• Nenhum resultado encontrado

“O homem não teceu a teia da vida: ele é meramente um dos fios.“

Cacique Seattle

É

nos desdobramentos de uma ação, que se percebe o que causou impacto real. Realizado em 1997 no Espírito Santo, o IV Fórum de EA não foi importante apenas pelo grande afluxo de participantes, ou por sua realização fora do eixo Rio-São Paulo – temas mais comentados. Outra novidade, que mudaria a forma de relacionamento de educadoras/es, foi a inédita característica de montagem no padrão organizacional em rede. “Houve uma ação descentralizada e coordenada”, relembra Vivianne Amaral, da Ong Bioconexão, num depoimento para a primeira edição da Revista Brasileira de EA, lançada no final de 2004. 29

Além das ongs atuantes na organização nacional - Roda Viva (RJ) e Inesc (DF), da facilitação nacional da Rebea, ela cita os cinco elos que coordenaram ações regionais: Movimento pela Vida (Movida/AL), para o Nordeste; Fórum da Amazônia Oriental (Faor/PA), para a Região Norte; Instituto Ecologista de Desenvolvimento – Bioconexão e Ecopantanal (MT), no Centro Oeste; Instituto Ecoar para a Cidadania (SP), no Sudeste, e Associação de Preservação do Meio Ambiente do Alto do Vale do Itajaí (Apremavi/SC), no sul brasileiro. Os recursos, explica, vieram do governo estadual capixaba, da Universidade Federal de Espírito Santo (UFES) e da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES). Um efeito imediato da ação em rede, diz ela, foram os pré-fóruns regionais, importantes por dois aspectos: 1- pessoas sem condições de ir a Guarapari trouxeram antes suas propostas; 2- a própria Rebea incrementou a malha de instituições parceiras. Ampliou-se a rede.

Já Heitor Medeiros, do Ecopantanal, recorda que, durante o I Encontro da Rebea – paralelo ao Fórum – expôs seu receio com relação ao que viria

em seguida. Não seria fácil assumir a secretaria-executiva da Rebea a partir da Chapada dos Guimarães, interior do Mato Grosso, onde estava a sede da ong. A proposta era ousada. Refletia a confiança na possibilidade de irradiar o conceito de redes, qualquer que fosse a localização geográfica.

Só que basta observar o oceano para notar que as grandes ondas, depois do ápice, sofrem um refluxo natural. Com isso, novas ondas conseguem se formar. No caso da Rebea, após esse ápice do IV Fórum, houve uma “maré-baixa” da mobilização nacional. De um lado, a falta de infra-estrutura, em tempos de comunicação eletrônica incipiente, tolhia o trabalho da secretaria-executiva. De outro, dificuldades de cunho prático frustraram a intenção de realizar o V Fórum, primeiro em Alagoas, depois em Minas Gerais.

Então teve início um fenômeno não previsto... Como uma nova onda no mar, começaram a “pipocar” em várias regiões do país novas redes regionais ou temáticas de EA. “Em sua maioria, as redes são criadas ou sua articulação tem início em encontros presenciais e têm sua efetivação em parcerias para objetivos concretos, como realização de projetos, eventos”, interpretava um relatório de apresentação do projeto Tecendo Cidadania, em 2001, ao enumerar oito novas organizações formadas sob o guarda-chuva da Rebea até então. 30

Segundo o relatório, até 1999, surgiram a Rede Mineira de EA (Rmea), Rede Mato-grossense de EA (Remtea), Rede de EA da Paraíba (REA/Pb), Rede de EA da Bacia do Vale do Itajaí (Reabri), Rede Paulista de EA (Repea, rearticulada naquele ano). Entre 2000 e 2001, entrou em discussão a formação das redes Pantanal, que envolveria o Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, a Amazônica e a rearticulação da do Rio de Janeiro.31

