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Um exame de dados experimentais

No documento O Poder das Emoções (páginas 49-53)

Uma experiência na qual os sujeitos tomaram uma droga de ação semelhante à morfina, e ao mesmo tempo foram submetidos à dor, mostrou que a droga reduziu a sensação de dor e provocou uma ativação da região da ínsula e da região S II (houve uma dor – sensorial – e uma emoção desagradável). Em outra experiência foram produzidas vibrações no corpo junto com o uso da mesma droga. Nesse caso, a droga semelhante à morfina não exerceu nenhum efeito, nem na percepção da vibração nem na ativação da região S I (a vibração é sensorial, a droga não atua nesse caso).

Esses resultados revelam claramente a separação fisiológica dos sentimentos relacionados ao sofrimento e prazer de um lado e dos “sentimentos/sensações” relacionados às sensações táteis ou vibratórias de outro lado, bem como regiões diferentes ativadas, num e noutro caso.

A hipótese é que a ínsula e a região S II associam-se aos sentimentos de desprazer e de prazer (agradabilidade e desagradabilidade),

enquanto que a região S I está associada somente ao sensorial (como o tato e/ou a vibração).

Numa experiência verificou-se que o uso de benzodiazepínicos (Diazepam, Lexotam, Frontal, Lorax e outros) diminuiu o componente

afetivo da dor e algumas vezes não foi nem sentido; um fato que depende da pessoa e da dosagem (como ocorre no uso de Dormonid – usado antes de se submeter a exames laboratoriais, biopsias do estômago, próstata e outros). Também sabemos que uma pessoa, após fazer uso de bebidas alcoólicas, apresenta uma menor sensibilidade à dor, por isso mesmo se envolve, sem perceber, em diversos acidentes. Em todos esses casos citados, entretanto, a sensação da dor se mantém intacta; o que ocorre com o uso de benzodiazepínicos (Lexotan, Dormonid e outros), bem como do álcool, é que, nesse caso, a dor é sentida, mas o córtex-organismo não dá bola à dor e não se preocupa com ela, como se nota entre os embriagados.

Um outro fato interessante é o da diminuição da dor (analgesia) quando o animal (homem ou outro) encontra-se dominado por um forte medo (talvez mesmo outras emoções). Não é raro que uma pessoa, ao fugir de um perigo ou ao salvar outras pessoas acidentadas e feridas, não note que ela própria foi ferida durante o período de fuga ou de salvamento. Essa analgesia tem um valor de possibilitar a ação do indivíduo durante certo tempo, permitindo-lhe resolver os problemas mais graves e imediatos que a própria dor existente num certo instante.

O sentimento de sede está também associado a alterações

significativas no córtex do cíngulo e no córtex da ínsula. O estado de sede resulta da detecção do desequilíbrio do metabolismo da água e de um jogo sutil de hormônios, como a vasopressina e a angiotensina II em regiões do cérebro como o hipotálamo e a de uma região em torno do aqueduto cerebral cujo papel fisiológico é o de pôr em ação o mecanismo do alívio da sede; uma série bem coordenada de secreções hormonais e programas motores.

Também, a sensação de alívio ao esvaziar a bexiga encontra-se relacionada com a atividade neural no córtex do cíngulo. Não se importe, como já disse, para os nomes dessas estruturas; você não irá submeter-se a nenhum exame ou prova burra. O uso desses termos

facilita minha explicação, bem como a compreensão do mecanismo existente, olhado como um conjunto de diversas atividades neurais. Basta essa compreensão; a retenção desses nomes é irrelevante para o desejado.

O apetite sobre filmes eróticos relaciona-se com o córtex do cíngulo e da ínsula, mas, também, durante a excitação erótica entram em ação os córtices orbitofrontais e núcleos da base. Portanto, não há mais dúvida que as regiões somatossensoriais estão envolvidas no processo de sentir as emoções e que nos seres humanos o córtex da ínsula e do cíngulo desempenham papéis notáveis.

Na experimentação de tristeza ocorreu uma desativação muito significativa do córtex pré-frontal. Por outro lado, na condição

experimental de felicidade, notou-se uma ativação da mesma região. Isso sugere que os circuitos do córtex pré-frontal estavam durante uma e outra emoção mais ou menos ativados. Esse resultado está de acordo com a suposição de que a produção ou fluidez das idéias encontra-se reduzida na tristeza e aumentada durante a alegria.

Sintetizando: uma e outra emoção, como a alegria e a tristeza, o agradável e o desagradável, começam com a apresentação de um estímulo emocionalmente capaz de perturbar o organismo, desequilibrando-o, por algum tempo, geralmente desativando, em parte, a cognição. Por outro lado, ocorre uma ativação da cognição quando temos que pensar sobre um acontecimento buscando analogias, comparações, avaliações e, nesse caso, ocorrerá uma desativação das emoções antes existentes.

O estímulo emocional atua no organismo executando um programa preexistente de emoção. Por seu turno, a emoção gerada faz disparar inúmeros sinais oriundos de diversas partes do corpo, como os batimentos cardíacos, mudança respiração, do tom de voz, de contrações musculares, das sensações de dor, de liberação de neurotransmissores, peptídeos, glicose, perturbações intestinais, no

aparelho urinário, etc. Essas mudanças promovem, consequentemente, a construção de uma série de mapas neurais do que está ocorrendo no organismo.

O que chamamos de “tristeza”, com suas variantes ligadas às emoções negativas, como o medo, ansiedade, culpa e desespero (emoções relacionadas ao sofrimento, isto é, desagradáveis), formam mapas com uma determinada configuração de um estado mental. O mesmo ocorre com o que chamamos de “alegria” e suas variantes; histórias compostas ligadas aos prazeres.

As emoções são, resumidamente, os motores que buscam restaurar o equilíbrio e a harmonia perdida por instantes pelo organismo. Não se referem necessariamente à harmonia ou ao desacordo dos objetos e das situações exteriores (as do lado de fora ao organismo), embora seja evidente que também o podem fazer: as emoções dizem respeito à harmonia e à desarmonia que ocorrem no interior do corpo.

Pessoas apresentando lesões cerebrais nas regiões importantes para a produção de emoções agradáveis e desagradáveis têm suas vidas deterioradas, principalmente quanto às relações sociais. Uma pessoa incapacitada de produzir emoções e, consequentemente, não podendo avaliar o que estaria sentindo caso seu organismo estivesse íntegro, não sabe que caminho tomar diante das mais diversas situações, como, por exemplo, quando confiar e quando desconfiar de uma pessoa. Além disso, não mais terá capacidade para se sentir feliz ou infeliz, possuída de alegria ou sofrimento conforme se relaciona com as pessoas que se encontram ao seu redor.

Um outro problema observado nos indivíduos apresentando lesões cerebrais diz respeito à dificuldade de planejar a curto e, principalmente, por um longo período de tempo. Alguns desses pacientes podem resolver satisfatoriamente problemas teóricos, indicando uma boa lógica e raciocínio (bom desempenho cortical, que está intacto), entretanto, falham totalmente diante de problemas

concretos e reais e num tempo real (execução de uma continuada tarefa na qual cada resultado servirá de início da tomada de um novo caminho). A razão dessa deficiência está na impossibilidade desses pacientes em ativar memórias emocionais pré-existentes diante dos problemas reais da vida presentemente enfrentados.

No documento O Poder das Emoções (páginas 49-53)