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dependerá cada vez mais de sua capacidade de aprender coletivamente”

FORMANDO OS COLETIVOS

Classificados como segundo nível da implementação da ProFEA (logo abaixo do Órgão Gestor), os Coletivos Educadores (CEs) tornaram-se peças- chave para a consolidação dos processos formativos, no desenho que o OG- PNEA propôs para irradiar a EA no país. Uma seqüência de passos contribuiria com a criação dos CEs.

Tudo começa, segundo a descrição da DEA/MMA, com uma reunião de articulação de um grupo de articuladoras/es – quaisquer instituições de cunho governamental, civil ou privado, com condições de liderar o processo. É o momento de definir o recorte territorial, propor um mapeamento inicial das instituições correlatas, além de ações possíveis nesse território. Também nessa reunião pode-se discutir uma agenda de trabalho para chegar a um programa de formação de educadoras/es ambientais e escolher as instituições representantes, responsáveis pelo diálogo junto ao Órgão Gestor e outras organizações de interesse.

Saberes Ambientais

Uma conversa puxa a outra, diz o ditado popular. Ações educadoras puxam outras, viu-se na região de Paraná III. Em agosto de 2006, durante o 1º Encontro de Especialistas em Educação Ambiental da Bacia do Prata, em Foz de Iguaçu (PR), que contou com a presença de Enrique Leff, da Rede de Formação Ambiental do Programa de Meio Ambiente da ONU (Pnuma), as/os educadoras/es sugeriram a criação de um Centro de Saberes e Cuidados Socio-Ambientais da Bacia do Prata.

O sonho ganhou forma rapidamente graças à parceria entre a Itaipu Binacional e organismos internacionais, como o próprio Pnuma e o Comitê Intergovernamental Coordenador dos Países da Bacia do Prata. Com sede inaugurada em novembro do mesmo ano no Parque Tecnológico Itaipu (PTI), ele daria espaço a especialistas do Brasil, Bolívia, Paraguai, Uruguai e Argentina para estudos e pesquisas em torno da EA. O primeiro desafio, concluiu-se na época, seria mapear as inter-relações entre atores sociais dos cinco países. Em seguida, viriam as atividades de formação, por meio de Círculos de Aprendizagem Participativa com foco nas águas da Bacia do Prata.

A oficina de trabalho para constituição do coletivo educador representa a etapa seguinte sugerida pela DEA/MMA. É hora para sistematizar experiências acumuladas pelas instituições presentes e estabelecer um “cardápio regional de ações formativas”, que nada mais é que a lista de processos formativos disponíveis para atender às demandas por formação dos participantes, considerando-se os distintos PAPs do Coletivo. Também nesse momento elegem-se as estratégias de ação e definições operacionais do CE. Por exemplo, participantes podem optar por criar subgrupos ou/e definir um grupo articulador operacional.

Depois desse passo, virá a etapa da articulação político-institucional, que consistiria na busca do suporte logístico-financeiro e/ou político-pedagógico, bem como das bases jurídicas para consolidar o Coletivo.

Feito isso, a fase seguinte será do aprofundamento e debate sub-regional. Aí entra o que a DEA/ MMA resume como a sistematização do cardápio, definição de competências e aplicação das estratégias. Uma das bases da ação será a mencionada metodologia pesquisa-ação-participante (PAP), recomendada para partilhar informações e reunir elementos para encontrar soluções conjuntas. As conclusões serão utilizadas em seguida, para a elaboração do projeto político e pedagógico de EA, a ser implementado no território de atuação do CE. Será uma proposta de formação continuada, cuja elaboração poderá ocorrer durante uma nova oficina.

Só então chega-se à fase da formação continuada em si. Esta começa pela seleção de educandas/os – escolhidas/os entre lideranças que representem a diversidade social e territorial – e o desenvolvimento das propostas de formação.

Segundo a DEA/MMA, tanto melhores serão os resultados, quanto mais dinâmico for o funcionamento de um CE. A observação do processo levou a algumas recomendações que garantiriam esse dinamismo. Por exemplo, realizar, de tempos em tempos, a avaliação/ re-planejamento e articulação, ou seja, uma

localmente, pensar globalmente”. É o Municípios Educadores Sustentáveis. Sua formulação foi iniciada em 2003.

Não se trata de um programa ministerial para aplicação num ou noutro município isoladamente, como pode parecer à primeira vista. Ao contrário. Por meio dele, comunidades, municípios, bacias hidrográficas ou regiões administrativas uniriam forças, proporcionando a educação contínua da comunidade local para a sustentabilidade, por meio de ações participativas concretas. É o que o professor Carlos Rodrigues Brandão ensinou no livro

Aqui é onde eu moro, aqui nós vivemos, cujo subtítulo explica sua motivação para

redigi-lo: escritos para conhecer, pensar e praticar o município educador sustentável102. Vale conferir dois parágrafos que falam diretamente a quem habita no município:

• Os portões se abriram. “Durante muito tempo fomos levados a crer que cada pessoa e cada família cuidam ‘do que é seu’, de suas vidas e do que está ‘do portão para dentro’. Hoje aprendemos que as vidas e os portões se abriram e que, a começar pelo ‘lugar onde eu vivo’, o Mundo inteiro é o meu lar... desde o município onde eu moro e onde nós vivemos”.

