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Outros transformam a mancha amarela em sol.”

A CAMINHO DA TRANSVERSALIZAÇÃO

O clima era favorável para disseminar a EA como política pública no sistema educacional, elucida Lucila Pinsard Vianna, que assumiu o comando da COEA/MEC em maio de 1999, após cerca de um ano sem titular. Baseada na confirmação, pela Lei 9.597, da transversalização do tema meio ambiente no ensino formal (nos PCNs isso era apenas recomendação), ela conta que a nova coordenação do MEC resumiu em três prioridades uma ambiciosa proposta de incorporar a EA nos diferentes níveis de ensino:

Implementar uma política de formação continuada em serviço para o •

tema,

Disseminar informações sobre EA no ensino formal, e •

Articular parcerias com sistemas de ensino, universidades e ongs nessa •

área43.

A decisão embasou-se não só na nova Lei, mas também num diagnóstico preliminar, baseado em informações remetidas à coordenação. Primeiro, lembra Lucila, foram avaliados materiais postados espontaneamente. Então, a COEA enviou cerca de 400 ofícios a secretarias de educação, estaduais e municipais, e participantes dos 18 cursos de Capacitação de Multiplicadores em EA entre

1996 a 1998. Em seis meses, havia 147 respostas, de quase todo país. Só quatro estados não retornaram: Mato Grosso do Sul, Piauí, Rondônia e Sergipe.

Perto de dois terços (90) eram projetos: 71 para o Ensino Fundamental, 14 para Ensino Médio, 4 para a comunidade e apenas um para o Ensino Superior. O resto consistia numa variedade de materiais: livros, cartazes, entre outros. A constatação de que projetos eram o principal foco das ações de EA, apesar da diversidade quanto às abordagens ou abrangência, levou a COEA a tentar entender melhor os desenvolvidos para o Ensino Fundamental. A amostragem não tinha rigor estatístico, reconhece Lucila. Mas seria um bom ponto de partida para desenhar o que chamaria de “panorama embrionário das iniciativas de EA”, e subsidiar os próximos passos da coordenação.

Lucila destaca três lacunas detectadas na análise, que foram confirmadas numa oficina de trabalho com especialistas da área de EA no ano seguinte:

Tipificação de projetos

Com idéia de criar um banco de dados, a COEA estabeleceu critérios para tipificar projetos de EA. Num bloco, propôs dados gerais, como título do projeto, objetivos, público-alvo, dados sobre a organização responsável (ong, docente etc.) e estratégia de implementação – se curso, campanha, inserção do tema no currículo etc. E havia 12 temas geradores, que permitiriam entender a proposta: bioma, consumo, desenvolvimento sustentável, EA, gestão ambiental, lixo, plantio, poluição, recursos hídricos, solo e vegetação.

A análise dos 71 projetos aplicados no Ensino Fundamental revelou que alguns desses temas sequer foram contemplados. Os campeões foram EA (34), lixo (13) e plantios (10). No caso dos de EA, eram sobretudo cursos para estudantes, docentes, comunidade. Nos dois outros temas, predominavam campanhas para incentivar a ação coletiva e cooperativa de alunos, docentes e comunidade para enfrentar problemas ambientais, em geral locais.

Os bastidores do processo de regulamentação

Um mês depois de se tornar coordenadora da COEA, coube a Lucila Pinsard também assumir a presidência da Câmara Técnica Temporária de EA do Conselho Nacional do Meio Ambiente - Conama. Para estrear seu mandato de dois anos, uma tarefa em que colocaria em prática seu conhecimento de cientista social, com mestrado em antropologia e especialização em negociação de conflitos socioambientais: conduzir a primeira fase construção da regulamentação da Lei da PNEA.

Houve consultas diretas às instituições representadas no Conama, lembra ela, mas também por e-mail a órgãos como Secretarias Estaduais de Educação, e debates com educadoras/es ambientais através das Redes de EA45. Representando a sociedade civil nessa CT, estava o Gamba, ong da Bahia que também era elo da Rebea. Ficou mais fácil acionar as redes de EA através dos elos locais e regionais. Suas sugestões foram trazidas ao debate em Brasília.

