• Nenhum resultado encontrado

Ricardo Alexino Ferreira – Biografia

No documento Download/Open (páginas 113-118)

CAPÍTULO III – Antropologia da Comunicação na USP

7. Focos irradiadores da Antropologia da Comunicação

7.4. Ricardo Alexino Ferreira – Biografia

Ricardo Alexino Ferreira nasceu em São Paulo, no dia 01 de junho de 1964. Ainda criança, mudou-se para Belo Horizonte, onde realizou todos os seus estudos até a conclusão do curso superior.

Minha mãe, Olinda Maria dos Santos Ferreira, era branca, e meu pai era negro. Sou filho de um casamento inter-racial. O interessante é que a minha mãe sempre se colocava como negra em muitas situações, ainda mais se ela sentia alguma sensação de racismo rondando. Ela era enfermeira, e uma mulher muito adiante do seu tempo. Meu pai, Paulo André Ferreira, é eletricista, e um homem com uma visão profunda, também.

73

De acordo com Ferreira, uma característica preponderante das famílias negras da classe média, que hoje em dia se mantém, mas que na década de 60 era mais evidente, é o investimento maciço na educação das crianças. Tal fenômeno tinha como intuito evitar com que os filhos sofressem as mesmas barreiras enfrentadas em épocas anteriores pelos pais, que tiveram pouco ou nenhum acesso à escola. A família de Ferreira não fugiu à regra:

Um fato importante nas famílias negras antigamente, e até hoje persiste, é o

investimento na Educação. Era uma regra. Somos cinco irmãos, e a nossa obrigação era estudar. Havia um investimento muito grande nisso. Diferentemente de outras famílias, eu não enfrentei dificuldades para estudar. Éramos de classe média. Nada faltava com relação à escola. Eu fui preparado para chegar aonde cheguei. Devo muito aos meus pais por essa visão. (Ferreira, 2008)

Em 1983, o docente ingressou no curso de jornalismo da Fundação Cultural Belo Horizonte:

73

Era uma instituição extremamente forte, porque os professores eram os melhores profissionais do mercado, e também, pessoas que davam aulas em outras universidades. Em São Paulo, o meu curso universitário me possibilitou entrar, logo quando cheguei à cidade, trabalhar como jornalista nos jornais “O Estado de São Paulo” e “Jornal da Tarde”, um dos maiores grupos de comunicação do país. Posteriormente, trabalhei em veículos especializados e assessorias de comunicação. (Ferreira, 2008)

Estabelecido novamente, em São Paulo, no ano de 1988, Ferreira ingressa no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da ECA-USP, nível de mestrado, com a orientação da Professora Solange Couceiro. Em seguida, deixa o seu trabalho no jornal para se dedicar, exclusivamente, ao mestrado.

Um ano após defender a sua dissertação de mestrado, em 1994, Ferreira inicia os estudos doutorais na mesma instituição, mas dessa vez, com a orientação da Professora Dra. Maria Aparecida Baccega.

Ferreira seguiu a carreira docente, lecionando em São Paulo na Universidade Bandeirante de São Paulo (Uniban) e nas Faculdades Integradas Alcântara Machado (Fiam). Atualmente, Ferreira faz parte do quadro docente dos cursos de graduação de Comunicação Social, e do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu, nível de mestrado, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), campus de Bauru. Ademais da atividade docente, na UNESP, o pesquisador é o responsável pela direção da Rádio UNESP.

7.4.1. Ricardo Alexino Ferreira – Pensamento:

Na década de 80, do século passado, a maioria dos mestrandos já exercia algum tipo de atividade docente. Ferreira foi o oposto dessa tendência: o investigador era um profissional do mercado (trabalhava em um periódico) quando começou a cursar a pós- graduação.

