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2 A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E A FORMAÇÃO DE

2.2 BREVE SÍNTESE DAS CONFERÊNCIAS E ENCONTROS

Em 1990, realizou-se a Conferência Mundial sobre Educação para Todos em Jomtien, na Tailândia. A conferência tratou da satisfação das necessidades básicas de aprendizagem para as crianças, jovens e adultos. Os discursos proclamados em Jomtien revelam os enunciados, tais como: “cultura de paz”, “justiça social”, “proteção ao meio ambiente”, “tolerâncias” etc., como se observa na citação a seguir:

A satisfação dessas necessidades confere aos membros de uma sociedade a possibilidade e, ao mesmo tempo, a responsabilidade de respeitar e desenvolver a sua herança cultural, lingüística e espiritual, de promover a educação de outros, de defender a causa da justiça social, de proteger o meio-ambiente e de ser tolerante com os sistemas sociais, políticos e religiosos que difiram dos seus, assegurando respeito aos valores humanistas e aos direitos humanos comumente aceitos, bem como de trabalhar pela paz e pela solidariedade internacionais em um mundo interdependente (ART. 1º DECLARAÇÃO DE JOMTIEN, 1990, p. 2, online).

Em 1992, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, que teve lugar no Rio de Janeiro/Brasil, tratou da preocupação do mundo com o meio ambiente sustentável, discutindo temas como: “arsenal nuclear, desarmamento, guerra, desertificação, desmatamento, crianças, poluição, chuva ácida, crescimento populacional, povos indígenas, mulheres, fome, drogas, refugiados, concentração da produção e da tecnologia, tortura, desaparecidos, discriminação e racismo” (GADOTTI, online).

Em 1993, a Conferência Mundial sobre os Direitos do Homem, que teve lugar em Viena/Áustria, tratou de reforçar os Direitos Humanos fundamentais à sustentabilidade social, com tolerância, ética, equidade social etc. Em matéria de educação, esta Conferência reconheceu a importância deste direito para a promoção e a garantia do respeito aos Direitos Humanos e às liberdades fundamentais, reforçando a inclusão do tema/questão, Direitos Humanos, nos programas de educação, solicitando que os países participantes deste evento assim o façam. Segundo o discurso ratificado nesta Conferência,

A educação deverá promover a compreensão, a tolerância, a paz e as relações amistosas entre as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, e encorajar o desenvolvimento de atividades das Nações Unidas na prossecução destes objetivos. Assim, a educação em matéria de Direitos Humanos e a divulgação de informação adequada, tanto teórica como prática, desempenham um papel importante na promoção e no respeito dos Direitos Humanos em relação a todos os indivíduos, sem distinção de qualquer tipo, nomeadamente de raça, sexo, língua ou religião, devendo isto ser incluído nas políticas educacionais, quer a nível nacional, quer internacional (DECLARAÇÃO E PROGRAMA DE AÇÃO DE VIENA, 1993, p. 9 online).

Além de reforçar o discurso pela cultura de paz, tolerância e equidade nas relações de gênero, políticas educacionais, deu importância a questão da erradicação do analfabetismo, atribuindo aos Estados a tarefa de

[...] direcionar o ensino para o desenvolvimento pleno da personalidade humana e para o reforço do respeito pelos Direitos Humanos e liberdades fundamentais. A Conferência Mundial sobre Direitos Humanos apela a todos os Estados e instituições que incluam os Direitos Humanos, o Direito Humanitário, a democracia e o primado do direito como disciplinas curriculares em todos os estabelecimentos de ensino, formais e não formais (DECLARAÇÃO E PROGRAMA DE AÇÃO DE VIENA, 1993, p. 20

online).

Em 1994, a Conferência Internacional sobre a População e o Desenvolvimento, no Cairo/Egito, tratou em seu tema geral das “inter-relações entre população, crescimento econômico sustentado e desenvolvimento sustentável”. Dentro dessa temática, questões relacionadas ao “crescimento econômico sustentado no contexto de um desenvolvimento sustentável; educação, especialmente para moças; equidade e igualdade dos sexos; redução da mortalidade materna, de bebês e crianças e o acesso universal aos serviços de saúde reprodutiva, inclusive de planejamento familiar e saúde sexual” (RELATÓRIO DA CONFERÊNCIA INTERNACIONAL..., 1994, p. 41, online).

No tocante à educação, no Princípio 10 do seu relatório, foi confirmado o direito à educação para toda pessoa humana, independentemente da sua etnia (Princípio 35). Quanto a essa questão, vejamos o discurso:

Toda pessoa tem direito à educação, que será dirigida para o pleno desenvolvimento de recursos humanos, e à dignidade e ao potencial humanos, com particular atenção à mulher e à menina. A educação deve visar o fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais, inclusive as referentes a população e desenvolvimento (RELATÓRIO DA CONFERÊNCIA INTERNACIONAL...1994, p. 43,

Entre os enunciados fortes desta Conferência, destaca-se o da educação como um dos elementos chave para o desenvolvimento humano-social, pautado na saúde reprodutiva, no crescimento econômico sustentável, na diminuição da pobreza entre os homens/mulheres. A educação é enunciada como direito humano universal, inclusive a educação escolar básica (Cf. RELATÓRIO DA CONFERÊNCIA INTERNACIONAL..., 1994, item B, 3.15, p. 47, online).