De que forma uma rede nacional deveria “surfar” nessa nova realidade, em que redes locais começavam a assumir a função de interconectar pessoas? “Descobrimos que não estávamos diante de um fracasso do projeto da Rebea, inicialmente pensada para articular educadores. Mas, ao contrário, lidávamos com o sucesso na expansão da cultura de trabalho em rede”, resume Vivianne, que assumiu a secretaria-executiva da Rebea em 1999, ao passo que a Ecopantanal passou a concentrar suas atividades na Rede Mato-grossense de EA. O destino da Rebea, diz, seria de uma “rede das redes”. Com dois papéis importantes: 1-

de domínio público, a lei frisou que se trata de um recurso limitado, de uso múltiplo. E previu um sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos, caracterizado pela gestão tripartite. Ou seja, todo gerenciamento se daria através do Conselho Nacional e dos Comitês de Bacia Hidrográfica, em cuja composição haveria representantes do poder público e dos usuários (até 40% de cada um) e da sociedade civil organizada (pelo menos 20%). Nos comitês, as tarefas incluiriam desde o planejamento da gestão dos recursos hídricos na área de abrangência, até a definição dos valores para a cobrança pelo uso da água (outra inovação da lei) e da aplicação do dinheiro arrecadado em obras e projetos para melhorar tanto a quantidade, como a qualidade da água. Educação ambiental poderia ser contemplada.

Vale ressaltar que essa nova configuração da gestão das águas só ficaria completa em 2000, com o anúncio da lei 9.984/00, que criou a Agência Nacional de Água (ANA). É a entidade federal responsável por implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos e coordenar o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.

Voltando aos anos 90, em fevereiro de 1998, foi a vez da Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/98, regulamentada pelo Decreto 3179/99), cujo conteúdo causou grande repercussão. A partir dela, condutas e atividades lesivas contra a fauna, a flora, o ordenamento urbano, o patrimônio cultural, ou causadoras de poluição de qualquer natureza (inclusive disseminar pragas) passaram a permitir o enquadramento civil, administrativo ou criminal, gerando sanções: de multas e perda do direito a incentivos fiscais do governo, até prisão.32 Na lista dos crimes consta, por exemplo, construir, reformar ou instalar estabelecimentos, obras ou serviços potencialmente poluidores sem a devida licença ambiental. E também a informação falsa dada num processo de licenciamento ambiental.

Não é preciso dizer que a lei foi elogiada por alguns setores, que viam na divulgação do conteúdo um meio para a conscientização ambiental. Mas também encontrou fortes resistências, que incitaram vetos presidenciais. Entre outros, foi vetado o artigo 43, que previa punição a quem ateasse fogo à floresta sem precauções para evitar sua propagação.33

Naquele ano, o país sofria os efeitos do El Niño, fenômeno climático que aumenta a estiagem na Amazônia e gera mais chuvas no sul/sudeste do país. Em Roraima, até 30 de março, quando recomeçou a chover, alastrou-se um dos maiores incêndios já vistos. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas da

Pensamento latino-americano e caribenho

Como que para preparar o clima para a promulgação da Lei da Política Nacional de Educação Ambiental, que seria sancionada em abril do ano seguinte, em julho de 1998 aconteceu no Brasil a reunião “Cúpula das Américas”, de ministros da Educação.

Numa exposição sobre esse evento, um documento técnico do Órgão Gestor da PNEA35, lançado em 2005, destaca o documento Educação para um Futuro Sustentável

na América Latina e Caribe, produzido com apoio da Unesco e da Organização dos Estados Americanos (OEA), e apresentado aos participantes. O texto teria sido a primeira contribuição à promoção de um pensamento latino-americano sobre a Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS), e conteria elementos fundamentais para orientar processos educativos no marco do desenvolvimento sustentável da região.

A educadora Nana Mininni Medina, que participou desse evento, comenta o documento final, “Educação para a Sustentabilidade das Américas”. Segundo ela, tornou-se clara a disposição dos países participantes de promoverem, nas instituições escolares e fora delas, estratégias educativas voltadas à formação de valores “com especial atenção aos democráticos, os direitos humanos, a visão de gênero, a paz, a convivência tolerante, o respeito ao meio ambiente e aos recursos naturais”. Isso implicaria em buscar o apoio dos diferentes atores, das organizações sociais, bem como formar os docentes para esses propósitos.36 Outro ponto forte foi a definição de um prazo, até 2002, para a revisão das políticas nacionais de educação, já com a perspectiva da EA para o desenvolvimento sustentável.

A partir dessas decisões, houve uma série de projetos e iniciativas regionais relacionados com a EDS na região, relata o documento do Órgão Gestor. Entre eles, dois eventos significativos, já em 1999: a Reunião Internacional sobre Educação para a Sustentabilidade das Américas, em Bogotá (Colômbia), que resultou numa proposta para direcionar a transformação dos currículos escolares da região, levando-os ao enfoque da sustentabilidade, e o Seminário Experiências Educativas Inovadoras em EA para um Futuro Sustentável, em que se mostraram experiências em andamento na América Latina e Caribe.