O pessoal do jornal perguntava qual era a razão pela qual eu estava o mestrado. Naquela época o mestrado era visto como algo voltado apenas para a docência. Eu tinha a convicção de que eu não queria ser mais um jornalista. Eu entendia que o jornalismo era algo maior do que simplesmente fazer matérias. E foi interessante, porque nessa fase duas áreas do jornalismo me chamaram a atenção. Uma foi o jornalismo científico com o Professor Wilson Bueno. Ele esteve presente, em Belo Horizonte, na 37ª reunião da SBPC, e ministrou um curso lá de jornalismo científico, quando eu estava começando a

graduação. Quando eu o ouvi falando sobre jornalismo científico, eu decidi que era aquilo que eu queria fazer. Jornalismo científico era algo muito novo ainda, mas eu já tinha convicção que era aquilo que eu queria fazer. A intersecção com a medicina, com as pesquisas acadêmicas...e isso me chamou muito a atenção. E outra coisa que me alertou foi o estudo das relações étnico-raciais. (Ferreira, 2008)

Entre as duas áreas de preferência, Ferreira optou por investigar as questões raciais na pós-graduação. O projeto apresentado à Solange Couceiro tinha como objetivo central analisar a representação do afrobrasileiro nos jornais, no período do centenário da abolição da escravatura no Brasil. Em 1988, ano em que Ferreira iniciou o mestrado, e data da comemoração da assinatura da Lei Áurea, diversos acontecimentos foram registrados pelo docente, o que contribuiu significativamente para o

enriquecimento de seu trabalho.

A dissertação intitulada “A representação do negro em jornais no centenário da abolição da escravatura no Brasil”, foi defendida em 1993. O maior desafio enfrentado por Ferreira no decorrer da dissertação, segundo o seu ponto-de-vista, foi não se tornar o objeto da pesquisa, já que o docente tem descendência africana:

Teve um determinado momento que foi muito importante pra mim. Apesar de estar trabalhando com a temática da etnia, foi um exercício pra mim. Eu precisava me afastar do objeto. O fato de ser negro, de estar trabalhando com os negros, de repente eu vi que precisava me afastar do objeto, porque ia chegar uma hora que eu iria falar sobre eu mesmo. E eu fiz esse exercício de afastamento. Algo interessante nessa questão de epistemologia foi que chegou um momento que eu parei e me perguntei: “A pesquisa que eu estou fazendo é Antropologia ou Comu nicação?” A minha pesquisa era Comunicação, portanto, o objeto da minha pesquisa não é necessariamente o negro . O objeto da minha pesquisa é Comunicação, Comunicação Midiática e jornais. Pelo fato de eu ser jornalista, tudo ficou mais visível na minha cabeça. Quando eu falava de jornalismo, de construção da matéria, eu estava falando sobre o meu cotidiano. E a Solange foi muito importante pra mim, pois ela trouxe a Antropologia para dentro da Comunicação. A orientação dela foi fundamental nesse aspecto. Essa intersecção do jornalismo com a Antropologia. Agora, a minha pesquisa, sem dúvida foi na área do jornalismo. (Ferreira, 2008)

Na tese de doutorado, orientada por Maria Aparecida Baccega, Ferreira abordou os estudos de recepção.

[...] eu trabalho com profissionais negros da área de Comunicação que podem fazer uma reflexão sobre aquilo que a imprensa produz. Como tinha trabalhado o conteúdo da imprensa no mestrado, aqui eu começo a trabalhar o olhar negro. Eu poderia dizer por

mim mesmo, porque eu sou profissional negro da área de Comunicação, mas ainda eu continuava com aquele exercício de distanciamento do objeto. Eu utilizava a minha experiência de vida para entender o objeto, mas eu tentava não interferir. Naquela época eu entrevistei quatro pessoas. Entrevistei a Teresa Santos (Secretaria da Cultura de São Paulo), a Maria Auxiliadora Nascimento (jornalista da TV Globo, foi uma das primeiras repórteres negras a trabalhar na região de Bauru, e era professora de jornalismo), Osvaldo Camargo (jornalista do “Jornal da Tarde, trabalhou também na Imprensa Oficial do Estado de São Paulo), e outra pessoa que não recordo o nome agora. (Ferreira, 2008)