Como em todas as situações que envolvem diferentes atores sociais, cada qual com sua visão, não faltaram pontos polêmicos. Um deles, recorda a ex-presidente da CT, era conseqüência do vazio criado pelo veto presidencial ao artigo 18. Agora, educadoras/es pressionavam pela inclusão de instrumentos que garantissem verbas para EA na regulamentação. Não passou. Seria inviável impor esta regra num decreto regulamentador, avalia Lucila.

Também a composição do órgão gestor da PNEA despertou embates apaixonados. A grande questão era: como inserir na instância superior da Política Nacional de EA os diferentes setores que na prática promovem a EA no país? De um lado, argumentava-se que, quanto mais ampla sua composição, menos ágil seria a tomada de decisões e execução das ações. Por outro, sem o envolvimento dos variados segmentos da sociedade, como garantir o cumprimento da Lei, que justamente responsabiliza a sociedade pela implantação da EA?

Também havia detalhes que “emperravam a discussão” do ponto de vista jurídico. Se se queria a Rede Brasileira de EA como representante da sociedade civil, mas pela própria característica de rede ela não é constituída como pessoa jurídica, o que fazer?

Só se passou do impasse para o consenso, frisa Lucila, quando duas Câmaras Técnicas do Conama – a Jurídica e de EA – ficaram frente à frente, em uma longa reunião. Mas ela é crítica quanto aos resultados: “A regulamentação reflete um jogo de forças. Não se pensou no conjunto. O resultado foi uma colcha de retalhos”. Foi assim que o texto seguiu, depois de oito meses, para a aprovação da Plenária do Conama, para depois passar pelo aval das Câmaras de Ensino Básico e Ensino Superior do Conselho Nacional de Educação (CNE).

A saber: no caso do Órgão Gestor da PNEA, o decreto que regulamentou a lei – que só seria assinado em 2002 – definiu um órgão enxuto, composto pelo MEC e MMA. Mas haveria um comitê assessor, com 13 assentos, onde caberia uma variada gama de representações sociais. Nesse comitê, os assentos das “organizações não- governamentais que desenvolvam ações em EA” e do “setor educacional-ambiental” ficaram, respectivamente, para organizações indicadas pela Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong) e pelas Comissões Estaduais Interinstitucionais de Educação Ambiental (CIEAs).

indicação do não envolvimento da escola num projeto coletivo para a questão ambiental.

Faltaria preparo de professoras/es para lidar com o repertório ambiental, •

o que dificultaria o uso de conceitos nesta área e mesmo a concretização dos projetos44.

Vale lembrar que, em 1999, a Secretaria de Ensino Fundamental (SEF), à qual a COEA estava vinculada, lançou um Programa de Desenvolvimento Profissional Continuado, popularizado com o nome de Parâmetros em Ação.

Feito para atender demandas provenientes de todas as regiões sobre como implementar os PCNs, baseava-se nos Referenciais para Formação dos Professores.

Sua metodologia explorava quatro competências profissionais de professoras/ es: 1- a leitura e a escrita; 2- o trabalho compartilhado; 3- a administração da própria formação como aprendiz e formador; e 4- a reflexão da prática pedagógica.

Como estratégia, o programa estimulava a formação de grupos de estudos compostos por professoras/es. Neles ocorriam desde leituras e discussões, até simulações de formação com avaliação, ou auto-avaliação de desempenho. E havia os materiais produzidos pela SEF, para apoio e orientação aos grupos. A SEF também estabeleceu a Rede Nacional de Formadores, visando uma articulação nas duas vias, com profissionais da educação das esferas federal, dos estados e municípios. Seria o espaço para a própria SEF responder às demandas das secretarias estaduais e municipais e interagir com lideranças locais, formadas em torno do programa. O próximo passo seria a COEA formatar os Parâmetros em Ação-Meio Ambiente na Escola (PAMA), lançados em

2001 para o meio escolar.