• Poder das mentes e das mãos. “Somos (...) as pessoas em cujas mentes e mãos estão – ou deveriam estar – o saber, o dever e o poder de melhorar a qualidade de nossas vidas e da Vida do Mundo onde vivemos, a começar (como sempre) pela nossa casa, por nossa rua, pelo nosso bairro, nossa cidade e nosso município”.

Também vale examinar os passos planejados pelo programa MES, para melhorar coletivamente “o município onde eu moro e onde nós vivemos”, como diria o professor Brandão. Com a mesma lógica dos coletivos educadores, tudo começa com a definição dos municípios participantes. O segundo passo será um seminário regional com representantes destes municípios e potenciais parceiras/os, no qual se definirá um subprograma regional.

Ainda seguindo o mesmo formato dos CEs, este subprograma trará o pré- diagnóstico participativo e a lista de iniciativas definidas por todos, que serão praticadas pelos municípios integrantes do programa. Funcionaria como guia de atividades prioritárias. No entanto, cada município só ganha o status de integrante quando um termo de adesão é firmado entre a prefeitura e o ministério. A obrigatoriedade teria um bom motivo: assegurar o comprometimento das/os gestoras/es e a continuidade das ações, independentemente da transitoriedade em cargos eletivos.

Assim nasceram os coletivos educadores

Uma das inspirações para a criação dos CEs vem de 1999. Naquele ano, a Rede Universitária de Programas de Educação Ambiental (Rupea) estabeleceu a articulação entre três Universidades (Estadual do Sudoeste Baiano/UESB, Estadual de Feira de Santana/ UEFS e de São Paulo/USP) para cumprir um desafio de formar educadoras/es ambientais. Partilhando recursos profissionais e materiais, cada uma dessas instituições desenvolveu programas mais consistentes de formação nesta área.

Nesta mesma linha, CEs passaram a ser estimulados a partir de 2003, seguindo o raciocínio de que instituições focadas em processos formativos, unidas, otimizariam o uso de espaços e de recursos disponíveis. E aconteceram as mais variadas composições: reuniram-se organizações da sociedade civil (ongs, sindicatos, movimentos sociais etc.), públicas (como prefeituras, órgãos de educação ou meio ambiente, NEAs/Ibama), de ensino e extensão (universidades, regionais de ensino, órgãos de extensão rural), redes de EA ou/e empresas.

Segundo o OG-PNEA, a formação de CEs contribuiria para fortalecer a interface Sociedade-Estado, através de políticas públicas voltadas a processos continuados de formação de educadoras/es ambientais em todo o país. Aí que entra o ProFEA, e também o próprio Programa Nacional de EA (ProNEA), que direciona as ações do Órgão Gestor.

Diferentes documentos da DEA/MMA sobre o tema mostram que, mesmo com participação direta do OG-PNEA na formação dos CEs, havia a intenção de promover a autogestão. Para facilitar, reuniu-se um conjunto de opções, chamado de Estratégia 4-3-3, numa alusão à tática de futebol, como um guia para o planejamento e as ações dos CEs:

• 4 Processos Educacionais: 1- formação de educadoras/es ambientais, 2- educomunicação socioambiental, 3- educação através da escola e de outras estruturas educadoras, e 4- a educação em foros e colegiados.

• 3 Eixos Pedagógicos: 1- acesso a conteúdos e processos formadores através de Cardápios (como oficinas, cursos, vivências ou visitas técnicas), 2- desenvolvimento de Comunidades Interpretativas e de Aprendizagem (grupos de pessoas com propósitos comuns, que se apóiam mutuamente ao realizar processos de interpretação crítica da realidade), 3- elaboração, implementação e avaliação de intervenções educacionais, como práxis pedagógica.

Na quarta etapa, cada município educador sustentável indica um comitê local, responsável pelo acompanhamento local das atividades. Pode ser, por exemplo, o Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (Comdema). Ou uma instância nova, criada só para o programa. A reunião de representantes dos comitês de todos os municípios gera o foro deliberativo regional, entendido como um espaço de compartilhamento de problemas, soluções, experiências, parcerias.

Com isso fecha-se o cerco institucional. O resto é ação. Cada município cria seu projeto local, que será aprovado pelo foro regional e depois aplicado localmente. Indicadores definidos de comum acordo servirão para monitorar o progresso das atividades.

O reconhecimento da iniciativa virá com a concessão do “Selo MES”, uma certificação que traria vantagens para a municipalidade. Quais? Por exemplo, o direito a receber do MMA orientação e formação de educadoras/ es ambientais para o processo de transformação de modelos de gestão. Além disso, possibilidade diferenciada de captar recursos do Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA/MMA) e de outras fontes de financiamento. Os materiais de apresentação do programa também destacam ganhos qualitativos. Um deles seria a ampliação do conhecimento sobre a realidade local, em função da participação da sociedade na produção de diagnósticos e planos. E haveria o fortalecimento da auto-estima de cidadãs/ãos, do grau de satisfação com a vida cotidiana e do próprio governo local, como coordenador e mediador nesse processo de gestão.