Para compor as suas investigações, Ferreira cursou a disciplina de Solange Couceiro (“Representação Étnica e a Comunicação Social”); de Maria Immacolata Vassalo Lopes, referente à metodologia, além de outras oferecidas pela ECA. Na FFLCH, Ferreira cursou a disciplina oferecida por João Baptista Borges Pereira. O pesquisador se embasou nos referenciais teóricos de Roger Bastide, Gilberto Freyre, Florestan Fernandes, Nestor Canclini, Oracy Nogueira, João Baptista Borges Pereira, entre outros. Porém, não deixa de fazer uma ressalva: “Mas eu era apaixonado pelo jornalismo, e sempre trazia tudo para a Comunicação”. (Ferreira, 2008)

Embora tenha diversos trabalhos que podem ser classificados como

Antropologia da Comunicação, Ferreira não se admite um antropólogo da comunicação: “Sou um jornalista. Isso pra mim é mais do que evidente. É a minha identidade. Eu dialogo com a Sociologia, com a Antropologia, com todas as áreas do conhecimento, mas a minha área é Comunicação”. (Ferreira, 2008)

Na UNESP, Ferreira é responsável pelas disciplinas Jornalismo Especializado I e II (na graduação) e Midialogia Científica Especializada (no mestrado).

7.4.2. Ricardo Alexino Ferreira – Relacionamento com

Solange Couceiro:

Ricardo Alexino Ferreira foi o primeiro orientando de Solange Couceiro na ECA-USP. Para o docente, uma das principais características de Solange Couceiro, que o ajudou na composição do projeto de pesquisa, foi saber ouví- lo em suas dúvidas e questionamentos:

[...] ela me respeitou inteiramente. E uma característica que me marcou muito com relação à orientação da Solange, é que, às vezes, o orientador se coloca em uma hierarquia muito superior ao orientando. Muitas vezes aquilo que o orientando tem a dizer não importa. E a Solange me ouvia muito quando eu falava sobre jornalismo com ela. Quando eu chegava com informações novas, ela me ouvia, e demonstrava interesse nisso. E com isso, ia tendo um diálogo. Sem dúvida, hoje, eu reconheço que a

orientação da Solange me fez prosseguir com o doutorado, e agora com uma livre- docência. (Ferreira, 2008)

Na convicção de Ricardo Alexino Ferreira (2008), o negro era um assunto dificilmente abordado pela Comunicação:

A questão, por exemplo, do negro ainda era muito nova para a comunicação. Na ECA, a Solange traz essa questão, primeiro para a graduação, e depois ela começa com uma linha de pesquisa na pós-graduação com relação a isso.

7.4.3. Ricardo Alexino Ferreira – Obras:

Conforme o currículo publicado na Plataforma Lattes74, Ferreira possui, até novembro de 2008, mais de 30 artigos publicados em artigos científicos, e dezenas de outras produções técnicas. Grande parte dos textos de Ferreira se refere à temática étnica. Abaixo, serão expostos os cinco artigos mais recentes, cujo assunto seja a questão racial:

ü FERREIRA, Ricardo Alexino. Negro midiático: construção e desconstrução do afro-brasileiro na mídia impressa (ISSN 0103-9989). Revista USP, v. 69, p. 80- 91, 2006.

ü FERREIRA, Ricardo Alexino. Os grupos minorizados transformados em

informação (ISSN 1808-7353). Revista Mídia e Etnia: a imagem dos negros nos meios de comunicação, v. 1, p. 45-47, 2006.

ü FERREIRA, Ricardo Alexino. Imprensa e etnia no Brasil. Racismo, Racistas a Trajetória do Pensamento Racista no Brasil, São Paulo, v. 2, p. 85-99, 2001.

74

ü FERREIRA, Ricardo Alexino. . As lutas étnico-separatistas e a imprensa: o País Basco em notícia. Ética Comunicação, São Paulo, v. 2, p. 19-23, 2000.

ü FERREIRA, Ricardo Alexino. O ser negro em uma sociedade branca. Pesquisa Fapesp, São Paujo, v. 59, p. 72-72, 2000.

No documento Download/Open (páginas 113-118)