Em 1995, a Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Social, em Copenhague/Dinamarca, tratou da temática desenvolvimento social, sua importância, e do bem-estar humano. Segundo Alves (1997, p. 142), ao tecer suas críticas ao que ele denomina de Paradoxos de Copenhague,

A qualquer observador da história dos tempos modernos pode afigurar-se paradoxal que a primeira conferência multilateral de grande magnitude sobre o tema do desenvolvimento social se tenha realizado precisamente numa época em que o neoliberalismo, como alternativa “eficiente” ao chamado Estado-Providência, e o culto do mercado, como fator de regulação “natural” da convivência social, configuram a ideologia dominante em escala planetária.

Apesar da crítica que Alves constrói em cima dos paradoxos desta Cúpula, observou-se que a questão vinculada à educação como direito de todos também manteve-se presente como questão importante para o desenvolvimento social, conforme aponta Alves (1997, p. 150), ao se referir, sumariamente, às conquistas dos documentos finais de Copenhague: “de promover o acesso universal e eqüitativo a uma educação de qualidade [...]”.

Em 1996, a Conferências das Nações Unidas sobre a Habitação Humana (Habitat II), em Istambul/Turquia, tratou de discutir as condições e políticas de habitação sustentável para as sociedades humanas, ou como denomina as Nações Unidas, de “Assentamentos Humanos”. Nessa Conferência, o discurso oficial reconhece a contínua deterioração das condições de habitação e dos assentamentos humanos. Assim, como nas demais conferências e cúpulas citadas, a educação é compreendida como direito humano e se configura entre as ações que devem ser garantidas à humanidade, ao lado da erradicação da pobreza e da discriminação, entre outras.

A problemática da pobreza e das condições favoráveis de habitação foram consideradas interdependentes quando tratadas a partir do espaço físico urbano e rural. Logo, o discurso em favor da melhoria da qualidade de vida de homens e mulheres do campo e

cidade reforçará os enunciados do direito humano básico (saúde, habitação, trabalho, educação), como se observa na seguinte citação:

Para melhorar a qualidade de vida dentro dos assentamentos humanos, é necessário que combatamos a deterioração das condições que, na maioria dos casos e sobretudo nos países em desenvolvimento, tomaram proporções de crise. Com esse objetivo, nós devemos abordar amplamente, inter alia, os padrões de produção e consumo insustentáveis, sobretudo nos países industrializados; mudanças populacionais insustentáveis, incluindo alterações na sua estrutura e distribuição, com consideração prioritária à tendência a uma concentração excessiva; população sem-teto; aumento da pobreza; desemprego; exclusão social; instabilidade familiar; recursos inadequados; falta de infra-estrutura, de serviços básicos e de planejamento adequado; insegurança e violência crescentes; degradação ambiental e aumento da vulnerabilidade a desastres (DECLARAÇÃO DE ISTAMBUL..., 2003, p. 207-208, online).

Ainda em 1996, realizou-se a Cúpula Mundial da Alimentação, em Roma/Itália. A cúpula tratou do “direito de todos a terem acesso a alimentos seguros e nutritivos, em consonância com o direito a uma alimentação adequada e com o direito fundamental de todos a não sofrer a fome” (DECLARAÇÃO DE ROMA SOBRE..., online). Dentre os compromissos, objetivos e ações propostos, encontram-se, neste discurso, os enunciados em favor da educação e alfabetização das pessoas humanas, importantes para o desenvolvimento sustentável, como se pode constatar abaixo:

Encorajar a solidariedade a nível nacional e promover igualdade de oportunidades para todos, a todos os níveis, na vida econômica, política e social, particularmente no que diz respeito aos grupos e pessoas vulneráveis e desfavorecidas. Para este fim, os Governos, em colaboração com outros agentes da sociedade civil, deverão, como devido: (a) Fomentar o investimento no desenvolvimento dos recursos humanos como a saúde, educação, alfabetização e outros campos de formação, os quais são essenciais para o desenvolvimento sustentável, da agricultura, pescas, silvicultura e meio rural (DECLARAÇÃO DE ROMA SOBRE..., online).

Em 2000, a Conferência de Dakar/Senegal – Educação Para Todos: atingindo nossos Compromissos Coletivos, tratou de reforçar o discurso para assegurar e manter os objetivos e as metas da Educação Para Todos (EPT). O marco da ação de Dakar reforça a educação como direito inalienável dos seres humanos e como dispositivo imprescindível para o desenvolvimento sustentável.

A conferência de Dakar apresenta o seguinte cenário discursivo (O MARCO DE... 2000, p. 1, grifos nossos):

A Avaliação de EPT 2000 demonstra que houve progresso significativo em muitos países. Mas é inaceitável que no ano 2000, mais de 113 milhões de crianças continuem sem acesso ao ensino primário, que 880 milhões de