivo, isto é, pronto para agir.

A DA promove respostas não só para a iniciação de ações positivas, mas também das negativas; do mesmo modo a NA (noradrenalina) pode aumentar a sensibilidade tanto para os estímulos negativos como para os positivos. De outro modo, diante de uma atividade atraente, como terminar um curso, encontrar a namorada pretendida, casar-se, etc., o organismo aumenta seus níveis de DA e NA nas sinapses neuronais; do mesmo modo, diante de atividades ruins, como estudar para o vestibular, fazer ginástica e, depois, tomar um banho frio, etc., o organismo também aumentará os níveis desses dois neurotransmissores para possibilitar as ações do organismo antevendo o término da conduta desagradável, isto é, ficar feliz por terminar a tarefa ruim. Portanto, a produção de dopamina é sentida pelo organismo como agradável. Não é para admirar perceber que sua produção aumenta ao fugirmos de um fato ruim, pois ficamos alegres quanto mais distantes estivermos do fato insuportável.

Os sentimentos fazem parte da vida diária das pessoas; talvez todos os processos da cognição e da motivação estejam misturados ou comandados pelos estados emocionais experimentadas pelo indivíduo. Várias pesquisas mostraram que a produção mais acentuada de

noradrenalina e de dopamina, que elevam o afeto positivo, orienta nossa maneira de pensar, como obter uma melhor e maior criatividade na solução de problemas, e, também, torna mais interessante e

agradável os envolvimentos com pessoas e eventos.

Quando há níveis baixos de competição ou de desafios e exigências, o aumento de NA (noradrenalina) tende a ser agradável, entretanto, nos níveis altos de exigência, o aumento de NA poderá causar ansiedade, ou seja, um aumento exagerado irá produzir uma baixa eficiência da conduta e, geralmente, ansiedade.

No documento O Poder das Emoções (páginas 160-165)